Sobre esta revista Navegar por todas as edições Page 2Sobre esta revista Navegar por todas as edições
Interpretação oral e escrita Atividades 1- A moça tecelã pode ser classificado como um conto de fada? O que o assemelha a ele e o que o diferencia? 2- Justifique com elementos do texto esta afirmação: "O tema predominante do conto é o trabalho feliz em função das necessidades básicas legítimas em oposição ao trabalho estressante, que tece os caprichos da ambição alheia". 3- Em que o companheiro dela se diferencia do príncipe dos contos de fada? 4- Divida o texto em introdução, desenvolvimento e conclusão. 5- O que você imagina que o jovem disse à tecelã assim que entrou em sua vida? 6- Por que - de um dia para o outro - ela não pode mais "chamar o sol" nem "arrematar o dia"? 7- Você acha que, mesmo decepcionada com o marido, valeu a pena tê-lo tecido? Por quê? 8 - O tear da moça foi capaz de criar e destruir o companheiro, mas não pôde destecer aquilo que a tornou infeliz. O que foi? 9 - "A tecelagem simboliza frequentemente a atuação do destino; no islamismo, por exemplo, a estrutura e o movimento do universo são comparados a um tecido." Você acha que somos donos de nosso destino ou já nascemos predestinado? O que podemos tecer ou construir? O que podemos desfazer? Dê exemplos concretos e abstratos. 10- Quem você acha que tem o poder de fazer e desfazer a realidade? 11- Você acha que depois do que ocorreu a jovem voltou a tecer outras pessoas ou coisas? Quem? O quê? 12- No final do conto pode-se afirmar que (a) repete o início, com apenas algumas construções diferentes. (b) difere do início: lá a natureza é que faz a manhã, aqui é a moça que a tece. Page 2
A moça tecelã Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço da cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acaba. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela. Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para a frente e para trás, a moça passava seus dias. Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado. Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida. Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade. E feliz foi, por algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar. -- Uma casa melhor é necessária, -- disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, a pressa para a casa acontecer. Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. -- Por que ter casa, se podemos ter palácio? -- perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates de prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre todos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. -- É para que ninguém saiba do tapete, -- disse. E antes de trancar a porta à chave advertiu: --- Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear. Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou, e espantado olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu. Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
01) Justifique o título dado ao texto acima: 03) Justifique com elementos do texto esta afirmação: “O tema predominante do conto é o trabalho feliz em função das necessidades básicas e legítimas em oposição ao trabalho estressante, que tece os caprichos da ambição alheia”: 04) Em que o companheiro dela se diferencia do príncipe dos contos de fada? 05) Apesar de não ser um texto propriamente argumentativo, tente dividi-lo em: introdução, desenvolvimento e conclusão: 06) No início da narrativa, a personagem vivia feliz. Comprove essa afirmação com uma passagem do texto: 07) O que fez com que a jovem tecelã decidisse mudar seu estilo de vida? 08) A maneira como o moço entrou pela porta mostrou, de certa forma, como era sua personalidade. Na sua opinião, o que a maneira como ele entrou indica? 09) O que você imagina que o jovem disse à tecelã assim que entrou em sua vida? 10) Por que – de um dia para o outro – ela não pôde mais “chamar o sol” nem “arrematar o dia”? 11) Na sua opinião, existem pessoas que preferem ver o sol, a chuva, os pássaros a ter um palácio luxuoso? Comente: 12) Você acha que o marido chegou ou não a sentir que se dissipava? Justifique sua resposta: 13) Você acha que, mesmo decepcionada com o marido, valeu a pena tê-lo tecido? Por quê? 14) O tear da moça foi capaz de criar e destruir o companheiro, mas não pôde destecer aquilo que a tornou infeliz. O que foi? 15) Você acha que somos donos de nosso destino ou já nascemos predestinados? O que podemos tecer ou construir? O que podemos desfazer? Dê exemplos concretos e abstratos: 16) Quem você acha que tem o poder de fazer e desfazer a realidade? 17) Você acha que, depois do que ocorreu, a jovem voltou a tecer outras pessoas ou coisas? Quem? O quê? 18) Quanto ao fim do conto, pode-se afirmar que: ( ) Repete o início, com apenas algumas construções diferentes.
( ) Difere do
início: lá a natureza é que faz a manhã; aqui é a moça que a tece. (Algumas questões foram generosamente acrescentadas pela amiga Maria Aparecida) |