Por que os africanos vieram para o brasil

Os africanos foram trazidos para trabalhar num dos ramos mais avançados da indústria ocidental no século XVI: a indústria açucareira.

A mão-de-obra escrava foi empregada em atividades que exigiam trabalho qualificadoTrabalho que exige um conhecimento específico para ser executado. Esse conhecimento pode ser adquirido ou pela experiência ou pelo treinamento técnico., tais como conserto de barris, tinas (tanoeiros), atividades de preparação do açúcar, atividades de ferreiros, etc.

Os primeiros africanos chegaram aos engenhos do Recôncavo Baiano, uma das regiões pioneiras no estabelecimento da economia açucareira.

O trabalho do negro substituiu o do indígena por várias razões

Uma dessas razões, por exemplo, foi por ser a mão-de-obra negra mais qualificada do que a indígena. Outra forte razão, foram os altos lucros que o tráfico de escravos africanos rendia para os comerciantes. O tráfico era, sem dúvida, uma das atividades mais lucrativas do sistema colonial.

Por que os africanos vieram para o brasil

Jean Baptiste DebretNasceu em Paris, em 18 de abril de 1768. Após terminar os estudos, Debret resolveu se dedicar à pintura. Depois de uma viagem à Itália, ingressou na Academia de Belas Artes, em 1785. Frequentou mais tarde a Escola Politécnica, organizada para formar engenheiros militares, onde se distinguiu em desenho. Em 1816, organizou-se em Paris, a pedido de D. João VI, a "Missão Artística Francesa", destinada a fundar, no Brasil, uma Academia de Belas Artes. Debret nela se engajou, tendo aqui permanecido 15 anos. De volta à Franca, publicou em 1834 e 1839, o livro "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", em 3 volumes, que não foi bem recebido no Brasil: os membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro julgaram "chocante que se pintassem costumes de escravos e cenas da vida popular com tanto realismo". É justamente isso, no entanto, que torna o livro um documento de grande valor para o conhecimento dos usos e costumes da época em que permaneceu no Brasil.

A partir da segunda metade do século XVI, os africanos foram pouco a pouco substituindo os índios também nos partidos de cana. São as seguintes as razões que explicam essa substituição:

  • declínio da população nativa;
  • sua inexperiência e resistência ao trabalho contínuo na lavoura;
  • o interesse português no tráfico de escravos africanos, tendo em vista a sua lucratividade.

No Brasil, o trabalho escravo predominou em quase todos os setores econômicos

Além de ser empregado no setor da produção de açúcar, foi utilizado também:

  • na agricultura de abastecimento interno;
  • na criação de gado;
  • nas pequenas manufaturas;
  • no trabalho doméstico;
  • em toda ordem de ocupações urbanas.

A seguir, estão alguns exemplos de negros em suas atividades de trabalho, ilustradas nos desenhos do Barão Von LöwensternO Barão Von Löwenstern nasceu em Reval, antiga capital do governo russo na Estônia, a 23 de junho de 1786. Veio ao Brasil em missão do reino da Dinamarca (Rei Frederico VI), numa viagem que durou seis meses. Desembarcou no Rio de Janeiro em 28 de novembro de 1827. Sonhava em encontrar um maravilhoso mundo de seres diferentes e paisagens deslumbrantes. Em 26 de novembro, anotou no seu Diário de Viagem: " A entrada no porto do Rio é o mais lindo espetáculo que se pode imaginar. Ao redor, pitorescos rochedos de granito, (...) Do Pão de Açúcar até a cidade do Rio as casas se estendem, ora formando ruas ao longo da costa, ora isoladas como casas de campo". (CUNHA, L. F. F. ; GEYER, P. LOWENSTERN, G. O Barão Von Löwenstern no Brasil 1827-1829. São Paulo: Gráficos Brunner, 1972. 1 v. Obra comemorativa do Sesquicentenário da Independência do Brasil.).

Por que os africanos vieram para o brasil

Nas cidades, eram os escravos que se encarregavam do transporte de objetos, dejetos e pessoas, além de serem responsáveis por uma considerável parcela da distribuição do alimento que abastecia pequenos e grandes centros urbanos. Escravos vendedores ambulantes e quitandeiros, sobretudo mulheres, povoavam as ruas de Recife, Salvador, Ouro Preto, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e outras cidades.

Entre os séculos XVI e XIX, milhares de africanos foram feitos prisioneiros em suas terras natais e levados para servir como mão de obra escrava em diversas regiões do mundo, principalmente nas Américas. Tratados como uma mercadoria, negociados de feira em feira, aprisionados em barracões e em porões de navios negreiros, esses indivíduos sofriam com a fome, com a sede e com as inúmeras doenças que contraíam, devido à subnutrição e às péssimas condições de higiene nas quais eram obrigados a viver.

Ao chegarem aos seus destinos, em terras muito distantes, eram novamente trancafiados em outros barracões. E ali esperavam seus compradores, ou seja, os seus novos senhores.

Os escravos africanos no Brasil

A sociedade escravista brasileira necessitava de mão de obra para a lavoura e a mineração. Para suprir esse mercado, a maioria dos escravos africanos negociados aqui eram homens e tinham entre 15 e 30 anos de idade.

Um problema que os escravos recém-chegados encontravam era saber se comunicar, principalmente para entender as ordens que recebiam. Os escravos que ainda não sabiam falar o português eram chamados de boçais. Os que já tinham algum conhecimento da língua eram chamados de ladinos. Existiam também os crioulos, que eram os escravos nascidos no Brasil e, portanto já estavam integrados à cultura local.

Assim que chegavam aqui, os escravos perdiam o direito de usar o seu nome africano e de praticar as suas antigas tradições. Eram batizados segundo a fé católica e recebiam nomes portugueses, como João, Joaquim, Maria. Por isso suas origens acabaram sendo apagadas dos registros históricos.

Ainda hoje, os pesquisadores têm dificuldade para identificar que grupos - das milhares de etnias africanas - chegaram ao Brasil, já que recebiam o nome do porto africano por onde tinham sido embarcados. Os principais portos eram da Costa da Mina, de Luanda, de Benguela e de Cabinda. E assim os escravos passavam a ser chamados de Mina, Congo, Angola, Benguela, Cabinda. Por exemplo: Maria Mina, José Cabinda.

Hoje sabemos, por exemplo, que pelo porto de Luanda - de onde saiu a maior quantidade de escravos para o Brasil - embarcaram as etnias dembos, ambundos, imbangalas, lundas e diversas outras. Os africanos eram tratados como se fossem um único povo, cuja cultura era considerada "inferior". Por isso eram obrigados a trabalhar em situações degradantes, vivendo de forma precária, sendo punidos com violência caso não cumprissem as ordens que lhes eram dadas. Existiram exceções a essa regra?

Sim. Alguns africanos conseguiram viver em melhores condições, outros até mesmo chegaram a ter escravos seus. Mas foram poucos. A regra era: submissão, exploração, desrespeito, humilhação. De qualquer forma, os africanos e os seus descendentes foram se tornando brasileiros: aprenderam a língua e passaram a seguir (ao menos aparentemente) os padrões culturais que lhes era imposto. Mesmo por que precisavam sobreviver à nova condição em que se encontravam: eram escravos numa terra distante, e não tinham nenhuma possibilidade de retornar à África.

A resistência dos escravos

Muitos escravos não aceitavam a vida que lhes era imposta e resistiam de diversas formas: suicidavam-se, não cumpriam as ordens que recebiam, assassinavam seus senhores, fugiam, rebelavam-se. Alguns africanos sofriam uma depressão profunda, chamada de banzo, o que podia levar a morte por inanição.

Os senhores de escravos tinham horror a qualquer tipo de resistência, pois além de temerem por suas vidas, temiam perder todo o dinheiro investido na compra do seu escravo. Muitos escravos fugitivos se organizaram em quilombos. Na África, o kilombo era um acampamento militar dos jagas (guerreiros imbangala), e aqui no Brasil se tornou uma comunidade que se organizava para resistir à sociedade escravista.

O mais famoso quilombo foi o dos Palmares, fundado na Serra da Barriga, na então capitania de Pernambuco (hoje Alagoas), no século 17, mas existiram centenas de quilombos por todo território brasileiro. Na província de São Paulo, por exemplo, um dos maiores quilombos foi o do Jabaquara, foi fundado no século 19 na serra de Cubatão.

Alguns escravos fugiam por um tempo, mas retornavam ao seu senhor em troca de melhores condições de vida. Havia também escravos que fugiam e tentavam a sorte em outra região, dizendo ser um liberto. Outra forma de resistência era o assassinato do senhor ou de funcionários, como o feitor, por exemplo. Nesse sentido é interessante observar a definição que a Enciclopédia Larousse traz para a guiné: Planta herbácea, perene, com característico odor que lembra o alho. As raízes tem propriedades antiespasmódicas, abortivas, sudoríficas, diuréticas, anti-reumáticas, mas em doses elevadas podem provocar a morte. Os escravos conheciam o efeito tóxico dessa planta e chamavam-na de "amansa-senhor".

Durante os quatro séculos em que a escravidão existiu no Brasil, muitas rebeliões ocorreram, mas pouco se conhece sobre elas, já que nessa época as autoridades máximas eram os próprios senhores de escravos, e poucos deles registraram esses episódios. A rebelião de escravos que mais teve repercussões foi a Revolta dos Malês, em 1835 na Bahia.

Os africanos resistiram e se impuseram de diversas formas, legando-nos, por exemplo, palavras do nosso vocabulário, pratos de nossa culinária, festas populares, crenças religiosas, instrumentos musicais. A transmissão de seus valores culturais talvez seja a mais importante forma de resistência dos africanos, que não se renderam aos padrões que lhes foram impostos. Os africanos e seus descendentes participaram da construção do Brasil e do povo brasileiro, e não podemos pensar a nossa cultura sem entender (e reverenciar) a nossa herança africana.