O que foi a primavera arabe

Há uma década, países do Oriente Médio e do norte da África passavam por uma série de revoltas cujas consequências são observadas até hoje. Populações de países como Tunísia, Líbia, Egito, entre outros, saíram às ruas para protestar contra governos autoritários e as péssimas condições socioeconômicas que enfrentavam: pobreza, falta de serviços públicos e desemprego, sobretudo entre os mais jovens. Esse fenômeno ficou conhecido como Primavera Árabe.

Segundo os especialistas consultados para essa matéria, “Primavera” sugeria o florescer das democracias populares, em alusão à Primavera dos Povos, no final do século XVIII, e à Primavera de Praga, em 1968. A grande diferença foi que as mobilizações organizadas dessa vez se basearam fortemente no uso de redes sociais, que conseguiram superar a censura dos governos repressivos e não só expandir as manifestações, mas torná-las visíveis ao mundo todo.

Como resultado, essas revoltas populares derrubaram ditaduras que duravam décadas na região, como a da Tunísia.

Para ajudar você a entender melhor o que foi a Primavera Árabe, suas causas e consequências, conversamos com Fernando Caiafa, professor de História do Curso Poliedro, Paulo Inácio, professor do Curso Etapa, e o professor de Geografia do Colégio Oficina do Estudante de Campinas Luis Felipe Valle.

Causas

Como já mencionamos, as causas imediatas para desencadear a insatisfação foram a repressão política das ditaduras, a crise econômica e o desemprego, que atingia principalmente os jovens urbanos e escolarizados.

“As revoltas tiveram início na Tunísia, quando um comerciante local ateou fogo ao próprio corpo e morreu, após ser humilhado pela polícia em uma discussão que envolvia um carrinho de mão que utilizava para vender alguns produtos”, explica Caiafa. Por não ter autorização para comercializar na rua, os policiais o agrediram e todos seus produtos que estavam à venda foram roubados pelas próprias autoridades. 

Após o fato, a população tomou as ruas em um grande protesto, acusando o governo de ser corrupto e altamente violento. O então presidente da Tunísia, Zine el-Abdine Ben Ali, foi forçado a deixar o país em janeiro de 2011 e esse fato inspirou populações de outros países a seguirem o mesmo caminho. “E como um rastilho de pólvora, toda a região experimentou movimentos semelhantes”, explica o especialista. 

Cada país teve suas peculiaridades com lutas específicas, mas existiam muitas questões em comum, pois a região compartilhava dos mesmos problemas e a população se sentia igualmente frustrada. A falta de democracia e de liberdade bem como ações corruptas e pouco transparentes por parte do governo estavam na raiz dos protestos. 

“A crise econômica global a partir de 2008 agravou ainda mais a situação desses países, fazendo disparar taxas de desemprego e inflação, por exemplo. Os mais jovens se sentiam extremamente desamparados pela falta de perspectiva de mudança por meio da política tradicional, considerada pouco confiável e autoritária.” 

Consequências

“Milícias armadas, grupos fundamentalistas e mercenários financiados por países hegemônicos tomaram a frente de grande parte das manifestações e, após mais de uma década de confrontos e luta popular, a Primavera Árabe tem se convertido num longo Inverno”, diz Valle. 

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Segundo o professor, com exceção da Tunísia, que realizou e respeitou eleições democráticas, nos países que passaram pela Primavera, governos teocráticos autoritários foram depostos e substituídos por governos de coalizão, antidemocráticos, militarizados e nocivos à auto-organização dos povos e à soberania dessas nações, ricas em petróleo ou localizadas em rotas estratégicas entre o Mediterrâneo e o Mar Vermelho.

A Primavera Árabe também desencadeou guerras civis de grandes proporções em países como a Síria, Líbia e Iêmen, algumas das quais estão ativas até hoje. No Egito, houve uma tentativa frustrada de democracia, além do avanço brutal do Estado Islâmico, atualmente enfraquecido, porém ainda atuante. 

“Houve, sim, alguns pontuais avanços em países como Marrocos, Jordânia e Arábia Saudita – onde, em 2018, mulheres ganharam finalmente o direito de dirigir veículos. Porém, para um movimento que sonhava com mais liberdade, democracia, serviços públicos de qualidade, o resultado ainda é desanimador”, explica Caiafa. 

Além disso, as guerras acabaram produzindo um grande número de refugiados, que se arriscam em rotas perigosas em busca de um lugar melhor para viver, sobretudo na Europa, mas também em países como o Brasil. 

Os especialistas ressaltam a importância da Primavera Árabe por ter sido um ato supostamente “isolado” que desencadeou protestos de grande proporção que, uma década depois, ainda produzem efeitos. 

Nos vestibulares

Caiafa destaca três grandes tópicos que os vestibulandos precisam dominar para as provas:  

  1. Contexto e causas do movimento  
  2. Principais reivindicações  
  3. Quais foram os desfechos 

Para os vestibulares, Valle também diz que é fundamental reconhecer a importância da internet, sobretudo das redes sociais, na organização popular de uma sociedade conectada em rede, e na influência política, econômica e cultural que exerce. “Ela pode servir tanto como ferramenta de fortalecimento democrático e acesso à informação quanto de alienação, manipulação e controle das massas populares em obediência a interesses geopolíticos de nações hegemônicas, como EUA, China e Rússia”, completa. 

Vale lembrar também do alcance que as redes sociais deram às manifestações de de junho de 2013 no Brasil e ao Black Lives Matter, nos EUA em 2020, em termos de mobilização popular.

Além disso, o professor do Etapa ressalta que esse tema pode ser cobrado a partir da relação com outras revoltas populares da Nova Ordem Mundial, como os protestos de Hong Kong, contra o aumento da repressão chinesa.

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Em 2010 teve início a Primavera Árabe, um movimento de contestação nos países muçulmanos iniciado na Tunísia e que ocorre até os nossos dias.

O movimento se caracteriza na luta pela democracia e por melhores condições de vida decorrentes da crise econômica, desemprego e falta de liberdade de expressão.

Dentre os países que se viram envolvidos estão: Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen, Argélia, Síria, Marrocos, Omã, Bahrein, Jordânia, Sudão, Iraque.

O que foi a primavera arabe
Mapa dos países envolvidos na Primavera Árabe

Principais Causas

As causas para a Primavera Árabe podem ser resumidas em:

  • desemprego;
  • alto nível de corrupção por parte dos dirigentes e da sociedade;
  • falta de liberdade política e de expressão;
  • população jovem, educada e antenada às novidades políticas do mundo;
  • percepção de isolacionismo e desprezo da elite do país.

O Início: A Tunísia e a Revolução de Jasmim

O descontentamento dos tunisianos com o governo do ditador Zine el- Abidine Ben Ali (1936) desencadeou uma série de protestos que ficaram conhecidos como "Revolução de Jasmim".

Num sinal de protesto contra a falta de condições e a brutal repressão policial, o jovem Mohamed Bouazizi (1984-2011), ateou fogo ao próprio corpo. Este fato tornou conhecida a revolução na Tunísia e aumentou ainda mais a revolta da população.

Ao fim de dez dias, a Tunísia consegue depor o ditador e realiza as primeiras eleições livres.

Desdobramento em Diversos Países

O que foi a primavera arabe
A charge mostra os ditadores que foram caindo um após outro devido aos acontecimentos da primavera árabe

A seguir à Tunísia, o movimento se alastrou por outros países árabes que, a seu exemplo, lutaram contra a repressão de ditadores que estavam há décadas no poder.

Em alguns países, porém, as manifestações continuam até os nossos dias como na Argélia e da Síria.

Síria

Os protestos na Síria desencadearam numa violenta uma guerra civil que é apoiada tanto pelos países ocidentais, quanto a Rússia e, ainda, o Estado Islâmico.

Os sírios lutam pela deposição do ditador Bashar al-Assad (1965), que governa a Síria há mais de quatro décadas.

Nesse país, porém, os manifestos têm atingido proporções acima do esperado, que se revelam nas suas graves consequências. Trata-se da utilização de armas químicas e biológicas utilizadas no combate pelo governo sírio. Os números apontam para milhares de mortos e um milhão de refugiados.

Egito

No Egito, a revolução ficou conhecida como "Dias de Fúria", "Revolução de Lótus" ou "Revolução do Nilo". Milhares de cidadãos saíram às ruas para exigir a deposição do presidente Hosni Mubarak (1928, que renunciou após 18 dias de protestos.

Neste país, os "Irmãos Muçulmanos" tiveram um papel fundamental para garantir a continuação do estado de direito e canalizar os anseios da população.

Argélia

Na Argélia, as manifestações foram duramente reprimidas pelo governo com a prisão dos líderes opositores.

Os protestos continuam, visto que o líder do governo que a população pretendia depor, Abdelaziz Bouteflika (1937), ganhou as eleições e permanece no poder.

Iêmen

O Iêmen também fez o governo do ditador Ali Abdullah Saleh (1942-2017) cair meses depois do início da revolta popular. Quem assume o governo é o seu vice, Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi (1945) que se comprometeu a fazer uma transição negociada.

Para isso, contou com a ajuda dos cinco países que integram o Conselho de Segurança da ONU, mais dois da União Europeia. Estes estavam mais interessados em fazer do país um lugar alinhado à sua política anti-terror, sem consultar as diferentes etnias que o compõem.

O resultado foi uma guerra civil sangrenta que prejudica esta nação de 20 milhões, onde 90% depende da ajuda humanitária para sobreviver.

A Arábia Saudita, apoiada por EUA e Inglaterra e vários países árabes, intervém militarmente na região desde 2015, num conflito que já fez 10 mil mortos.

O que foi a primavera arabe
Milhares de líbios foram às ruas pedir a prisão de Gaddafi

As revoltas na Líbia pretendiam acabar com o governo do ditador Muammar al-Gaddafi (1940-2011), que foi morto dois meses depois do início dos protestos.

Sem o poder centralizado e forte de Gaddafi, a Líbia mergulhou numa guerra civil e foi um dos movimentos mais violentos da Primavera Árabe.

Até hoje, o país ainda não encontrou a estabilidade política e várias facções lutam entre si.

Marrocos, Omã e Jordânia

Nesses três países também aconteceram manifestações por mais liberdade e direitos. No entanto, os governos entenderam que era melhor realizar mudanças antes que a situação fugisse do controle.

Assim, Marrocos, Omã e Jordânia, antecipam eleições, reformam suas constituições e gabinetes políticos atendendo parte das reivindicações pedidas pela população.

O Papel das Redes Sociais

O número de usuários das redes sociais, especialmente Facebook e Twitter, aumentou substancialmente nos países árabes por ocasião do início do movimento.

As redes sociais foram o veículo de divulgação utilizado para dar a conhecer às pessoas sobre o movimento, bem como forma de expressar opiniões e ideias acerca do tema.

Igualmente, serviu para saltar à censura dos jornais, televisões e rádios controlados pelo governo em vários países.

Muitos protestos foram marcados e organizados pela população através das redes. Jornalistas e analistas, por sua vez, propagam mais velozmente os seus conteúdos a partir desse mecanismo, que foi sendo restringido pelos governos ao perceberem da sua força.

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