O período citado no texto e conhecido por Guerra Fria pode ser definido como aquele

Por Leando Augusto Martins Junior

Mestre em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

A Guerra Fria começa a ser contada com o envio das bombas atômicas às cidades de Hiroshima e Nagasaki e a consequente rendição japonesa na Segunda Guerra, o mundo parecia finalmente se encaminhar para um cenário mais pacífico. Em meados de 1945, o conflito fora oficialmente finalizado através da assinatura de acordos de paz que decretaram o triunfo dos Aliados e, portanto, a derrota das nações fascistas do Eixo. Muitos foram aqueles que proclamavam, então, a vitória da “democracia” ante o autoritarismo da “extrema-direita”.

No entanto, nesse mesmo cenário, iniciava-se outro conflito que, embora não declarado, viria a ser travado nas mais diversas esferas sociais, impactando nos destinos de todos os países do mundo. Liderados pelas duas grandes potências vitoriosas da 2ª Guerra, esse novo combate colocava em lados opostos dois regimes político-econômicos antagônicos, o capitalismo e o socialismo, então conduzidos, respectivamente, por Estados Unidos e União Soviética.

Após uma aliança momentânea no combate ao nazifascismo, URSS e EUA passavam a se entender como inimigos. Esta luta, porém, não viria a ser combatida numa guerra convencional. Como as duas potências dominavam a tecnologia nuclear, o risco da “destruição mútua” limitava as ações militares de ambos os lados, construindo um cenário marcado por uma espécie de “Equilíbrio pelo Terror”. É justamente a partir de tais referências que podemos determinar o início da Guerra Fria.

Conflito de abrangência internacional, a Guerra Fria serviu como palco de uma intensa e constante disputa entre as potências envolvidas. Aos Estados Unidos, competia desenvolver estratégias com o intuito de ampliar a área de influência da economia capitalista. Para tanto, mostrava-se fundamental estabelecer alianças com o maior número possível de nações. É, neste sentido, que podemos localizar a formação da “Doutrina Truman” e do “Plano Marshall”.

Baseada nas diretirzes estabelecidas pelo então presidente norteamericano Harry Truman, a Doutrina Truman previa a intervenção dos EUA em áreas ameaçadas pelo comunismo. Tal ingerência baseava-se no apoio militar e financeiro a essas regiões. Concomitantemente, o Plano Marshall fundamentava-se no auxílio econômico aos países europeus destruídos pela Segunda Guerra. Buscava, com isso, revitalizar a economia de mercado nessas localidades.

Com o mesmo intuito de bloquear a expansão vermelha, foram criadas ainda a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a OEA (Organização dos Estados Americanos). Internamente, o governo estadounidense realizou uma verdadeira “caça às bruxas”, com a perseguição de “simpatizantes comunistas” presentes no território norteamericano. Liderado pelo senador Joseph McCarthy, tal “caçada” ficou conhecida como Macarthismo.

Do outro lado da “Cortina de Ferro”, as diretrizes socialistas eram estabelecidas, em sua maioria, pela União Soviética. Já nos primeiros momentos da Guerra Fria, o governo de Joseph Stalin liderou a criação do “Comecon” (Conselho Econômico de Assistência Mútua), que buscava aumentar a interação econômica entre as nações socialistas. Buscava-se, assim, fragilizar o mercado capitalista, notadamente no Leste Europeu.

O período citado no texto e conhecido por Guerra Fria pode ser definido como aquele
Cortina de Ferro (Foto: Reprodução/Colégio Qi)

Na lógica da “Corrida Armamentista” e objetivando fazer frente à OTAN, a União Soviética concebeu o Pacto de Varsóvia, acordo que previa a ajuda militar mútua entre as nações ligadas a Moscou. Criou ainda a KGB que, através de um intenso programa de espionagem, cumpria o importante papel de coletar informações que seriam utilizadas no combate a grupos opositores do regime soviético. Funções semelhantes eram desempenhadas pelo FBI e CIA nos EUA, evidentemente em resistência à expansão socialista.

O período citado no texto e conhecido por Guerra Fria pode ser definido como aquele
Construção do Muro de Berlim (Foto: Reprodução/Colégio Qi)

Em meados da década de 1950, a divisão estabelecida pela Guerra Fria ganhou visibilidade a partir da construção do Muro de Berlim. Embora a capital alemã, tal qual o próprio país, já estivesse dividida desde o fim da 2ª Guerra Mundial em duas áreas de influência (uma capitalista e outra socialista), a edificação do muro deu à “Cortina de Ferro” uma espantosa materialidade.

Concretizado, a partir de ações comandadas pelo governo soviético, o Muro de Berlim dificultava a circulação de pessoas entre as duas regiões que formavam a cidade. Entre os anos de 1961 e 1989, período de existência do Muro, a barreira tinha como norte evitar a emigração de indivíduos residentes na porção oriental em direção ao lado capitalista, que então parecia ofertar oportunidades de vida mais atraentes.

Exercício

(Enem 1999)

“Os 45 anos que vão do lançamento das bombas atômicas até o fim da União Soviética, não foram um período homogêneo único na história do mundo. (...) dividem-se em duas metades, tendo como divisor de águas o início da década de 70. Apesar disso, a história deste período foi reunida sob um padrão único pela situação internacional peculiar que o dominou até a queda da URSS”. (HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos. São Paulo: Cia das Letras, 1996)O período citado no texto e conhecido por "Guerra Fria" pode ser definido como aquele momento histórico em que houve:a) corrida armamentista entre as potências imperialistas europeias ocasionando a Primeira Guerra Mundial.b) domínio dos países socialistas do sul do globo pelos países capitalistas do Norte.c) choque ideológico entre a Alemanha Nazista/União Soviética Stalinista, durante os anos 30.d) disputa pela supremacia da economia mundial entre o Ocidente e as potências orientais, como a China e Japão.e) constante confronto das duas superpotências que emergiam da Segunda Guerra Mundial.Gabarito comentado: a opção correta é a letra E, pois define corretamente a lógica fundamental da Guerra Fria, ou seja, um conflito baseado no confrontamento entre os blocos capitalista e socialista, liderados, respectivamente, pelos EUA e pela URSS.

Depois de ler o resumo que preparamos com o tema “Guerra Fria: o Mundo bipolar”, você pode testar seus conhecimentos e ficar mais preparado para o assunto, respondendo as questões sobre Guerra Fria que reunimos nesse post. Elas foram tiradas de provas anteriores do ENEM e de outros vestibulares importantes.

Questões sobre Guerra Fria para treinar

1. (ENEM) Os 45 anos que vão do lançamento das bombas atômicas até o fim da União Soviética, não foram um período homogêneo único na história do mundo. (…) dividem-se em duas metades, tendo como divisor de águas o início da década de 70. Apesar disso, a história deste período foi reunida sob um padrão único pela situação internacional peculiar que o dominou até a queda da URSS.

(HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos. São Paulo: Cia das Letras,1996)

O período citado no texto e conhecido por “Guerra Fria” pode ser definido como aquele momento histórico em que houve:

a) corrida armamentista entre as potências imperialistas europeias ocasionando a Primeira Guerra Mundial.

b) domínio dos países socialistas do Sul do globo pelos países capitalistas do Norte.

c) choque ideológico entre a Alemanha Nazista / União Soviética Stalinista, durante os anos 30.

d) disputa pela supremacia da economia mundial entre o Ocidente e as potências orientais, como a China e o Japão.

e) constante confronto das duas superpotências que emergiram da Segunda Guerra Mundial.

2. (ENEM) Do ponto de vista geopolítico, a Guerra Fria dividiu a Europa em dois blocos. Essa divisão propiciou a formação de alianças antagônicas de caráter militar, como a OTAN, que aglutinava os países do bloco ocidental, e o Pacto de Varsóvia, que concentrava os do bloco oriental. É importante destacar que, na formação da OTAN, estão presentes, além dos países do oeste europeu, os EUA e o Canadá. Essa divisão histórica atingiu igualmente os âmbitos político e econômico que se refletia pela opção entre os modelos capitalista e socialista.

Essa divisão europeia ficou conhecida como:

a) Cortina de Ferro.

b) Muro de Berlim.

c) União Europeia.

d) Convenção de Ramsar.

e) Conferência de Estocolmo.

3. (FGV) Em junho de 1947, o governo dos EUA passou a implementar um projeto de reconstrução da Europa denominado Plano Marshall. Qual dos tópicos a seguir NÃO é uma causa desse plano:

a) o temor trazido pela criação do Mercado Comum Europeu (MCE);

b) o deslocamento do controle do capitalismo da Europa para os EUA e sua crescente influência sobre os países europeus;

c) a necessidade que a Europa tinha de reunir recursos para pagar o seu principal credor, os EUA, que lhe forneceram desde alimentos até materiais bélicos durante a II Guerra Mundial;

d) a necessidade de se reconstruírem as cidades e de recuperarem a indústria e a agropecuária europeia, devastadas durante a II Grande Guerra;

e) o interesse que os Estados Unidos tinham em fortalecer a ordem capitalista na Europa Ocidental e, assim, impedir a expansão do socialismo no continente.

Gabarito das questões sobre Guerra Fria

Comentário: A alternativa A está errada no momento em que apenas descreve os fatos anteriores à primeira guerra. A letra B sugere uma divisão homogênea dos domínios, o que não acontece. A alternativa C está claramente errada quando cita os anos 30, sendo que a própria questão nos remete ao pós-45 e a letra D talvez se assemelhe melhor aos dias atuais, onde a China disputa o mercado com os EUA, mas não é a resposta que gostaríamos. A alternativa E é a correta, pois mostra que, após a segunda guerra, as grandes potências que ainda estavam de pé começaram a sofrer um confronto ideológico.

Comentário: Quando citamos OTAN e Pacto de Varsóvia estamos falando de duas correntes que podiam se enfrentar e tinham poder bélico. Ambas protegiam seus aliados, logo, esta característica militar fez este embate ficar conhecido como “Cortina de Ferro”, referindo-se à proteção, blindagem que tudo isso ocasionava. O muro de Berlim é uma questão física e se encontrava apenas na Alemanha. A União Europeia trata-se basicamente de um acordo econômico e só começa a acontecer em 1957. Já as convenções de Ramsar e Estocolmo não fazem referência nem à OTAN e nem ao pacto.

Comentário: Usando apenas uma linha cronológica, já podemos solucionar esta questão logo de primeira. Não podemos temer algo que não aconteceu, correto? O Plano Marshall é de 1947, já a criação do Mercado Comum Europeu, futura União Europeia, só ocorre em 1957, ou seja, 10 anos depois. Diante disso nós podemos caracterizar a alternativa A como a opção a ser marcada. Todas as outras alternativas nos mostram com clareza realidades referentes à conjuntura de implementação do Plano Marshall.

Com essas questões sobre Guerra Fria e os comentários sobre suas respostas, você vai poder se preparar muito melhor para o ENEM e outros vestibulares. Continue acompanhando o blog da Descomplica!