O inicio da comparação ditadura da chile

Em uma foto, uma maioria de mulheres, saias, bermudas e crianças. Na outra, 100% de homens brancos engravatados.

Comparações entre o gabinete de ministros apresentado nesta sexta-feira (21) pelo presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, –a primeira imagem– e o apresentado pelo então presidente Patricio Aylwin, em 1989, –a segunda– viralizaram nas redes sociais.

"Assim era em 1990 o primeiro gabinete da volta à democracia, quando Patricio Aylwin era presidente, e assim é parte do gabinete do presidente eleito Gabriel Boric em 2022", tuitou o perfil do canal TVN, do Chile.

Dos 24 nomes anunciados por Boric, 14 mulheres e 10 homens; prevalece um perfil político moderado, e a média de idade é de 49 anos. Um dos destaques é a ex-deputada Maya Fernández Allende, neta do presidente socialista Salvador Allende, derrubado no golpe de Estado de 1973. Ela será ministra da Defesa.

O esquerdista Boric toma posse em 11 de março como o mais jovem presidente do Chile, com 35 anos.

Do Partido Democrata Cristão, Aylwin foi o primeiro presidente do país após 17 anos de ditadura, liderando a transição chilena para a democracia.

Mas, enquanto muitos celebraram a mudança estampada nas fotos, outros a relativizaram e criticaram.

"Agora sim, com mães, jovens, velhos e todos aptos para sua posição, não um bando de avôs com conflitos de interesse", comentou Carla Rojas.

"Esses velhos levaram o país para frente, o primeiro gabinete em uma democracia. Espero que esse gabinete se saia bem; independente de sexo, idade, se são mães ou não, o importante é a capacidade", respondeu Christopher Guillermo.

"Que grande acerto essa foto. O que é a mudança geracional: mais mulheres que homens, algumas com crianças, muitas cores. Gosto que o mundo esteja mudando", disse Carlos Carrasco.

"Me parece maravilhoso. A primeira foto a única coisa que reflete é vender a pomada de seriedade e responsabilidade que nunca existiu. Alguns creem que vestir-se bonito significa algum grau de superioridade ou intelecto", opinou Leandro Gillibrand.

"Primeiro gabinete após 17 anos de ditadura. Pinochet ainda com poder e grupos extremistas operando. Não foi fácil. Um país com 60% de pobreza. Tremendo desafio. O Chile não nasceu hoje, menino", respondeu Cristian Higueras.

"Essa foto evidencia o retrocesso da nossa democracia e classe política. No governo do presidente Aylwin, os ministros eram especialistas em sua área; no gabinete de Boric, só há voluntarismo, utopia, ignorância, populismo, clientelismo e 'bicocracia'", disse Angel de la Cruz.

"O que poderia dar errado neste novo Chile refundacional?", questionou o perfil DGL.

"Muito melhor a deste ano, sem dúvidas. Gente jovem, que quer mudar as coisas. Desejo-lhes muito sucesso em seus respectivos cargos", disse Juan Paredes.

"Acima, decência total, outro nível de educação. Abaixo, bando de inúteis", disse Eugenio Gomez.

"Os tempos mudam, agora todos de máscara. Não há dúvida de que são diferentes, em 2022, todos netos do gabinete de 1990", respondeu Anna.

A presença das crianças na foto de Boric também foi notada.

Outros ironizaram a informalidade dos novos ministros.

"Dizem que a mudança foi em 32 anos. Mas os comentários são puro preconceito", afirmou Felipe Rioseco.

"Uma demonstração da mudança geracional e da realidade atual do nosso país, diverso e menos formal. Gente academicamente muito preparada, com e sem experiência em suas pastas. Só quero desejar o melhor para o nosso país, porque precisamos", escreveu Priscilla Marinkovic.

Período
1973-1990

Esta sequência didática propõe a comparação entre as ditaduras militares ocorridas em alguns países sul-americanos: Argentina, Chile e Uruguai. Em diversos momentos, a comparação entre os regimes instituídos e sua forma de ação desdobrou-se em juízos de valor, ou seja, criou-se uma hierarquia de regimes “piores” e “melhores”. Pretende-se estimular os alunos a refletir sofre as diferentes configurações dos regimes repressivos em alguns países da América do Sul, incluindo o Brasil, sem que dela decorra julgamentos e hierarquizações.

Orientações gerais Incentive os alunos a realizar a pesquisa de forma que a simples cópia de informações de alguma fonte seja desestimulada. Não basta coletar informações de forma aleatória, mas encontrar respostas para algumas questões que eles tenham previamente. A pesquisa também deve ser realizada em fontes confiáveis; alguns sítios na internet serão indicados.

Leve em consideração que, ao longo da pesquisa, serão encontrados documentos (visuais, musicais ou textos) que poderão estar em espanhol. Comente com os alunos que é uma língua possível de ser compreendida para falantes de português mesmo sem ter estudado a língua, e que existem inúmeros dicionários na internet que podem auxiliar na compreensão de palavras mais difíceis.

Produto final: Apresentações sobre os regimes ditatoriais em cada país e debate sobre o tema “Ditadura ou ‘ditabranda’: comparar ou julgar as ditaduras militares na América Latina”.

Para o professor

Leituras BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é? Como se faz? São Paulo: Loyola, 2006. BAUER, Caroline Silveira. Brasil e Argentina: ditaduras, desaparecimentos e políticas de memória. Porto Alegre: Ed. Medianiz, 2011.

FICO, Carlos et al. Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2008.

Filmes
Desaparecido (1982). Direção: Costa Gavras. 122min. O filme conta a história da busca de um pai por seu filho desaparecido nos primeiros dias do golpe de Estado no Chile.

Kamchatka (2002). Direção: Marcelo Piñeyro. 106 min. O ponto de vista de uma criança é o diferencial desse filme sobre a ditadura argentina. O menino e sua família se escondem após o golpe de Estado e buscam viver uma nova vida.

Estado de Sítio (1972). Direção: Costa Gavras. 94min. O filme clássico de Costa Gavras mostra o conflito entre a ditadura uruguaia e os guerrilheiros do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros em torno do sequestro de um funcionário da CIA.

Esperança (2011). Direção: Enrique Carbadillo e Sylvie Moreaux. 98min. Documentário de cineastas franceses sobre a ditadura no Paraguai. Por meio de entrevistas com artistas que viveram o período ditatorial, o filme busca resgatar a experiência artística nos tempos da ditadura de Alfredo Stroessner.

Etapas
1. Sondagem inicial Inicie o trabalho questionando os alunos sobre a existência de outras ditaduras militares em países sul-americanos. Chame a atenção para o fato de que a maioria delas ocorreu ao mesmo tempo em que no Brasil, como é o caso de Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai. Esse dado reforça a ideia de que a ditadura militar no Brasil não foi um evento isolado, e sim um projeto de combate ao comunismo na região e de aumento da zona de influência dos EUA no contexto da Guerra Fria.

Na sequência, proponha a exibição da série de reportagens sobre os 50 anos das ditaduras no Cone Sul como forma de introduzir o tema entre os alunos.

2. Pesquisa orientada Divida a sala em quatro grandes grupos. Cada um deles ficará responsável por investigar os regimes ditatoriais de um país indicado (Argentina, Chile e Brasil).  É importante deixar um grupo responsável por sistematizar as informações sobre a ditadura no Brasil para facilitar, posteriormente, a comparação entre os diferentes regimes. Sugira a leitura dos textos do portal sobre as ditaduras de cada país, de forma que os alunos tenham uma visão panorâmica da especificidade de cada processo. Cada grupo deverá ler o texto referente ao país que irá estudar. Após a leitura, propicie um momento para que cada grupo converse sobre o que foi lido.

O objetivo é fazer com que os alunos iniciem a reflexão sobre os processos autoritários nos países vizinhos. A partir das informações presentes nos textos introdutórios, eles poderão levantar questões e dúvidas que deverão ser respondidas com a realização de uma pesquisa.

3. Roteiro de pesquisa Para aprofundar o estudo das ditaduras no Uruguai, na Argentina e no Chile, solicite aos estudantes que realizem uma pesquisa com base no roteiro a seguir: * País: * Período: * Ditador(es) governant(es): * Participação dos EUA no golpe e relação com os governos ditatoriais: * Número de mortos e desaparecidos: * Grupos de resistência e estratégias utilizadas para combater a ditadura: * Resistência civil (grupos de direitos humanos, sociedade civil etc.) * Grupos artísticos de resistência (artes plásticas, música, teatro etc.). Devem selecionar trechos de canções, cenas de filme, obras literárias. * Processo de democratização: anistia ou responsabilização dos envolvidos no regime? Alguns elementos são fundamentais na comparação entre essas ditaduras e delas com o Brasil, especialmente para o debate proposto no final da sequência didática:

I. Ditadores

No Chile houve somente um ditador (o militar Augusto Pinochet); na Argentina, houve alternância entre militares (mas grande parte do período o governo foi ocupado por Jorge Rafael Videla); no Uruguai, houve alternância entre civis.

II. Número de mortos e desaparecidos

O número de desaparecidos e mortos na Argentina e Chile é bastante superior aos do Brasil e Uruguai, como indicam as matérias a seguir:

Chile – 40 mil mortos


Argentina – 50 mil mortos
Uruguai – cerca de 200 pessoas
III. Democratização: A Argentina condenou Jorge Rafael Videla à prisão perpétua; ele morreu na cadeia. O Chile nunca conseguiu condenar Augusto Pinochet, apesar de várias tentativas. O Uruguai processou e condenou à prisão Juan María Bordaberry. Além disso, houve a instauração de Comissões da Verdade em todos os países, como forma de investigar os responsáveis pelos crimes. Além dos textos do portal, existe muita documentação na internet sobre as ditaduras militares na América do Sul. Sugira alguns endereços aos alunos. Como foi dito antes, alguns sítios estarão em espanhol. Ao lado, estão indicados sítios em espanhol e em português. Se julgar necessário, estimule uma conversa com a turma a respeito de alguns critérios de confiabilidade de material coletado na internet. Auxilie os alunos a se organizarem dentro dos grupos. Eles poderão se dividir em equipes responsáveis por diferentes temas: cultura, mortos e desaparecidos, militares etc.

Argentina


Memoria abierta
Golpe militar instaura ditadura na Argentina
Chile
Memória chilena
Golpe militar chileno
Uruguai
História da ditadura no Uruguai
A gestação do golpe no Uruguai

4. Apresentação das pesquisas
Cada grupo deverá apresentar suas pesquisas a partir do roteiro elaborado anteriormente. A apresentação tem o objetivo de compartilhar o conhecimento mais aprofundado sobre as ditaduras na América do Sul, adquirido com a pesquisa.

5. Finalização Debate sobre o tema “Ditadura ou ‘ditabranda’: comparar ou julgar as ditaduras militares na América Latina” Pergunta que poderá orientar o debate: “É possível dizer que uma ditadura foi ‘ditabranda’?”

O termo “ditabranda” já foi utilizado para se referir a outros regimes autoritários na história. No caso brasileiro, ele foi utilizado pelo jornal Folha de S. Paulo, em um editorial de 2009, chamado “Limites a Chávez”, com a intenção de relativizar e minimizar o processo ditatorial brasileiro.

Muitas vezes, a comparação entre a ditadura militar brasileira e outras ditaduras na América Latina levou à hierarquização, ou seja, ao entendimento de que um regime foi pior, ou “mais ditatorial” que outros.

Essa ideia também está na base de uma historiografia negacionista sobre a ditadura militar no Brasil, que defende que não houve ditadura entre 1964 e 1968 no país, como é o caso do artigo de Marco Antônio Villa publicado no jornal O Estado de S. Paulo.


Por fim, especialistas têm se encarregado de desconstruir essa interpretação, indicando a especificidade do processo ditatorial de cada país e evidenciando a violência e o autoritarismo do regime brasileiro. Esse é caso da matéria “Derrubando o mito da ditabranda“, publicada na revista Teoria e Debate. Forneça aos alunos cópias dos textos para qualificar o debate. Se achar apropriado, recorte apenas trechos que julgar importantes. Esses materiais darão subsídio às discussões.

Escolha um aluno para ser o mediador do debate; ele deverá cuidar do tempo de cada fala, segundo as regras combinadas previamente.

Skip to content