O que podemos fazer para diminuir os efeitos das mudanças climáticas e nos adaptar a eles

O efeito estufa é um fenômeno natural que ocorre no planeta Terra. Nesse fenômeno, a energia do Sol, que atravessa a atmosfera, é absorvida pela Terra e convertida em calor na superfície. Esse calor é irradiado de volta na forma de radiação infravermelha para a atmosfera, que contém, além dos gases atmosféricos, vapor de água, gás carbônico, dióxido de nitrogênio, e metano, gases cujas moléculas têm a propriedade de absorver calor, mantendo a superfície terrestre aquecida. É através do efeito estufa que o nosso planeta consegue manter sua temperatura constante, dando condições para a existência de todas as formas de vida que conhecemos hoje.

Dessa forma, podemos dizer que a atmosfera é fundamental para a biosfera, pois além de conter gases essenciais já citados, ainda impede que a Terra perca calor, atuando como uma estufa. Sabendo da grande importância da atmosfera para a vida no planeta, podemos imaginar o que alterações em sua composição podem acarretar para a vida na Terra.

Para muitos cientistas, o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera terrestre, decorrente da queima de combustíveis fósseis, provoca um aumento na temperatura da Terra, acentuando o efeito estufa. O aumento de 1°C nas médias de temperatura já é suficiente para causar efeitos desastrosos.

Como esse tema envolve questões meteorológicas, culturais, biológicas, econômicas e diplomáticas, há uma crescente conscientização de toda a população sobre o assunto e o desejo de se fazer alguma coisa para amenizar esse problema. Mas o que nós podemos fazer em nossa casa para que esse problema seja amenizado? É a partir dessa dúvida que o professor pode perguntar aos alunos sobre quais atitudes eles estão tendo frente a esse problema e quais ações eles podem ter para que ele seja amenizado.

Pequenas mudanças de atitude podem ser significativas e o professor pode dar algumas dicas aos seus alunos sobre essas atitudes. Abaixo listaremos algumas dicas importantes de ações individuais.

  • Economizar energia elétrica. Não deixe luzes acesas sem necessidade; troque as lâmpadas incandescentes pelas lâmpadas fluorescentes que poupam 68 Kg de CO2 por ano. É importante lembrar aos alunos que um quilowatt de energia produzida no Brasil gera 36 Kg de CO2.
  • Evite utilizar carros como meios de transporte, dando preferência ao transporte coletivo e bicicletas, pois um dos principais agentes poluidores da atmosfera é o automóvel.
  • Dê preferência a carros a álcool. Um litro de gasolina lança 2,74 kg de CO2 na atmosfera. Agora faça os cálculos: se alguém que dirige 20 mil quilômetros em um ano reduzir 10% desse valor, seja utilizando transporte coletivo, bicicleta ou fazendo pequenos trajetos a pé, contribuirá com a redução de pelo menos 500 kg de CO2 por ano.
  • Coma menos carne suína e bovina, pois esses animais emitem grande quantidade de metano em seus dejetos e ruminação.
  • Recicle o lixo e tenha mais cuidado ao consumir embalagens. Reutilizando ou reciclando o lixo evita-se a utilização de novos recursos naturais não renováveis, além de diminuir a quantidade de lixo jogado nos aterros sanitários e reduzir a quantidade de metano.
  • Se você tiver um quintal em sua casa, plante árvores, de preferência nativas de sua região, pois dessa forma você estará contribuindo para a manutenção da fauna e também para a redução do aquecimento global.

É importante que o professor deixe bem explicado que o efeito estufa é um fenômeno natural do qual a vida na Terra depende, mas que, em razão da queima de combustíveis fósseis, esse fenômeno vem se acentuando, causando prejuízos ao planeta em que vivemos e, consequentemente, a toda forma de vida na Terra.

Por Paula Louredo

Graduada em Biologia

O que é a Mudança do Clima?

A mudança do clima é um fenômeno de alcance global atribuído “direta ou indiretamente à atividade humana que altera a composição da atmosfera e se acrescenta à variabilidade climática natural observada ao longo de períodos de tempo comparáveis” (UNFCCC, 2012).

A mudança do clima antropogênica, ou seja, aquela causada pelo homem, está associada ao aumento da emissão de gases de efeito estufa por queima de combustíveis fósseis (dos automóveis, das indústrias, usinas termoelétricas), queimadas, desmatamento, decomposição de lixo etc. Existem fortes indícios de que o clima está de fato mudando. As décadas de 1990 e 2000 foram as mais quentes dos últimos 1.000 anos. As projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas de 2014 indicam que nos próximos 100 anos poderá haver um aumento da temperatura média global entre 1,8°C e 4,0°C, e um aumento do nível médio relativo do mar entre 0,18 m e 0,59 m, o que pode afetar significativamente as atividades humanas e os ecossistemas terrestres.

Dessa maneira, a mudança do clima tem e terá impactos diretos e indiretos sobre sistemas naturais, grupos e sistemas humanos, assim como sobre a atividade econômica. Afetará, por exemplo os setores industrial, energético e de transportes devido a impactos na disponibilidade de recursos naturais nos quais tais atividades econômicas estão baseadas, além de impactos sobre a infraestrutura própria ou compartilhada. Atividades que dependem de recursos sensíveis ao clima incluem as indústrias alimentícia e de bebidas, têxtil e aquelas que dependem de recursos florestais tanto como matéria-prima quanto como fonte de energia térmica.

As discussões sobre mudança do clima e riscos climáticos envolvem alguns termos que são amplamente utilizados em contextos que vão além da mudança do clima e também têm forte interação entre si, o que frequentemente cria certa confusão. É importante ter clareza sobre estes termos e suas interações antes de avançar:

          Risco                     Perigo                       Impacto                   Exposição                Vulnerabilidade

 Confira o Glossário! 

De maneira bastante simplificada, podemos dizer que o risco diz respeito às consequências (impactos) que podem ocorrer em determinado local quando há atributos de valor expostos e quando o resultado é incerto (probabilidade de ocorrência de um perigo) (IPCC, 2014). A figura abaixo ilustra como as alterações no sistema climático (esquerda), combinados a processos socioeconômicos, incluindo esforços de adaptação e mitigação (direita), são fatores que contribuem para a determinação do perigo, exposição e vulnerabilidade, resultando em riscos climáticos e seus impactos sobre os sistemas naturais e humanos. Trata-se de uma estrutura cujos elementos se retroalimentam, dado que os riscos, quando se manifestam, geram impactos tanto sobre os processos socioeconômicos como sobre o sistema climático.

Determinantes de riscos climáticos

O que podemos fazer para diminuir os efeitos das mudanças climáticas e nos adaptar a eles
Determinantes de riscos climáticos. Fonte: IPCC (2014)

 

Principais efeitos da Mudança do Clima no Brasil

Os impactos projetados da mudança do clima afetam de diferentes maneiras e intensidades os diversos sistemas naturais e humanos, e consequentemente, os diversos setores da economia. O cálculo do risco climático gerado por estes impactos depende dos graus de exposição e vulnerabilidade dos sistemas em questão, como descrito anteriormente.

Para saber sobre as vulnerabilidades de setores específicos, acesse a página de cada setor.

De acordo com o Relatório do IPCC de 2014, gerado a partir de projeções de cenários climáticos, os principais efeitos da mudança do clima que já afetam e afetarão o Brasil e América do Sul são:

Aumento da temperatura para a América do Sul até 2100, sendo um aquecimento de +1,7°C até +6,7°C para o Brasil.

Aumentos ou diminuições da precipitação para a América do Sul até 2100. Variações na precipitação observadas sugerem uma redução de 22% na região Nordeste do Brasil e na parte Oriental da Amazônia e um acréscimo de 25% no Sul e Sudeste do Brasil. As projeções para 2100 mostram um crescimento dos períodos de seca no Nordeste do Brasil e na Amazônia e de dias e noites mais quentes na maior parte do Sul do Brasil.

Risco de escassez de abastecimento de água deverá aumentar devido a reduções de precipitação e do aumento da evapotranspiração nas regiões semiáridas, afetando o abastecimento de água nas cidades, a geração de energia hidroelétrica e com impactos particularmente para a agricultura de subsistência.

Mudanças nas vazões e na disponibilidade de água foram observadas e deverão continuar na América do Sul. O Sul e Sudeste do Brasil serão as regiões mais vulneráveis.

Aumento do nível médio relativo do mar e as atividades humanas sobre os ecossistemas costeiros e marinhos representam ameaças para as populações de peixes, corais, manguezais, o lazer e o turismo, e para o controle de doenças. O nível do mar variou de 2 a 7 mm ao ano no período entre 1950 e 2008. 

Mudanças nos padrões de tempo e clima estão afetando negativamente a saúde humana por meio do aumento da morbidade, mortalidade e deficiência, e por meio do aparecimento de doenças em áreas anteriormente não endêmicas. Há uma correlação com nível alto de confiança entre as mudanças climáticas e doenças cardiovasculares e respiratórias, doenças transmitidas pela água (malária, dengue, febre amarela), entre outras.  Os riscos para a saúde se exarcebarão com as taxas de crescimento populacional regional e as vulnerabilidades nos sistemas de abastecimento de água, saneamento, gestão dos resíduos, nutrição, poluição, etc.

Fonte: IPCC (2014) in BRASIL (2016)

A figura abaixo mostra uma síntese das mudanças observadas no clima e em outros fatores ambientais em regiões representativas da América Central e do Sul. As fronteiras do mapa são conceituais (sem precisão geográfica ou política). Observa-se que, para o Brasil, são identificadas três regiões: a região 2, que engloba a Região Norte e Centro-Oeste do Brasil; a região 6 que engloba o Nordeste; e a região 7, que engloba partes do Sudeste, Centro-Oeste e Sul.

Síntese das mudanças observadas. Fonte: IPCC (2012) in ANA (2016)
Região 2: Amazônia Tendência de aumento de temperatura. Dados não são conclusivos no que tange uma alteração sistemática e unidirecional nas tendências de aumento de períodos de seca ou de aumento da precipitação. 
Atividades como desmatamento, agropecuária e mineração têm causado degradação ambiental severa e a redução da disponibililidade de serviços ecossitêmicos.
Região 6 : Nordeste da América do Sul Tendência de aumento de temperatura e redução da precipitação, isto terá um impacto direto na produtividade agrícola reduzindo a disponibilidade hídrica para irrigação e ameaçando a segurança alimentar especialmente das populações mais pobres. 
Região 7 : Sudeste da América do Sul Tendência de aumento de temperatura, precipitação e eventos climáticos extremos, levando à inundações e deslizamento de terras. Devido ao aumento de chuvas, aumento do escoamento superficial, e também possibilidade da média de produtividade agrícola aumentar ou ser mantida até metade do século 21. A expansão agrícola da região poderá ameaçar a cobertura florestal remanescente.

Medidas de Mitigação ou Adaptação?

A mudança do clima demanda respostas da sociedade que podem ser agrupadas em duas distintas categorias: mitigação e adaptação. A mitigação refere-se à redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) para evitar ou reduzir a incidência da mudança do clima; enquanto a adaptação busca reduzir seus efeitos danosos e explorar possíveis oportunidades. A adaptação é necessária independentemente do quanto conseguimos reduzir de emissões de GEE, pois as emissões históricas já alteraram o clima de maneira que a temperatura média global da Terra vem batendo recordes a cada ano.

Enquanto ações de mitigação atuam no sentido de reduzir o risco climático pela redução do perigo (no caso, redução de emissões de GEE que reduz a probabilidade de ocorrência de evento climático extremo), as ações de adaptação têm a possibilidade de influenciar o risco por meio da redução da vulnerabilidade e/ou exposição dos sistemas.

É recomendável que exista sinergia entre ações de mitigação e adaptação para aumentar a relação custo-efetividade, os benefícios sociais e tornar o sistema socioeconômico menos intensivo em carbono e ao mesmo tempo mais resiliente.

          Risco                     Perigo                       Impacto                   Exposição                Vulnerabilidade

 Confira o Glossário! 

O que é Adaptação?

A adaptação refere-se a ajustes em sistemas naturais ou humanos frente a estímulos climáticos, atuais ou esperados, e seus efeitos. Em sistemas humanos, tais ações têm o objetivo de moderar ou evitar danos ou, ainda, explorar oportunidades benéficas. No Brasil, a Política Nacional sobre Mudança do Clima define adaptação como as “iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima”.

A adaptação pode ocorrer por meio da alteração em diferentes sistemas/áreas. Por exemplo, uma ação de adaptação pode se dar por meio da mudança de arranjos institucionais, por meio de inovações tecnológicas, ou ainda em decorrência de fenômenos de característica econômica ou jurídica. Alguns exemplos de medidas de adaptação são: preparação de avaliações de risco, melhoria nas práticas de agricultura em regiões de maior incidência de seca, construção de barreiras para proteção contra aumento do nível do mar, desenvolvimento de sistemas de alerta preventivo, melhoria na cobertura de seguros ou desenvolvimento de redes de segurança social. Há ainda estratégias de adaptação baseada em ecossistemas que se utilizam de oportunidades de conservação e restauração de ecossistemas para oferecer serviços que permitam que as pessoas se adaptem aos impactos da mudança do clima, por exemplo, a gestão sustentável de áreas de manguezais que atuam como barreira protetora em caso de tempestades.

Embora a adaptação possa ocorrer de forma não deliberada (adaptação autônoma), em geral, a tomada de decisão a partir da análise de dados e informações relacionadas a riscos climáticos tende a tornar mais efetivas as estratégias de adaptação (adaptação planejada).

De maneira simplificada, é possível dizer que estratégias de adaptação planejadas frequentemente focam em medidas que visam partilhar o risco, assumir o risco e sua perda associada, modificar ou evitar os efeitos do evento, ou modificar a localização, reduzindo ou eliminando a exposição de algum ativo (inclusive vidas humanas) a determinado risco climático. Assim, uma abordagem para adaptação é reduzir o risco por meio da redução da vulnerabilidade de um sistema e da exposição do sistema à mudança do clima. Também é possível pensar em estratégias de adaptação que aumentem a resiliência do sistema para que ele lide/responda aos efeitos da mudança do clima.

Impactos atuais e futuros da mudança do clima demandam respostas adaptativas em diversos setores da economia, esferas sociais e unidades geográficas. O desenvolvimento e a implementação de iniciativas e medidas de adaptação envolvem, portanto, um extenso e heterogêneo grupo de atores, públicos e privados, locais e nacionais.  Para que seja sustentável e evitar a má adaptação, os atores que estejam desenvolvendo um plano, estratégia ou medida de adaptação podem seguir alguns princípios da boa adaptação como apoio para garantir êxito e também para medir sua performance.

Considerando o contexto de incerteza sobre vulnerabilidade e exposição futuras, medidas de adaptação do tipo no-regrets e low-regrets (em inglês, sem arrependimento e de baixo arrependimento) são amplamente difundidas. Elas são medidas que se provarão válidas ainda que não ocorressem os impactos previstos (no-regret) e ações que requerem pequenos esforços adicionais para lidar com estes impactos (low-regret). Por exemplo, infraestrutura adicional de irrigação pode ser uma medida sem arrependimento em regiões que já enfrentam escassez de água.