Qual é a primeira certeza que rompe com a dúvida hiperbólica explique como o filósofo chegou a ela

5. Por que o exercício da dúvida realizado por Descartes é conhecido como "dúvida metódica", mas também como "dúvida radical ou hiperbólica"?

6. Identifique a ambição de Descartes ao se propor realizar a dúvida metódica.

7. Resuma o critério de verdade adotado pelo filósofo.

8. Diferencie as "ideias que nascem dos sentidos" das "ideias que nascem da razão". Exemplifique.

9. Analise a dúvida metódica de Descartes, passo a passo, destacando os principais raciocínios ou argumentos.

10. Qual é a primeira certeza que rompe com a dúvida hiperbólica? Explique como o filósofo chegou a ela.

11. Relacione a dúvida cartesiana em relação aos sentidos com a teoria de Platão sobre o mundo sensível.

12. No segundo parágrafo da citação contida no quadro , o autor considera que essa obra de Descartes não pode ser compreendida sem a ajuda do contexto histórico do filósofo? Ou critica seu caráter atemporal? Justifique.

CONVERSA FILOSÓFICA

3. Cegueira

O pior cego é aquele que não quer ver. (Provérbio popular.)

Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir (DESCARTES, Princípios da filosofia, Prefácio).

Interprete essas duas afirmações, observando suas semelhanças e diferenças e buscando exemplos para ambas. Depois, em grupo, discuta suas conclusões avançando sobre o problema da "cegueira" e o que as pessoas não querem ver.



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A força das palavras

O poder concreto da linguagem pode ser percebido com facilidade no campo político. A simples ordem ou declaração de um governante, por exemplo, pode determinar a alegria ou o sofrimento, a vida ou a morte de milhares de pessoas. Leia, a esse respeito, um trecho do discurso de uma política colombiana, Íngrid Betancourt, ao receber o prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia, em 2008.

Tenho uma imensa admiração por eles, os escultores da palavra, que, com a arte sagrada de materializar a alma, enriquecem as outras pessoas sem guardar nada para si.

[...]


Com nossa palavra podemos reivindicar outras relações, outros compromissos, outras soluções. Podemos aceitar acordos comerciais não tão bons para nós, mas que sejam mais justos. Podemos buscar maiores investimentos solidários e menos rendimentos especulativos. Podemos oferecer mais diálogo e menos imposições pela força. Podemos, sobretudo, não nos resignar.

Porque resignar-se é morrer um pouco, é não fazer uso da possibilidade de escolher, é aceitar o silêncio. A palavra, por sua vez, precede a ação, prepara o caminho, abre portas. Hoje devemos mais que nunca usar a voz para romper grilhões.

Tenho a profunda convicção de que, quando falamos, estamos modificando o mundo. As grandes transformações de nossa história sempre foram anunciadas antes. Assim chegou o homem à Lua, assim caiu o muro de Berlim, assim se acabou com o apartheid. Eu espero que assim desapareça também o terrorismo.

BETANCOURT, Ingrid. A força das palavras. (Disponível em: //www.fpa.es/es/premios-princesa-de-asturias/premiados/2008-ingrid_ betancourt.html?texto=discurso&especifica=0. Acesso em: 20 out. 2015.) Tradução nossa.

LEGENDA: Representantes da ONU conversam com habitantes de Kampala, vila da República Democrática do Congo, em outubro de 2010, em busca de medidas para acabar com a violência sexual sofrida pela população feminina local. Dois meses antes, mais de 300 mulheres da região haviam sido violentadas.

FONTE: GWENN DUBOURTHOUMIEU/AFP

Fim do complemento.

CONEXÕES


1. Analise o trecho do discurso citado. Para tanto, observe os seguintes passos:

a) quem é a autora do discurso e que situação excepcional viveu (pesquise em outras fontes);

b) qual é sua tese principal nesse trecho;

c) como a autora fundamenta sua tese e que fatos ilustram sua fundamentação;

d) qual é o principal alvo de seu discurso;

e) você acha que o que a autora defende é possível? Justifique.

Conhecer e acreditar conhecer

Tendo em vista a importância e o poder das palavras em nossas vidas, você já deve ter percebido que uma das preocupações mais constantes dos filósofos - e que devemos levar em conta sempre que filosofamos - é identificar o lado problemático de nossas falas, de nossos discursos, e saber se realmente detemos o conhecimento que eles expressam e que acreditamos deter.

Não é mesmo um fato admirável - algo sobre o qual pensar, meditar, filosofar - a quantidade de coisas que acreditamos conhecer sem nunca termos pensado seriamente sobre elas?

Conversas cotidianas

Se observarmos nossas conversas diárias, por exemplo, notaremos que usamos muitas palavras acreditando não apenas conhecer plenamente o que elas querem dizer, como também que, ao empregá-las, estamos todos falando da mesma "coisa".

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1

2

LEGENDA: Conversa de comadres (imagem 1) e Homens no café (imagem 2) - José Lutzemberger (Coleção particular). As aquarelas do artista teuto-brasileiro são verdadeiras crônicas da vida cotidiana em Porto Alegre na primeira metade do século XX. Observe a riqueza de detalhes. Que atos realizam homens e mulheres nas duas imagens?

FONTE: Imagem 1 - JOSÉ LUTZENBERGER. Imagem 2 - FONTE: JOSÉ LUTZENBERGER

Mas será que eu e você, quando dialogamos, estamos pensando exatamente na mesma coisa ao dizer "amor", " ciência", "democracia", "felicidade", "justiça", entre outros termos? Será que conhecemos o que significam essencialmente essas palavras? Mais ainda: será que existe um significado essencial de uma palavra?

Se analisarmos um pouco mais profundamente tais conversações, nos daremos conta também de que, na maioria das vezes, nos expressamos como se conhecêssemos o que é bom e o que é mau, certo e errado, belo e feio, agradável e desagradável, útil e inútil etc.

Não é isso o que ocorre quando avaliamos um prato, um alimento, um filme, uma música, uma lição, um professor, uma escola, um político - entre tantos outros exemplos -, mesmo não sendo especialistas nessas áreas? Em tais situações, tão comuns, está implícito em nossa fala, nossa escrita, em nosso discurso, que acreditamos saber o que é bom ou melhor para nós, para os outros ou para a sociedade.

Ações cotidianas

Se nos centrarmos, por outro lado, nas ações que empreendemos todos os dias, veremos que agimos de acordo com essa mesma crença de que sabemos o que é melhor para nós. Toda ação é uma afirmação: uma afirmação da crença que temos, seja ela qual for (como no caso do soldado, na historieta do capítulo anterior). Se escolho agir de determinada maneira é porque, no fundo, creio que essa maneira é melhor para mim do que outra, ao menos naquele momento.

Cada ação nossa, em sua peculiar segurança, em vez de ser uma pergunta ou uma dúvida, é realmente uma afirmação categórica; se faço isto ou aquilo é porque estou acreditando, verdadeiramente, que essa ação é mais conveniente que qualquer outra. (ECHEGOYEN e GARCÍA-BARÓ, em PLATÃO, Menón, o sobre la virtud, p. 10; tradução nossa.)

Dito de outra forma, estamos a todo instante "afirmando" - seja por meio de palavras ou de ações - nossas crenças, nossas "verdades", que em geral compartilhamos com um grupo pequeno ou numeroso de pessoas que pensam, falam e agem de modo semelhante.

O que queremos que você perceba fundamentalmente é que, se não acreditássemos conhecer muito bem uma boa quantidade de temas em nossas vidas, "se não crêssemos numa infinidade de verdades, não falaríamos como falamos e não faríamos o que fazemos" (ECHEGOYEN e GARCÍA-BARÓ, p. 11; tradução nossa).

LEGENDA: Cena de um haraquiri, forma de suicídio ritual praticada antigamente no Japão por nobres e guerreiros samurais. O que os levaria a cometer tal ato?

FONTE: ALBUM/AKG-IMAGES/LATINSTOCK

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Mas quais são essas crenças, essas "verdades"? Somos conscientes delas quando nos expressamos? Serão elas "verdadeiras" mesmo? Serão válidas para todas as pessoas? É isso o que o filósofo pretende averiguar, como veremos em seguida.

CONEXÕES

2. Observe a imagem do haraquiri e pesquise um pouco mais sobre ele. Depois responda:

a) Que suposição ou crença sustenta essa antiga prática da cultura japonesa?

b) Que elementos da imagem refletem essa crença?

c) Reflita sobre alguma prática da vida contemporânea e procure identificar as crenças que a sustentam.

ANÁLISE E ENTENDIMENTO

1. Qual é a interpretação predominante hoje em dia sobre o papel da linguagem na existência dos seres humanos? Por que entendem assim? Encontre exemplos de sua própria vida diária que comprovem essa interpretação.




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Page 3

Todos os direitos reservados

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cotrim, Gilberto

Fundamentos de filosofia / Gilberto Cotrim,

Mirna Fernandes. -- 4ª ed. -- São Paulo : Saraiva, 2016.

Suplementado por manual do professor.

Bibliografia.

ISBN 978-85-472-0533-1 (aluno)

ISBN 978-85-472-0534-8 (professor)

1. Educação - Filosofia I. Fernandes, Mirna.

II. Título.

16-01969

CDD-370.1

Índices para catálogo sistemático:

1. Educação : Filosofia 370.1

2. Filosofia da educação 370.1

Diretora editorial Lidiane Vivaldini Olo

Gerente editorial Luiz Tonolli

Editor responsável Glaucia Teixeira M. T.

Gerente de produção editorial Ricardo de Gan Braga

Gerente de revisão Hélia de Jesus Gonsaga




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Capítulo 13 - Pensamento cristão, p. 238

Período medieval - Filosofia e cristianismo, p. 239

Cristianismo, p. 239

Fé versus razão, p. 240

Filosofia medieval cristã, p. 241

Análise e entendimento, p. 241

Conversa filosófica, p. 242

Patrística - A matriz platônica de apoio à fé, p. 242

Santo Agostinho, p. 242

Análise e entendimento, p. 245

Conversa filosófica, p. 245

Escolástica - A matriz aristotélica até Deus, p. 245

Relação entre fé e razão, p. 246

Estudo da lógica, p. 246

Questão dos universais, p. 246

Santo Tomás de Aquino, p. 247

Análise e entendimento, p. 250

Conversa filosófica, p. 250

Propostas finais, p. 251




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Page 5

Capítulo 1 - A felicidade

LEGENDA: O caminho para a felicidade está em você mesmo (1999) - Carl-W. Röhrig (Coleção particular).

FONTE: ALBUM/AKG-IMAGES/CARL-W.RÖHRIG/LATINSTOCK

Observe atentamente os elementos da imagem acima. Que sentimentos ela inspira em você? Como se pode ser feliz, segundo ela? Justifique.

Filosofar é uma "experiência" do pensamento que tem suas peculiaridades. Trata-se de uma maneira um pouco diferente de pensar sobre as coisas, que foge à rotina, ao automático, mas mesmo assim é acessível a todos.

Você provavelmente já deu alguns passos na experiência filosófica em alguma situação e nem se deu conta disso. Quer saber como? É o que veremos em seguida.

Comecemos com uma historieta que aborda um tema muito sensível para todos nós e importante para a filosofia: a felicidade.




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Page 6

Eudemonista - relativo à felicidade ou que tem a felicidade como valor fundamental ou principal objetivo.

Inteligível - que só pode ser apreendido pelo intelecto, por oposição ao sensível, isto é, que só pode ser apreendido pelos sentidos.

Concupiscente - que está relacionado com a concupiscência, isto é, o desejo de prazeres carnais.

Irascível - que é propenso a experimentar a ira, a raiva.

Fim do vocabulário.

LEGENDA: Pintura sobre vaso etrusco fabricado em Sèvres (c. 1827-1832) - Percier/Beranger (Coleção particular). Representa uma corrida entre jovens gregos em aula de educação física. Na Grécia antiga, a educação das crianças - ou paideia (do grego paidos, "criança") - passou por várias etapas de desenvolvimento. À época de Platão, meninos entre 7 e 14 anos (meninas não) recebiam aulas de ginástica e música. Também aprendiam gramática e a recitar de cor poemas antigos, que eram fonte importante de conteúdo moral (cf. JAEGER, Paidea - a formação do homem grego).

FONTE: MASSIMO LISTRI/CORBIS/FOTOARENA

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Conhecer o bem

Por meio dessas práticas - especialmente da dialética - a alma humana penetraria o mundo inteligível, também conhecido como mundo das ideias, e se elevaria sucessivamente, mediante a contemplação das ideias perfeitas, até atingir a ideia suprema, que é a ideia do bem. Para Platão, as ideias perfeitas seriam a realidade verdadeira, e compreendê-las significava, portanto, alcançar o grau máximo de conhecimento.

Por que a supremacia da ideia do bem? Porque o bem, segundo o filósofo, seria a causa de todas as coisas justas e belas que existem, incluindo as outras ideias perfeitas, como justiça, beleza, coragem. Sem o bem não há nenhuma delas, inclusive a ideia perfeita de felicidade. (Voltaremos a estudar a teoria do mundo das ideias no capítulo 12.)

Em resumo, podemos dizer que, para Platão, a felicidade é o resultado final de uma vida dedicada a um conhecimento progressivo até se atingir a ideia do bem, o que poderia ser sintetizado na seguinte fórmula: conhecimento = bondade = felicidade. As três coisas, quando ocorrem em sua máxima expressão, andariam sempre juntas, mas o caminho partiria do conhecimento.

Além disso, para Platão, a ascensão dialética equivaleria não apenas a uma elevação cognoscitiva (isto é, do conhecimento), mas também a uma evolução do ser da pessoa (evolução ontológica, no jargão filosófico). Simplificando bastante, podemos dizer que aquele que alcança o conhecimento verdadeiro (que culmina com a ideia do bem) torna-se um ser "melhor" em sua essência e, por isso, pode viver mais feliz.

Construir o bem de todos

Platão, no entanto, tinha como motivação fundamental de seu filosofar o âmbito político: para ele, a política era a mais nobre das atividades e de todas as ciências, pois tinha como objeto a pólis (cidade-estado grega) e, portanto, a vida do conjunto dos cidadãos. Por isso, seu projeto político-filosófico visou à construção de uma sociedade justa, isto é, aquela que promovesse o bem de todos (o bem comum):

[...] ao fundarmos a cidade, não tínhamos em vista tornar uma única classe eminentemente feliz, mas, tanto quanto possível, toda a cidade. De fato, pensávamos que só numa cidade assim encontraríamos a justiça e na cidade pior constituída, a injustiça [...]. Agora julgamos modelar a cidade feliz, não pondo à parte um pequeno número dos seus habitantes para torná-los felizes, mas considerando-a como um todo [...] (A República, p. 115-116).

Com esse propósito, em sua obra denominada A República, o filósofo idealizou uma sociedade organizada em torno de três atividades básicas: produção dos bens materiais e de alimentos, defesa da cidade e administração da pólis (tema que será estudado mais detidamente no capítulo 19). Dentro dessa organização, a cada cidadão caberia uma função social (produtor, guerreiro ou sábio), e esta seria definida de acordo com sua própria natureza, isto é, a aptidão inata a cada pessoa.

A identificação dessa aptidão natural ou vocação se faria durante o processo educativo. A educação seria igual para todos os jovens. Aqueles que se revelassem os mais sábios seriam destinados à administração pública. E, como os filósofos eram os mais sábios entre os mais sábios (os conhecedores do caminho da felicidade), seriam eles os governantes da cidade.

Dentro dessa organização, conforme concebeu Platão, cada um já seria feliz pelo simples fato de cumprir a função para a qual é mais apto por natureza (concepção grega à qual voltaremos mais adiante).

CONEXÕES

3. Praticar ginástica ou alguma atividade física disciplinada faz você sentir-se bem? Você percebe resultados concretos em termos de bem-estar físico, emocional e mental? Procure relacionar suas observações com a teoria platônica sobre a felicidade.

Aristóteles: vida teórica e prática

na história da filosofia, ocorre frequentemente que um discípulo acabe não sendo um seguidor fiel das doutrinas de seu mestre e até se oponha a ele em vários aspectos, desenvolvendo um pensamento independente e original.

É o caso de Aristóteles (384-322 a.C.), que refutou a teoria do mundo das ideias, pilar da filosofia platônica, propondo um pensamento que, embora valorizasse a atividade intelectual, teórica e contemplativa como fundamental, resgatava o papel dos bens humanos, terrenos, materiais para alcançar uma vida boa (distintos aspectos do pensamento de Aristóteles serão abordados no capítulo 12 e em outras partes deste livro).

Qual foi, então, o método proposto pelo filósofo?

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Exercitar a contemplação

Em sua obra dedicada ao tema da ética, Aristóteles apresenta a seguinte explicação:

[...] o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há de melhor e de aprazível para ela; e, assim, para o homem a vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se conclui que essa vida é também a mais feliz (Ética a Nicômaco, p. 190).

Para que você entenda esse raciocínio, vamos expor, mesmo que resumidamente, a argumentação que sustenta a tese do filósofo sobre a felicidade:

· Aristóteles afirmava que um ser só alcança seu fim quando cumpre a função (ou faculdade) que lhe é própria e o distingue dos demais seres, isto é, sua virtude (ou, em grego, areté).

· A palavra virtude é entendida aqui como a propriedade mais característica e essencial de um ser, aquela cujo exercício conduz à excelência ou perfeição desse ser, trazendo-lhe prazer. Por exemplo: a virtude de uma faca é o seu corte, de uma laranjeira é produzir laranjas, de um dentista é tratar dos dentes.

· O ser humano, por sua vez, dispõe de uma grande quantidade de funções ou faculdades (caminhar, correr, comer, sentir, dormir, desejar, obrar, amar etc.), mas outros animais podem possuí-las também. Há, porém, uma única faculdade que ele possui com exclusividade e que o distingue dos demais seres: o pensar de forma racional. Essa seria, portanto, sua virtude essencial.

· Assim, o ser humano só alcançará seu fim e bem supremo (a felicidade) se atuar conforme sua virtude, que é a razão.

Mas preste atenção: para Aristóteles, não basta ter uma virtude (a racionalidade) - é preciso exercitá-la. O ser humano precisa esforçar-se para realizar aquilo que lhe é dado pela natureza como potência (possibilidade de ser). Portanto, o que o filósofo preconizava era que, para atingir a felicidade verdadeira, o ser humano deveria dedicar-se fundamentalmente à vida teórica, no sentido de uma contemplação intelectual, buscando observar a beleza e a ordem do cosmo, a autêntica realidade das coisas. E deveria manter essa prática durante a vida inteira, e não apenas em um ou outro dia,

[...] porquanto uma andorinha não faz verão, nem um dia tampouco; e da mesma forma um dia, ou um breve espaço de tempo, não faz um homem feliz e venturoso. (Ética a Nicômaco, p. 16.)

LEGENDA: Platão em estado contemplativo, meditando sobre a imortalidade (1874) - autor desconhecido. (Coleção particular.)

FONTE: BETTMANN/CORBIS/FOTOARENA

Praticar outras virtudes

Sem tirar os pés do chão, no entanto, Aristóteles dizia também que não se pode abandonar a companhia da família e dos amigos, a riqueza e o poder. Todos esses elementos, e o prazer que deles resulta, promoveriam o bem-estar material e a paz social, indispensáveis à vida contemplativa. O sábio não poderá dedicar-se à contemplação se, por exemplo, não houver alimentos, se seus filhos chorarem de fome e se a cidade toda estiver em pé de guerra.

Além do mais, o gozo de tais prazeres estaria vinculado ao exercício de outras virtudes humanas - como a generosidade, a coragem, a cortesia e a justiça - que, em seu conjunto, contribuiriam para a felicidade completa do ser humano.

Portanto, na ética aristotélica, embora o exercício contínuo de uma vida teórica seja essencial (condição necessária, no jargão filosófico) para uma pessoa alcançar a vida feliz, isso não basta (não é condição suficiente). Em resumo, a felicidade seria uma vida dedicada à contemplação teórica, aliada à prática das outras virtudes humanas e sustentada pelo bem-estar material e social.

CONEXÕES


4. Destaque, entre os elementos propostos por Aristóteles para uma vida feliz, aqueles que você considera condição necessária para sua felicidade. Para você há algum que, além de necessário, é condição suficiente para ser feliz? Qual? Justifique sua resposta.

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- Epicuro: o caminho do prazer

Apesar das diferenças entre as duas abordagens anteriores, você já deve ter notado que elas não são tão distintas assim, pois tanto Platão como Aristóteles, por caminhos diversos, valorizam muito o papel do intelecto para obter uma vida feliz.

Resposta realmente distinta foi a de Epicuro (341-271 a.C.), que recomendava o caminho do prazer. Para o filósofo, felicidade é o prazer resultante da satisfação dos desejos, como crê a maioria das pessoas. Mas o que Epicuro quer dizer com isso é que a felicidade é fundamentalmente prazer, pois para ele tudo no mundo é matéria e, no ser humano, sensação, inclusive a felicidade. Assim, ser feliz é sentir prazer.

Com base nessa visão sensualista (baseada nas sensações), Epicuro dirá que todos os seres buscam o prazer e fogem da dor e que, para sermos felizes, devemos gerar, primeiramente, as condições materiais e psicológicas que nos permitam experimentar apenas o prazer na vida. E prazer, para ele, é sobretudo ausência de dor, conforme veremos adiante.

Que estratégias o filósofo propõe para evitar a dor?

Eliminar certas crenças

Uma das principais causas de angústia e infelicidade, segundo Epicuro, são as preocupações religiosas e as superstições. Ele se refere, aqui, ao temor que certas crenças e religiões nos impõem. Por exemplo, os gregos temiam muito ofender seus deuses e serem terrivelmente punidos por eles. Também viviam sob o pavor de que forças divinas interferissem em suas vidas, mudando sua sorte ou tirando-lhes os seres queridos.

Todo esse sofrimento poderia ser evitado, segundo o filósofo, se as pessoas compreendessem que o universo inteiro é constituído de matéria, inclusive a alma humana. Veriam que tudo o que acontece pode ser explicado pelo movimento aleatório dos átomos, que produz forças cegas e indiferentes ao destino humano. Aqui Epicuro segue a teoria atomista e mecanicista de outro filósofo grego, Demócrito (460-370 a.C.), que estudaremos adiante (no capítulo 11).

Vocabulário:



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Page 7

17. Após a Antiguidade, que valores foram assumindo historicamente maior importância na concepção de felicidade? Em que contexto histórico surgiram?

18. Entre as conclusões a que vêm chegando estudos científicos a respeito da felicidade, destaque as que você considera mais instigantes ou reveladoras (pelo menos uma). Justifique.

19. Interprete a última citação do capítulo, de Jeremy Bentham, comparando-a com a busca desenfrea da de felicidade individual na sociedade contemporânea.

CONVERSA FILOSÓFICA

4. Felicidade individual e coletiva

levando em consideração as diversas reflexões contidas neste capítulo, você acha que uma pessoa pode ser plenamente feliz quando busca apenas sua felicidade individual?

a) Se você entende que não, junte-se àqueles que pensam como você para elaborar um conjunto de argumentos a favor de sua posição. Se você considera que sim, forme outro grupo e siga o mesmo procedimento.

b) Depois, um orador escolhido de cada lado deverá defender a posição de seu grupo, expondo os argumentos reunidos. Para isso, poderá solicitar o apoio de seus colegas para consultas, procurando escutar e responder aos argumentos opostos, como em uma conversação filosófica.

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PROPOSTAS FINAIS

De olho na universidade

(UEM-PR) "O que é um filósofo? É alguém que pratica a filosofia, em outras palavras, que se serve da razão para tentar pensar o mundo e sua própria vida, a fim de se aproximar da sabedoria ou da felicidade. E isso se aprende na escola? Tem de ser apreendido, já que ninguém nasce filósofo e já que filosofia é, antes de mais nada, um trabalho. Tanto melhor, se ele começar na escola. O importante é começar, e não parar mais. Nunca é cedo demais nem tarde demais para filosofar, dizia Epicuro. [...]. Digamos que só é tarde demais quando já não é possível pensar de modo algum. Pode acontecer. Mais um motivo para filosofar sem mais tardar" (COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 251-252).

A partir dessas considerações, assinale o que for correto.

01) A filosofia é uma atividade que segue a via pedagógica de uma prática escolar, já que não pode ser apreendida fora da escola.

02) O enunciado relaciona a filosofia com o ato de pensar.

04) O enunciado contradiz a motivação filosófica contida na seguinte afirmativa de Aristóteles: "Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer".

08) Para André Comte-Sponville, quanto antes e com mais intensidade nos dedicarmos à filosofia, mais cedo estaremos livres dela, pois todo assunto se esgota.

16) A citação do texto afirma que sempre é tarde para começar a filosofar, razão pela qual a filosofia é uma prática da maturidade científica e o coroamento das ciências.

Sessão cinema




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DÚVIDA METÓDICA

O exercício da dúvida por Descartes

Para que você entenda de maneira mais concreta o que acabamos de estudar, vamos analisar agora um exemplo de reflexão filosófica que enfatiza ao extremo o ato de duvidar: a chamada dúvida metódica, do filósofo francês René Descartes (1596-1650). (Voltaremos a estudar distintos aspectos do pensamento cartesiano nos capítulos 6, 10 e 14.)

Aprendendo a duvidar

a dúvida metódica tornou-se uma referência importantíssima e um clássico da filosofia moderna. trata-se de um exercício da dúvida em relação a tudo o que ele, Descartes, conhecia ou pensava até então ser verdadeiro. tal exercício foi conduzido pelo filósofo de duas maneiras:

- metódica, porque a dúvida vai se ampliando passo a passo, de modo ordenado e lógico; e

- radical, porque a dúvida vai atingindo tudo e chega a um ponto extremo em que não é possível ter certeza de nada, nem mesmo de que o mundo existe. Como em um jogo ou uma brincadeira, Descartes tentou duvidar até da própria existência. Por isso, a dúvida metódica costuma ser chamada também de dúvida hiperbólica, isto é, maior do que o normal ou o esperado, exagerada. Note que é um exercício bastante difícil, pois não é nada natural duvidar de tanta coisa. Experimente.

Antes de tudo, vejamos por que esse filósofo decidiu empreender tal esforço. O que o teria motivado? A explicação está no início de suas Meditações:

Há já algum tempo que eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências (p. 17).

Em outras palavras, Descartes estava desiludido com o que aprendera até então nos estudos e na vida, depois de perceber que havia muito engano. Aí se tornou uma pessoa meio desconfiada, mas que não ficou só nisso: ele resolveu construir algo diferente, uma nova ciência que garantisse um conhecimento sólido e verdadeiro. Essa era sua ambição.

LEGENDA: Descartes em sua mesa de trabalho. O filósofo buscou o isolamento fora de Paris e, depois, na Holanda, para dedicar-se totalmente aos estudos. Conta-se que ficava dias em seu quarto, imerso em suas reflexões e na elaboração de suas obras.

FONTE: MORET E DESFONTAINES/GROSVENOR PRINTS, LONDRES

Para cumprir tal propósito, no entanto, percebeu que era necessário destruir primeiro todas as suas antigas ideias que fossem duvidosas.

Isso quer dizer que ele já tinha experimentado diversos estranhamentos em sua vida, como qualquer pessoa. A diferença é que ele decidiu, então, viver esse processo de estranhar e duvidar de maneira voluntária e planejada, aplicando-o a todas as suas antigas opiniões. Você também pode fazê-lo, e é isso que queremos lhe mostrar. Observe o caminho seguido por Descartes e procure pensar, sentir e vivenciar com ele cada passo de suas meditações.

As primeiras determinações

[...] não é necessário que examine cada uma [opinião] em particular, o que seria um trabalho infinito; mas, visto que a ruína dos alicerces carrega necessariamente consigo todo o resto do edifício, dedicar-me-ei inicialmente aos princípios sobre os quais todas as minhas opiniões antigas estavam apoiadas. (DESCARTES, Meditações, p. 17.)

Essa foi a primeira determinação de Descartes na construção da dúvida metódica. Em outras palavras, para tornar sua tarefa mais fácil, o filósofo decidiu analisar as ideias ou crenças básicas que fundamentavam suas opiniões. Se esses princípios ou fundamentos eram duvidosos, as outras ideias que deles dependiam também eram duvidosas.

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Esse é um procedimento básico tanto em filosofia como nas ciências em geral: uma ideia falsa ou incerta não pode ser o fundamento de uma boa explicação, assim como alicerces de gelo ou de gesso não podem sustentar uma boa construção.

Neste ponto você pode estar se perguntando: "Mas como Descartes distinguia entre o certo e o duvidoso? Que critério ele utilizava?". A resposta pode ser encontrada na obra Discurso do método, na qual o filósofo explicita a seguinte norma de conduta para si mesmo:

[...] jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida (p. 37; destaques nossos).

Trata-se do critério da evidência : uma ideia é evidente quando se apresenta com tamanho grau de clareza e distinção ao intelecto - como define Descartes - que não suscita qualquer dúvida. Duvidosa, portanto, é toda ideia que não pode ser demonstrada com essa mesma clareza, que não passa totalmente pelo crivo da razão. Descartes decidiu que não acolheria como verdadeira nenhuma ideia como essa.

Vocabulário:



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Page 9

Horton e o mundo dos Quem (2008, EUA, direção de Jimmy Hayward e Steve Martino)

Animação baseada em livro homônimo de Dr. Seuss, de 1954. O elefante Horton conversa com uma partícula de pó, onde vive uma comunidade microscópica que ninguém acredita existir. O lema de Horton é: "Toda pessoa é uma pessoa, não importa seu tamanho".

Matrix (1999, EUA, direção dos irmãos Wachowski)

Ficção científica em que o mundo é dominado por máquinas que se alimentam da energia dos seres humanos, enquanto estes vivem uma realidade virtual (matrix), um mundo ilusório criado por essas inteligências artificiais, embora de fato estejam adormecidos em seus casulos.

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Page 10

Diálogo com Eutífron

Vejamos agora um trecho de um dos diálogos de Platão, Eutífron, que constitui um modelo exemplar do método dialético. na cena inicial, à porta do tribunal de Atenas, Sócrates encontra Eutífron, conhecido como grande entendido em temas religiosos. O filósofo conta que movem contra ele uma ação em que é acusado de corromper os jovens inventando novos deuses e desacreditando os antigos.

Eutífron, por sua vez, comenta que veio ao tribunal por ter apresentado uma acusação de homicídio contra o próprio pai. Conta que a vítima era um servo que, embriagado, degolou outro servo. O pai prendeu o homicida em um fosso, sem ter maiores cuidados com ele, enquanto esperava orientação do encarregado de justiça. Só que o servo assassino não aguentou o cativeiro e faleceu de frio e inanição.

Eutífron julga, então, que seu pai teria se tornado um homicida também, por omissão, e que, ao acusá-lo, estava agindo de maneira piedosa, isto é, conforme o dever para com os deuses. E o diálogo prossegue:

Sócrates: - Por Zeus, Eutífron, julgas saber com tanta precisão a opinião dos deuses a respeito do que é e não é piedoso, que não receies que, havendo as coisas sucedido como afirmas, possas cometer uma crueldade movendo esse processo contra teu pai?

Eutífron: - Assim, Sócrates, eu não teria utilidade e Eutífron não se distinguiria do mais comum dos homens se não tivesse conhecimento de todas essas coisas com precisão.

S.: - Perceberás, por conseguinte, meu caro Eutífron, quão proveitoso para mim seria tornar-me teu discípulo, especialmente antes da ação judicial [...]

[...]


S.: - Explica-me, então, o que consideras piedoso e ímpio [não piedoso].

E.: - Digo que é piedoso isso mesmo que farei agora, pois em se tratando de homicídios ou roubos sacrílegos, ou qualquer outro crime, a piedade impõe o castigo do culpado, seja este pai, mãe ou outra pessoa qualquer; não agir assim é ímpio. [...]

[...]

S.: - Pode ser que o seja, mas também existem muitas outras coisas, Eutífron, consideradas piedosas.

E.: - Evidentemente que sim.

S.: - Recorda, porém, que não te pedi para demonstrar-me uma ou duas dessas coisas, dessas que são piedosas, mas que me explicasses a natureza de todas as coisas piedosas. Porque disseste, salvo engano, que existe algo característico que faz com que todas as coisas ímpias sejam ímpias, e todas as coisas piedosas, piedosas. Recordas-te?

E.: - Recordo-me.

S.: - Pois bem, esse caráter distintivo é o que desejo que me esclareças, a fim de que, analisando-o com atenção e servindo-me dele como parâmetro, possa afirmar que tudo o que fazes, ou um outro, de igual maneira é piedoso, enquanto aquilo que se distingue disso não o é.

E.: - Se é isso o que queres, dir-te-ei imediatamente.

S.: - Em verdade, é só isso que desejo.

E.: - É piedoso tudo aquilo que é agradável aos deuses, e ímpio o que a eles não agrada.

S.: - Ótimo, Eutífron, respondeste agora como eu esperava que o fizesses, se o que afirmas é correto, embora eu não o saiba.

64

Mas é evidente que me mostrarás que o que declaras é a pura verdade.

E.: - Sim, claro.

S.: - Muito bem, consideremos o que vamos dizer. Uma coisa e um homem que são agradáveis aos deuses são piedosos, ao passo que uma coisa e um homem detestados pelos deuses são ímpios. [...]

E.: - Sim.

[...]


S.: - E não afirmaste também, Eutífron, que os deuses lutam entre si, que apresentam diferenças e detestam uns aos outros?

E.: - Sim, afirmei.

S.: - Mas quais são essas divergências que causam esses ódios e essas cóleras, estimado amigo?

[...]


S.: - Então, qual seria o assunto que, por não ser passível de decisão, causaria entre nós inimizade e nos tornaria reciprocamente irritados? Pode ser que não esteja a teu alcance, mas considera, pelo que estou dizendo, se se trata do justo e do injusto, do belo e do feio, ou do bom e do mau. Com efeito, não é por causa disso que, justamente devido às nossas diferenças e por não poder conseguir uma decisão unânime, nos convertemos em inimigos uns dos outros [...]?

E.: - De fato, Sócrates, eis aqui a divergência mais frequente e também as causas que lhe dão origem.

S.: - Não acontecem igualmente as mesmas divergências entre os deuses e pelos mesmos motivos?

E.: - Com toda a certeza.

[...]

S.: - E não é verdade que aquilo que cada um deles julga bom e justo é também o que ama, e que o contrário lhe desagrada?

E.: - Sim.

S.: - Mas são as mesmas coisas, como afirmas, que uns reputam justas e outros injustas. De suas divergências acerca disso é que se originam as guerras e as discórdias entre eles, não é?

E.: - De fato.

S.: - Temos de afirmar, por conseguinte, que as mesmas coisas são amadas pelos deuses e que lhes são ao mesmo tempo agradáveis e desagradáveis.

E.: - Parece que sim.

S.: - O que significa, Eutífron, que algumas coisas poderão ser ao mesmo tempo piedosas e ímpias.

E.: - É possível.

S.: - Então, estimado amigo, não respondeste à minha pergunta. Pois pedi que me explicasses o que é [...] piedoso e ímpio. Porém vimos que o que agrada a alguns deuses pode desagradar a outros; portanto, querido Eutífron, não seria de espantar que aquilo que fazes ao castigar teu pai fosse agradável para Zeus, mas detestável para Cronos e Urano [...] e, da mesma maneira, agradável e desagradável para uns e outros deuses que divergem a respeito disso.

PLATÃO, Eutífron - ou da religiosidade, p. 39-44.

Fim do complemento.

CONEXÕES

3. Agora é sua vez de analisar esse diálogo. Identifique:

a) o que Eutífron está convencido de conhecer e o parágrafo que expressa esse convencimento;

b) o suposto motivo de Sócrates para querer aprender com seu interlocutor e o parágrafo que retrata esse interesse;

c) a questão investigada por Sócrates nesse início do diálogo;

d) a primeira resposta de Eutífron à questão;

e) o problema identificado nessa primeira resposta;

f) a segunda resposta de Eutífron à questão;

g) o problema identificado nessa segunda resposta;

h) a etapa da dialética socrático-platônica desenvolvida nesse trecho (justifique).

ANÁLISE E ENTENDIMENTO



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Page 11

Recursividade - capacidade que algo tem de poder aplicar-se sobre si mesmo sucessivas vezes, cada vez usando como base o resultado de sua aplicação anterior.

Fim do vocabulário.

A consciência costuma ser entendida, portanto, como um fenômeno ligado à mente, esfera em que ocorrem diversos processos psíquicos (pensamento, imaginação, emoção, memória, entre outros), especialmente o conhecimento. Para vários estudiosos, nada caracteriza mais o ser humano do que a consciência, pois é ela que nos permite estar no mundo com algum saber, "com-ciência". Como assinala o paleontólogo e filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955):

O animal sabe. Mas, certamente, ele não sabe que sabe: de outro modo, teria há muito multiplicado invenções e desenvolvido um sistema de construções internas. Consequentemente, permanece fechado para ele todo um domínio do Real, no qual nos movemos. Em relação a ele, por sermos reflexivos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não só simples mudança de grau, mas mudança de natureza, que resulta de uma mudança de estado. (O fenômeno humano, p. 187.)

LEGENDA: Parece haver níveis distintos de consciência entre os seres e em etapas distintas de cada ser. Significa isso que nossa consciência pode evoluir a estados de maior percepção, clareza e entendimento? O que devemos fazer para alcançá-los?

FONTE: IMAGEZOO/CORBIS/FOTOARENA

Devido a essa diferença específica entre os humanos e os outros animais, durante certo tempo nossa espécie - classificada biologicamente como Homo sapiens ("homem que sabe") - foi designada por alguns estudiosos como Homo sapiens sapiens: o ser que sabe que sabe. Isso quer dizer que somos capazes de fazer nossa inteligência debruçar sobre si mesma para tomar posse de seu próprio saber, avaliando sua consistência, seu limite e seu valor.

Foi o que fez Descartes, em suas Meditações (como vimos no capítulo 2). Essa capacidade seria a base - pelos menos em boa parte - das grandes criações humanas, como a ética, o direito, a arte, a ciência e a filosofia. Ou seja, sem consciência, não haveria nada disso.

Observando a consciência

O curioso é que, em geral, tenhamos tão pouca percepção de nossa consciência no dia a dia. Isso não ocorre, porém, em todo o mundo. Em algumas culturas orientais, por exemplo, a meditação é uma prática frequente, pois muitas pessoas costumam dedicar regularmente algum tempo para a observação da própria consciência e sua expansão, estimulando a introspecção - habilidade muito importante para quem filosofa.

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Vocabulário:




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Page 12

Primordial - relativo aos primórdios, isto é, às origens, à fase de surgimento ou de criação de algo; mais antigo, primeiro, original.

Fim do vocabulário.

Formulou, então, a tese de que existe uma linguagem comum a todos os seres humanos de todos os tempos e lugares da Terra. Ela está formada por essas imagens ou conteúdos simbólicos muito primitivos - chamados arquétipos, na teoria junguiana -, que refletem algo como a "história evolutiva" de nossa espécie. Vividos de maneira não consciente por todas as pessoas, os arquétipos formam, segundo Jung, o estrato (ou camada) mais profundo da psique humana - o chamado inconsciente coletivo (pertencente a toda a humanidade).

O inconsciente coletivo seria, portanto, um conjunto universal de predisposições para perceber, pensar e agir de determinadas maneiras, mas que também sustenta a ação criativa, pois, segundo Jung, constituiria a base sobre a qual se assentam os grandes pensamentos e obras-primas da humanidade.

Principais arquétipos

Jung descreveu uma série de arquétipos. Entre eles estão aquelas imagens que se condensam em torno de experiências tão básicas e universais como o nascimento, a morte, a criança, a mãe, o velho sábio, o herói e Deus.

LEGENDA: Mural que representa a roda da vida, da tradição mahayana do budismo tibetano (Kopan monastery, Bhaktapur, Nepal, Ásia). Seu conjunto forma um mandala. Com uma grande variedade de desenhos, os mandalas são representações figurativas e/ou geométricas organizadas de modo a formar uma imagem concêntrica ou circular (que é o significado da palavra sânscrita mandala). Na simbologia das formas, o círculo pode significar perfeição, unidade e plenitude.

FONTE: ROBERT HARDING/GODONG/DIOMEDIA

77

Há outras, porém, que refletem a estrutura da própria psique, como a persona (a "máscara" que usamos para enfrentar o mundo e conviver com a comunidade, incorporando suas expectativas), a sombra (aquilo que não temos desejo de ser), a anima (a imagem de mulher contida na psique de um homem) e o animus (a imagem de homem contida na psique de uma mulher).

Mas o arquétipo mais importante na teoria junguiana é o do self (o "si mesmo", como vimos anteriormente). Corresponde à imagem primordial da totalidade do ser, isto é, a essência de uma pessoa em conexão com uma dimensão maior. Transcendendo a consciência e a dimensão individuais, o self conectaria a pessoa à família, à coletividade, ao planeta e ao cosmos. Desse modo, o self é o arquétipo da "sabedoria" de um ser ou organismo, no sentido de representar a intencionalidade, o propósito ou o sentido de sua existência. (Se essa ideia ficou muito complicada para você, volte a este trecho depois de estudar o capítulo inteiro, ou depois de ler também o capítulo 6, que fala sobre o universo).

CONEXÕES


2. Observe o desenho do mandala da página anterior. Que elementos simbólicos ou figurativos você consegue encontrar? Quais deles você identificaria como um arquétipo?

Boxe complementar:



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Universo de afirmações

FONTE: MAURO TAKESHI

CONEXÕES

4. Este gráfico é semelhante ao da página 83, com uma alteração. Interprete-o.

Ciência e filosofia

Vemos então que, embora hoje em dia a filosofia e a ciência sejam entendidas como duas áreas de estudo muito distintas e separadas, nem sempre foi assim. Desde a Grécia antiga, o saber filosófico reunia o conjunto dos conhecimentos racionais desenvolvidos pelo ser humano: matemática, astronomia, física, biologia, lógica, ética, política etc. Não havia separação entre filosofia e ciência. Elas estavam fusionadas, eram a mesma coisa. Até mesmo a investigação sobre Deus (a teologia) fazia parte das especulações dos filósofos.

Essa visão integradora perdurou até o fim da Idade Média. A partir da Idade Moderna, com o desenvolvimento do método científico, aplicado primeiro pela física, a realidade a ser conhecida passou a ser progressivamente dividida, recortada, atomizada em setores independentes. Desse modo, surgiram as diversas áreas de investigação científica que conhecemos hoje, como a matemática, a física, a química, a biologia, a geografia, a antropologia, a psicologia, a sociologia, entre outras. Acabava, assim, a antiga unidade do conhecimento.

LEGENDA: Uma expressão da visão integradora do conhecimento, que ainda persistia em boa medida na Idade Moderna, é a metáfora da árvore do saber, proposta por Descartes no século XVII. No prefácio de sua obra Princípios de filosofia, ele explica que toda a filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a metafísica, o tronco é a física e os ramos que saem desse tronco constituem todas as outras ciências, que se reduzem a três principais: a medicina, a mecânica e a moral. Observe que a teologia (ou religião) já não fazia parte de seu projeto científico-filosófico.

FONTE: MAURO TAKESHI

Observação

Tenha em conta que a filosofia ocidental não é a única forma de pensar reflexivo sobre a realidade, embora alguns estudiosos reivindiquem que o termo filosofia deve ser aplicado apenas à produção filosófica do Ocidente. Diversas culturas da Ásia e do Oriente Médio também desenvolveram pensamentos ricos e abrangentes sobre os diversos aspectos do universo e da existência - e até mesmo crítico, conforme assinalam alguns estudiosos -, podendo perfeitamente ser denominados "filosofias".

Fim da observação.

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Mas esse processo de especialização não parou aí, pois cada uma dessas grandes áreas científicas também se subdividiu em outras mais específicas, sobretudo a partir do século XX. Por isso se diz hoje que vivemos a "era dos especialistas".

No contexto dessa separação, a filosofia não abandonou seus vínculos com o campo hoje denominado científico, mas passou a relacionar-se com ele de outro modo. Ela realiza atualmente - notadamente o setor da filosofia da ciência - o trabalho de reflexão sobre os conhecimentos alcançados pelas diversas áreas científicas, questionando a validade de seus métodos, critérios e resultados. Nesse sentido, ela fornece uma importante contribuição para os estudos epistemológicos de cada ciência.

Ao mesmo tempo, por sua abordagem abrangente, a filosofia ainda representa, em certo sentido, a possibilidade de integração de todos esses saberes. Você poderá ter uma boa ideia da abrangência dos estudos filosóficos consultando o esquema e o quadro sinótico deste final de capítulo. Desse modo, poderá ir familiarizando -se com sua terminologia e ambientando-se com seus temas e organização. Bom trabalho!

ANÁLISE E ENTENDIMENTO




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· Campo de reflexão filosófica sobre a linguagem que se ocupa principalmente das relações desta com o pensamento, com o conhecimento da verdade e com o mundo. Também desenvolve reflexões sobre suas origens, transformações e funções. Sua preocupação não é a mesma da linguística, pois mantém certos vínculos com outras áreas filosóficas, principalmente com a metafísica, a lógica e a epistemologia.

Questões principais
O que é significado? E signo? O que é uma palavra? Qual é a função da linguagem? Qual é a origem das línguas? Como a linguagem se relaciona com o mundo? Qual é a relação entre as palavras e as coisas?

Onde encontrar

Especificamente no capítulo 8 (A linguagem).
Quadro: equivalente textual a seguir.
FILOSOFIA POLÍTICA

· A palavra grega polis quer dizer "cidade" (a cidade-Estado da Grécia antiga). Dela se formou o termo politike, "ciência (ou arte) da cidade", isto é, de sua organização e governo, das coisas de interesse do conjunto dos cidadãos.

· Campo de reflexão filosófica sobre as questões políticas e as relações humanas em seu sentido coletivo. Estuda os princípios e mecanismos que fundamentam e explicam a ordem social existente, bem como a melhor maneira de organizar a vida social, suas instituições e suas práticas.
Questões principais
Como surgiu a sociedade? O que é o Estado? É possível uma sociedade sem Estado? O que é justiça? E lei? E igualdade? Por que existem ricos e pobres? Há relação entre ética e política? Por que a guerra? É possível a paz?
Onde encontrar

Especificamente no capítulo 19 (A política), embora suas questões sejam abordadas em vários outros.
Quadro: equivalente textual a seguir.
LÓGICA

· A palavra grega logos significa originalmente "verbo, palavra". No âmbito filosófico, passou a ser identificada com as ideias de razão, pensamento ou discurso racional e raciocínio. Desta última acepção derivou o termo grego logike, "ciência do raciocínio".




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