Festas sagradas e festas profanas qual a diferença

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na vitória, na derrota, no nascimento, na morte, na perda e no ganho, como diz o

povo, ‘quem canta seus males espanta’. Há música para todos os momentos e

acontecimentos da vida, a música está presente nos acontecimentos sagrados e

profanos, se não existisse a música nossos cultos e liturgias não teriam graça, não

falariam à vida. A música sem a dança ficaria pobre, a dança é a maneira de o

corpo interagir com a música, é a maneira de extravasar e quebrar as couraças que

a vida e o cotidiano insistem em colar em nosso corpo, se o corpo é um espaço

sagrado, por ser criação de Deus, por que ficar cheio de rigidez e couraças?

A dança quebra essas couraças e rigidez, pois, dançando,

movimentamos a energia da vida presente em nós, que o cotidiano castrador

insiste em querer apagar. A música e a dança ligam, integram e religam. Ligam

o homem a si mesmo, dando consciência do seu corpo e, consequentemente,

dos seus limites, couraças e rigidez, impulsionando-o na superação; integram o

indivíduo a seu semelhante, dançamos com o outro, mesmo quando se dança

sozinho, a dança tem algo de coletivo, porque é na vida em grupo, em

comunidade que nos tornamos fortes na superação das dificuldades que o meio

insiste em colocar em nossos caminhos, o homem é um ser para o outro, não

fomos criado para nós mesmos, no tornamos humanos em grupo (CAMPBELL,

2004, p. 75-77). A música e a dança nos religam a nós mesmos, ao coletivo, ao

cosmos, ao transcendente, a Deus, pois ele nos ajuda na superação dos limites,

mantendo acessa a crença na força da vida.

Não existe festa e liturgia sem alimentos e bebidas, o corpo precisa

desses elementos para se fortalecer para a longa jornada que é o viver, um corpo

sem alimento se fragiliza, o fraco no primeiro obstáculo fenece, desiste, por

falta de forças, o ato de comer e beber fortalece os laços de união do grupo,

tanto familiar como comunitário. A comida é a base do sustento da vida

biológica, por isso a sua preparação é sagrada, quem prepara a comida interage

com ela, transmitindo seus sentimentos e energia, daí antigas culturas (o que

infelizmente foi perdida na cultura atual) adotarem regras de pureza para quem

preparava os alimentos, conhecimento ainda hoje preservado no Candomblé.

A bebida (com teor alcoólico) serve como elemento desinibidor, relaxante,

socializador, que ajuda a quebrar os formalismos e as máscaras sociais que

usamos em nosso cotidiano. É importante destacar o uso de maneira equilibrada

da comida e da bebida, o excesso é prejudicial, por perder de vista o seu objetivo,

todo extremo é desestruturante e pernicioso, daí as tradições religiosas sempre

apontarem para o equilíbrio entre os extremos.

As festas religiosas, o profano no sagrado

Rev. Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 435-442, jul./dez. 2009

As festas nada religiosas geram debate polêmico e críticas ao poder público

Festas sagradas e festas profanas qual a diferença

A palavra “profano”, entre alguns significados de dicionários, é a música não sacra ou que tem relação com festas não religiosas. Também pode significar a ação que tira algo do sagrado. E curiosamente, em plena Semana Santa, o que é “profano” acontece. Além das tradicionais festividades religiosas e rituais, em muitas cidades pernambucanas festas profanas também têm espaço na “programação santa”. 

Frequentadora assídua de inúmeros desses eventos no período é Vanessa Rodrigues, de 23 anos. O interessante é que ela acha isso errado. “Já fui para várias festas na Semana Santa e sei que isso é errado. Entendo que a Semana Santa é uma época de reflexão, com relação ao sofrimento que Cristo passou”, reflete Vanessa. Mesmo assim, ela opina que Deus entende. “Eu acredito que Deus quer que tenhamos o coração puro, e por isso não vejo problemas sérios em ir às festas. Ele não quer que a gente faça as coisas forçadas”, acredita a jovem. 

Festas sagradas e festas profanas qual a diferença
Para o monsenhor José Albérico Bezerra, um dos representantes da Arquidiocese de Olinda e Recife, a busca por um estado laico faz muitas pessoas esquecerem do significado real da Semana Santa e da Páscoa cristã. “A necessidade do mundo é ser laico, porque as pessoas querem ser livres. Na minha época, a Sexta-Feira Santa era de silêncio, onde até os rádios, por exemplo, só faziam menção a Jesus Cristo”, conta o monsenhor.

De acordo com o religioso, além da necessidade de ser livre, existem outros fatores causadores do distanciamento religioso. “São fenômenos da história. É uma série de ações que foram desligando a atenção de muitos da sociedade em relação à religião”, relata José Albérico.

No entanto, ele também aponta o poder público como um dos responsáveis pelos eventos profanos em plena Semana Santa. “Muitos governantes querem dar ao povo o que eles querem, que é diversão. O povo refletir sobre a história de Jesus Cristo não dá audiência. Então, é fazer aquela história do pão e circo para sociedade”, critica o religioso.

De acordo com ele, as pessoas que preferem festas não religiosas no período da Semana Santa, acabam perdendo um momento de reflexão e sabedoria. “Quando agente não celebra, nós não nos recordamos sobre a história de Cristo, que salvou a humanidade. O correto é trazermos para o nosso presente os ensinamentos de Jesus”, aconselha o monsenhor.

“Securalização” e o distanciamento da fé

O profano é resultado do processo de “securalização”. É o que pensa o pastor Ney Ladeia. Ele diz que os tempos modernos criaram pessoas pragmáticas, o que causou o distanciamento religioso. “Não existe a expectativa religiosa e sim a pragmática, que são simplesmente as coisas que as pessoas querem e desejam, principalmente no contexto do capitalismo”, ressalta Ladeia.

O pastor é outro que também acusa as autoridades governamentais  de incentivar eventos que não possuem relação com religião, no período dito santo. “Para as autoridades é um grande feriado com características comercial e política. Aproveita-se a reunião de pessoas e eles aplicam os seus interesses financeiros e políticos”, condena o pastor. De acordo com Ladeia, o aspecto religioso sumiu. “A verdadeira celebração desapareceu para grande parte das pessoas. Com o poder público sem interesse pelas atividades cristãs, é inevitável que esse afastamento não aconteça”, afirma Ladeia.

Diante disso, o pastor declara que a sociedade perde muito, no que diz respeito aos valores. “A família brasileira está destruída, e os pensamentos éticos estão ficando para traz. Quando um indivíduo prefere uma festa profana a um evento da Semana Santa, ele perde a oportunidade de refletir sobre coisas significativas e úteis para a vida dele. Ele precisa entender qual a relevância de Cristo para nossa vida”, declara o religioso.

Poder público: “também respeitamos a Semana Santa” 

A cidade de Gravatá, localizada a 90 quilômetros do Recife, é um dos locais do Estado que realizam grandes festas profanas no período da Semana Santa. Mas, de acordo com a Secretaria de Imprensa do município, as festividades religiosas são respeitadas e têm espaço na programação cultural.

“Gravatá tem um respeito muito grande pelos eventos religiosos. As festas profanas só são realizadas após a meia noite da sexta-feira. Nós também damos espaço aos shows religiosos”, afirma o secretário de imprensa Felipe Vieira.

E dentro das festividades religiosas ou não, o certo é que a cidade vem alcançando bons resultados econômicos. De acordo com Vieira, no ano passado foram movimentados na Semana Santa de Gravatá R$ 7 milhões. A expectativa para este ano é que 120 mil pessoas passem nos eventos do município, sem contar com os próprios moradores.

Aula 01 - Festas Sagradas e Festas Profanas: Qual a Diferença?

Aula 03 - Ritos e Rituais nas Organizações Religiosas

Aula 04 - Festas Religiosas e Populares no Paraná

Aula 05 - Festas Religiosas: Folclore Brasileiro

Aula 06 - Temporalidade: Calendários Sagrados

Aula 07 - Ritos de Passagem

Aula 08 - Quatro Matrizes da Religiosidade Brasileira

Aula 09 - Revisão de Aulas

Aula 10 - Revisão: Calendários Sagrados

Aula 11 - Estado Laico e Religiosidade

Aula 12 - Democracia e Teocracia

Aula 13 - Liberdade Religiosa no Espaço Público e Privado - Parte 1

Aula 14 - Liberdade Religiosa no Espaço Público e Privado - Parte 2

Aula 15 - Direitos Humanos e Liberdade Religiosa

Aula 16 - Princípios Éticos e Valores Morais: Regra de Ouro das Religiões

Aula 17 - Princípios Éticos e Valores Morais: Matriz Indígena

Aula 18 - Princípios Éticos e Valores Morais: Matriz Ocidental

Aula 19 - Princípios Éticos e Valores Morais: Matriz Africana

Aula 20 - Princípios Éticos e Valores Morais: Matriz Oriental

Aula 21 - Diálogo Inter-Religioso e Paz Mundial

Aula 22 - Organização Religiosa, Mídia e suas Tecnologias

Aula 23 - Lideranças Religiosas

Aula 24 - Mitologia e Cosmovisão - Parte 1

Aula 25 - Mitologia e Cosmovisão - Parte 2

Aula 26 - Origem da Vida para as Tradições Religiosas e para a Ciência - Parte 1

Aula 27 - Origem da Vida para as Tradições Religiosas e para a Ciência - Parte 2

Aula 29 - Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo e Ceticismo - Parte 1

Aula 31 - Filosofia de Vida Secular

Aula 32 - A Mulher nas Organizações Religiosas

Aula 33 - Ética e Direitos Humanos

Aula 34 - Lideranças: Diálogo Inter-religioso