Por que dia de branco

Apresentadora do Notícias da Manhã, do SBT, Neila Medeiros cometeu uma gafe na edição desta segunda-feira (24). A jornalista disse que hoje é "dia de branco, dia de trabalhar", enquanto comentava o trânsito em São Paulo na volta do feriado da Consciência Negra, na última quinta (20). O trocadilho usado para se referir à segunda-feira é comum, porém gerou má interpretação por ser dito após a data de reflexão da escravidão de negros no Brasil.

Neila Medeiros mostrava imagens de helicóptero do movimento nas avenidas da capital paulista após o feriado prolongado. A repórter Carolina Aguaidas, do estúdio, trazia informações do número de vias congestionadas e comentou que muitas pessoas ainda estavam voltando de viagem na manhã desta segunda.

"A cidade tem cerca de 15 km de pontos de congestionamento agora. Bastante movimentação, muita gente ainda voltando do feriado prolongado e indo direto para o trabalho". disse Aguaidas. Depois, mostrou imagens da marginal Tietê e informou a previsão do tempo.

Na sequência, Neila Medeiros disparou: "E hoje é dia de branco, não é, Carol? Dia de trabalhar". A expressão "Dia de branco" remete à segunda-feira e tem origem incerta, entre marinheiros que colocavam uniforme branco para trabalhar ou entre escravos que na segunda trabalhariam para o senhor "branco". O uso da expressão após o feriado de Consciência Negra pela jornalista, entretanto, pegou mal.

O Dia da Consciência Negra lembra a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695, e promove a reflexão da escravidão de africanos no Brasil.

Neila Medeiros assumiu o Notícias da Manhã em 6 de novembro, às pressas, no lugar de César Filho, contratado pela Record. A jornalista, que já apresentava este e outros telejornais durante as férias dos âncoras, praticamente manteve a audiência: 3,9 pontos nas últimas primeiras semanas, contra 4,2 de César Filho. Cada ponto equivale a 65 mil domicílios na Grande São Paulo.

Recentemente, Silvio Santos também se envolveu em uma gafe racial. Durante o Teleton, no dia 7, indagou à atriz mirim Julia Olliver, da novela Chiquititas, sobre o cabelo encaracolado dela, após a menina de 11 anos ter dito que quer ser "atriz ou cantora". Ela retrucou: "Mas com esse cabelo?". Telespectadores acusaram o dono do SBT de racismo, e a atriz rebateu nas redes sociais: "Meu caráter, esse sim, é mais importante que o meu cabelo".

► Curta o Notícias da TV no Facebook e fique por dentro de tudo na televisão

► Siga o Notícias da TV no Twitter: @danielkastro

Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.

Ver mais

Você já escutou a expressão "amanhã é dia de branco". Esse foi o termo utilizado pelo deputado Cezar (PDT), na noite segunda-feira (4), durante o evento de oficialização da pré-candidatura de Elvis Cezar (PDT), ao governo do estado de São Paulo. A expressão tem diversas explicações. Uma delas remete à época dos escravos, quando se qualificam as pessoas pela cor da pele. A expressão significa que pessoas negras seriam as preguiçosas, enquanto as pessoas brancas seriam aquelas que de fato trabalhavam.

Durante o discurso no palanque, o deputado Cezar elogiou a quantidades de pessoas que compareceram ao evento no inicio na semana, mas acabou utilizando, talvez de forma equivocada, a expressão errada. "Só mesmo o Elvis para trazer todo esse povo aqui em uma segunda-feira, não é mesmo. Então, as pessoas que faltam falar que nos perdoem, porque amanhã é dia branco, não é mesmo", disse. (Veja o vídeo abaixo)

Outra explicação, é que a afirmação "amanhã é dia de branco" foi criada em alusão ao uniforme da marinha. Outra justificativa para a declaração é feita com menção a nota de mil cruzeiros, que possuía a estampa do Barão do Rio Branco e, portanto, usava trajes brancos. 

Em suma, dizer que o dia posterior é "de branco" significa que é um dia de trabalho ou de ganhar dinheiro. Mas, sabe-se que tal dito popular foi ganhando sentidos preconceituosos, uma maneira de demonstrar a "inferioridade dos negros".

“Hoje é dia de branco, dia de trabalhar”. Este foi o comentário da jornalista Neila Medeiros enquanto o telejornal do SBT mostrava imagens do trânsito da capital paulista, na segunda-feira (24).

Por conta do feriado prolongado que começou na última quinta (20), referente ao Dia da Consciência Negra, muitas pessoas estavam voltando de viagem, o que ocasionou uma lentidão nas rodovias. Segundo o portal da imprensa, a fala da apresentadora foi a seguinte: “A cidade tem cerca de 15 km de pontos de congestionamento agora. Bastante movimentação, muita gente ainda voltando do feriado prolongado e indo direto para o trabalho. E hoje é dia de branco, não é, Carol? Dia de trabalhar”.

A polêmica foi enaltecida no facebook. Um dos usuários da rede comentou que agora tudo é visto como racismo e afirmou que a expressão sempre foi utilizada para denominar dia de trabalho. Mas, em sua grande maioria, posts deixados por internautas mostravam o descontentamento por tal expressão. “Algumas pessoas estão tentando diminuir a gravidade da situação, afirmando que a expressão não se refere à etnia, e sim ao tal uniforme branco da marinha, que era usado somente nos dias de trabalho. Pode ser. Mas isso não diminui a gravidade e o peso das palavras ditas pela apresentadora. Temos que levar em consideração o contexto ao qual isso foi dito”, disparou um jovem.

Por que dia de branco

por Isabela Faggiani, no ONDDA

A língua é viva e vai se modificando de acordo com os comportamentos e o modo de vida dos falantes. Por isso, é comum que algumas expressões e gírias acabem morrendo e sendo substituídas por outras.

E, como a nossa sociedade sempre foi racista, também é comum que muitas expressões e gírias antigas tenham uma origem de preconceitos. Porém, ainda há certas expressões que são resistentes ao tempo e, hoje, parece que perderam a sua conotação de racismo, mas não se engane, elas continuam recheadas de preconceito.

Você pode ter usado alguma delas – ou até todas – sem nem saber que a sua verdadeira origem serve para diminuir uma raça inteira de pessoas. Por isso, o ONDDA fez uma lista com 9 dessas expressões. Assim, quem sabe as pessoas não pensam em usar outros termos para se referirem à mesma coisa? Termos que, dessa vez, não tenham um passado maldoso:

  1. A coisa tá preta – Aqui temos uma expressão na qual a palavra “preta” quer dizer algo ruim. Quando “a coisa tá preta” quer dizer que algo deu errado, não está bom. Pensar que algo que é preto ou negro é ruim é uma ideia totalmente racista.
  2. Ovelha negra – Essa expressão é muito usada para designar uma pessoa que se destoa das outras de um mesmo grupo. É a pessoa “diferente”, pois todas as ovelhas são brancas, então uma “negra” seria estranha. Mas, por que usar essa comparação? Serve para reforçar que o normal é ser branco e ser negro é diferente e esquisito. E sabemos que isso não é real.
  3. Mercado negro – Mais uma expressão que liga “negro” a algo negativo. Nesse caso, negro é o ilegal. O ilícito. De novo, o ruim.
  4. Denegrir – A expressão é negativa, usada para falar sobre manchar a reputação ou difamar alguém. Porém, sua origem vem de “tornar negro”, colocando, portanto, o negro como algo negativo e errado. Tornar algo ou alguém negro não deve ser visto como algo negativo ou ruim.
  5. Inveja branca – Aqui vemos o contrário: enquanto o preto e o negro são usados para denominar coisas ruins, o branco é usado como algo bom. A inveja é um sentimento visto como ruim e negativo, mas quando acompanhada da palavra “branca”, é algo positivo. Isso também é racismo. Enaltece o branco, o que, automaticamente diminui o negro.
  6. Mulato/Mulata – A palavra vem de “mula”, que é a junção entre o burro e a égua, ou seja: dois animais diferentes. Usada para denominar pessoas que nasceram de um pai negro e uma mãe branca (ou vice-versa), tem exatamente o mesmo sentido de falar da Mula: uma pessoa que nasce de dois tipos diferentes. Isso iguala essas pessoas aos animais, tira-lhes a humanidade.
  7. Boçal – A palavra quer dizer “rude, grosseiro, imbecil ou ignorante”. Mas a sua origem é de assustar: ela era usada para designar os negros vindos da África que ainda não sabiam se comunicar na língua portuguesa. Por eles não conseguirem usar o português, eram vistos como menos instruídos, por isso a expressão logo se popularizou e começou a ser usada para designar qualquer pessoa que não tenha instrução.
  8. Não sou tuas negas – Essa gíria virou meme na internet. As pessoas começaram a usar como se fosse algo “engraçadinho” para quando alguém começasse a folgar ou mandar. A expressão é totalmente racista e escravocrata. “Não sou tuas negas” seria como um “você não manda em mim”, por que? Porque as negras eram propriedade dos brancos, elas eram mandadas por eles. Portanto, “ser tua nega” significa que você obedeceria a pessoa.
  9. Judiar – Essa palavra é antissemita. Judiar significa “maltratar”, “ser mal” (como um judeu seria). A palavra tem ligação direta com os judeus e dá a entender que quem é judeu é malvado.

Bônus: Dia de branco – A expressão significa que é dia de trabalhar e, diferente do que muitos pensam, não tem origem racista. O primeiro pensamento de quem ouve, porém, é de que ela surgiu por causa do preconceito de brancos contra negros. Dizem que a expressão surgiu na Marinha, por causa dos uniformes brancos que eles tinham que usar para trabalhar. A pegadinha dessa expressão é que, com ela, ocorreu o contrário do que com as outras: enquanto as sete expressões mencionadas acima foram perdendo seu cunho racista, “dia de branco” foi ganhando. Hoje, quando é usada, geralmente vem acompanhada de alguma piada ou algum trocadilho racista. Ela tem um peso muito grande e pode sim ter uma interpretação racista, então fique atento.

Crédito da imagem: Pixabay