Por que frida kahlo é um simbolo feminista

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Por que frida kahlo é um simbolo feminista
Por que frida kahlo é um simbolo feminista

Sessenta e cinco anos após morte da pintora mexicana, seu rosto estampa objetos e é usado por coletivos feministas. (Foto: Reprodução)

Mexicana, pintora, comunista e bissexual, Frida Kahlo teve sua vida retratada em livros, peças de teatro e filmes – além das inúmeras exposições de sua obra. Morta em 1954, aos 47 anos, ela se tornou símbolo do feminismo , inclusive no Brasil. Seu rosto estampa canecas, camisetas, cadernos e os mais diversos objetos – uma maneira de quem se identifica com a pintora expressar sua admiração. Mas como Frida, 65 anos após sua morte, se tornou um ícone feminista?

Para a mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, Janaina Andrade, a ressignificação da imagem da pintora no Brasil tem raízes nas manifestações de mulheres; “Em 2015, já havia um movimento de questionar quem eram as mulheres que fugiram do padrão. Perceberam, então, que Frida Kahlo foi uma delas. Exposições de sua obra e a explosão das mídias digitais, em que sua imagem foi associada aos coletivos feministas, também foram importantes.”

“Acredito que uma série de discussões, até mesmo no ambiente acadêmico, permitiram que a imagem da Frida fosse ressignificada”, explica a pesquisadora, para quem, a partir das manifestações pró-aborto e contra o ex-presidente da câmara Eduardo Cunha há uma virada na narrativa sobre Frida. “Ela passa de uma mulher sofrida para empoderada, uma líder de artistas mulheres que vivia a sua sexualidade.”

O caráter autobiográfico das obras de Frida Kahlo é um fator de identificação e aproximação com as demandas do feminismo contemporâneo, segundo Janaína.

“Uma das características dessa onda recente do feminismo é o relato pessoal expresso em campanhas como o “meu primeiro assédio” e o #metoo, por exemplo. Isso é uma coisa muito presente na obra da Frida. Por isso, acredito que a ressignificação da imagem dela tem a ver com os relatos autobiográficos.”

As roupas masculinas, a “monocelha” e o buço de Frida Kahlo são marcantes em seu visual e refletem a personalidade da artista. Nas obras, a mexicana retratava a si mesmo e, embora sua estética se aproximasse do Surrealismo, negava ser surrealista. Ela afirmava que não pintava sonhos, mas sua realidade.

“A Frida teve uma vida muito fora dos padrões. Ela se pintava e se retratava nua, menstruando após um aborto. Havia ainda o corpo fora do padrão e a sexualidade. Apesar do relacionamento abusivo com Diego Rivera, ela vivia os seus amores. Esses temas são tabus ainda hoje”, afirma a pesquisadora.

Para Janaina, feministas veem em Frida Kahlo uma imagem de liberdade: “Quando a Frida é apropriada pelos coletivos feministas, eles a estão vinculando a um símbolo de força, de liberdade feminina e de ruptura com o corpo e a imagem fora do padrão. Ela não é só uma personagem, é autenticidade. Tem a ícone pop estampada nas canecas, mas a Frida dos coletivos feministas fala para quem se identifica com a história dela.”

Frida Kahlo contraiu poliomelite aos 6 anos de idade. Aos 18 anos, sofreu um acidente de bonde, que lhe obrigou a usar coletes ortopédicos, além de deixou com dores intensas para o resto da vida. Teve dois abortos espontâneos, viveu um relacionamento abusivo e conturbado com o também pintor Diego Rivera, que vivia relações extraconjugais, assim como ela. Frida foi redescoberta pelos movimentos feministas como símbolo de liberdade, como alguém que confrontou em seu modo de vida e em sua obra os padrões de gênero da época em que viveu.

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Nesta segunda-feira (6), a pintora Frida Kahlo completaria 113 anos. A artista, que é um símbolo de força, arte e inspiração para o movimento feminista e LGBTQ, teve uma trajetória pessoal e profissional intensa, retratada nas páginas de seu diário que viraram livro depois da sua morte. Importante figura na arte mexicana, ela foi a primeira artista de seu país a ter obras expostas no Museu do Louvre, em Paris.

Trajetória

Frida nasceu em 1907, em Coyoacán, no México. Sua mãe, Matilde Gonzalez y Calderón, era uma católica devota e tinha origem indígena e espanhola. Já seu pai, Guillermo Kahlo, era alemão e chegou ao México em 1891, aos 19 anos, quando mudou o seu verdadeiro nome, “Wilhelm”, para o equivalente em espanhol, "Guillermo". A relação de Frida com a arte se inicia na infância, junto com o pai, que tinha como hobbie fazer pinturas autorais e tirar fotografias.

Foi ainda pequena que ela contraiu poliomielite, doença que deixou uma lesão em seu pé esquerdo, lhe rendendo o apelido de “Frida perna de pau”. Aos 18 anos, ela sofre um grave acidente de ônibus, que se chocou com um trem, tendo perfurações por todo o seu corpo. Ela passou por 35 cirurgias e ficou muitos meses entre a vida e a morte. Foi neste período que começou a pintar, com um cavalete adaptado à cama, usando as tintas de seu pai.

Suas pinturas representavam a angústia que sofria com sua condição devido ao acidente. Ela chegou a usar coletes ortopédicos de diversos materiais, retratados em sua obra “A Coluna Partida”.

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"A Coluna Partida", de Frida Kahlo.

Em 1928, ela entra para o Partido Comunista Mexicano e conhece o também pintor Diego Rivera, com quem se casa no ano seguinte. A obra do marido influencia Frida a adotar o estilo “ingênuo” em suas pinturas, conceito que designa os artistas autodidatas que empregam um estilo próprio, baseado em fontes eruditas e folclóricas.

Frida Kahlo buscou em suas pinturas afirmar a identidade nacional do México, adotando temas do folclore, da arte popular mexicana, explorando questões de identidade, pós-colonialismo, gênero, classe e raça. Ela também fez muitos auto-retratos e representações de seu amor por Diego Rivera, com quem teve um casamento tumultuado, recheado de brigas e traições de ambas as partes.

Frida, que era bissexual, teve um caso com o revolucionário Leon Trotski depois de se separar de Rivera e manteve várias relações com mulheres das quais já tinham se relacionado também com o pintor. Já Rivera mantinha um relacionamento com a irmã mais nova de Frida Kahlo, Cristina.

Após idas e vindas, Kahlo e Rivera se casam novamente em 1940. Desta vez, ele moram em casas separadas, uma ao lado da outra, que eram conectadas por uma ponte. Frida engravidou mais de uma vez, mas sofreu diversos abortos devido às sequelas em seu útero ocasionadas pelo acidente de ônibus.

Em 1950, os médicos diagnosticam que seria necessário amputar sua perna direita de Frida, por conta da poliomielite que ela teve na infância, o que levou a pintora a entrar em depressão.

Ela faleceu em 13 de julho de 1954, aos 47 anos. O atestado de óbito registra embolia pulmonar, ocasionada por uma pneumonia que ela havia contraído, mas também há a hipótese dela ter falecido devido a uma overdose estimulada pelos vários remédios que tomava. As últimas palavras foram encontradas em seu diário: "Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais", o que também abre a hipótese para um suicídio.

Após sua morte, Diego Rivera exigiu 15 anos de segredo para os pertences do casal. Ele faleceu três anos depois, deixando os seus bens com Dolores Olmedo, uma colecionadora de arte, que se recusou a dar acesso às peças até para o Museu Frida Kahlo. Somente após sua morte, em 2004, os objetos e roupas do casal nunca antes vistos pelo público, foram enviados para a exposição na Casa Azul - o Museu da Frida Kahlo. No site do Museu é possível fazer um tour virtual pela Casa Azul de Frida.

O rosto e algumas das principais obras da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) estampam cadernos, bolsas e camisetas mundo afora. Com seus trajes típicos e as sobrancelhas naturais, ela virou não só uma das artistas mais conhecidas do México, como também um símbolo do feminismo, criando alguns debates em torno da sua figura.

"Mas eu não considero que Frida Kahlo foi uma feminista. Ela foi militante política, mas não feminista nos termos em que conhecemos agora", diz a fotógrafa Cristina Kahlo, sobrinha-neta da artista.

Cristina participou na última quarta-feira (24) de uma coletiva de lançamento do documentário "Frida: Viva la Vida", que estreia no próximo 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, no canal National Geographic em todo o mundo.
Dirigido por Giovanni Troilo, o filme trata de Frida como artista: livre, apesar das limitações de um corpo torturado, mas também ícone e um símbolo do feminismo contemporâneo. Cristina é uma das entrevistadas no documentário.

"Frida não foi feminista, considero que foi muito feminina. A realidade é que dependeu, econômica e emocionalmente, dos homens, ainda que em alguns momentos tenha manifestado que queria ser mais independente. Se não era Diego Rivera, de quem era fortemente dependente emocionalmente, havia Nickolas Muray, fotógrafo que com quem ela teve uma relação duradoura e apoiou-a financeiramente", diz a sobrinha-neta.

Frida Kahlo Imagem: Victoria and Albert Museum

Em sua militância, Frida estava mais preocupada com as questões de classe e não militou em movimentos de mulheres. Aos 21 anos, filiou-se ao Partido Comunista Mexicano e esse foi o tema de alguns de seus quadros, como "O marxismo dará saúde aos doentes" (1954). Ela também chegou a ter um romance com Leon Trótski, um dos líderes da Revolução Russa de 1917, que se exilou no México nos anos 1930.

Manteve relações com homens e mulheres, mas em cartas, diários e em parte de suas pinturas, Frida deixa claro que seu grande amor sempre foi o muralista mexicano Diego Rivera, com quem se casou duas vezes e se separou outras tantas.

Uma mulher que seu deu a liberdade

"Efetivamente, Frida foi uma mulher que se deu todas as liberdades, tinha uma mentalidade muito aberta para a época, mas não se poderia encaixar dentro do feminismo particularmente", afirma Cristina Kahlo.

Apesar da desigualdade entre homens e mulheres não ser parte da sua militância, se vivesse no mundo de hoje, diz a fotógrafa, Frida possivelmente seria vista nos protestos contra a violência de gênero. "Como uma mulher forte que era, porque tinha esse lado também, acredito que ela definitivamente seria feminista se vivesse hoje."

Como 'descobriu' a tia-avó famosa

Cristina nasceu em 1960, seis anos depois da morte de Frida Kahlo, em 1954, e conta que ouvia do pai histórias da tia pintora que adorava festas, música e que tinha animais exóticos em casa. Foi só aos 10, por acaso, que descobriu a intensidade e a relevância da obra da artista.

"Eu me lembro de abrir, na biblioteca de casa, um livro que se chamava 'Cinco pintores mexicanos', que tinha algumas ilustrações de obras de Frida Kahlo, entre as quais a que se chama 'A coluna quebrada' ['La columna rota']. Foi um choque tremendo ver essa tia, que para mim era tão alegre, rodeada de animais e flores em um jardim maravilhoso, com a coluna quebrada. Esse foi o meu primeiro impacto diante de Frida Kahlo", conta.

O quadro citado retrata as dores que a pintora sentia após uma das cirurgias que fez na coluna, por conta de um acidente de trânsito que sofreu aos 18 anos.

Com o tempo, Cristina Kahlo começou a estudar e a pesquisar sobre a tia famosa, não só a partir das histórias de família, mas também de suas obras. Em 2007, foi uma das curadoras da parte fotográfica de uma exposição em homenagem a Frida Kahlo, realizada no Museu de Belas da Cidade do México.

"O mais complicado para mim não foi construir o personagem de Frida sendo da família, mas foi me construir enquanto artista", diz Cristina, que também cresceu sob a influência artística do bisavô, Guillermo Kahlo, que era fotógrafo.
"As pessoas pensam que é muito fácil, que é uma vantagem ser da família Kahlo, mas ao contrário, porque você tem que se construir desde os seus próprios méritos, do que você faz e do que é", conta.

Barbie Frida Kahlo mostra a força do ícone Imagem: Divulgação

A fofura de Mônica como Frida Kahlo Imagem: Divulgação

Ao longo da carreira, Cristina Kahlo teve obras exibidas em mais de 40 exposições coletivas em México, França, Alemanha, Suíça, África do Sul, Bélgica e nos Estados Unidos.

"Fridomania": a artista como estandarte

Cristina conta que, quando estava na escola, nos anos 1970, tinha que soletrar o sobrenome Kahlo, porque ninguém o conhecia. "Hoje todo mundo sabe como se escreve, porque Frida se tornou um ícone popular", conta.

Essa virada aconteceu bem depois da morte de Frida, afirma Cristina, quando em 1983 a escritora Hayden Herrera publicou em inglês a primeira edição do livro "Frida: a biografia", com entrevistas com pessoas que conviveram com a artista e pesquisa sobre a obra e as cartas que ela deixou.

"Como Hayden Herrera é chicana [de origem mexicana] a obra chegou aos Estados Unidos e às feministas chicanas, que tomaram Frida como um estandarte. Daí parte essa ideia, um pouco errada, de que ela foi feminista", conta a fotógrafa.

Imagem: Reprodução

"Essa 'Fridomania' está convertendo Frida em uma espécie de santa, perdendo a perspectiva de que foi uma mulher de carne e osso, que corria sangue pelas suas veias, que gostava de música e tinha altos e baixos", diz. "Não é uma figura plástica, não é uma imagem em uma bolsa, foi uma mulher como todas nós", destaca.

"Seu ensinamento é a autenticidade"

Cristina diz que um dos pontos fortes do documentário "Frida: Viva la Vida", que será lançado agora pela Net Geo, é exatamente mostrar Frida não só como artista, mas também como mulher, em sua profunda complexidade.

"Não podemos falar como se Frida Kahlo fosse a única mulher que sofreu no mundo. Acho que ela se converteu em uma espécie de representante das mulheres, porque você pode se identificar com diversas facetas da sua personalidade, ou seja, se você foi uma mulher enganada pelo marido, se tem alguma deficiência física, se não pode ter filhos ou sofreu um aborto", afirma.

Frida contraiu poliomielite aos seis anos e foi vítima de um acidente em um ônibus escolar aos 18, obrigando-a a conviver com dores e a esconder as pernas (uma mais curta que a outra) nas longas saias mexicanas. No plano emocional, a pintora teve um conturbado relacionamento com Diego Rivera, diversos amantes e nunca conseguiu realizar o sonho da maternidade.

"Às vezes as mulheres pensam que colocar flores na cabeça ou se vestir de tehuana é ser Frida Kahlo. A partir da minha pesquisa e da visão que tenho sobre ela, eu diria que seu ensinamento é a autenticidade. Não é preciso se vestir de Frida para ter um valor pessoal ou para superar uma vida difícil", diz.