Por que apoiar o bolsonaro

Jair Bolsonaro não transformou o Bicententário da Independência em um Grande Comício Eleitoral com o intuito de fazer ciranda. Como ele mesmo vem avisando, vai usar as micaretas para emparedar instituições, ameaçar opositores, atacar as urnas, excitar cabos eleitorais e gerar imagens.

Esse último ponto vale uma reflexão. Uma conhecida tática adotada pela equipe do presidente é usar imagens de multidões para tentar convencer que o apoio a Jair é maior do que realmente é. Partem de um fato comprovado (o presidente é uma pessoa popular que atrai multidões) para vender uma ideia falsa (essas multidões demonstram que a maioria dos brasileiros está com ele).

Ele já tem feito isso, ao longo dos últimos anos, com motociatas, carreatas, comícios e manifestações. Mostra uma aglomeração e aponta como a prova de que ele tem mais votos que Lula.

Mas considerando que o eleitorado apto a votar consiste em 156.454.011 de almas, os 31% (segundo o Ipec) que pretendem apoia-lo representam 48,5 milhões. Ainda assim, isso é menor que os 44% que Lula têm hoje, ou seja, 68,8 milhões.

Mesmo se encher a Esplanada dos Ministérios, a avenida Atlântica e a avenida Paulista, Bolsonaro não poderá dizer que o povo brasileiro está com ele, mas sim que ele é capaz de mobilizar seus seguidores. De acordo com institutos de pesquisa, o bolsonarismo-raiz gira em torno de 15% da população, o que não é pouca gente.E que, além disso, ele foi bem-sucedido ao se aproveitar de uma data cívica para sobrepor um comício, atraindo pessoas que estavam acostumadas, desde criança, a ir ver desfiles de 7 de Setembro.

Por isso, fotos e vídeos produzidos nesta quarta irão circular pelos grupos de WhatsApp e de Telegram e pelas redes sociais, transmitindo a ideia de que o país está com ele. E, consequentemente, que apoia suas pautas antidemocráticas, como o emparedamento das instituições, a ameaça aos opositores, os ataques às urnas, a excitação de seus cabos eleitorais.

A tática usa o mesmo método de ilusionismo presente na tentativa erodir a credibilidade dos institutos de pesquisa. A campanha à reeleição do presidente se aproveita da ignorância em matemática de parte da população para vender que enquetes realizadas dentro da bolha bolsonarista têm mais valor que pesquisas feitas com o rigor científico. Como tem muita gente que nunca teve uma aula de estatística, caem no conto do vigário.

Vale lembrar que as pesquisas mostraram uma estagnação de Bolsonaro. Na Ipec, Lula manteve 44%, enquanto o presidente oscilou de 32% para 31%.

Só há uma forma, contudo, de acreditar que Bolsonaro conta com o apoio do povo brasileiro: se, ao menos, 10% daqueles 33,1 milhões de famintos forem às ruas para dizer que o apoiam apesar de tudo.

O que não vai acontecer, pois enquanto estiverem rolando as micaretas bolsonaristas, os trabalhadores pobres estarão mais preocupados em tentar garantir a própria sobrevivência. De acordo com o Ipec, a rejeição do presidente entre quem ganha até um salário mínimo oscilou de 53% para 56%, entre os dias 29 de agosto e 5 de setembro.

Mas mesmo que fossem às manifestações, o presidente não conseguiria enxergá-los, como não tem sido capaz de vê-los desde que assumiu. Em julho de 2019, ele afirmou: "Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira". E no último dia 26, insistiu: "Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, no caixa da padaria? Você não vê, pô".

Em suma, Bolsonaro falará ao seu povo escolhido, o que é muita gente, mas exclui mais gente ainda.

O levantamento de intenção de voto realizado pela pesquisa Genial/Quaest mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oscilou positivamente em 2 pontos percentuais e recuperou a diferença de 10 pontos sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL). No primeiro turno, Lula tem 44% das intenções de voto, contra 34% de Bolsonaro, que mantém esse resultado desde a pesquisa divulgada em 7 de setembro. 

A região Sudeste, onde estão 42% dos eleitores brasileiros, continua a registrar empate, agora numérico, em 38%. O presidente mantém vantagem no Sul, onde está 11 pontos à frente de Lula, com 45% contra 34%. O ex-presidente continua a liderar  com folga no Nordeste: 60% a 21%.

Ciro Gomes (PDT) oscilou 1 ponto percentual para baixo e tem nesta rodada 6%; Simone Tebet (MDB) oscilou 1 ponto para cima e aparece com 5%; Soraya Thronicke (União Brasil) mantém 1%. Os demais candidatos a presidente não pontuaram. Indecisos são 5%, mesmo percentual dos que votam em branco ou nulo ou não pretendem comparecer às urnas. 

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Voto já definido 

Perguntados se seus votos são definitivos, 83% dos eleitores de Bolsonaro e 81% dos eleitores de Lula consideram que a decisão sobre o voto é definitiva. Já entre os apoiadores da candidatura de Ciro essa taxa é de 47% e de 44% entre os eleitores de Tebet.

Perguntados sobre quem seu candidato deve apoiar se houver segundo turno, 50% dos eleitores de Ciro defenderam apoio a Lula, 18% a Bolsonaro e 29% preferem a neutralidade. Entre os eleitores de Simone Tebet, a diferença é de apenas 1 ponto percentual entre os que defendem apoio a Lula e os que preferem Bolsonaro: 35% a 34%. Para 27%, a candidata do MDB não deve apoiar nenhum dos dois.

Segundo turno

Na simulação de segundo turno, Lula venceria Bolsonaro por 50% a 40%. Para 53% dos eleitores, Bolsonaro não merece um segundo mandato, enquanto 44% consideram que sim.  Sobre a volta de Lula à presidência, 52% consideram que o ex-presidente merece voltar, contra 45% que têm opinião contrária

A pesquisa Genial/Quaest

A 19ª rodada da pesquisa Genial/Quaest ouviu 2.000 pessoas com mais de 16 anos entre os dias 17 e 20 de setembro, em entrevistas nas casas dos eleitores em 27 estados. A margem de erro informada pela pesquisa é de +/- 2 pontos percentuais e nível de confiança da pesquisa para a estimação da margem de erro de 95%. A sondagem está registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-004459/2022. Desde julho de 2021, a Genial/Quaest realiza pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais.

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Daniel Marcelino – Analista de dados em Brasília, é especialista em métodos quantitativos, modelos de previsão e pesquisas de opinião. Antes do JOTA, foi pesquisador em universidades e órgãos de governos: Universidade de York e Universidade de Montreal (Canadá), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Prefeitura de Curitiba. Email:

Malvino Salvador é um dos poucos atores que vêm publicamente declarar seu voto em Jair Bolsonaro (PL). Sem medo de perseguição da classe artística, ele comenta como vê o atual momento, quase véspera das eleições, e diz que foi atacado pelo seu posicionamento.

“Todo mundo é livre para se manifestar da maneira que quiser, isso é liberdade de se mostrar como cidadão. O que não acho legal é a guerra insana (que se cria com isso). A sociedade evolui com a troca de ideias. Está um lado guerreando com o outro, sem argumentos. Mas o brasileiro nunca esteve tão politizado quanto agora, eu vejo isso de maneira positiva. Fui atacado por colocar minha posição (a favor do presidente), mas não mudo em nada o que disse. Eu já falei o que penso, e não preciso ficar repetindo.”

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