A importancia da cultura popular pdf

A IMPORTANCIA DA CULTURA POPULAR PARA O ENSINO DE FÍSICA: UM

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Josenildo Maria de LIMA1,2, Marcelo Gomes GERMANO3

1 Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Estadual da Paraíba-UEPB,

Campus I, Campina Grande-PB. E-mail: . Telefone: (83) 3315 3409.

2 Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Profº Anésio Leão, Secretaria de Estado da Educação da

Paraíba, Campina Grande-PB. E-mail: . Telefone: (83) 8726 0853

3 Departamento de Física, Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, Campus I, Campina Grande-PB. E-mail:

. Telefone: (83) 3315 3300.

RESUMO

Este trabalho surgiu ao longo da pesquisa de mestrado que está em desenvolvimento no Programa

de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Estadual da Paraíba,

nosso objetivo é mostrar que mesmo numa época de tanta tecnologia ululante, as manifestações

culturais populares podem ser levadas para a sala de aula e serem apresentadas aos alunos seja na

disciplina de Física, Matemática ou qualquer outra disciplina. Trataremos aqui de alguns resultados

obtidos em duas escolas paraibanas uma de Boqueirão e a outra de Campina Grande ambas do

estado da Paraíba, resultados estes que corroboram com a nossa hipótese de que os folhetos da

literatura de cordel podem aumentar o gosto pela leitura, conforme defende Pinheiro (2007, 2012),

Araújo (2007, 2008) entre outros.

PALAVRAS CHAVE: Cultura Popular, Literatura de Cordel, Ensino de Física.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho reflete alguns dados obtidos ao longo da nossa pesquisa de

Mestrado cujo titulo é Um olhar interdisciplinar entre a literatura de cordel, a

comunicação pública da ciência e o ensino de física, nesta pesquisa inicialmente

elaboramos a catalogação de folhetos da literatura popular que discorrem sobre

temas científicos, após essa catalogação estamos analisando o potencial pedagógico

dos mesmos, nesse viés dialogamos com autores como Zanetic (2005, 2006, 2009),

Sanches Mora (2003), Pinto Neto (2001), Pinheiro (2007) Marinho e Pinheiro (2012),

na tentativa de buscar um encontro dessa literatura com o ensino de Física.

De acordo com as Orientações Nacionais Complementares aos Parâmetros

Curriculares Nacionais, a tradição estritamente disciplinar do ensino médio, a

transmissão de informações desprovidas de contexto e a resolução de exercícios

padronizados, em função de exames de ingresso à educação superior, são exemplos

de obstáculos ao processo de construção de uma nova escola (BRASIL, 2006).

Conforme Pietrecolla (2005), diante de um mundo repleto de desafios e

estímulos que se alteram velozmente, os conhecimentos escolares tornam-se

rapidamente obsoletos e aqueles conhecimentos promovidos pelas aulas tradicionais

de Física, por estabelecerem poucas relações com o mundo real, tornam-se

estranhos e desnecessários, permanecendo relevantes apenas para o cumprimento

das exigências escolares.

Por isso acreditamos que na maioria das vezes o problema em aprender física

está em dois pontos principais: um deles é a comunicação, a qual é a porta de

entrada de todo conhecimento. Observamos que os assuntos de física além de um

simbolismo matemático elevado necessitam de uma boa interpretação textual. A

maioria da nossa população tanto alunos, quanto professores não tem um hábito de

leitura constante. Esse comportamento influencia tanto na interpretação, quanto na

compreensão de ideias ligadas a física. O outro ponto importante é que estes

conteúdos ao serem apresentados discutem situações que são dissonantes com a

realidade do estudante. Assim surgem as seguintes indagações: estaria o ensino de

Física cumprindo com o compromisso do respeito à realidade cotidiana e aos

saberes prévios dos estudantes?

Considerando estas indagações estamos apresentando uma pesquisa que

pretende popularizar alguns conceitos da Física, contextualizando-os à cultura

regional a partir de um encontro com a Literatura de Cordel. Acreditamos que este

processo se transforme numa possibilidade de realimentação mútua em que, a partir

da ciência, divulga-se a literatura de cordel, ao mesmo tempo em que a literatura de

cordel populariza algumas ideias da ciência e assim podermos fazer uma

aproximação entre ciência, cultura e arte conforme defende Zanetic (2009, p. 288) ao

afirmar que “física também é cultura” e posteriormente reafirmando que “a física

ainda é cultura em construção”.

No entanto o que vemos atualmente é um ensino de física baseado no livro

texto. Percebemos que o livro tem se atualizado, porém alguns professores

continuam presos aos livros antigos sob a alegação de que os mesmo são mais

assimiláveis pelos alunos. Zanetic (2009, p. 288) defende que “com a aproximação

entre ciência e arte, e em particular entre física e literatura, é possível estabelecer

um dialogo inteligente mesmo entre aqueles indivíduos que não se sentem atraídos

para seu estudo.”

Para autores como Snow (1995); Santos (2004); Germano (2007, 2008, 2011);

Lévy-leblond (2004), a ciência vem se afastando gradativamente da cultura e se

constituindo em um objeto estranho ao contexto da linguagem comum e universal.

Nesse sentido, os esforços para reinserir a ciência no universo cultural são urgentes

e imprescindivelmente necessários. Nossa pesquisa busca aproximar a física da

literatura de cordel brasileira e desse modo fazer com que as pessoas que não se

sentem atraídas por essa ciência, passem a vê-la de maneira diferente.

2 METODOLOGIA

A metodologia adotada está dividida em dois momentos o primeiro é um

estudo de caso o qual ocorreu após atendermos ao convite de um professor de

Física da rede estadual da Paraíba.

Atendendo esse convite realizamos no dia 25 de maio de 2012 uma palestra

com duração de duas horas numa escola Estadual do Munícipio de Boqueirão

localizado na região do Cariri paraibano, essa palestra tinha o intuito de divulgar a

literatura de cordel contando a história dessa literatura, os principais autores e obras,

e por fim popularizar os conceitos de ondas através da leitura dramatizada do folheto

Pitelim e o estudo das ondas.

Esse folheto foi distribuído com todos os alunos presentes na sala 49 alunos

distribuídos entre alunos do 1º ano e 3º ano do ensino médio, ao término da palestra

os alunos foram inquiridos sobre a palestra, respondendo a um questionário

semiestruturado, composto por três questões relacionadas ao perfil da turma, nove

questões objetivas e três questões abertas nas quais eles falaram sobre o que

deveria ser modificado no projeto.

A outra etapa desta pesquisa ocorreu na cidade de Campina Grande onde

fizemos diversas atividades ao longo do 2º e 3º bimestre com os alunos de sete

turmas assim distribuídas: duas do 3º ano, duas do 2º ano e três do 1º ano nas quais

foram desenvolvidas diversas abordagens e temas à medida em que o conteúdo

temático avançava.

Nessas atividades apresentamos aos alunos os folhetos relacionados a temas

astronômicos com os alunos do ano. Noutro momento trabalhamos com folhetos

cujos temas da abordavam a eletricidade e a física moderna com os alunos do

ano. Já com os alunos do ano utilizamos o folheto Pitelim e o estudo das ondas,

bem como folhetos sobre temas astronômicos.

A abordagem metodológica nessas atividades se deu através da leitura

coletiva em voz alta dos folhetos, seguida da interpretação dos mesmos pelos alunos

individualmente. Por fim ocorreu uma apresentação em grupo onde cada grupo de

alunos apresentou um folheto da maneira que eles escolhiam, os mesmos podiam

optar por uma leitura dramatizada, um jogral, uma apresentação cantada, ou uma

declamação do poema.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto à primeira intervenção ocorrida em Boqueirão verificamos que os

alunos participantes na palestra são alunos dentro da faixa etária escolar, 73% são

do sexo feminino, 32 são alunos concluintes do ensino médio, 92% dos alunos

afirmou que não havia participado de uma aula envolvendo física e literatura de

cordel, disseram que esse tipo de atividade é importante, e corroborando com a tese

de Zanetic os alunos querem que esse tipo de aula seja mais frequente, 90% dos

alunos participariam de outra aula como esta, vemos isso refletido na nota dada

pelos alunos a palestra na qual 34 alunos concederam notas entre 8 e 10 para a

palestra.

Na segunda intervenção a qual foi realizada na escola em que atuamos

buscamos várias tentativas de trabalhar a literatura nas aulas de Física. Na primeira

tentativa percebemos certo receio dos alunos, onde alguns falaram que não era aula

de português para lerem poemas, nessa primeira abordagem apenas fizemos a

leitura do folheto e não solicitamos que eles fizessem atividade alguma.

Noutro momento levamos um livro de Lourdes Ramalho, Maria Roupa de

Palha, lemos uma cena da peça junto com os alunos o que causou maior

engajamento da turma, ao término da leitura desse texto percebemos que os alunos

estavam eufóricos querendo ler o restante da peça. Alguns alunos pediram o livro

emprestado e estão com ele passando entre os mesmos. na terceira abordagem

pedi que os alunos fizessem uma interpretação dos folhetos dessa atividade seguem

algumas transcrições.

“o texto, ou melhor, o poema relata como foi a passagem de um cometa na

Terra, tendo uma descrição total sobre ele, e como foi a reação das pessoas

a verem tal fenômeno, a qual Deus feis questão de nos presentear com tal

beleza e perfeição, é um poema curto mais sim interessante.”(Grupo A,

Ano, noite)

“Um dos avanços tecnológicos mais importantes nos últimos anos foi a

chegada do primeiro foguete na lua que foi enviado pelos russos. Quando a

noticia se espalhou, muitas pessoas ficaram abismadas, outras não

acreditaram, daqui a um determinado tempo será possível fazer viagem

para lua mais para que isso aconteça a astronomia precisa avançar

bastante, e as espaçonaves serem ainda mais modernizadas.”(Grupo D,

Ano, tarde)

“O texto fala sobre a tecnologia conquistada pelo homem e isso cresce a

cada dia mas como a invenção do avião, a bomba atômica e outros tipos de

bomba como bomba H, poucas são as pessoas de coragem para andar num

avião como mostra no texto, os cientistas dizem dizem que seus planos

estão vencidos e por isso é que consegue ir a lua para isso fizeram os

aviões com fortes motores conhecido e chamados de foguete, esses

preparativos feitos não na América do Norte como em outros

continentes..”(Grupo E, 1º Ano, tarde)

Ao compararmos os textos verificamos que os alunos conseguiram

compreender o poema. Percebemos alguns deslizes quanto à parte linguística, no

entanto percebemos que os grupos passaram a ler mais, a tomar gosto pelos temas

relacionados à Astronomia.

4 CONCLUSÃO

Percebemos que os folhetos de cordel são importantes para aproximar a

cultura popular do ensino de física, ao analisarmos os resultados obtidos

percebemos que os folhetos são importantes meios de comunicação e que os alunos

devem ter mais contato com esses folhetos, pois eles mostram compreender os

conteúdos expostos na composição poética, porém o professor deve está bem

informado para preencher possíveis lacunas presentes nos poemas.

Esperamos que os professores façam uso dessa literatura como meio de

aproximação da cultura, arte e a ciência e assim possam utilizar a mesma para

popularizar a ciência por meio da literatura. Por esse motivo acreditamos que essa

aproximação entre a ciência e a cultura popular, mais especificamente, entre a física

e a literatura de cordel é uma via importante na busca pelo conhecimento.

As principais contribuições conseguidas até aqui foram nos campos social e

cultural, pois conseguimos levar para os alunos um pouco da Literatura de Cordel,

algo até então desconhecido para alguns desses alunos, outros, no entanto

informaram que familiares e amigos escreviam os folhetos.

Durante nossa pesquisa de Mestrado catalogamos diversos folhetos de

cordéis que tratam de temas da ciência em geral e da física, visamos após toda

catalogação elaborarmos uma coletânea de folhetos sobre os conteúdos da física,

conforme elaboraram Moreira, Masarani e Almeida (2005).

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