Como anda a inclusão social nos paises comparado ao brasil

Como anda a inclusão social nos paises comparado ao brasil

A acessibilidade no Brasil ainda não é uma realidade para todos. Mesmo que por aqui – segundo os últimos dados do IBGE – praticamente 1/4 da população tenha algum tipo de deficiência, é notável que dias melhores para essa parcela da sociedade ainda demorarão a chegar, infelizmente.

Pelo menos essa é a sensação quando se compara a condição da acessibilidade no Brasil com outros países. Tomando como base a Suécia, que é considerada como uma das nações mais preparadas do planeta quando o assunto é acessibilidade, este fato fica mais que claro.

O país nórdico tem uma população de cerca de 9,9 milhões de pessoas e aproximadamente 1,5 milhão delas apresenta algum tipo de deficiência, número que proporcionalmente é bem menor que os índices brasileiros, já que por aqui a cifra chega a mais ou menos 45,6 milhões de indivíduos.

O natural, portanto, seria que o Brasil fosse um ícone de acessibilidade e não a Suécia, já que, ao interpretar os números acima, percebe-se que a necessidade de políticas de inclusão por aqui são bem mais urgentes. Há quem diga que não caiba qualquer comparação, já que os suecos estão entre os países mais ricos e que mais se cobra impostos da população no mundo, o que levaria a acreditar que este seria o motivo dos ótimos serviços prestados à população por lá. No entanto, o Brasil também figura entre os países com mais altos impostos do planeta, mas a realidade que se vê por aqui é totalmente diferente.

Embora no Brasil tenha havido avanços com relação à acessibilidade, principalmente com o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Nº 13.146 de 6 de julho de 2015), que no papel assegura condições de igualdade, além dos direitos e liberdades fundamentais às pessoas com deficiência, a realidade na prática, porém, ainda é pouco promissora.

Especialistas em arquitetura e urbanismo apontam que por aqui não existe uma cidade sequer que possa ser considerada exemplo em acessibilidade e isto se daria pelo fato de que são priorizadas soluções pontuais e não planejamentos amplos na infraestrutura. Outro ponto importante é a escassez da discussão do tema nas mais diversas esferas da sociedade e nos meios de comunicação de massa.

Suécia iniciou projeto de acessibilidade há duas décadas

Enquanto as políticas públicas e o investimento na acessibilidade não decolam de vez no Brasil, na Suécia esta já é uma realidade há quase 20 anos, pois foi em meados dos anos 2000 que o governo sueco iniciou as medidas de adaptação pelas cidades do país. Em Estocolmo, por exemplo, existe uma equipe que trabalha na questão da acessibilidade junto a representantes da sociedade por meio de reuniões mensais e diálogos com as autoridades. Este departamento faz, por exemplo, dois tours anuais para que os especialistas no assunto verifiquem a melhor maneira de fazer as adaptações nas cidades.

Para se ter uma ideia, de acordo com a coordenadora de Projetos do Departamento de Urbanização da cidade de Estocolmo, estes técnicos contam até com a tecnologia para compreender melhor a situação das pessoas que necessitam da acessibilidade: eles usam um óculos que simula a visão de pessoas com problemas óticos e cadeirantes para terem a noção real de como é estar na condição de deficiente.

O resultado de todo este investimento feito há quase duas décadas? Praticamente todas as calçadas suecas contam com pisos táteis de alerta e direcionais, corrimões e sinalização contrastante em todas as escadas, rampas por todo lugar, meios-fios acessíveis para a entrada de veículos nas paradas de ônibus, alertas eletrônicos que indicam os destinos dos transportes públicos, ônibus e metrôs equipados com elevadores, hotéis totalmente acessíveis, entre outras medidas primordiais de inclusão. Enquanto em terras tupiniquins o avanço da acessibilidade tarda a chegar para todos, que a Suécia sirva como exemplo. Confira um pouco da realidade sueca:

Assista ao vídeo.

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Como anda a inclusão social nos paises comparado ao brasil
Como anda a inclusão social nos paises comparado ao brasil

 Gustavo Tasso

Nos últimos anos o Brasil passou por um dos maiores processos de inclusão social já visto na história, reconhecido internacionalmente pela ONU como um dos melhores do mundo. Sobram dados positivos acerca desse processo de inclusão, que independente de crises externas ou períodos de bonança, continuou este processo. Nos anos 2000 cerca de 50% dos municípios brasileiros possuíam IDH inferior a 0,500, enquanto que após os dois governos Lula (2002-2010) essa porcentagem caiu para 0,5% dos municípios brasileiros. A taxa de crescimento da renda dos 10% mais pobres da população brasileira cresceu em uma faixa de 6,5% ao ano, enquanto que os 10% mais ricos tiveram um crescimento de cerca de 2% ao ano, ressaltando-se o fato de que a distância da renda entre eles continua muito grande.

Quando analisada mais profundamente, observa-se que caso os 10% mais pobres fossem considerados um país, este apresentaria um crescimento maior do que 95% dos países do mundo, ou seja, os pobres brasileiros cresceram mais rapidamente do que 95% dos países, tendo um crescimento próximo ao da China. De acordo com o Banco Mundial [1], entre 2001 e 2013, o número de miseráveis no país caiu de 10% para 4%, entre 1990 e 2013 cerca de 25 milhões de pessoas deixaram de viver na pobreza extrema e ainda de acordo com o PNUD [2], o IDH do Brasil acumulou crescimento de 36,4% entre 1980 e 2013, o que representa um aumento anual médio de 0,95% no índice. Este foi o melhor desempenho entre os países da América Latina no período.

[caption id="attachment_4123" align="aligncenter" width="489"] Crescimento do IDH. Fonte: IBGE[/caption]

Esse incrível processo de inclusão social com redução das disparidades econômicas deveu-se à alguns fatores.

  • Políticas de renda compensatória
  • Valorização real do salário mínimo
  • Recuperação do nível de emprego
  • Maior acesso ao crédito

Entretanto, o grande êxito nesse período reverteu apenas uma parte do problema, tendo em vista que o país continua com absurdas taxas de disparidade econômica. O Brasil continua no ranking dos quinze países mais desiguais do mundo, quando se ajusta o IDH com a desigualdade de renda do país, perdemos cerca de 27%  de nosso IDH. Ainda existem cerca de 13 milhões de pessoas no país que são miseráveis. Observa-se também a existência – dentro dos limites territoriais – de uma enorme disparidade econômica regional, tendo o país municípios com IDH semelhantes aos de Uganda, e outros com IDH equiparável à países europeus. Quando observados índices mais específicos, a situação brasileira fica ainda pior. Um estudo feito pelo professor Rodolfo Hoffmann  da Unicamp[3] analisou o coeficiente de Gini para a concentração fundiária no país, e o resultado é assustador: 0,843.

Observa-se que mesmo o país tendo passado por um enorme processo inclusivo na última década, voltamos a ter um coeficiente de Gini próximo ao da década de 60. O Brasil demorou quase 50 anos para se recuperar do ‘’milagre econômico ‘’ da ditadura, tendo nesse período a concentração de renda atingido o seu maior pico.

Como anda a inclusão social nos paises comparado ao brasil

Dentro do atual contexto macroeconômico mais desfavorável com altíssima taxas de juros, ajuste fiscal em curso, desaceleração do consumo, aumento do endividamento das famílias coloca-se em dúvida até que ponto o país vai conseguir manter as reduções das desigualdades. Dentre os quatro fatores que proporcionaram a redução da desigualdade no país, nesse período de crise provavelmente só as políticas compensatórias de renda continuarão vivas. Não haverá significativos aumentos reais do salário mínimo, visto um cenário de inflação próxima a 8,4% (de acordo com último relatório Focus), analistas tem estimado  uma taxa de desemprego próxima aos patamares de 7,5% no fim do ano e os bancos reduziram substancialmente suas linhas de crédito com o aumento da inadimplência.

Em meio a um cenário tão desfavorável, o professor do Insper Ricardo Paes de Barros propõe alguns desafios que devem ser superados para que o país continue o processo de inclusão social. [4]

(a) Aproveitar o bônus demográfico

Atualmente, o país passa por um momento extremamente favorável no que se refere aos fatores demográficos. Temos hoje cerca de 65 milhões de população economicamente ativa (PEA) a mais do que PEI (população economicamente inativa), esse bônus favorece o crescimento econômico tendo em vista que existe uma maior quantidade de pessoas trabalhando dentro do país para uma menor quantidade de dependentes.

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(b) Elevar a produtividade

Em 1980 Brasil e Coréia do Sul possuíam a mesma produtividade. 35 anos depois se observa a contínua estagnação da produtividade brasileira, enquanto que a Coréia do Sul obteve ganhos exponenciais. Para ter-se uma maior dimensão, quatro trabalhadores brasileiros são necessários para produzir o que um norte americano produz. Elevar a produtividade envolve tornar nosso país mais competitivo no cenário internacional, e isso passa por uma melhora no nível educacional, investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação e por uma maior qualificação da mão de obra.

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(c) Garantir oportunidade para a juventude

Se fizermos uma comparação com a média de anos de estudo do trabalhador brasileiro, observa-se que hoje ele teria cerca de nove anos. Para efeitos comparativos, no Chile o trabalhador tem em média cerca de 12 anos. A gravidade da situação pode ser mais bem compreendida quando se observar que em relação ao nosso vizinho Chile, estamos uma geração atrasada, isto é, os trabalhadores chilenos da década de 80 tinham 9 anos médios de educação. O desafio da educação brasileira como forma de garantir oportunidade aos jovens passa por uma melhor governança, um modelo que incentive a difusão dos modelos das escolas de sucesso, uma nova forma de lidar com os educadores, passando por sua valorização da profissão e visando um método que dê maiores incentivos aos educadores.

(d) Administrar o envelhecimento da população

Como mencionado anteriormente, tem se hoje a maior juventude de todos os tempos, mas passaremos por um processo de inversão demográfica, a começar nos próximos anos. A população idosa hoje no país gira em torno de 5%, e os gastos feitos com previdência para o idoso no país é cerca de 10 vezes maior do que o gasto para uma criança que recebe o bolsa família. Entretanto, observa-se na projeção um ponto de inflexão na curva, que fará com que a população idosa salte para até 20% da população nas próximas décadas , com esse envelhecimento extremamente veloz que o país passará, cabe uma reforma nas políticas públicas, de modo a ajustá-las a demografia futura do país, caso contrário o atual modelo de previdência tornar-se-á insustentável.

Como anda a inclusão social nos paises comparado ao brasil

Dados de 2014 mostraram um leve empobrecimento da população, mas é possível reverter isso ainda. Além desses enormes desafios, cabe ao Brasil uma reforma tributária que atue de forma progressiva, de forma a atenuar a disparidade econômica Casa o país não se comprometa com tais quesitos, provavelmente todo o avanço que concerne às políticas de inclusão social que foram conquistadas na última década pode ser colocado em xeque.

Estamos em risco?

Junto a esses desafios, pode se somar também uma reforma tributária que atue de forma progressiva, contribuindo assim para a redução da desigualdade no país. Mas caso o Brasil não se comprometa com tais quesitos, todo o avanço que concerne às políticas de inclusão social que foi conquistada na última década certamente estará em risco.

Gustavo Tasso Graduando em Administração FEA -USP Membro da liga de Mercado Financeiro da FEA -USP

Notas

[1] http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/23/politica/1429790575_591974.html

[2]  http://www.pnud.org.br/noticia.aspx?id=39097

[3] http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20032009000100006&script=sci_arttext

[4] https://www.youtube.com/watch?v=GCd_INPj-x4

Fonte da Foto de Capa:  http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/03/130307_abre_pobreza_brasil_jp_jf.shtml