Sindrome de asperger o que é

A síndrome de Asperger é considerada uma Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) com expressão mais ligeira. É de notar que na última revisão do manual de diagnóstico mais aceite para as perturbações do neurodesenvolvimento (DSM-5, 2013), a designação síndrome de Asperger desapareceu como diagnóstico. Contudo, o conceito continua a fazer sentido.

As crianças com síndrome de Asperger partilham os desafios na áreas da comunicação, interação social e no comportamento que caracterizam as PEA. Contudo, não apresentam atraso significativo na linguagem e mostram um nível cognitivo normal ou mesmo acima da média em algumas áreas.

Esta síndrome é bastante mais comum do que o autismo clássico. Enquanto este afeta cerca de quatro em cada 10 mil crianças, a síndrome de Asperger afeta 20 a 25 por cada 10 mil. Em Portugal estima-se que existam cerca de 40 mil portadores desta síndrome, que é mais comum nos rapazes do que nas raparigas (cerca de 10 para um).

As manifestações mais típicas da síndrome de Asperger são:

  • A dificuldade em manter um contacto ocular confortável e utilizá-lo de forma dinâmica em conjugação com outras formas de comunicação
  • Desafios em descodificar mensagens para além do conteúdo verbal explícito, em relação com o tom de voz, segundos sentidos, ironia, humor, expressão facial e corporal. Estes sinais são pistas fundamentais para inferir sobre o pensamento, sentimentos e intenções das outras pessoas
  • Pode existir pouca iniciativa de comunicação e/ou comunicação muito centrada nos tópicos de interesse e na perspetiva do próprio, com pouca oportunidade de participação de outras pessoas. A pessoa com esta condição tem dificuldade em avaliar o real interesse do outro na conversa, podendo tornar-se demasiado extensa e aborrecida para o ouvinte; pode ser dada grande importância a detalhes que não interessam à maioria das pessoas
  • São frequentes temas de interesse marcado, que dominam as conversas ou atividades
  • A rotina é apreciada e as alterações podem causar ansiedade e alguma instabilidade no comportamento
  • Podem existir sensibilidades sensoriais, particularmente em relação ao ruído, com incómodo com sons que não afetam a maior parte das outras pessoas
  • É frequente algum grau de descoordenação motora que afeta a destreza e o envolvimento no desporto

É de notar que, a expressão da Síndrome de Asperger no feminino assume características ligeiramente diferentes, como por exemplo: apresentam maior facilidade no contacto ocular, usam mais estratégias de ajustamento específicas para atenuar/disfarçar o desconforto em situações sociais, têm mais facilidade em imitar comportamentos socialmente aceitáveis e podem refugiar-se num mundo de fantasia. Algumas meninas preferem preferir envolver-se em brincadeiras mais ativas do ponto de vista motor e não tanto dependentes da comunicação e linguagem (mais difícil), podendo ser consideradas “maria rapaz”.

Em ambos os sexos, existe maior prevalência de outras condições do neurodesenvolvimento como o défice de atenção, a perturbação de tiques, a ansiedade e a depressão, que precisam de ser reconhecidas e tratadas.

Ao longo do tempo, os desafios das crianças e jovens com Síndrome de Asperger interferem no relacionamento e integração com os pares, no desenvolvimento de amizades e, mais tarde, na integração laboral.

Não se conhece especificamente as causas da Síndrome de Asperger, admitindo-se a preponderância de fatores genéticos, já presentes à nascença, como acontece nas PEA em geral. Os genes que têm vindo a ser identificados estão envolvidos no desenvolvimento cerebral, influenciando a transmissão de sinais entre os neurónios e a forma como a informação é processada.

O diagnóstico da Síndrome de Asperger é clínico, ou seja, é baseado na história e observação do comportamento do indivíduo, com recurso a avaliações de desenvolvimento e entrevistas estruturadas.

É importante que esta avaliação seja cuidadosa e realizada por profissionais com experiência na área, sob pena de produzir excesso de diagnósticos em pessoas que têm apenas alguns traços de comportamento diferentes (um certo “feitio”), mas sem sintomas ou repercussão suficientes para receberem um diagnóstico.

O tratamento da Síndrome de Asperger visa ajudar os indivíduos e as pessoas à sua volta a conseguirem um melhor ajustamento com o desenvolvimento das competências sociais, compreendendo as suas próprias emoções e as dos outros, diversificando os interesses, lidando melhor com as mudanças e gerindo melhor a ansiedade e os comportamentos. O contexto e a forma como o programa de intervenção é organizado depende do perfil e das necessidades do indivíduo, bem como dos recursos disponíveis.

Quando existem condições associadas como o défice de atenção, perturbações de ansiedade ou rituais obsessivos, pode estar indicada medicação específica no sentido de obter um melhor controlo dos sintomas e maior sucesso nas outras intervenções.

De uma forma geral, o apoio e compreensão dos familiares, amigos, professores e colegas é fundamental, bem como a manutenção de um ambiente estruturado.

Não existe forma de a prevenir.

Filipe Glória Silva, Pediatra do Neurodesenvolvimento

Cláudia Rocha Silva, Técnica de Educação Especial e Reabilitação

Síndrome de Asperger é uma desordem popularmente conhecida como uma forma leve de autismo. Essa síndrome está incluída no transtorno do espectro autista, o qual se caracteriza, entre outros aspectos, por deficit na comunicação e interação social, além da presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento.

O nome “síndrome de Asperger” surgiu em homenagem ao médico austríaco Hans Asperger, famoso por trabalhos na área de psiquiatria infantil e pediatria. Atualmente, no entanto, a expressão não é bem vista, uma vez que estudos demonstraram a associação entre Hans e o nazismo.

Leia também: Autismo — transtorno que apresenta diferentes graus de comprometimento

DSM-5 e o transtorno do espectro autista

O transtorno do espectro autista relaciona-se com prejuízo na comunicação e interação social.

Inicialmente a síndrome de Asperger e o autismo eram considerados distúrbios distintos, os quais faziam parte da categoria dos transtornos gerais do desenvolvimento. No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição ou DSM-5, ocorreu a fusão de transtorno autista, transtorno de Asperger e transtorno global do desenvolvimento no transtorno do espectro autista.

A justificativa para essa junção, segundo esse manual, é que “sintomas desses transtornos representam um continuum único de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos”. Antes dessa publicação, a síndrome de Asperger era frequentemente descrita como uma forma leve de autismo.

O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno de desenvolvimento neurológico que se caracteriza por comportamentos e/ou interesses repetitivos e restritos, bem como pela dificuldade na interação e comunicação. Os indivíduos com TEA apresentam diferentes características, sendo o transtorno manifestado de diversas maneiras e com distintos graus de gravidade em cada pessoa. Enquanto alguns indivíduos apresentam apenas pequenas dificuldades de socialização, alguns podem ser severamente comprometidos, apresentando grande dificuldade de se relacionar, deficiência intelectual, entre outros problemas.

O TEA pode ser reconhecido ainda na infância, sendo possível identificar sinais sugestivos ainda no primeiro ano de vida. Dentre esses sinais, podemos destacar interesses não usuais, incômodo com sons altos, baixa atenção à face humana, não seguir pessoas e objetos próximos em movimento, pouca ou nenhuma vocalização, não aceitar o toque, não responder ao nome, baixa reciprocidade social, pouca responsividade durante a amamentação, entre outros.

Apesar de esses sinais surgirem precocemente, o diagnóstico ocorre, em média, quando a criança atinge 4 ou 5 anos de idade. Esse diagnóstico tardio pode ser prejudicial no que diz respeito ao desenvolvimento de suas potencialidades.

Cada pessoa com TEA é única, pois as manifestações variam muito de um indivíduo para outro.

O TEA não possui cura, porém a realização precoce de terapias podem ajudar a garantir um melhor desenvolvimento do indivíduo. Um dos objetivos das terapias é a melhora da comunicação e das habilidades sociais. Atendimento com profissionais como terapeutas ocupacionais, psicólogos e fonoaudiólogos podem ser fundamentais nesse processo.

Vale salientar que não existem medicamentos específicos para o tratamento do TEA, porém medicamentos para tratar outras condições associadas podem ser indicados. Estudos sugerem que o TEA é causado por uma combinação de fatores ambientais e genéticos.

Leia também:  Transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) 

Hans Asperger

Hans Asperger (1906-1980) foi um médico austríaco que ficou conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da psiquiatria infantil e pediatria. Devido às suas contribuições, o nome “síndrome de Asperger” foi dado em sua homenagem. A homenagem, no entanto, foi feita sem que algumas informações sobre Hans fossem conhecidas.

Um trabalho publicado em 2018 e intitulado Hans Asperger, National Socialism, and “race hygiene” in Nazi-era Vienna revelou que Hans cooperou com o programa de “eutanásia” infantil, sendo colaborador no assassinato de várias crianças com deficiência, as quais possuíam características consideradas indesejáveis. Muitas pessoas, atualmente, discutem se o nome do médico deve ser utilizado, levando-se em consideração a sua história.

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