Por que podemos afirmar que o mundo e uma aldeia global

A globalização é um termo que foi elaborado na década de 1980 para descrever o processo de intensificação da integração econômica e política internacional, marcado pelo avanço nos sistemas de transporte e de comunicação. Por se caracterizar como um fenômeno de caráter mundial, muitos autores preferem utilizar o termo mundialização.

É preciso lembrar, porém, que, apesar de ser um conceito recentemente elaborado, a sua ocorrência é antiga. A maioria dos cientistas sociais marca o seu início no final do século XV e início do século XVI, quando os europeus iniciaram o processo de expansão colonial marítima. Com isso, é possível perceber que a globalização não é um fato repentino e consolidado, mas um processo de integração gradativa que está constantemente se expandindo.

Leia também: Nova Ordem Mundial

Tópicos deste artigo

  • 1 - Aldeia global
  • 2 - Críticas à globalização

Aldeia global

Muitos autores utilizam o termo “aldeia global” para se referir à globalização, pois ela não se limita aos planos políticos e econômicos, ocorrendo também no âmbito da cultura. Observa-se uma grande troca de costumes, hábitos e mercadorias culturais. Os animes japoneses e os filmes de Hollywood, por exemplo, são assistidos em todo o mundo.

Por que podemos afirmar que o mundo e uma aldeia global
A globalização é um processo de integração social, econômica e cultural entre as diferentes regiões do planeta.

Assim, muito se fala em uma padronização cultural. No entanto, há quem conteste essa tese, dizendo que os regionalismos também se ampliam, promovendo o aumento da heterogeneidade cultural. Outros chegam a afirmar que o que ocorre, na verdade, é uma hegemonização cultural, em que os costumes dominantes se impõem sobre os demais.

Para se ter uma ideia dos avanços tecnológicos e do aumento da velocidade nas trocas de informações, podemos comparar as notícias das mortes de duas personalidades mundialmente conhecidas. Em 1865, quando Abraham Lincoln faleceu, a notícia chegou à Europa treze dias depois. Em 2009, a morte de Michael Jackson estava sendo divulgada em tempo real para todo o mundo.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

O geógrafo e economista David Harvey, em sua obra “A condição pós-moderna”, utiliza-se de um conceito específico para se referir ao aumento da velocidade nas trocas comerciais e de informações: a compressão espaço-tempo. Isso porque, com os avanços nos meios de transporte, as grandes distâncias deixaram – ou estão deixando – de ser um obstáculo. Ao mesmo tempo, os avanços nos meios de comunicação também “encurtaram” o tempo, como no exemplo citado acima. O que se levava vários dias ou semanas para ser noticiado, hoje é conhecido pelo mundo todo em pouquíssimos segundos.

Leia também: Desigualdade social – grave problema que afeta todo o mundo

Críticas à globalização

O processo de globalização, em seus moldes atuais, vem sendo duramente criticado por alguns intelectuais e grupos sociais organizados. A principal afirmação é de que esse processo ocorre de uma forma que beneficia apenas as elites econômicas e os países dominantes, em detrimento das populações pobres e regiões de todo mundo.

O ponto central das críticas é que os avanços tecnológicos e das comunicações sempre alcançam primeiramente aqueles que possuem um poder aquisitivo superior. Outro fator é que, com as expansões das inúmeras multinacionais em todo o mundo, amplia-se a concentração de renda, de modo que o número de pessoas contempladas pelos benefícios da mundialização diminui constantemente. Um exemplo a ser citado é o fato de as três pessoas mais ricas do mundo somarem mais riquezas do que os 48 países mais pobres do mundo juntos.

Além disso, segundo os críticos da globalização, o processo de integração mundial foi construído tendo como base o modelo europeu de cultura e civilização. Assim, toda forma de conhecimento e comportamento teria sido estabelecida com base nos padrões eurocêntricos de moralidade, suprimindo povos e culturas tradicionais de outros países, considerados “inferiores” pela ideologia dominante.

O geógrafo Milton Santos, em sua renomada obra Por uma outra Globalização, divide esse fenômeno em três abordagens: a) a globalização como fábula, ou seja, da forma como nos é contada; b) a globalização como perversidade, da forma como ela realmente é; c) a globalização como possibilidade, quando propõe a ideia de uma outra globalização, mais justa e igualitária.

Atualmente, os principais movimentos organizados para lutar contra a globalização ou contra as suas consequências são o Fórum Social Mundial e o Ocuppy Wall Street.


Por Me. Rodolfo Alves Pena

Rafaela Lôbo O termo Aldeia Global foi usado pela primeira vez pelo literato e filósofo canadense Marshal McLuhan, ainda nos anos 1960. Não se sabe ao certo em que ele se baseou para criar esse conceito. Alguns dizem que a origem foi a expressão “urban and orbal” encontrada na obra de James Joyce, autor por quem o filósofo tinha predileção. Outros dizem que se baseou no conceito de noosfera. Há, ainda, aqueles que defendem que Marshal se inspirou em um pensamento do escritor Wyndham Lewis, que mencionava o planeta Terra como uma grande aldeia. Independentemente da origem, fato é que, indiscutivelmente, com uma formação basicamente literária e com recursos parcos (se comparados aos que existem hoje), somente um visionário poderia pensar na existência de uma grande “teia” gerida por uma “alma suprapessoal”, sem destinos ou lugares rígidos. No mínimo, o autor previu a internet. Mas como conseguiu?McLuhan acreditava que os homens, devido ao surgimento da imprensa, estavam isolados, isso porque cada um era capaz de analisar, pensar e viver solitariamente. No entanto, afirmava que devido ao que classificou como “civilização da eletricidade”, tudo mudaria e voltaríamos ao passado na medida em que os homens viveriam novamente em grupo – a diferença é que isso seria facilitado por uma estrutura virtual. Na época, novas formas de contato midiático surgiam (telefone, televisão) e, além disso, por ser professor universitário, ele sentia a diferença entre as gerações. Foi nessas circunstâncias que imaginou uma nova forma de mídia. Para ele, a chegada de uma estrutura tecnológica possibilitaria o fim de um mundo linear. Amado por uns, que o consideram pensador genial, odiado por outros, que entendem que suas análises eram superficiais, insisto: McLuhan era um visionário. Ao se referir à Aldeia Global, o filósofo cita um espaço de convergência, em que haveria “redes virtuais”, as noções de sentido se perderiam e as ideias estariam em direções caóticas. Para ele, haveria um mundo unificado, uma malha global, algo como uma grande teia democrática que abrigaria todos. É fantástico pensar que hoje não há mais locais fixos. Com o advento da internet, uma pessoa, sem sair de casa, é capaz de conhecer o mundo, visitar países, cidades, bibliotecas... As populações se conectam, ou, ao menos, têm noção umas das outras. Ocidentais e orientais partilham descobertas e nem mesmo a China, com todas as restrições ao uso da internet, consegue se manter isolada. A Primavera Árabe não é fruto do mero acaso; as manifestações no Brasil também não. Tudo possível porque as redes sociais promovem encontros e dissipam culturas e diversidades. Vivemos numa Aldeia Global.Logo, poderíamos pensar que as teorias apresentadas na década de 1960 são perfeitas. Será? A questão é que se Marshal foi um “Nostradamus real”, haverá erros e acertos em suas teorias. Nesse sentido, o grande pensamento que se apresenta não é a previsão feita em relação à Aldeia Global, mas ao fato de isso remeter à alma suprapessoal. Mesmo em aldeias, há manipuladores, poderosos, aqueles que definem como a sociedade funcionará. Inúmeras pessoas usam as redes sociais visando à manipulação. Inúmeras? Quero dizer, as pessoas usam as redes com fins, no mínimo, de autopromoção e disseminam apenas os conhecimentos que desejam. Essa é a realidade. Isso ocorre porque na rede se é quem se deseja ser, podemos criar personagens, esconder, enganar, tudo é possível. Pais se preocupam, jovens e imaturos se arriscam. Como explicou McLuhan, os meios são extensões dos sentidos dos humanos. Assim, o telefone amplia a fala; as rodas de um carro ou as asas de um avião permitem que a pessoa viaje; o computador e a televisão não são simplesmente máquinas, mas conceituam a realidade de uma forma ou de outra. Será, então, a internet uma extensão de nossos pensamentos e desejos? Uma extensão do que somos e daquilo que acreditamos que somos? Será ela gerida por algo superior a todos nós? Ou somos os gestores de tudo isso? A Aldeia Global é uma realidade. Usá-la para o bem ou para o mal será uma escolha humana.. Rafaela Lôbo é mestre em linguística e professora do Centro Universitário UNA

saiba maisComunicação

de massas

Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) se tornou conhecido por seus estudos sobre a comunicação de massas, em que focalizava o impacto das tecnologias – sobretudo a TV, nos anos 1950/1960 – sobre a cultura e a sociedade. Entre seus livros estão A galáxia de Gutemberg (1962), Os meios de comunicação como extensões do homem (1964) e Guerra e paz na Aldeia Global (1968).