A formiguinha e a neve adaptação conto popular

Uma formiga pequena andava bem distraída, quando a neve a prendeu e ela ficou sem saída. Pediu a ajuda de todos, para poder se salvar. Mas ninguém ligou para ela, ninguém a quis ajudar...

Título: A Formiguinha E A Neve - 1ªed.(2006)

ISBN: 9788516013325

Idioma: Português

Encadernação: Brochura

Formato: 18 x 27

Páginas: 39

Ano copyright: 1995

Coleção: Classicos Infantis

Ano de edição: 2006

Edição:

Autor: Joao de Barro

Ilustrador: Rogerio Borges

Rogério Borges cresceu habituado com o cheiro de tinta, exercitando muito cedo os primeiros riscos no papel. Seu pai era pintor e ele adorava desenhar. Em 1971 saiu de Curitiba e foi para São Paulo fazer Comunicação Visual na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Começou a trabalhar com publicidade e mais tarde foi para a área editorial. Fez escola na Editora Abril ilustrando revistas, escrevendo, convivendo com ótimos profissionais. Em 1980 voltou-se para os livros. E aí tem estado até hoje como autor e como artista gráfico. Alterna pintura com arte digitalizada, conseguindo novos recursos de linguagem visual. Recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (1987), o prêmio Lourenço Filho, pelo conjunto de obras (1987), o da FNLIJ de Altamente Recomendável (1988-92-93-94), Jabuti (1996), além de ter sido selecionado pela FNLIJ para o catálogo de autores latino-americanos (2000). Ilustrou Você Lembra, Pai? e Contos Indígenas Brasileiros, de Daniel Munduruku; O Rei que Mora no Mar, de Ferreira Gullar; Ciúme em Céu Azul e O Caçador de Lobisomem, de Joel Rufino dos Santos; Facécias, de Luís da Câmara Cascudo; e O Rei Preto de Ouro Preto, de Sylvia Orthof.

Uma formiga prendeu o pé na neve.

«Oh neve! tu és tão forte, que o meu pé prendes!»

Responde a neve: «Tão forte sou eu que o sol me derrete.»

«Oh sol! tu és tão forte que derretes a neve que o meu pé prende!

Responde o sol: «Tão forte sou eu que a parede me impede.

«Oh parede! tu és tão forte, que impedes o sol, que derrete a neve, que o meu pé prende.»

Responde a parede: «Tão forte sou eu que o rato me fura.»

«Oh rato! tu és tão forte que furas a parede que impede o sol, que derrete a neve que o meu pé prende!»

Responde o rato: «Tão forte sou eu que o gato me come.»

«Oh gato! tu és tão forte que comes o rato que fura a parede, que impede o sol, que derrete a neve, que o meu pé prende.»

Responde o gato: «Tão forte sou eu que o cão me morde.»

«Oh cão! tu és tão forte que mordes o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!»

Responde o cão: «Tão forte sou eu que o pao me bate.»

«Oh pao! tu és tão forte, que bates no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o sol, [que derrete a neve,] que o meu pé prende!»

Responde o pao: «Tão forte sou eu, que o lume me queima.»

«Oh lume! tu és tão forte, que queimas o pao, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!»

Responde o lume: «Tão forte sou eu que a agua me apaga.»

«Oh agua! tu és tão forte que apagas o lume, que queima o pao, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o sol, que derrete a neve que o meu pé prende!»

Responde a agua: «Tão forte sou eu que o boi me bebe.»

«Oh boi! tu és tão forte que bebes a agua, que apaga o lume, que queima o pao, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede que impede o sol, que derrete a neve que o meu pé prende!»

Responde o boi: «Tão forte sou eu que o carniceiro me mata.»

«Oh carniceiro! tu és tão forte, que matas o boi, que bebe a agua, que apaga o lume, que queima o pao, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!»

Responde o carniceiro: «Tão forte sou eu que a morte me leva.»

De João de Barro (recontado). Il. Rogério Borges. São Paulo: Moderna, 1995. 40p. 

A formiguinha e a neve. João de Barro (recontado). Il. Rogério Borges. São Paulo: Moderna,1995. 40p. Capa dura.
(18,5 x 28 x 0,9cm - 340gr.)

  • Láurea "Altamente Recomendável para a Criança" - 1995 - FNLIJ
  • Prêmio Jabuti - Categoria Ilustração infantil ou juvenil - Rogério Borges - 1996

PARECER 1

Clássico das fábulas tipo lengalenga, A Formiguinha e a Neve tem origem na Península Ibérica e na Ilha da Madeira, encontrando-se também entre os índios tehuano, como diz a nota informativa ao fim do volume. O conhecido compositor popular Braguinha recria essa história que tem grande apelo para a criança pequena, seja pela repetição das sentenças, seja pela identificação com a personagem, miúda e indefesa.

Optando pela simplicidade narrativa, Braguinha transmite de forma direta a história da formiguinha cujo pé se prendeu na neve e, compreendendo que vai morrer de fome e frio, se dirige ao Sol, que é tão forte, para que ele a liberte. Para surpresa da formiguinha e do leitor, o Sol vai dizer que mais forte que ele é o muro que o tapa. Recorrendo ao muro, a formiguinha vai ouvir que mais forte que ele é o rato que o rói. Do rato ao gato, do gato ao cão, do cão ao homem, do homem à morte, da morte a Deus, a formiguinha percorre esse roteiro extremamente interessante de poder, com curiosas inversões do senso comum.

Fugindo ao senso comum da ilustração de livros infantis, Rogério Borges oferece ao leitor uma estupenda experiência, a um só tempo contida e luxuriosa. Carregando azul e verde sobre cinza, construindo uma primavera que se estende diáfana numa página em que vermelho e dourado atraem em primeiro plano o olhar, o artista cria imagens líricas e poderosas que vão sublinhar a emoção da criança junto à angústia da formiguinha.

Em edição com capa dura e papel de excelente qualidade, o volume é ideal para a biblioteca do pequeno leitor que necessita de boas encadernações quase tanto quanto de bons textos e ilustrações.

Braguinha é compositor de música popular brasileira de grande sucesso na primeira metade do século. Na década de 50 desenvolve o projeto de adaptar histórias tradicionais em gravações fonográficas para crianças, compondo canções que vão funcionar como metonímias das histórias que ilustram e propiciando a divulgação de um rico patrimônio popular através de um meio moderno de difusão.

Inscritas na experiência ocidental desde a antiga Grécia, conservando surpreendente contemporaneidade, as fábulas são de especial agrado das crianças, pois operam com questionamento e subversão de poder, instaurando a criação de novos paradigmas.

O final alegórico confere a abertura para que cada criança leia de onde pode ler, do ponto em que se encontra nas suas experiências pessoais. É saber dos mais valiosos esse, que consiste em não mentir nem edulcorar a realidade sem precisar, no entanto, colocá-la em exposição como tecido grosseiro que fere sem abrigar. Força da literatura, a metáfora cria mecanismos que permitem ao pequeno leitor elaborar compreensão e transformação, na crueza da vida, na beleza da vida.

Nilma Gonçalves Lacerda

PARECER 2

A Formiguinha e a Neve é uma fábula da tradição popular, escrita sob a forma de "lengalenga"- palavras que são repetidas em um encadeamento aparentemente sem-fim. Esta publicação faz parte da Coleção Clássicos Infantis, que reconta as principais obras da literatura destinada à criança. Aqui o conhecido compositor Braguinha, cujo pseudônimo é João de Barro, recria em versos a história da formiguinha que fica presa na neve e vai pedindo a ajuda dos mais fortes para salvá-la.

Uma palavra vai sendo acrescentada a um fio poético que move a narrativa. A cada nova tentativa da formiga, a acumulação de palavras cresce e as anteriores são repetidas, recurso muito rico de sonoridade. Como uma brincadeira, o texto vai desenrolando situações que questionam o poder, a força e a perseverança - valores fundamentais de serem discutidos com as crianças. Lingüisticamente importante é o trabalho com a palavra e sua sonoridade, com a "lengalenga" utilizada no texto, que incentiva a repetição - recurso utilizado em cantigas e histórias - por esta facilitar o processo de elaboração dos pequenos. Ao repetir, a criança vai reforçando sua subjetividade.

O livro tem um belíssimo projeto gráfico, que valoriza as ilustrações impressas nas páginas inteiras. Reproduzir o ambiente da neve não é tarefa fácil para um ilustrador brasileiro, bem como não o é para o leitor mergulhar num cenário completamente diferente de nosso acesso territorial. Mas aqui a plástica se encarrega de transportar o leitor não só para a neve, como também para a aflição e a angústia vividas pela formiguinha. O ilustrador, que trabalha muito bem a figura humana em seus livros, com imagens realistas e expressivas, constrói figuras de animais, de sensações e de sentimentos com muita competência. São as ilustrações que acolhem o texto; numa comparação ao sofrimento da formiga em relação à neve, é como se o texto aqui representasse o animal preso à neve gritando por socorro.

Vida e morte são trabalhados lado a lado, numa tentativa de se estabelecer um contato da criança com a perda, o abandono e, conseqüentemente, a morte. Na figura da formiga (do animal), recurso utilizado nas fábulas, o leitor se identifica com as situações enfrentadas pela personagem e, com isso, elabora seus medos e ansiedades. Vale dizer que ao final da história há um texto explicativo sobre a Coleção e o título em questão, oferecendo inclusive as fontes de origem desta fábula.

Ninfa Parreiras