Por que renuncio evo morales

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou hoje (10), em um pronunciamento transmitido a partir da cidade de Cochabamba, sua renúncia ao cargo, em meio à escalada dos protestos que se seguiram à eleição de 20 de outubro no país.

Ao lado de Morales, o vice-presidente Alvaro García Linera também anunciou que deixa seu posto. Posteriormente, o ex-presidente boliviano falou sobre o assunto em suas redes sociais.

“Queremos preservar a vida dos bolivianos”, disse Morales no pronunciamento. Ele disse que decidiu deixar o cargo “para que não continuem maltratando parentes de líderes sindicais, prejudicando a gente mais humilde. Estou renunciando e lamento muito esse golpe”.

Imagens de TV mostraram oposicionistas comemorando nas ruas de La Paz. A pressão sobre Morales aumentou depois que o comandante das Forças Armadas bolivianas, William Kaiman, sugeriu, na tarde deste domingo, que Morales renunciasse para permitir a “pacificação e a manutenção da estabilidade, pelo bem da nossa Bolívia”.

Mais cedo, Morales havia anunciado a realização de novas eleições e a substituição dos integrantes do Tribunal Superior Eleitoral boliviano, mas não conseguiu melhorar os ânimos dos adversários. Na ocasião, ele disse que sua “principal missão é proteger a vida, preservar a paz, a justiça social e a unidade de toda a comunidade boliviana”.

O anúncio da nova eleição foi feito depois de a Organização dos Estados Americanos (OEA) ter divulgado um informe sobre uma auditoria do processo eleitoral, em que o órgão recomendou a realização de um novo pleito.

Antes da renúncia de Morales, a imprensa boliviana noticiou a realização neste domingo de diversos ataques a residências, incluindo casas de familiares de Morales, e a prédios públicos. No Twitter, o ainda presidente havia denunciado que “fascistas” tinham incendiado a casa dos governadores de Chuquisaca y Oruro, e também de sua irmã, Esther Morales, em Oruro. Emissoras de rádio e TV estatais, como a Bolívia TV, foram alvo de protestos.

Depois que manifestantes atacaram a sua casa, o presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda, também renunciou ao cargo neste domingo.

Eleição polêmica

As eleições presidenciais bolivianas ocorreram em 20 de outubro. Morales obteve 47,07% dos votos, enquanto seu principal concorrente, Carlos Mesa, alcançou a 36,51%. Pelas regras eleitorais bolivianas, Morales foi declarado eleito, por ter obtido mais de 10% de votos além de Mesa.

A apuração dos votos, no entanto, foi acompanhada por polêmica, com acusações de ambos os lados. Uma missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontou problemas como a falta de segurança no armazenamento das urnas e a suspensão da apuração.

Diante da polêmica, Morales e líderes oposicionistas sugeriram que a Organização dos Estados Americanos (OEA) auditasse o resultado das eleições – e Morales convidou países como Colômbia, Argentina, Brasil e Estados Unidos a participarem do processo. Desde então, os protestos populares se acirraram, com oposicionistas chegando a estabelecer um prazo para que Morales deixasse o cargo.

Ouça na Radioagência Nacional:

*Com informações da agência de notícias Télam
*Matéria atualizada às 21h para acréscimo de informações

Por que renuncio evo morales

Evo foi o primeiro presidente indígena da Bolívia. (Foto: AP Photo/Juan Karita)

A renúncia, neste domingo (10) do presidente boliviano, Evo Morales, devido a protestos contra sua contestada reeleição e da perda de apoio das Forças Armadas, foi comemorada nas ruas do país, em meio a um vácuo de poder e à denúncia de Morales de uma ordem de prisão contra ele, o que as autoridades negam.

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"Renuncio a meu cargo de presidente para que (Carlos) Mesa e (Luis Fernando) Camacho não continuem perseguindo dirigentes sociais", disse Morales em Cochabamba, em discurso televisionado, referindo-se a líderes opositores que convocaram protestos contra ele, desde o dia seguinte às eleições de 20 de outubro.

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O primeiro presidente indígena da Bolívia, forjado politicamente como sindicalista cocaleiro, defendeu seu legado que, segundo ele, levou progresso econômico e social a um dos países mais pobres da América Latina.

"Estamos deixando a Bolívia com muitas conquistas sociais", disse em sua mensagem de renúncia o presidente de 60 anos, que assegurou que não abandonaria o país.

Morales denunciou durante a noite a existência de uma ordem de prisão "ilegal" contra ele, uma afirmação negada pelo chefe de polícia, o general Yuri Vladimir Calderón.

Porém, o líder de direita Luis Fernando Camacho, que comandou o movimento de protesto contra Morales, confirmou no Twitter a ordem de detenção.

A praça Murillo de La Paz, onde fica o Palácio Quemado, antiga sede do governo, foi tomada por bolivianos que comemoravam a renúncia de Morales, que governou a Bolívia por quase 14 anos, um recorde nacional de permanência no poder.

"Este sonso, que não sabe pensar, saiu pela janela; que bom, estamos felizes", disse à AFP a comerciante Reggina Sojas, de 61 anos.

Ao mesmo tempo, um grupo tentava arriar a 'whipala', bandeira multicolorida xadrez que identifica os povos andinos, que a polícia retirou dos principais edifícios públicos.

Durante a noite foram registrados atos violentos em La Paz e na cidade vizinha de El Alto, com incêndios em ônibus municipais e nas casas de um líder cívico e de uma jornalista, denunciaram os afetados.

VÁCUO DE PODER

Os resultados de uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgados no domingo, que apontavam "sérias irregularidades" nas eleições, desencadearam os acontecimentos que levaram à renúncia de Morales.

Durante a manhã, ao tomar conhecimento do relatório, o agora ex-presidente anunciou novas eleições, mas a notícia não foi suficiente para conter a ira da oposição.

Morales enfrentou durante o domingo uma avalanche de renúncias de altos funcionários, em alguns casos depois de terem tido suas casas incendiadas, e pela pressão decisiva dos militares e da polícia, que pediram sua renúncia.

"Pedimos ao presidente de Estado que renuncie a seu mandato presidencial permitindo a pacificação e a manutenção da estabilidade, pelo bem de nossa Bolívia", disse o comandante-em-chefe das Forças Armadas, o general Williams Kaliman.

Após a renúncia de Morales, a polícia prendeu a presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), María Eugenia Choque, e outros funcionários do organismo por ordem do Ministério Público, que investiga irregularidades cometidas nas eleições.

A Bolívia vive agora um vácuo de poder, pela renúncia de todas as autoridades que formavam a linha de sucessão constitucional.

A Constituição boliviana prevê que a sucessão começa com o vice-presidente, depois passa para o titular do Senado e depois para o titular da Câmara dos Deputados, mas todos eles renunciaram com Morales.

A segunda vice-presidente do Senado, a opositora Jeanine Añez, reivindicou o direito de assumir a presidência da Bolívia.

CUBA E VENEZUELA DENUNCIAM ‘GOLPE’

Os principais aliados ideológicos de Morales na América Latina, Cuba e Venezuela, denunciaram o que consideram ter sido um "golpe de Estado".

"Condenamos categoricamente o golpe de Estado consumado contra o irmão presidente @evoespueblo", escreveu no Twitter o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

A embaixada da Venezuela em La Paz foi tomada durante a noite por homens encapuzados, anunciou a diplomata Crisbeylee González.

Da Argentina chegaram duas mensagens distintas. O governo de Mauricio Macri pediu a preservação da paz social e do diálogo na Bolívia, mas o presidente eleito, o peronista de centro-esquerda Alberto Fernández, denunciou um "golpe de Estado produto da ação conjunta de civis violentos, policiais auto-aquartelados e a passividade do exército". O Perú pediu uma "transição" democrática de poder.

Apesar de Morales ter afirnado que não abandonaria a Bolívia, o México ofereceu asilo", anunciou o chanceler Marcelo Ebrard, que falou em "20 personalidades do Executivo e do Legislativo da Bolívia" asiladas na embaixada mexicana na capital boliviana.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu a "todos os atores relevantes que se abstenham da violência para reduzir a tensão e exercer a máxima moderação".

O presidente da Bolívia, Evo Morales, e o vice-presidente, Álvaro García Linera, renunciaram a seus cargos neste domingo encurralados pelo levante popular contra o Governo e abandonados pelas Forças Armadas, pela polícia e até por colaboradores mais próximos. O comandante do Exército, Williams Kaliman, tinha pedido sua renúncia horas antes: “Depois de analisar a situação conflituosa interna, sugerimos que o presidente do Estado renuncie a seu mandato presidencial, permitindo a pacificação e a manutenção da estabilidade pelo bem de nossa Bolívia”. O ex-presidente, escondido em uma zona de coca no centro do país, denunciou domingo à tarde que a polícia está tentando detê-lo com um mandado de prisão ilegal.

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A Bolívia se encontra em um vazio de poder, após a renúncia dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. O líder do protesto social, o líder dos comitês cívicos, Luis Fernando Camacho, pediu a formação de uma junta de Governo com o alto comando militar e policial.

"É minha obrigação como presidente indígena e de todos os bolivianos garantir a paz social", disse o presidente boliviano no início de sua mensagem de renúncia. "Renuncio para que [Carlos] Mesa e [Luis Fernando] Camacho não continuem a maltratar os familiares de nossos companheiros, não continuem atacando ministros e deputados, para que parem de maltratar os mais humildes”, disse Morales. “A luta não termina aqui. Os humildes, os patriotas, vamos continuar lutando pela igualdade e a paz. Espero que tenha entendido minha mensagem, Mesa e Camacho, não prejudiquem os pobres, não causem danos ao povo. Queremos a volta da paz social. Grupos oligárquicos conspiraram contra a democracia. Foi um golpe de Estado cívico e policial. Dói muito o que se passou”, explicou.

Por sua parte, o vice-presidente Álvaro García Linera fez um balanço das conquistas econômicas e sociais do Governo durante os quase 14 anos de mandato, antes de apresentar sua renúncia. “Erguemos a Bolívia. Em 20 de outubro quase a metade dos bolivianos votou em nós. Forças estranhas e obscuras, a partir desse momento, começaram a conspirar. Queimaram instituições e sedes sindicais. Formaram bandos paramilitares para intimidar os camponeses, ameaçaram nossos companheiros. Foi um golpe de Estado. Eu também renuncio. Sempre fui leal ao presidente, estou orgulhoso de ter sido o vice-presidente de um indígena e o acompanharei nos bons e nos maus momentos”, afirmou García Linera.

O presidente boliviano já havia cedido à pressão neste domingo e anunciado novas eleições, após 18 dias de protestos em que pediam a anulação das eleições de 20 de outubro, nas quais foi reeleito. Tudo depois que a Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou uma auditoria do processo eleitoral em que afirma que os procedimentos adequados não foram seguidos e houve "contundentes" irregularidades, motivo pelo qual exigia sua anulação. Seguindo a recomendação da OEA, Morales anunciou –em uma mensagem televisionada na madrugada deste domingo– sua intenção de "renovar todos os membros do Tribunal Supremo Eleitoral". O presidente insistiu que, com sua decisão, buscava "baixar toda a tensão" e "pacificar a Bolívia". Sem aparente sucesso. O Ministério Público anunciou neste domingo uma investigação contra os membros do Tribunal Eleitoral suspeitos de irregularidades. A presidente da instituição, María Eugenia Choque Quispe, apresentou sua demissão imediatamente depois.

A oposição, liderada pelo candidato e ex-presidente Carlos Mesa, queria que Morales e seu vice-presidente, Álvaro García Linera, garantissem que não participariam das novas eleições, bem como um acordo plural para eleger um Tribunal Eleitoral credível. Os responsáveis pelos protestos que convulsionam o país acreditam, além do mais, que a renovação do órgão eleitoral é insuficiente e querem a renovação de todos os poderes do Estado e a criação de uma "junta de governo” transitória, escolhido pelo povo sublevado, que se encarregue das novas eleições.

O destino de Morales estava por um fio. O Governo entrou em colapso, pressionado pelo assédio de movimentos insurgentes que atacam as casas dos líderes governistas. O ministro da Mineração, César Navarro, colaborador próximo do presidente, renunciou neste domingo depois que uma multidão incendiou sua casa em Potosí, que atualmente é a cidade mais radicalizada contra Morales. O mesmo aconteceu com o também potosino Víctor Borda, presidente da Câmara dos Deputados, que, com sua renúncia, disse querer proteger seu irmão que está sendo mantido refém pelos manifestantes. O ministro dos Hidrocarbonetos, Luis Alberto Sánchez, também anunciou sua renúncia neste domingo por meio de um anúncio no Twitter. Antes deles, haviam renunciado diplomatas, governadores, prefeitos, deputados e outros altos funcionários do Estado.

A Central Operária Boliviana, a associação de sindicatos urbanos, aliada ao partido no poder, em uma decisão digna de registro, também pediu a renúncia de Morales. Vários sindicatos de mineiros, afiliados à Central, estão atuando contra o presidente, seguindo os comitês cívicos de suas regiões. Na prática, Morales apenas conta com o apoio dos sindicatos de camponeses, que ainda bloqueiam as estradas que levam a La Paz, a capital administrativa.

Há dois dias a polícia está amotinada e nos quartéis. Juntaram-se desta maneira aos protestos contra um Governo que, consideram, "maltratou e marginalizou" os policiais – um fator-chave para conduzir a situação em favor dos rebeldes. Durante seu mandato, Morales removeu algumas atribuições da instituição policial, como a administração do sistema de identificação, e preferiu confiar nas Forças Armadas que, no entanto, não quiseram defendê-lo nesta crise.

O principal líder dos comitês cívicos que lideram os protestos, Luis Fernando Camacho, aguardava a chegada de numerosos grupos de opositores que viajam a La Paz para levar uma carta de renúncia preparada para Morales assinar e "ingressar" no palácio Governo O presidente está em sua região, o Chapare, cercado por seus leais camponeses das plantações de coca.

Relatório da OEA

A verdade é que o relatório da OEA, embora preliminar, aponta inúmeras irregularidades. Entre outras coisas, no sistema de transmissão de resultados, que sofreu um apagão quando se previa um segundo turno das eleições, entre o presidente do país e seu rival Mesa. Após o blecaute, a contagem concedeu uma clara vantagem a Morales. Segundo a análise da OEA, os dados foram encaminhados para um servidor externo não previsto. A entidade também observou irregularidades na contagem.

Morales, que não mencionou o relatório da OEA em seu comparecimento em público, disse mais tarde, em entrevista à Rádio Pan-Americana, que o relatório era mais "político" do que técnico, em busca de dar ao país uma solução política. "Nunca pedi ajuda", disse ele, sobre a possibilidade de o Tribunal Eleitoral ter cometido fraude a seu pedido.

O presidente também afirmou que não iria renunciar, que tem mandato até 22 de janeiro de 2020 e que propor que ele saísse seria dar um "golpe de Estado". Não quis garantir que não participaria das novas eleições. “Não devemos falar sobre candidatos nem sucessão constitucional. Não vamos continuar convulsionando. Querem prejudicar a Bolívia. Vamos dialogar, vejamos quando e como faremos as eleições. Não vamos nos confrontar... ”, ele disse.