Paramos de respirar quando dormimos

Imagens divulgadas por uma clinica do sono britânica flagraram o exato momento em que um homem para de respirar enquanto dorme.

O paciente sofre de apneia obstrutiva do sono, um problema que causa várias paradas respiratórias enquanto a pessoa dorme devido ao bloqueio da passagem do ar nas vias respiratórias.

Se a doença não for tratada, além de causar interrupção do sono, pode também agravar problemas cardíacos (hipertensão, arritmias etc) e pulmonares.

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

O sono é uma atividade fisiológica essencial à nossa saúde e à nossa sobrevivência. É durante o sono que ocorrem diversos processos metabólicos, através dos quais o corpo se recupera e se desenvolve. Pesquisas demonstram que repousar, sem dormir, não apresenta os mesmos resultados de uma boa noite de sono.

A privação do sono leva, entre outras coisas, a uma queda na atenção, dificuldades em aprender novas tarefas motoras, alterações emocionais e dificuldades de memorização.

O que é o sono?

O ciclo de sono e vigília se repete a cada 24 horas, ou seja, apresenta o que chamamos de ritmo circadiano. Estudos demonstram que esse ciclo se mantém mesmo em condições nas quais não se possui acesso à passagem do tempo. Pessoas mantidas em salas escuras continuaram dormindo e acordando aproximadamente a cada 24 horas.

Isso sugere que o controle do sono não depende apenas de fatores externos, e mas também de mecanismos internos (endógenos) do organismo. Esses mecanismos são chamados de relógios biológicos e são capazes de controlar os ritmos biológicos mesmo na ausência de estímulos ambientais.

Fisiologicamente, o sono é descrito como o estado no qual o indivíduo não responde facilmente a estímulos sensoriais, a atividade motora fica reduzida e há uma perda temporária da consciência. Já a vigília corresponde ao estado no qual o indivíduo responde facilmente a estímulos e apresenta alta atividade motora e cognitiva.

Fases do sono

O sono não é um fenômeno homogêneo. Ele ocorre de forma cíclica e cada ciclo apresenta vários estágios, alternando fases de sono profundo e leve. Em média, cada ciclo dura entre 60 e 90 minutos e é dividido nos seguintes estágios:

Estágio 1: é a fase inicial do sono, ou seja, a transição entre o estado de vigília e o sono. Pode durar de alguns segundos a até cerca de 5 minutos. É caracterizado pelo sono leve, do qual somos facilmente despertados. O estado de consciência é baixo e a atenção, reduzida. Nessa fase, o indivíduo pode ouvir e falar, mas, provavelmente, não irá se lembrar depois que acordar. Corresponde a cerca de 5% do tempo total de sono e pode ocorrer também durante a mudança de estágios.

Estágio 2: ainda é uma fase de sono leve, mas não tanto como no estágio 1. Dura de 10 a 20 minutos.

Estágio 3: é o início do sono profundo. A atividade cerebral se torna mais lenta e o processo de recuperação fisiológica do organismo se inicia. Dura de alguns segundos até cerca de 5 minutos.

Estágio 4: sono profundo. Nesta fase diminuem a freqüência cardíaca, a respiração e a temperatura corporal. É neste estágio que ocorre a produção de hormônios. Dura cerca de 20 minutos.

Sono REM: também conhecido como estágio 5 ou sono paradoxal. No sono REM, os olhos se mexem rapidamente por baixo das pálpebras fechadas, porém o restante da musculatura do corpo permanece totalmente relaxada. O nome REM vem da sigla em inglês para movimentos rápidos dos olhos (rapid eyes movements). Nesta fase, embora a pessoa esteja dormindo profundamente, as ondas cerebrais possuem um padrão de atividade similar àquele da vigília, daí o nome sono paradoxal. Este estágio dura de 15 a 20 minutos e é nele que ocorrem os sonhos.

Quanto tempo devemos dormir?

Em média, adultos devem dormir entre 7 e 9 horas diárias. Este número varia conforme a idade, as atividades realizadas e outras características individuais. Crianças precisam dormir um número maior de horas.

Um bebê recém-nascido dorme cerca de 18 horas; com 1 ano de idade, entre 13 e 14 horas. Ou seja, o número de horas tende a diminuir com o aumento da idade, até atingir uma média de 8 horas diárias.

Agora que já sabemos as funções e as características de uma boa noite de sono vamos ver como despertamos. Existem duas maneiras de acordar. Uma delas é ser despertado por estímulos externos intensos, como sons, sensações táteis ou luz intensa. Esses estímulos tiram de sincronia os impulsos nervosos do córtex cerebral e nos despertam. A outra forma é despertar espontaneamente e isso geralmente ocorre após o término de um ciclo completo de sono.

Distúrbios do sono

Os distúrbios do sono são alterações que afetam o início ou todo o sono e podem ter origem emocional ou fisiológica. Alguns destes distúrbios são a insônia, a narcolepsia, a apnéia do sono e o terror noturno.

A insônia é caracterizada pela dificuldade em pegar no sono ou por manter o sono por um período contínuo, levando à fadiga, falta de atenção e indisposição durante o dia. Pode ter origem emocional, como o estresse, ou fisiológica, como distúrbios hormonais ou neurológicos.

A narcolepsia é um distúrbio pouco comum, marcado por episódios de sono súbito e incontrolável ao longo do dia, mesmo em situações inesperadas, como quando o indivíduo está de pé ou conversando com alguém. Este sono possui curta duração e, geralmente, não ultrapassa 30 minutos. As causas da doença ainda não foram descobertas, mas, como costuma afetar vários membros de uma mesma família, acredita-se que exista uma predisposição genética.

A apnéia do sono é caracterizada por paradas curtas e repetitivas da respiração durante o sono. Costuma-se classificar este distúrbio em dois tipos, dependendo da origem. Quando a apnéia é causada por disfunção no controle neurológico da respiração, é chamada de apnéia do sono central. Quando é provocada por obstrução das vias aéreas, é chamada de apnéia do sono obstrutiva.

O terror noturno é considerado uma manifestação severa do sonambulismo. Geralmente, o portador do distúrbio se levanta no meio do sono profundo, muito agitado, com a respiração e os batimentos cardíacos acelerados e, por vezes, gritando como se estivesse aterrorizado. Aparentemente, estes episódios não estão relacionados a pesadelos ou sonho perturbadores. Ao acordar, a pessoa geralmente não se lembra de nada.

É importante procurar ajuda médica ao sentir dificuldade para dormir ou alguma outra disfunção durante o sono, pois somente um especialista poderá fazer o diagnóstico correto e prescrever o tratamento adequado.

Paramos de respirar quando dormimos

Sem conexão

Problemas cardiovasculares, obesidade, dificuldades cognitivas e de concentração, ansiedade, redução significante da libido e sudorese noturna podem estar relacionados a não dormir bemJúlio Cordeiro / Agencia RBS

Os distúrbios do sono afetam aproximadamente 40% da população mundial, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Insônia, apneia obstrutiva do sono (SAOS), síndrome das pernas inquietas, bruxismo, sono insuficiente e atraso de fase de sono são os problemas mais comuns.

O ortodontista e ortopedista facial Gerson Köhler, que atua de forma interdisciplinar com doenças do sono, afirma que a SAOS é considerada um dos distúrbios mais graves da atualidade em relação à qualidade das horas de descanso, já que é consequência da obstrução total ou parcial da respiração.

- O sono é fundamental para a qualidade de vida e qualquer alteração na sua característica normal ou quantitativa provoca danos à saúde. Ele representa o terço da vida que pode garantir ou não um organismo saudável nos outros dois terços - enfatiza o especialista.

Problemas cardiovasculares, obesidade, dificuldades cognitivas e de concentração, ansiedade, redução significante da libido, sudorese noturna, dores de cabeça matinais, que ocorrem normalmente em consequência do bruxismo, e depressão podem ser decorrentes da SAOS.

Hipertensão e obesidade podem estar relacionadas

De acordo com um estudo britânico da Universidade de Birmingham, publicado na revista médica Hypertension, da Americam Heart Association, os pacientes que sofrem com a SAOS apresentam alterações funcionais nos vasos sanguíneos e 40% dos hipertensos tem apnéia. Köhler explica que, quando a respiração é interrompida, o organismo libera adrenalina, o que contrai os vasos sanguíneos. Assim, para o sangue continuar seu trabalho e seguir circulando, ele aumenta a sua pressão, o que, a longo prazo, gera um endurecimento das artérias.

A obesidade também está intimamente ligada a SAOS. A respiração possui um papel determinante no sono, oxigenação do corpo e alimentação. Repirar mal causa, desde a infância, problemas ortodônticos que afetam a mastigação e favorecem a alimentação inadequada, aumentando o peso corporal. Isso também influencia o esforço para respirar, aumentando as chances dos distúrbios do sono se instalarem.

O tratamento das doenças relacionadas ao sono deve ser interdisciplinar, envolvendo especialistas de diversas áreas da saúde, como odontologia, medicina e fonoaudiologia. Existem basicamente três estratégias: com intervenção cirúrgica, uso do Continuous Positive Airway Pressure (CPAP), uma espécie de máscara que injeta ar por pressão no nariz, e o uso de aparelho intrabucal, que projeta a língua para frente e abre a região da orofaringe que estava obstruída. No entanto nota-se uma melhora significativa em pacientes que adotam exercícios para normalizar o tônus muscular da base da língua e da musculatura da faringe.