O protagonista de Vidas Secas não possui linguagem verbal articulada é como consequência o autor

O protagonista de Vidas Secas não possui linguagem verbal articulada é como consequência o autor

1.(UNICAMP ) Leia o seguinte trecho do capítulo “Contas”, de Vidas Secas.

Tinha a obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia do seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espantar-se-ia. (…) Era a sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar

mandacaru, ensebar látegos – aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.(Graciliano Ramos, Vidas Secas. 103ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, p.97.)

a) Que visão Fabiano tem de sua própria condição? Justifique.

b) Explique a referência que ele faz aos “homens ricos” com base no enredo do livro.

RESPOSTAS:

a) Trata-se de uma visão extremamente alienada e conformista (“Conformava-se, não pretendia mais nada”, diz ele), justificada, inclusive, por uma lógica determinista. Fabiano aceita a exploração e a condição social miserável em que vive como se fossem naturais, produtos de uma sina (“Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? […] Era a sina.”), ou mesmo de uma herança genética, pois, segundo ele, o “pai vivera assim, o avô também […] aquilo estava no sangue”.

 b) Os “homens ricos” mencionados no trecho são homens de posse, senhores de terras, exploradores como o proprietário das terras em que Fabiano se instala com sua família. Como não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, Fabiano precisava recorrer à feira para a compra de mantimentos, a fim de alimentar a família. Para isso, negociava os poucos bezerros e cabritos que possuía com o proprietário das terras, que os comprava a preços baixíssimos. O valor que conseguia com os animais não era suficiente para se manter e precisava recorrer ao patrão, que lhe cobrava juros altíssimos pelos empréstimos. As contas do patrão nunca batiam com as de Sinhá Vitória, em virtude dos juros exorbitantes cobrados por tais empréstimos. Quando Fabiano reclamava, o patrão, irritado, mandava-o procurar outra fazenda. Fabiano, então,sem alternativa, calava-se e se submetia aos desmandos e à exploração do patrão.

2. (UERJ) SINHÁ VITÓRIA

Sinhá Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito, dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama de varas. Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: – “Hum! hum!” E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de entender, deitara-se na rede e pegara no sono. Sinhá Vitória andara para cima e para baixo, procurando em que desabafar. Como achasse tudo em ordem, queixara-se da vida. E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé. 2 Avizinhou-se da janela baixa da cozinha, viu os meninos, entretidos no barreiro, sujos de lama, fabricando bois de barro, que secavam ao sol, sob o pé de turco, e não encontrou motivo para repreendê-los. Pensou de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinham-se acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas. 3 Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido. Fabiano a princípio concordara com ela, mastigara cálculos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a armação. Bem. Poderiam adquirir o móvel necessário economizando na roupa e no querosene. Sinhá Vitória respondera que isso era impossível, porque eles vestiam mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam candeeiros na casa. Tinham discutido, procurado cortar outras despesas. Como não se entendessem, Sinhá Vitória aludira, bastante azeda, ao dinheiro gasto pelo marido na feira, com jogo e cachaça. Ressentido, Fabiano condenara os sapatos de verniz que ela usava nas festas, caros e inúteis. Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um papagaio, era ridícula. Sinhá Vitória ofendera-se gravemente com a comparação, e se não fosse o respeito que Fabiano lhe inspirava, teria despropositado. Efetivamente os sapatos apertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos. Equilibrava-se mal, tropeçava, manquejava, trepada nos saltos de meio palmo. Devia ser ridícula, mas a opinião de Fabiano entristecera-a muito. 4 Desfeitas essas nuvens, curtidos os dissabores, a cama de novo lhe aparecera no horizonte acanhado. 5 Agora pensava nela de mau humor. Julgava-a inatingível e misturava-a às obrigações da casa. (RAMOS, Graciliano. “Vidas secas.” Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.) a) “realmente mulher É bicho difícil de entender,” (par. 1) Nesta passagem, o emprego do verbo no presente do indicativo contrasta com o restante das formas verbais, todas flexionadas no tempo passado. Justifique esse emprego do presente do indicativo. b) “Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um papagaio, era ridícula.” ( par. 3) Este trecho, embora seja um discurso em terceira pessoa, corresponde à fala do personagem Fabiano e não a um enunciado do narrador. Retire do texto duas informações que comprovem essa afirmativa.

RESPOSTAS:

a) Trata-se da reprodução de uma frase tomada como verdade absoluta (ou como fato do conhecimento de todos ou como realidade imutável). b) Duas dentre as seguintes referências feitas no texto: – à condenação que Fabiano, ressentido, fizera dos sapatos. – ao fato de Sinhá Vitória ter se ofendido, indicando que ela ouvira a comparação do próprio Fabiano.

– à “opinião de Fabiano”, reafirmando sua autoria.

3. (UNICAMP) O capítulo O MUNDO COBERTO DE PENAS, do romance VIDAS SECAS (Graciliano Ramos), inicia-se com a seguinte descrição feita pelo narrador: “O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não havia comida, seguiam viagem para o sul. O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o resto da água, queriam matar o gado. Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! (…) Um bicho de penas matar o gado! Provavelmente Sinhá Vitória não estava regulando.” a) Sinhá Vitória vê a chegada das aves ao bebedouro do gado como um sinal. De acordo com o enredo de VIDAS SECAS, o que simboliza a chegada das aves? b) Transcreva, do trecho citado, uma passagem que confirme a resposta dada ao item anterior. c) Como o sinal identificado por Sinhá Vitória pode ser relacionado à trajetória da família de Fabiano, em Vidas Secas?

RESPOSTAS:

a) A volta da seca. b) “… o sertão ia pegar fogo.”

c) Como as arribações, a família migrava para o sul.

4. (UFV) Em um estudo sobre o Modernismo brasileiro, o crítico João Luiz Lafetá assim definiu a produção literária do decênio de 30. A “politização” dos anos trinta descobre ângulos diferentes: preocupa-se mais diretamente com os problemas sociais e produz os ensaios históricos e sociológicos, o romance de denúncia, a poesia militante e de combate. (LAFETÁ, João Luiz. “1930: a crítica e o modernismo.” São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1974. p.18) Reflita sobre o romance “Vidas Secas” e, de forma concisa, responda: Em que medida a narrativa de Graciliano Ramos está de acordo com as propostas contidas no fragmento acima?

RESPOSTA:

O romance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos traduz a problemática do homem nordestino, em que as condições naturais são as mais adversas: o cenário aponta um ambiente hostil, marcado pela seca. A luta pela sobrevivência se torna uma constante, e as condições culturais reservam ao homem do sertão um universo pobre, marcado pelo instinto e pela animalização. As condições sociais são opressoras, transformando os inúmeros “Fabianos” em seres reificados.

5. (UNICAMP) Em VIDAS SECAS, após ter vencido as dificuldades, postas no início da narrativa, Fabiano afirma: “Fabiano, você é um homem…”. Corrige-se logo depois: “Você é um bicho, Fabiano”. Em seguida, encontrando-se com a cadelinha, diz: “Você é um bicho, Baleia”. Ao chamar a si mesmo e a Baleia de “bicho”, Fabiano estabelece uma identificação com ela. Na leitura de VIDAS SECAS, podem-se perceber vários motivos para essa identificação. Cite dois desses motivos.

RESPOSTA:

Há em Fabiano uma constante identificação com os animais em geral. Isso ocorre certamente pela sua degradação social, econômica e principalmente cultural. Ele se entendia bem com os animais, pois se comunicava com eles através de sons guturais e monossilábicos.

6.(UNESP)O chamado “ciclo nordestino” da moderna ficção brasileira compreende obras inspiradas em motivos sociais, entre os quais o flagelo das secas. São escritores representativos Raquel de Queirós (Ceará, 1910-), Graciliano Ramos (Alagoas, 1892-1953), José Lins do Rego (Paraíba, 1901-1957) e Jorge Amado (Bahia, 1912-). “Vidas Secas” focaliza uma família de retirantes que vive numa espécie de mudez introspectiva, em precárias condições físicas e num estado degradante de condição humana. Mediante estas observações: a) Demonstre como se revela no texto essa espécie de “silêncio introspectivo” dos personagens. b) Explique, com base em elementos do texto, por que “Vidas Secas” é considerado um romance regionalista.

RESPOSTAS:

a) Quase não há diálogos, apenas a bronca de Fabiano no filho.
b) Porque trata da viagem de uma família de retirantes fugindo da seca.

7. (FGV) Leia atentamente os dois fragmentos a seguir extraídos de “Vidas Secas de Graciliano Ramos”, e desenvolva a questão que se segue: Texto 1: “Alcançou o pátio, enxergou a casa baixa e escura, de telhas pretas, deixou atrás os juazeiros, as pedras onde jogavam cobras mortas, o carro de bois. As alpercatas dos pequenos batiam no chão branco e liso. A cachorra Baleia trotava arquejando, a boca aberta.” (“Fabiano” em: Ramos, G. “Vidas Secas”. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.) Texto 2: “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria cheio de preás, gordos, enormes.” (“Baleia” em: Ramos, G. “Vidas Secas”. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.) A expressividade do discurso de “Vidas Secas” ocorre por meio da forma singular com que são trabalhados todos os níveis gramaticais, mas encontra nos nomes (substantivos e adjetivos) e nos tempos verbais, lugar especial na construção dos sentidos. analise essa afirmação relacionando comparativamente os dois fragmentos selecionados.

RESPOSTAS:

O texto 1 é narrativo-descritivo. Faz uso de verbos no pretérito perfeito, indicando ações pontuais, e, no pretérito imperfeito, indicando ações habituais. Os substantivos são concretos.
No texto 2, a cachorra Baleia deixa de ser elemento do conjunto e passa a ser tratada como uma pessoa que tem sonhos e desejos. O texto cria uma atmosfera de quimera, quase surrealista, para isso, usa o futuro do pretérito.

8. (UNICAMP-SP) Uma personagem constantemente mencionada em Vidas secas, de Graciliano Ramos, é Seu Tomás da bolandeira. Homem letrado, é tido como um exemplo de “sabedoria” por Fabiano, que muitas vezes o vê como um modelo.

“Em horas de maluqueira Fabiano desejava imitá-lo: dizia palavras difíceis, truncando tudo, e convencia-se de que melhorava. Tolice. Via-se perfeitamente que um sujeito como ele não tinha nascido para falar certo.

Seu Tomás da bolandeira falava bem, estragava os olhos em cima de jornais e livros, mas não sabia mandar: pedia. Esquisitice um homem remediado ser cortês. Até o povo censurava aquelas maneiras. Mas todos obedeciam a ele. Ah! quem disse que não obedeciam?”

a) Cite um episódio do romance em que fica evidente a dificuldade de expressão de Fabiano, na presença de pessoas que julga superiores.

b) como o episódio escolhido por você exemplifica a relação, percebida por Fabiano, entre um uso mais “difícil” da linguagem e o poder exercido por determinadas pessoas?

RESPOSTAS:

a) Nos dois episódios em que encontra o “soldado amarelo”.
b) Pela falta de articulação regular da língua, Fabiano não consegue se defender e chegará a ser preso e torturado.

9. (FUVEST) “E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos: mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.”

Este é o retrato de Fabiano, no livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

a) Por que o autor enumera os caracteres físicos de Fabiano?

b) Que sentido tem a palavra “cabra” no texto?

RESPOSTAS:

a) O autor enumera os caracteres físicos de Fabiano para mostrar que ele é um homem, embora se julgue apenas um “cabra”, por viver em terra alheia e ocupar-se em guardar coisas dos outros, isto é, pela condição de inferioridade social e de subalterno em que vive.
b) A palavra “cabra” no texto tem o sentido de oprimido, de subalterno, de socialmente inferior. Em relação aos “brancos”, os homens da cidade, os proprietários, Fabiano se sente um “cabra”, quer dizer, menos que um homem, um bicho

10. (PUCRJ )  Texto 1

Espalham-se, por fim, as sombras da noite.

O sertanejo que de nada cuidou, que não ouviu as harmonias da tarde, nem reparou nos esplendores do céu, que não viu a tristeza a pairar sobre a terra, que de nada se arreceia, consubstanciado como está com a solidão, para, relanceia os olhos ao derredor de si e, se no lagar pressente alguma aguada, por má que seja, apeia-se, desencilha o cavalo e reunindo logo uns gravetos bem secos, tira fogo do isqueiro, mais por distração do que por necessidade.

Sente-se deveras feliz. Nada lhe perturba a paz do espírito ou o bem-estar do corpo. Nem sequer monologa, como qualquer homem acostumado a conversar.

Raros são os seus pensamentos: ou rememora as léguas que andou, ou computa as que tem que vencer para chegar ao término da viagem.

No dia seguinte, quando aos clarões da aurora acorda toda aquela esplêndida natureza, recomeça ele a caminhar, como na véspera, como sempre.

Nada lhe parece mudado no firmamento: as nuvens de si para si são as mesmas. Dá-lhe o Sol, quando muito, os pontos cardeais, e a terra só lhe prende a atenção, quando algum sinal mais particular pode servir-lhe de marco miliário na estrada que vai trilhando.TAUNAY, Visconde de. Inocência. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000002.pdf&gt;. Acesso em: 20 set. 2012.

Texto 2

Na planície avermelhada, os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.

– Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.

Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.

A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.

– Anda, excomungado.

O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 1986, pp. 9-10.

Texto 3

Toda viagem é interior

embora

por fora

se vista o carro ou o trem

e se aprenda a nadar

com o navio

e a voar

pelos ares, com as bombas

e os aviões;

toda viagem

se faz por dentro

como as estações

se fabricam, invisíveis

a partir do vento

silenciosas

como quando um pensamento

muda de tempo e de marcha

distraído de si, e entra

em outro clima

com a cabeça no ar:

psiu, míssil, além do som

e de qualquer mapa

ou guia que desenrolo

míope, sobre a estrada

que passa

sob meu pé-pneumático

sob o célere céu azul

do meu chapéu;

toda viagem

avança e se alimenta

apenas de horizontes

futuros, infinitos, vazios

e nuvens:

toda viagem é anterior.FREITAS FILHO, Armando. Longa vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, pp.115-116.

a) Tomando como base a leitura comparativa dos textos 1, 2 e 3, determine o sentido da palavra “viagem” em cada um deles.

b) Determine o gênero literário predominante no texto 3, justificando a sua resposta com aspectos que o caracterizam.

RESPOSTAS:

a)No texto 1, a viagem ganha o sentido de deslocamento espacial positivo, com roteiro previsto e bem definido. No texto 2, o mesmo deslocamento espacial é visto negativamente, seja pelas condições adversas, seja por não haver destino definido. No texto 3, a viagem acontece sobretudo no plano do imaginário, indicando um deslocamento predominantemente temporal.

b) O gênero literário predominante no poema de Armando Freitas Filho é o lírico, caracterizado pela presença do eu poético (eu lírico), pelo tom intimista e pela utilização de uma linguagem que produz sensações.

11. (UNESP) Comparando-se a charge, “Meu Guri” e o fragmento de “Vidas Secas”, percebe-se que, entre outras afinidades, há uma fundamental: a identidade daquelas crianças. Em vista deste comentário, responda:

O protagonista de Vidas Secas não possui linguagem verbal articulada é como consequência o autor
a) Que afinidades se verificam com relação à nomeação das crianças?

b) Cite e interprete o verso de Chico Buarque que, explicitamente, relaciona a questão da miséria com a da nomeação.

RESPOSTAS:

a) Nenhum deles é chamado pelo nome, mas por “guri”, “filho mais novo”, “menino mais velho”, autor material”.
b) “e eu não tinha nem nome pra lhe dar”. O verso alude à pobreza, inclusive comunicativa, do personagem à promiscuidade do meio: não se conhece o pai.

12. (UNICAMP )  Ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de objetos. Comunicaram baixinho um ao outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve uma dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que aquilo tinha sido feito por gente? O menino mais velho hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças bem-vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tivesse sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão intricada. Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conservaria tão grande soma de conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente. E os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos, falavam baixo para não desencadear as forças estranhas que elas porventura encerrassem.(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p.82.)

Sinhá Vitória precisava falar. Se ficasse calada, seria como um pé de mandacaru, secando, morrendo. Queria enganar-se, gritar, dizer que era forte, e a quentura medonha, as árvores transformadas em garranchos, a imobilidade e o silêncio não valiam nada. Chegou-se a Fabiano, amparou-o e amparou-se, esqueceu os objetos próximos, os espinhos, as arribações, os urubus que farejavam carniça. Falou no passado, confundiu-se com o futuro. Não poderiam voltar a ser o que já tinham sido?

a) O contraste entre as preciosidades dos altares da igreja e das prateleiras das lojas, no primeiro excerto, e as árvores transformadas em garranchos, no segundo, caracteriza o conflito que perpassa toda a narrativa de Vidas secas. Em que consiste este conflito?

b) No primeiro excerto, encontra-se posta uma questão recorrente em Vidas secas: a relação entre linguagem e mundo. Explique em que consiste esta relação na passagem acima.

RESPOSTAS:

a) Os trechos do enunciado apresentam, entre outros, o caleidoscópio de sentimentos e emoções da família de Fabiano enquanto observam as festividades de Natal na cidade. No primeiro excerto, os meninos maravilham-se com tantas luzes e gente e assustam-se com o ambiente da igreja e das lojas que desconheciam. No segundo, Sinhá Vitória está aflita com a situação de Fabiano que se tinha embriagado e ficara deitado no chão, dormindo pesadamente. Em ambos os excertos, está presente o conflito de quem vive em absoluta situação de precariedade e rudeza e estranha o mundo dos mais afortunados que têm acesso ao “luxo” e à abastança.

b) O mundo retratado na obra “Vidas secas” é revelador do sofrimento dos que vivem em condições sub-humanas no sertão nordestino, submetidos aos rigores do clima e ao isolamento social, o que lhes embota o raciocínio e provoca o ressecamento do ser. Assim, num espaço em que impera o silêncio apenas entrecortado pelos gritos dos animais, os personagens adquirem as mesmas características, tornando-se cada vez mais “bichos” e menos “gente”. No excerto 2, Sinhá Vitória procura demarcar-se do meio que a cerca (“Se ficasse calada, seria como um pé de mandacaru, secando, morrendo”), mas a pobreza e a falta de instrução fazem com que a distância que a separa das outras pessoas aumente cada dia mais. Assim, mais do que a seca e a miséria, a linguagem é que se configura como essência do que nos faz humanos: a capacidade de comunicação. 

13. O romance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, publicado em 1938, é um marco da ficção social brasileira, pois registra de forma bastante realista a vida miserável de uma família de retirantes que vive no sertão nordestino. A cachorra Baleia tem um papel especial no livro, pois é sobretudo na relação dos personagens com esse animal que podemos perceber que elas não se desumanizam, apesar de suas condições de vida. Considerando essa ideia, explique qual a importância do capítulo “Baleia” no romance.
RESPOSTA:

O capítulo Baleia representa o quadro que deu origem ao romance. A cachorrinha merece um capítulo inteiro para mostrar sua importância na obra, pois é um personagem não-humano que possui uma identidade marcada pelo nome próprio, que garante a sobrevivência da família (quando fogem) e que tem desejos e sonhos.
Também devemos observar que a presença da Baleia na obra faz com que os humanos (que se animalizam para sobreviver) não se esqueçam de que são homens.

14. (FUVEST) Leia o excerto, observando as diferentes formas verbais. Chegou. Pôs a cuia no chão, escorou-a com pedras, matou a sede de família. Em seguida acocorou-se, remexeu o aió, tirou o fuzil, acendeu as raízes de macambira, soprou-as, inchando as bochechas cavadas. Uma labareda tremeu, elevou-se, tingiu-lhe o rosto queimado, a barba ruiva, os olhos azuis. Minutos depois o preá torcia-se e chiava no espeto de alecrim. Eram todos felizes. Sinhá Vitória vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de sinhá Vitória remoçaria (…). (…) A fazenda renasceria – e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria dono daquele mundo. (Graciliano Ramos, “Vidas secas”) a) Considerando que no primeiro parágrafo predomina o pretérito perfeito, justifique o emprego do imperfeito em “O PREÁ TORCIA-SE E CHIAVA NO ESPETO DE ALECRIM”. b) Explique o efeito de sentido produzido no excerto pelo emprego do futuro do pretérito.

RESPOSTAS:

a)As formas do pretérito perfeito indicam ações pontuais, concluídas no passado; o imperfeito indica ação em decurso no passado. O efeito narrativo do imperfeito, no caso, é atribuir vivacidade à ação, apresentando-a em seu desdobramento.
b) O perfeito e o imperfeito relatam fatos; o futuro do pretérito registra desejos, aspirações, fantasias da personagem (sinalizando, portanto, discurso indireto livre)

 15. O excerto abaixo, de Vidas Secas, trata da personagem sinhá Vitória:

Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um papagaio, era ridícula. Sinhá Vitória ofendera-se gravemente com a comparação, e se não fosse o respeito que Fabiano lhe inspirava, teria despropositado. Efetivamente os sapatos apertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos. Equilibrava-se mal, tropeçava, manquejava, trepada nos saltos de meio palmo. Devia ser ridícula, mas a opinião de Fabiano entristecera-a muito. Desfeitas essas nuvens, curtidos os

dissabores, a cama de novo lhe aparecera no horizonte acanhado. Agora pensava nela de mau humor. Julgava-a inatingível e misturava-a às obrigações da casa. (…) Um mormaço levantava-se da terra queimada. Estremeceu lembrando-se da seca (…). Diligenciou afastar a

recordação, temendo que ela virasse realidade. (…) Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher, acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio de sarro. Jogou longe uma cusparada, que passou por cima da janela e foi cair no terreiro. Preparou-se para cuspir novamente. Por uma extravagante associação, relacionou esse ato com a lembrança da cama. Se o cuspo alcançasse o terreiro, a cama seria comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, inclinou-se – e não conseguiu o que esperava. Fez várias tentativas, inutilmente. (…) Olhou de novo os pés espalmados. Efetivamente não se acostumava a calçar sapatos, mas o remoque de Fabiano molestara-a. Pés de papagaio. Isso mesmo, sem dúvida, matuto anda assim. Para que fazer vergonha à gente? Arreliava-se com a comparação. Pobre

do papagaio. Viajara com ela, na gaiola que balançava em cima do baú de folha. Gaguejava: – “Meu louro.” Era o que sabia dizer. Fora isso, aboiava arremedando Fabiano e latia como Baleia. Coitado. Sinhá Vitória nem queria lembrar-se daquilo. (Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2007, p.41-43.)

a)Por que a comparação feita por Fabiano incomoda tanto sinhá Vitória? Que lembrança evoca?

b) Tendo em vista a condição e a trajetória de sinhá Vitória, justifique a ironia contida no nome da personagem. Que outra personagem referida no excerto acima também revela uma ironia no nome?

RESPOSTAS:

a) Sinhá Vitória sente-se incomodada com a comparação feita por Fabiano – o andar dela quando usava sapatos assemelhava-se ao de um papagaio – porque, ridicularizando-a, fere a sua vaidade feminina. Além disso, traz à mente da mulher a lembrança do papagaio, o que a faz reviver um remorso, pois fora dela a ideia de usar a ave como alimento. O mal-estar é ainda maior, pois a lembrança desse episódio evoca o sofrimento que ela e sua família tiveram durante a seca.

b) É irônico que uma personagem massacrada pela seca e pelas condições sociais injustas tenha como nome Vitória. E há também ironia no nome de

16. (UNICAMP ) Em Vidas Secas, após ter vencido as dificuldades, postas no início da narrativa, Fabiano afirma: “Fabiano, você é um homem…”. Corrige-se logo depois: “Você é um bicho, Fabiano”. Em seguida, encontrando-se com a cadelinha, diz: “Você é um bicho, Baleia”. Ao chamar a si mesmo e a Baleia de “bicho”, Fabiano estabelece uma identificação com ela. Na leitura de Vidas Secas, podem-se perceber vários motivos para essa identificação. Cite dois

desses motivos.

RESPOSTA:

Fabiano chega a afirmar que se sente resistente como um bicho, por sobreviver à seca, do mesmo modo que Baleia; ele também tem enorme dificuldade para se expressar, fazendo-o por meio de gestos e de sons guturais como “Hum!”, “An!”, o que poderia ser comparados aos latidos de Baleia. Fabiano também tem dificuldades para elaborar ideias mais complexas; quase sempre fica confuso, o que pode se relacionar à irracionalidade de Baleia.

17. (UFGD) Sobre Vidas secas, de Graciliano Ramos, é correto afirmar que

a) é um romance em primeira pessoa, que conta a vida de uma família de retirantes, sob a ótica de Fabiano, seu chefe, mostrando sua interação com a caatinga brasileira, suas contradições sociais e geográficas.

b) é um drama em doze atos, que idealiza a vida de retirantes, seus conflitos familiares e suas relações amorosas, tendo como cenário a realidade rural brasileira, suas intempéries e contradições.

c) é um conjunto de contos autobiográficos em terceira pessoa, que enfocam a infância do autor na sua cidade nordestina de origem, no contexto de sua família pobre, na sua relação com o meio geográfico e social.

d) é um conjunto de narrativas em terceira pessoa, que abordam ao mesmo tempo a vida material e a interioridade de personagens rústicos, em seus embates com o meio social e geográfico, habitando o semiárido brasileiro.

e) é um poema em primeira pessoa, que tem como cenário a vida rústica de personagens típicos do sertão brasileiro, seus conflitos com o meio social e geográfico do interior do Brasil.

18. (PUC-SP)  Era vaqueiro, via-se mais como bicho do que  como homem, as pernas faziam dois arcos,  os braços moviam-se desengonçados.  Parecia um macaco. (…) Vermelho,  queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os  cabelos ruivos, vivia em terra alheia e  cuidava de animais alheios.

O texto acima, da obra Vidas Secas, de Graciliano  Ramos, é uma caracterização de Fabiano, personagem da novela. Indique, nas alternativas  abaixo, aquela que também o caracteriza de forma  correta.

a) Era bruto, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Violento, não respeitava o governo e odiava Seu Tomás da Bolandeira, homem que  falava bem, lia livros e sabia onde tinha as ventas.

b) Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno a verão, cortar mandacaru e ensebar látegos,  características que o engrandeciam e faziam dele  um herói admirado.

c) Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais, tinha um vocabulário pequeno e falava uma língua cantada, monossilábica e gutural.

d) Era de personalidade bem moldada, forte e determinado a vencer o fenômeno da seca, já que dominava o meio e se valia da força comunicativa  da linguagem bem articulada.

e) Revoltava-se contra as contas do patrão, tinha de aceitá-las para não perder o emprego mas

vingou-se das frustrações no soldado amarelo,  quando o reencontrou em plena caatinga.

19. (ITA) – Assinale a melhor opção, considerando as seguintes asserções sobre Fabiano, personagem de Vidas Secas, de Graciliano Ramos:

I) Devido às dificuldades pelas quais passou no sertão, tornou- se um homem rude, mandante da morte de vários inimigos seus.

II) Comparava-se, com orgulho, aos animais, pois era um homem errante que vivia fugindo da seca.

III) Sentia-se fraco para exigir seus direitos diante de patrões e autoridades, por isso não se considerava um homem, mas um bicho.

Está (ão) correta(s):

a) Apenas a I.

b) Apenas a III.

c) I e III.

d) Apenas a III.

e) II e III.

20.(UFRS) Considere as seguintes afirmações sobre a obra de Graciliano Ramos. I – VIDAS SECAS retrata o drama de uma família de sertanejos na luta pela sobrevivência num mundo assolado pela seca e estruturado a partir de um modelo sócio-econômico injusto. II – Em SÃO BERNARDO, o autor narra a trajetória de Paulo Honório, desde sua ascensão econômica e social até sua absoluta decadência, revelando o momento de transformações históricas nas décadas de 20 e 30 no Brasil. III – INFÂNCIA é uma autobiografia na qual o autor conta, em tom nostálgico, os anos de prosperidade de sua família, abordando com carinho a figura paterna. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II.

c) Apenas I e II.

d) Apenas I e III.

e) I, II e III.

21. (PUC-SP) Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, apresenta um ambiente caracterizado por um quadro de penúria e de miséria, em que perambulam personagens frágeis, vencidas pelo meio e sem força comunicativa de linguagem bem articulada.

Indique, das alternativas abaixo, aquela que destoa da caracterização do referido quadro.

a) Vegetação inimiga onde se encontram juazeiros, mandacarus, xiquexiques, catingueiras e muito espinho.

b) Abundância de água, vegetação sempre verdejante como a dos juazeiros, céu repleto de estrelas, aves de diferentes plumagens e plantas generosas como as sucupiras e as imburanas.

c) Natureza inóspita, de caatinga com montes baixos, planícies torradas, cascalhos e rios secos, areia fofa e lama seca e rachada.

d) Cores do horror como as do céu, recorrentemente de um azul terrível, as vermelhidões sinistras do poente, o branco das ossadas e o negrume dos urubus.

e) Sol inclemente que chupa os poços e aves de arribação que bebem suas águas, carniças e bichos moribundos.

22. (UFRRJ) Escrito por Graciliano Ramos em 1938, “Vidas Secas” é uma obra-prima do modernismo e mesmo de toda a literatura brasileira. Trata-se de narrativa pungente, onde o drama do nordestino, tangido de seu lar pela inclemência da seca, é contado de forma árida, seca e bastante realista, numa sintonia bastante eficaz entre forma e conteúdo. O texto a seguir é um excerto de “Vidas Secas”: “Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo.” RAMOS, Graciliano. “Vidas Secas”. São Paulo: Martins. s/d. 28 ed., p. 59. Assinale a afirmativa que indica uma característica do modernismo e do estilo do autor, tomando por base a leitura do texto. a) Há um extremo apuro formal, onde se destacam as metáforas, sobretudo as hipérboles, em absoluta consonância com a prolixidade do texto. b) O estilo direto do texto está sintonizado com a narrativa, que descreve uma cena de grande movimentação e presença de personagens. c) O texto é seco e direto, confrontando um cenário de exuberância natural com um personagem tímido, reservado e de poucas ambições.

d) O texto é direto, econômico, interessa mais a angústia interior dos personagens do que seus próprios atos.


e) A fatalidade da situação é explorada ao limite máximo, com a natureza pactuando com as angústias do personagem, mas, ao final, subjugando-se.

23. (PUC-SP) Tinha medo e repetia que estava em perigo, mas isto lhe pareceu tão absurdo que se pôs a rir. Medo daquilo? Nunca vira uma pessoa tremer assim. Cachorro. Ele não era dunga na cidade? Não pisava os pés dos matutos, na feira? Não botava gente na cadeia? Sem vergonha, mofino.

Do trecho acima, da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é correto afirmar que

a) emprega o discurso direto para anunciar o contraste entre o riso e o medo que acometem o personagem.

b) expressa o mundo interior do personagem, que atinge e magoa seu interlocutor com expressões diretas e grosseiras.

c) deixa transparecer o desprezo do narrador, diante da reação do oponente e o reduz a uma substância neutra.

d) confunde narrador, personagem e tipos de discurso, o que impede o leitor de entender o texto com clareza.

e) envolve dois personagens em situação de conflito, Fabiano e o soldado amarelo, que destratava pessoas em nome de sua autoridade

24. (FUVEST) Considere as seguintes afirmações: I. Assim como Jacinto, de “A cidade e as serras”, passa por uma verdadeira “ressurreição” ao mergulhar na vida rural, também Augusto Matraga, de “Sagarana”, experimenta um “ressurgimento” associado a uma renovação da natureza. II. Também Fabiano, de “Vidas secas”, em geral pouco falante, experimenta uma transformação ligada à natureza: a chegada das chuvas e a possibilidade de renovação da vida tornam-no loquaz e desejoso de expressar-se. III. Já Iracema, quando debilitada pelo afastamento de Martim, não encontra na natureza forças capazes de salvar-lhe a vida. Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) II, somente. c) I e III, somente. d) II e III, somente.

e) I, II e III.

25. (PUC-SP)  O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau  sinal, provavelmente o sertão ia apegar fogo. Vinham  em bandos, arranchavam-se nas árvores da abeira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não havia  comida, seguiam viagem para o Sul. O casal agoniado  sonhava desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas  excomungadas levavam o resto da água, queriam matar  o gado (…) Alguns dias antes estava sossegado,  preparando látegos, consertando cercas. De repente,  um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos,  nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar  destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as  fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura  das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes.  (…)

O trecho acima é de Vidas Secas, obra de Graciliano  Ramos. Dele é correto afirmar que

a) emprega linguagem figurada e explora a gradação como recurso estilístico para anunciar a passagem de aves a caminho do Sul.

b) utiliza apenas linguagem referencial, uma vez que o objetivo é informar sobre a nova seca que se anuncia.

c) emprega linguagem com função apelativa com o objetivo de configurar, com imagens visuais, em dimensão plástica, o quadro da penúria da seca.

d) despreza o uso de recursos estilísticos e marca-se por fatalismo exagerado, impedindo a manifestação poética da linguagem.

e) vale-se de linguagem marcadamente emotiva, capaz de revelar o estado de angústia do casal agoniado que sonhava desgraças.

26. (UNIARAXÁ) Leia o fragmento abaixo transcrito da obra “Vidas Secas” e responda à questão a seguir:

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admira as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas. (Graciliano Ramos)

No texto, a referência aos pés:

a) Constitui um jogo de contrastes entre o mundo cultural e o mundo físico do personagem.

b) Acentua a rudeza do personagem, em nível físico.

c) Justifica-se como preparação para o fato de que o personagem não estava preparado para caminhada.

d) Serve para demonstrar a capacidade de pensar do personagem.

e) NDA.

27.(FUVEST) Um escritor classificou “Vidas secas como” “romance desmontável”, tendo em vista sua composição descontínua, feita de episódios relativamente independentes e sequências parcialmente truncadas. Essas características da composição do livro a) constituem um traço de estilo típico dos romances de Graciliano Ramos e do Regionalismo nordestino. b) indicam que ele pertence à fase inicial de Graciliano Ramos, quando este ainda seguia os ditames do primeiro momento do Modernismo. c) diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que dificultam uma visão adequada da realidade sertaneja. d) revelam, nele, a influência da prosa seca e lacônica de Euclides da Cunha, em “Os sertões”.

e) relacionam-se à visão limitada e fragmentária que as próprias personagens têm do mundo.

28. (FATEC) Considere as seguintes afirmações sobre a obra de Graciliano Ramos: I. Uma das características da ficção do Autor é a construção do herói problemático, cujo traço marcante é a não aceitação do mundo, nem dos outros, nem de si próprio. II. O texto extraído de MEMÓRIAS DO CÁRCERE ilustra a linguagem despojada de Graciliano Ramos, marcada pela sintaxe clássica, de períodos curtos, como se encontra, também, em VIDAS SECAS e em SÃO BERNARDO. III. A relação conflituosa do narrador com o meio familiar e o social é o que distingue MEMÓRIAS DO CÁRCERE (obra autobiográfica e histórica) de SÃO BERNARDO (obra de ficção). IV. O tom regionalista de Graciliano Ramos marca-se especialmente em VIDAS SECAS, romance sobre a opressão, tanto da natureza (que impõe os rigores da seca) quanto dos que detêm o poder. Quanto a essas afirmações, devemos concluir que

a) apenas a I, a II e a IV estão corretas.

b) estão corretas a I, a II e a III, somente. c) estão corretas a I e a II, apenas. d) somente a III e a IV estão corretas.

e) apenas a II e a III estão corretas.

29. (FUVEST) Considere as seguintes comparações entre “Vidas secas” e “Iracema”: I. Em ambos os livros, a parte final remete o leitor ao início da narrativa: em “Vidas secas”, essa recondução marca o retorno de um fenômeno cíclico; em “Iracema”, a remissão ao início confirma que a história fora contada em retrospectiva, reportando-se a uma época anterior à da abertura da narrativa. II. A necessidade de migrar é tema de que “Vidas secas” trata abertamente. O mesmo tema, entretanto, já era sugerido no capítulo final de “Iracema”, quando, referindo-se à condição de migrante de Moacir, “o primeiro cearense”, o narrador pergunta: “Havia aí a predestinação de uma raça?” III. As duas narrativas elaboram suas tramas ficcionais a partir de indivíduos reais, cuja existência histórica, e não meramente ficcional, é documentada: é o caso de Martim e Moacir, em “Iracema”, e de Fabiano e sinhá Vitória, em “Vidas secas”. Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) II, somente.

c) I e II, somente.

d) II e III, somente.

e) I, II e III.

30. (U. UBERABA-MG) O fragmento a seguir, embora breve, permite perceber algumas características importantes do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Com base no seu conhecimento do livro como um todo e na leitura atenta do fragmento, assinale a alternativa INCORRETA:

“Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não havia sinal de comida, (…) Sinhá Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão.”

a) O fragmento permite observar que, neste romance, o plano social articula-se com o plano psicológico.

b) No texto há expressões que colocam num mesmo grupo homens e animais.

c) Por este fragmento percebe-se que o que aproxima homens e animais é a fome e a miséria.

d) O texto registra o momento em que Sinhá Vitória, penalizada com a morte do papagaio, por quem nutria um grande afeto, entra num estado de devaneio confuso, de verdadeiro caos mental.

31. (UNIARAXÁ) Leia o fragmento abaixo transcrito da obra Vidas Secas e responda a questão a seguir.
Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admira as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas. (Graciliano Ramos) O texto, no seu conjunto, enfatiza: a) A pobreza física do personagem. b) A falta de escolaridade do personagem. c) A miséria moral do personagem.

d) A identificação do personagem com o mundo animal.


e) NDA

32. (UFRRJ) Escrito por Graciliano Ramos em 1938, “Vidas Secas” é uma obra-prima do modernismo e mesmo de toda a literatura brasileira. Trata-se de narrativa pungente, onde o drama do nordestino, tangido de seu lar pela inclemência da seca, é contado de forma árida, seca e bastante realista, numa sintonia bastante eficaz entre forma e conteúdo. O texto a seguir é um excerto de “Vidas Secas”: “Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo.” RAMOS, Graciliano. “Vidas Secas”. São Paulo: Martins. s/d. 28 ed., p. 59. Assinale a afirmativa que indica uma característica do modernismo e do estilo do autor, tomando por base a leitura do texto. a) Há um extremo apuro formal, onde se destacam as metáforas, sobretudo as hipérboles, em absoluta consonância com a prolixidade do texto. b) O estilo direto do texto está sintonizado com a narrativa, que descreve uma cena de grande movimentação e presença de personagens. c) O texto é seco e direto, confrontando um cenário de exuberância natural com um personagem tímido, reservado e de poucas ambições. d) O texto é direto, econômico, interessa mais a angústia interior dos personagens do que seus próprios atos.

e) A fatalidade da situação é explorada ao limite máximo, com a natureza pactuando com as angústias do personagem, mas, ao final, subjugando-se.

33.(FUVEST) I. Em “Vidas Secas”, a existência dos seres oprimidos e necessitados é apresentada como um mundo fechado, no qual os sonhos e esperanças são ilusões; já em “Primeiras estórias”, na vida de carências e opressões, algumas vezes abrem-se brechas que dão lugar à solidariedade, ao humor e aos sonhos realizáveis. II. Em “Primeiras estórias”, o homem rústico, dotado de cultura oral-popular, já se encontra ausente; em “Vidas secas”, ele ainda ocupa o centro da narrativa. III. Em “Vidas secas”, a visão de mundo das personagens infantis é parte importante da narrativa; já naqueles contos de “Primeiras estórias” em que elas surgem, a percepção da criança não se mostra importante ou reveladora. A oposição entre “Vidas secas” e “Primeiras estórias” está correta apenas em

a) I.

b) II. c) I e II. d) I e III.

e) II e III.

34. (PUCCAMP) Em outra passagem de “Vidas secas”, Fabiano é assim descrito: “(…) tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos.” Tendo em vista essa descrição, a frase “havia um erro no papel DO BRANCO” a) é um lapso do autor, já que o tipo racial do patrão não é diferente do de Fabiano. b) demonstra que Fabiano se serve da ironia para tentar desqualificar o patrão. c) só se justifica pelo desejo que tem Fabiano de ser tratado como um igual.

d) justifica-se quando associada às expressões “era bruto” e “trabalhar como negro”.


e) prova que o patrão se valia de fatores raciais para se impor diante do caboclo.

35. (PUC-SP) O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não havia comida, seguiam viagem para o Sul. O casal agoniado sonhava desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o resto da água, queriam matar o gado. (…) Alguns dias antes estava sossegado, preparando látegos, consertando cercas. De repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes. (…) O trecho acima é de “Vidas Secas”, obra de Graciliano Ramos. Dele, é INCORRETO afirmar-se que a) prenuncia nova seca e relata a luta incessante que os animais e o homem travam na constante defesa da sobrevivência.

b) marca-se por fatalismo exagerado, em expressão como “o sertão ia pegar fogo”, que impede a manifestação poética da linguagem.

c) atinge um estado de poesia, ao pintar com imagens visuais, em jogo forte de cores, o quadro da penúria da seca. d) explora a gradação, como recurso estilístico, para anunciar a passagem das aves a caminho do Sul.

e) confirma, no deslocamento das aves, a desconfiança iminente da tragédia, indiciada pela “brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes”.

36. (UFRS) Assinale a alternativa correta em relação às seguintes narrativas de caráter regionalista. a) O romance realista “Inocência”, de Visconde de Taunay, cujas descrições fixam o mundo do sertão, finaliza a linhagem sertaneja do regionalismo brasileiro. b) Em “A terra”, primeira parte de “Os Sertões” de Euclides da Cunha, Antônio Conselheiro, com uma linguagem simples, descreve as peculiaridades do sertão baiano, palco do conflito relatado em “A luta”. c) “Menino de Engenho,” de José Lins do Rego, momento de transição na prosa regionalista, caracteriza-se pela denúncia da realidade do sertão mineiro, região problematizada na narrativa. d) Em “O Quinze”, de Raquel de Queiroz, romance da primeira fase do romantismo, o meio ambiente natural e a realidade social são a substância para a representação regionalista.

e) Em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, o regional está presente nos vários planos da narrativa: espaço, ação, linguagem e temática estão interligados.

37. (PUC-RS) “O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas a cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma estória. Tinha o vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca.”

Em Vidas secas, de Graciliano Ramos, como exemplifica o texto, através das personagens há uma aproximação entre:

a)homem e animal.

b) criança e homem.

c) cão e papagaio.

d) papagaio e criança.

e) natureza e homem.

38. (PUCAMP) A utilização sistemática de um tempo verbal, no trecho destacado de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, deve ser considerada a) um recurso excepcional, num romance em que são raras as imagens do futuro, dada a condição das personagens.

b) uma marca estilística que expressa, ao longo do romance, o regime de expectativa em que vivem os protagonistas.

c) um traço da ironia do narrador, produzido pelo distanciamento objetivo que ele preserva em relação às suas personagens. d) um traço estilístico em que se apoia o narrador para figurar o caráter utópico que imprimiu a esse romance.

e) uma característica de estilo de um romance em que o tempo subjetivo determina a sequência das ações.

39. (FUVEST) Em Vidas secas e em Morte e vida Severina, os retirantes Fabiano e Severino

a) são quase desprovidos de expressão verbal, o que lhes dificulta a comunicação até mesmo com os mais próximos.

b) encontram na relação carinhosa com os filhos sua única fonte permanente de ternura em um meio hostil.

c) surgem como flagelados, que fogem das regiões secas, mas se decepcionam quando chegam ao Recife.

d) são homens rústicos e incultos, que não possuem habilidades técnicas ou ofícios que lhes permitam trabalhar.

e) aparecem como oprimidos tanto pelo meio agreste quanto pelas estruturas sociais

40. (UFMG) Com base na leitura de “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, é INCORRETO afirmar que essa obra a) tem uma dimensão psicológica importante, embora retrate, com vigor, a realidade exterior. b) tem uma linguagem rude e seca, refletindo, assim, o universo das personagens retratadas.

c) representa um mundo em que as forças sociais são secundárias, não determinando o destino das personagens.


d) retrata a sujeição das personagens às condições impostas pelo meio natural em que vivem.

41. (U. F. VIÇOSA-MG) A respeito de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, somente NÃO podemos

afirmar que:

a) os personagens, Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos, são convertidos em criaturas brutalizadas, numa sugestão de que a dureza do solo nordestino aproxima a vida humana da vida animal.

b) embora composta de pequenas narrativas isoladas, a obra mantém a estrutura de um romance pela presença quase constante de seus personagens e por uma sucessão temporal.

c) a obra insere-se no chamado romance de 30 por uma total fidelidade aos experimentalismos linguísticos da fase heroica do movimento modernista.

d) o retirante Fabiano, incapaz de verbalizar seus próprios pensamentos, expressa-se, quase sempre, através do discurso indireto livre de um narrador onisciente.

e) a narrativa denuncia o flagelo do sertão nordestino, onde o homem, fundindo-se ao seu meio, é arrastado por um destino adverso e inútil.

42. (FUVEST) Considere as seguintes comparações entre Vidas secas e A hora da estrela:

I.Os narradores de ambos os livros adotam um estilo sóbrio e contido, avesso a expansões emocionais, condizente com o mundo de escassez e privação que retratam.

I. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as dificuldades de expressão, presentes, por exemplo, em Fabiano e Macabéa, manifestam aspectos da opressão social.

III. A personagem sinhá Vitória (Vidas secas), por viver isolada em meio rural, não possui elementos de referência que a façam aspirar por bens que não possui; já Macabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos da sociedade de consumo. Está correto apenas o que se afirma em

a) I.

b) II.

c) III.

d) I e II.

e) II e III.

43. (ENEM) No romance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber o salário. Eis parte da cena: Não se conformou: devia haver engano. (…) Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria? O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Graciliano Ramos. “Vidas Secas”. 91 ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho:

a) “Não se conformou: devia haver engano” (ref. 1).

b) “e Fabiano perdeu os estribos” (ref. 2). c) “Passar a vida inteira assim no toco” (ref. 3). d) “entregando o que era dele de mão beijada!” (ref. 4).

e) “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou” (ref. 5).

44. (EU-MARINGÁ) “A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto…”

O excerto acima apresenta uma cena da obra:

a)Angústia

b) Vidas Secas

c) Doidinho

d) Dom Casmurro

e) Menino do Engenho

45. As obras Vidas Secas, O Quinze, Fogo morto, O tempo e o vento e Os ratos foram escritas, respectivamente, por:

a) Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Érico Veríssimo e Dionélio Machado.

b) Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, Luis Fernando Veríssimo e Lúcio Cardoso.

c) José Lins do Rego, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles, Flávio Carneiro e Luiz Ruffato.

d) Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Aluísio Azevedo, Raul Pompéia e José de Alencar.

46. (FUVEST ) Considere as seguintes comparações entre Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Capitães da areia, de Jorge Amado:

I.Quanto à relação desses livros com o contexto histórico em que foram produzidos, verifica-se que ambos são tributários da radicalização político-ideológica subsequente, no Brasil, à Revolução de 1930.

I. Embora os dois livros comportem uma consciência crítica do valor da linguagem no processo de dominação social, em Vidas secas, essa consciência relaciona-se ao emprego de um estilo conciso e até ascético, o que já não ocorre na composição de Capitães da areia.

III. Por diferentes que sejam essas obras, uma e outra conduzem a um final em que se anuncia a redenção social das personagens oprimidas, em um futuro mundo reconciliado, de felicidade coletiva. Está correto o que se afirma em

a) I, somente.

b) I e II, somente.

c) III, somente.

d) II e III, somente.

e) I, II e III.

47. Com base na leitura de “Vidas secas”, é CORRETO afirmar que, a) no início, as personagens passam fome e, no final, sofrem com o frio. b) no início, predomina a desgraça da seca e, no final, a desgraça da estação chuvosa.

c) no início, a família está em fuga e, no final, a mesma situação se repete.


d) no início, a família se encontra íntegra e, no final, se mostra desfeita.

Para responder às questões 48 e 49, ler o texto que segue.

“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.”

48. (PUC-RS) Tendo como base o trecho em questão, é correto afirmar que a viagem de Fabiano, Sinhá Vitória, os filhos e a cachorra Baleia caracteriza-se

a) Pelo desânimo, pela aflição e pela imprudência.

b) Pelo sentimentalismo exacerbado e impactante.

c) Pelo otimismo, apesar da fome e da frustração.

d) Pela desventura, pelo infortúnio e pela privação.

e) Pela tragédia, pelo realismo e pelo esforço compensado.

49. (PUC-RS) O texto em questão pertence a Vidas secas, de Graciliano Ramos, obra que surge num período em que a literatura percorre caminhos muitos peculiares. Todas as características estão associadas a esse período, EXCETO

a) A verossimilhança.

b) A análise psicológica.

c) O regionalismo.

d) O coloquialismo.

e) O sentimentalismo.

50. (ACAFE / SC) Analise as afirmações abaixo. (I) “Será um romance? É antes uma série de quadros, de gravuras em madeira, talhadas com precisão e firmeza.” (II) “Construído como uma longa narrativa oral, o romance tem como personagem-narrador Riobaldo, um velho fazendeiro, que já foi homem de letras e de armas e que vive às margens do rio São Francisco.” (III) “Com a análise psicológica do universo mental das personagens, que expõe por meio do discurso indireto livre, o narrador nos vai decifrando a sua humanidade embotada, confundida com a paisagem áspera do sertão, neste romance que transcende o regionalismo e seu contexto específico.” (IV) “Emprestando dinheiro a juros, negociando de arma engatilhada no sertão, passando fome e sede, [o protagonista] consegue acumular algum capital e com ele volta para a sua terra, no município de Viçosa, Alagoas, onde ficava a propriedade.” (V) “O tema do poema é o itinerário do retirante nordestino, que parte do sertão paraibano em direção ao litoral, em busca de sobrevivência, devido à seca e às precárias, senão insustentáveis, condições de vida da maioria da população.

Todas as afirmações que se referem à obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, estão relacionadas em:


a) I – III b) II – IV – V c) III – V d) II – III – IV

e) I – II – IV

TEXTOS PARA AS QUESTÕES 51 E 52

(ENEM) Texto I Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. […] Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinhá Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Martins, 23. ed., 1969. p. 75 (Fragmento).

Texto II Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos. O que Vidas secas faz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes.

BUENO, Luís. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, 2001 n.° 2. p. 254 (Fragmento).

A partir do trecho de Vidas secas (texto I) e das informações do texto II, relativas às concepções artísticas do romance social de 1930, avalie as seguintes afirmativas. I. O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista privilegiado do romance social de 30. II. A incorporação do pobre e de outros marginalizados indica a tendência da ficção brasileira da década de 30 de tentar superar a grande distância entre o intelectual e as camadas populares.

III. Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30 conseguiram, com suas obras, modificar a posição social do sertanejo na realidade nacional.

51. É CORRETO apenas o que se afirma em:
a) I.

b) III.

c) II e III.

d) II.

e) I e II.

52. No texto II, verifica-se que o autor utiliza
a) linguagem predominantemente formal, para problematizar, na composição de “Vidas Secas”, a relação entre o escritor e o personagem popular. b) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a linguagem formal, dirige-se diretamente ao leitor. c) linguagem coloquial, para narrar coerentemente uma história que apresenta o roceiro pobre de forma pitoresca. d) linguagem formal com recursos retóricos próprios do texto literário em prosa, para analisar determinado momento da literatura brasileira.

e) linguagem regionalista, para transmitir informações sobre literatura, valendo-se de coloquialismo, para facilitar o entendimento do texto.

53. (ITA) Com relação ao excerto: ” Resolvera de supetão aproveitá-lo (o papagaio) como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra”. pode-se afirmar que: I- faz parte do romance em que o autor descreve a realidade a partir da visão do sertanejo, associando a psicologia das personagens com as condições naturais e sociais em que estão inseridas. II- faz parte da obra “S. Bernardo”, romance em que o autor questiona o latifúndio e as relações humanas, associando a psicologia das personagens com as condições naturais e sociais em que estão inseridas. III- faz parte da obra “Vidas Secas”, romance em que o autor procurou denunciar a degradação humana decorrente de condições sociais e ecológicas adversas e o processo de revolução da estrutura social e econômica na paisagem açucareira do Nordeste, latifundiária e patriarcalista. Está(ão) correta(s):

a) Apenas I

b) As afirmações I e II c) Apenas a II d) As afirmações I e III

e) Apenas a III

54. (PUCCAMP) A leitura de romances como Vidas Secas, São Bernardo ou Angústia permite afirmar sobre Graciliano Ramos que:

a) sua grande capacidade fabuladora e o tom lírico de sua linguagem servem a uma obra dominada pelo impulso, em que se mesclam romantismo e realismo, poesia e documento.

b) sua obra transcende as limitações do regional ao evoluir para uma perspectiva universal, ao mesmo tempo que sua expressão parte para o experimentalismo e para as invenções vocabulares inovadoras.

c) sua obra, preocupada em fixar os costumes e falas locais do meio rural e da cidade, é um registro fiel da realidade nordestina, quase um documento transfigurado em ficção.

d) sua obra, toda condicionada pela realidade humana e social de uma árida região de coronéis e cangaceiros, apresenta uma narrativa linear, mas de linguagem exuberante, própria dos grandes contadores de história.

e) tanto o enfoque trágico do destino do homem ligado às raízes regionais quanto a análise dos conflitos existenciais do homem urbano conferem uma dimensão universal à sua obra.

55. (FUVEST) Em Vidas secas e em Morte e vida severina, os retirantes Fabiano e Severino

a) são quase desprovidos de expressão verbal, o que lhes dificulta a comunicação até mesmo com os mais próximos.

b) encontram na relação carinhosa com os filhos sua única fonte permanente de ternura em um meio hostil.

c) surgem como flagelados, que fogem das regiões secas, mas se decepcionam quando chegam ao Recife.

d) são homens rústicos e incultos, que não possuem habilidades técnicas ou ofícios que lhes permitam trabalhar.

e) aparecem como oprimidos tanto pelo meio agreste quanto pelas estruturas sociais.

56. (UFSM) Leia o trecho seguinte de Vidas secas, de Graciliano Ramos:

“Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca.”

Assinale a alternativa correta com relação à composição narrativa da passagem transcrita.

a) Há alternância entre narradores de primeira e de terceira pessoas.

b) São focalizados a aparência física e o estado de ânimo da personagem.

c) Há um destaque para o espaço, apresentado em detalhes e caracterizado como opressor.

d) Registra-se uma supervalorização do passado, tido como um tempo de estabilidade e riqueza.

e) Desenvolve-se a temática da revolução social, a partir do nível de conscientização da personagem.

Para responder às questões 57 e 58, ler o texto que segue.

“Pouco a pouco uma vida nova, ainda confusa, se foi esboçando. Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. Cultivariam um pedaço de terra. Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos frequentariam escolas, seriam diferentes deles. Sinhá Vitória esquentava-se. Fabiano ria (…)

Não sentia a espingarda, o saco, as pedras miúdas que lhe entravam nas alpercatas, o cheiro de carniças que empestavam o caminho. As palavras de sinhá Vitória encantavam-no. Iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era. Repetia docilmente as palavras de Sinhá Vitória, as palavras que sinhá Vitória murmurava porque tinha confiança nele. E andavam para o sul, metidos naquele sonho.”

57. (PUC-RS) Para responder à questão 10, analisar as afirmativas que seguem, sobre o texto em questão.

I. A espingarda, o saco, as pedras miúdas, o cheiro de carniça sugerem a hostilidade da vida nordestina.

II. A mulher se entusiasma na defesa de seu ponto de vista.

III. Fabiano está fisicamente amortecido neste ponto da trajetória.

IV. Apesar de todo o sofrimento que a vida lhes traz, o casal ainda luta por uma existência mais digna.

Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas

a) a I e a II, apenas.

b) a I e a III, apenas.

c) a II e a IV, apenas.

d) a III e a IV, apenas.

e) a I, a II, a III e a IV.

58. (PUC-RS) Trata-se de trecho de Vidas secas, de Graciliano Ramos, obra que se enquadra no que se convencionou denominar de Romance de 30, tendência que se define pelas características apresentadas a seguir, EXCETO:

a) A representação verossímil da realidade brasileira.

b) A análise psicológica das personagens.

c) O registro da linguagem regional.

d) A tipificação social.

e) A linearidade da estrutura narrativa.

59. (UFMT) Leia o texto. “Naquele momento Fabiano lhe causava grande admiração. Metido nos couros, de perneiras, gibão e guarda-peito, era a criatura mais importante do mundo. As rosetas das esporas dele tilintavam no pátio; as abas do chapéu jogado para trás, preso debaixo do queixo pela correia, aumentavam-lhe o rosto queimado, faziam-lhe um círculo enorme em torno da cabeça.” (Graciliano Ramos) A partir do texto, de seus conhecimentos sobre o autor e sua obra, julgue os itens. ( ) O texto é parte da obra “São Bernardo”, cujo tema é o problema agrário no Nordeste. ( ) Em “Vidas Secas”, G. Ramos cria um equilíbrio perfeito entre os seres e a paisagem como se fossem uma coisa só. ( ) A linguagem de Graciliano se alia perfeitamente aos temas de suas obras; em “Angústia”, uma linguagem arrastada, lenta, em “Vidas Secas”, uma linguagem árida, ágil. ( ) A obra de G. Ramos, face ao romance regionalista brasileiro, apresenta pouca tensão crítica perante a realidade. ( ) “Os subterrâneos da liberdade” é obra autobiográfica escrita quando G. Ramos estava na prisão.

RESPOSTA:F V V F F

60. (UEL) Leia os trechos abaixo, do romance “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, e indique a alternativa INCORRETA. Trecho 1: “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.” Trecho 2: “… E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles, dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos.” a) Os dois trechos são, respectivamente, o início do primeiro capítulo e o final do último capítulo do romance “Vidas secas”, o que indica a circularidade do enredo, que tem relação com a vida das famílias pobres nordestinas, ciclicamente obrigadas a se mudar por causa das secas que atingem a região em que vivem. b) Nos dois trechos e em todo o romance é possível perceber a crítica do autor ao modelo político-econômico brasileiro daquele momento histórico, o que levou os críticos a o enquadrarem no grupo de obras denominado “romance social de 30”. c) Nesses trechos está presente o estilo literário característico das obras de Graciliano Ramos, marcado, entre outros recursos, pelo uso de frases curtas, pela concisão vocabular e pela utilização do discurso indireto livre. d) No primeiro trecho, os verbos no tempo pretérito indicam a longa caminhada das personagens pelo sertão nordestino em busca de um lugar onde possam se instalar; no segundo, os verbos no tempo futuro revelam os sonhos de Fabiano e sinhá Vitória por uma vida melhor na cidade.

e) O romance “Vidas secas” é considerado um clássico da literatura brasileira pelo fato de Graciliano Ramos tê-lo construído com um enredo linear e sequência progressiva dos acontecimentos, com personagens bem caracterizadas física e psicologicamente, com marcações temporais precisas e com a presença de um narrador-personagem, na figura de Fabiano, que conta sua própria história de luta contra a miséria no sertão nordestino.

61. (UFSC) Assinale a(s) proposição(ões) VERDADEIRA(S), relativamente às obras “O Rei da Vela”, e “Vidas Secas”. (01) Na obra “O Rei da Vela”, a intelectualidade é representada por Pinote, que, cumprindo com seu compromisso social, combate vigorosamente a burguesia e defende a classe trabalhadora. (02) Em “O Rei da Vela”, o casamento entre Heloísa e Abelardo I é realizado por puro interesse e simboliza a união entre duas classes sociais: a aristocracia rural falida e a burguesia em ascensão, representadas, respectivamente, pela noiva e pelo noivo. (04) “O Rei da Vela” é uma peça teatral de Oswald de Andrade, composta em três atos, que focaliza especialmente São Paulo e Rio de Janeiro, mas reflete as relações e crises existentes na sociedade brasileira dos anos 30. (08) O livro “Vidas Secas”, do escritor Graciliano Ramos, costuma ser caracterizado mais como novela do que como romance, pois seus capítulos apresentam-se encadeados em seqüência lógica e cronológica e retratam uma realidade externa dinâmica, com paisagens minuciosamente descritas. (16) “Vidas Secas” não só representa de maneira exemplar a tendência modernista de uma literatura comprometida com a realidade social e regional, como também extrapola o contexto espaço-temporal em que foi escrito, tanto para um plano nacional, ao retratar a realidade brasileira atual, marcada pela injustiça e pela miséria, como para um plano universal, ao analisar profundamente a condição humana diante da opressão social.

SOMA:  02 + 04 + 16 = 22

62. (UFBA) Os meninos sumiam-se numa curva do caminho. Fabiano adiantou-se para alcançá-los. “Era preciso aproveitar a disposição deles, deixar que andassem à vontade. Sinhá Vitória acompanhou o marido, chegou-se aos filhos. Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos; o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia esmoreceram no seu espírito.

E a conversa recomeçou. Agora Fabiano estava meio otimista. Endireitou o saco da comida, examinou o rosto carnudo e as pernas grossas da mulher. Bem. Desejou fumar. Como segurava a boca do saco e a coronha da espingarda, não pôde realizar o desejo. Temeu arriar, não prosseguir na caminhada. Continuou a tagarelar, agitando a cabeça para afugentar uma nuvem que, vista de perto, escondia o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia. Os pés calosos, duros como cascos, metidos em alpercatas novas, caminhariam meses. Ou não caminhariam? Sinhá Vitória achou que sim. […] Por que haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias. Podiam viver escondidos, como bichos?Fabiano respondeu que não podiam.

–– O mundo é grande.

Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que era grande –– e marchavam, meio confiados, meio inquietos. Olharam os meninos que olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos. Em que estariam pensando? zumbiu sinhá Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas sinhá Vitória renovou a pergunta –– e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.

–– Vaquejar, opinou Fabiano.

Sinhá Vitória, com uma careta enjoada, balançou a cabeça negativamente, arriscando-se a derrubar o baú de folha. Nossa Senhora os livrasse de semelhante desgraça. Vaquejar, que ideia!

Chegariam a uma terra distante, esqueceriam a catinga onde havia montes baixos, cascalhos, rios secos, espinhos, urubus, bichos morrendo, gente morrendo. Não voltariam nunca mais, resistiriam à saudade que ataca os sertanejos na mata. Então eles eram bois para morrer tristes por falta de espinhos? Fixar-se-iam muito longe, adotariam costumes diferentes.” RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 71. ed.  Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 120-122.

A análise do fragmento, contextualizado no romance Vidas Secas, permite afirmar:

(01) Fabiano considera necessária a imersão das crianças no mundo convencional para apreendê-lo e, assim, libertá-las das condições socioculturais vividas.

(02) Sinhá Vitória não se submete às expectativas sociais dominantes, contudo vislumbra um retorno às trivialidades da sua vida social da infância.

(04) O conjunto de personagens da trama simboliza, alegoricamente, os heroicos seres que sonham em reformar a sociedade agrária brasileira à custa da luta armada.

(08) Fabiano e sinhá Vitória configuram um tipo de ser que vive reiterando ações, sem nada acrescentar a seu processo de crescimento humano.

(16) Fabiano constitui uma metáfora de ser humano derrotado, que sofre as conseqüências das estruturas vigentes e não consegue impor seus pontos de vista.

(32) A narrativa como um todo retrata um espaço em que a imutabilidade social e o abismo entre povo e governo são incontestáveis.

(64)A interação entre humanos e inumanos na narrativa explica a descontinuidade das ações narradas.

SOMA: 08 + 16 + 32=56.

63. (PUCSP) Dos enunciados abaixo, indique aquele que não condiz com as características de Fabiano, personagem de VIDAS SECAS, obra de Graciliano Ramos. a) Era vaqueiro, via-se mais como bicho do que como homem, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. b) Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais, tinha um vocabulário pequeno e falava uma língua cantada, monossilábica e gutural. c) Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos, vivia em terra alheia e cuidava de animais alheios.

d) Era bruto, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Violento, não respeitava o governo e odiava Seu Tomás da bolandeira, homem que falava bem, lia livros e sabia onde tinha as ventas.


e) Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno a verão, cortar mandacaru e ensebar látegos.

64. Para responder à questão, ler os textos a seguir, de José de Alencar e Graciliano Ramos, respectivamente. Texto A Atravessaram o bosque e desceram o vale. Onde morria a falda da colina o arvoredo era basto: densa abóbada de folhagem verde-negra cobria o adito agreste, reservado aos mistérios do ritmo bárbaro. Era de jurema o bosque sagrado. Em torno corriam os troncos rugosos da árvore de Tupã: dos galhos pendiam ocultos pela rama escura os vasos do sacrifício; lastravam o chão as cinzas de extinto fogo, que servira à festa da última lua. Texto B Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala. Todas as afirmativas a seguir estão corretas, EXCETO: a) A descrição da natureza diverge, nos dois textos, pois os autores viveram em épocas distintas e têm visões de mundo diferentes. b) O texto de José de Alencar constrói uma visão idealizada da natureza, o que está de acordo com o período romântico do qual faz parte. c) Graciliano Ramos questiona as agruras do homem nordestino, através da descrição de uma natureza agreste e seca, dentro da proposta realista do Romance de 30.

d) Através da literatura, José de Alencar e Graciliano Ramos fazem denúncia social, pois retratam o homem do Nordeste em luta com a natureza que não lhe oferece os recursos de sobrevivência.


e) Graciliano Ramos, ao narrar a caminhada dos retirantes, apresenta a vida do nordestino em suas dificuldades.

65. (PUCCAMP) Um dos mais freqüentes recursos do narrador de “Vidas secas” é a utilização do discurso indireto livre, no qual a voz do narrador e a da personagem parecem se confundir. É exemplo desse tipo de discurso a frase
a) Estava direito aquilo? b) Reclamou e obteve a explicação habitual. c) Não se descobriu o erro. d) … a diferença era proveniente de juros.

e) … ao fechar o negócio notou …

66. (UEL) O texto abaixo apresenta uma passagem do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, em que Fabiano é focalizado em um momento de preocupação com sua situação econômica. Escrito em 1938, esta obra insere-se num momento em que a literatura brasileira centrava seus temas em questões de natureza social.

“Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco.” (In: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991.)

Sobre este trecho do romance, somente está INCORRETO o que se afirma na alternativa:

a) Este trecho resume a situação de permanente pobreza de Fabiano e revela-se como uma crítica à economia brasileira e às relações de trabalho que vigoravam no sertão nordestino no momento em que a obra foi criada. Isso pode ser confirmado pelas orações: “… Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes….”
b) A oração: “Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça”tanto pode ser o discurso do narrador que revela o pensamento de Fabiano, quanto pode ser o próprio pensamento dessa personagem. Esse modo de narrar também ocorre com as demais personagens do romance.
c) A oração: “… Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco”indica a voz do narrador em terceira pessoa, ao mostrar o estado de agonia em que se encontra a personagem.
d) A expressão “Forjara planos”, típica da linguagem culta, é seguida no texto por um provérbio popular: “quem é do chão não se trepa”. Essa mudança de registro linguístico é reveladora do método narrativo de Vidas secas, que subordina a voz das classes populares à da elite.
e) O texto tem início com a esperança de Fabiano de mudanças em sua situação econômica; a seguir, passa a focalizar a realidade de pobreza em que a personagem se encontra, e finaliza com sua revolta e angústia diante da condição de empregado, sempre em dívida com o patrão.

67. (UFRRJ) Leia o fragmento abaixo, retirado do romance “Vidas secas”: … Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor. Desejava saber o tamanho da extorsão. Da última vez que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor. Alarmou-se. Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversa de gente rica? Sinhá Terta é que tinha uma ponta de língua terrível. Era: falava tão bem quanto as pessoas da cidade. Se ele soubesse falar como Sinhá Terta, procuraria serviço em outra fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se como um menino, coçava os cotovelos, aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar as coisas de um infeliz que não tinha nem onde cair morto! Não viam que isso não estava certo? Que iam ganhar com semelhante procedimento? Hem? Que iam ganhar? …RAMOS, Graciliano. “Vidas secas”. 37 ed. Rio de Janeiro: Record, 1977. p.103. Graciliano Ramos apresenta em suas obras problemas do Nordeste do Brasil e, ao mesmo tempo, desenvolve um trabalho universal por apresentar uma visão crítica das relações humanas. A partir do trecho acima, pode-se afirmar que o autor a) denuncia a opressão social realizada através do abuso de poder político, que está representado na fala de Fabiano. b) critica o trabalhador rural nordestino, representado na figura de Fabiano, por sua ignorância e falta de domínio da língua culta. c) deixa claro que a incapacidade de usar uma linguagem “boa” não isola Fabiano do mundo dos que usam “palavras difíceis”, pois sua esperteza pode-se concretizar de outras maneiras. d) mostra que a sociedade oferece oportunidades iguais para os que possuem o domínio de uma linguagem culta e para os que não possuem, e as pessoas mais trabalhadoras atingirão o posto de classe dominante.

e) mostra a relação estreita entre linguagem e poder, denunciando a opressão ao trabalhador nordestino, transparente nas diferenças entre a língua falada pelo opressor e a falada pelo oprimido.

68. (FUVEST) Em determinada época, o romance brasileiro “procurou (…) enraizar fortemente as suas histórias e os seus personagens em espaços e tempos bem circunscritos, extraindo de situações culturais típicas a sua visão do Brasil.”( Alfredo Bosi Esta afirmação aplica-se a

a) Vidas Secas e Fogo Morto.

b) Macunaíma e A Hora da Estrela.

c) A Hora da Estrela e Serafim Ponte Grande.

d) Fogo Morto e Serafim Ponte Grande.

e) Vidas Secas e Macunaíma.

69. (PUCCAMP) No capítulo “Contas”, de “Vidas secas”, Fabiano se mostra a) surpreendentemente revoltado, pois em nenhuma outra passagem da novela há nele desejo de reagir contra quem o oprime.

b) francamente indignado, mas, na sequência, mais uma vez não encontrará palavras e forças para enfrentar quem o oprime.

c) perturbado e indeciso entre os cálculos dos juros feitos pelo patrão e aqueles feitos pela mulher. d) como alguém que se sente um bicho, para quem toda violência humana é equivalente às violências da natureza.

e) irritado e desconfiado, mas, na sequência, terá certeza da trapaça e acabará por se impor diante do patrão.

70. (UFPE) OBSERVE: “Não sentia a espingarda, o saco, as pedras miúdas que Ihe entravam nas alpercatas, o cheiro de carniças que empestavam o caminho. As palavras de Sinhá Vitória encantavam-no.” (Graciliano Ramos / VIDAS SECAS) ( ) O autor é alagoano e iniciou-se tarde na vida literária com o romance “Caetés” – 1933. ( ) Analisou, sem piedade, o universo em derrocada das oligarquias rurais em “São Bernardo.” ( ) Em “Infância”, narrativa autobiográfica, relata sua experiência como filho de família abastada, tratado com carinho por um pai superprotetor. É um livro cheio de lembranças ternas. ( ) MEMÓRIAS DO CÁRCERE – 1953, é sua única incursão no mundo da poesia. Seus poemas são objetivos e têm o mesmo tom de denúncia dos livros anteriores. ( ) VIDAS SECAS – 1938, tragédia ocasionada pelas condições ecológicas, ultrapassa esta condição, relatando o drama humano do despojamento e da miséria nordestina. Sua grandeza reside na construção formal e na análise dura da realidade circundante.

RESPOSTA:V V F F V

71. (PUCCAMP) O fragmento abaixo pertence a “Vidas secas”, de Graciliano Ramos: Chegaram à igreja, entraram (…) Os meninos também se espantavam. No mundo, subitamente alargado, viam Fabiano e Sinhá Vitória muito reduzidos, menores que as figuras dos altares. Não conheciam altares, mas presumiam que aqueles objetos deviam ser preciosos. As luzes e os cânticos extasiavam-nos. De luz havia, na fazenda, o fogo entre as pedras da cozinha e o candeeiro de querosene pendurado pela asa numa vara que saía da taipa; de canto, o bendito de Sinhá Vitória e o aboio de Fabiano. O aboio era triste, uma cantiga monótona e sem palavras que entorpecia o gado. Contextualizando-se esse fragmento na obra acima referida, deduz-se que I. uma família nordestina, por mais privações que enfrente, não deixa de expressar regularmente a mais profunda fé religiosa. II. entre a vida rural e a das cidades há diferenças culturais, responsáveis pela reação de espanto dessas rústicas personagens. III. os meninos sentem a estreiteza do mundo de suas experiências familiares comparando-as ao encantamento das novas. Está correto o que se afirma em a) III, somente. b) I e II, somente. c) I e III, somente.

d) II e III, somente.


e) I, II e III.

72. (FATEC) Considere as seguintes afirmações sobre a obra de Graciliano Ramos: I. Uma das características da ficção do Autor é a construção do herói problemático, cujo traço marcante é a não aceitação do mundo, nem dos outros, nem de si próprio. II. O texto extraído de MEMÓRIAS DO CÁRCERE ilustra a linguagem despojada de Graciliano Ramos, marcada pela sintaxe clássica, de períodos curtos, como se encontra, também, em VIDAS SECAS e em SÃO BERNARDO. III. A relação conflituosa do narrador com o meio familiar e o social é o que distingue MEMÓRIAS DO CÁRCERE (obra autobiográfica e histórica) de SÃO BERNARDO (obra de ficção). IV. O tom regionalista de Graciliano Ramos marca-se especialmente em VIDAS SECAS, romance sobre a opressão, tanto da natureza (que impõe os rigores da seca) quanto dos que detêm o poder. Quanto a essas afirmações, devemos concluir que

a) apenas a I, a II e a IV estão corretas.

b) estão corretas a I, a II e a III, somente. c) estão corretas a I e a II, apenas. d) somente a III e a IV estão corretas.

e) apenas a II e a III estão corretas.

73. (ACAFE / SC) Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. (Graciliano Ramos) Sobre o texto acima, é correto afirmar que: a) há marcas próprias do chamado discurso direto através do qual são reproduzidas as falas das personagens. b) o narrador é observador, pois conta a história de fora dela, na terceira pessoa, sem participar das ações, como quem observou objetivamente os acontecimentos. c) quem conta a história é uma das personagens, que tem uma relação íntima com as outras personagens, e, por isso, a maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais. d) evidencia-se um conflito entre a protagonista Baleia e o antagonista Fabiano, pois este impede que a cadela possa caçar os preás.

e) o narrador é onisciente, isto é, geralmente ele narra a história na terceira pessoa, sabe tudo sobre o enredo e sobre as personagens, inclusive sobre suas emoções, pensamentos mais íntimos, às vezes, até dimensões inconscientes.

74. (PUC-RS)INSTRUÇÃO: Para responder à questão, analise as afirmativas a seguir, referentes aos romances de Graciliano Ramos: I. A síntese entre o psicológico e o social, uma característica da obra do escritor, só não se realiza em “Vidas secas”, pois o problema vivido pelo protagonista não está diretamente ligado à natureza do sertão nordestino. II. Em “São Bernardo”, romance que tem como cenário uma fazenda, o protagonista Paulo Honório caracteriza-se pela ambição de dominar não só a terra mas também sua mulher. III. Em “Vidas secas”, o drama de Fabiano e sua família é intensificado, entre outros recursos, pelo monólogo interior evidenciado no discurso indireto livre. Pela análise das afirmativas, conclui-se que está/estão correta(s) apenas: a) I. b) II. c) III. d) I e II.

e) II e III.

75. (FEI) Pode-se reconhecer nesse fragmento: a) a linguagem oral e carregada de expressões de origem indígena do romance “Macunaíma”, de Mário de Andrade, um dos marcos do Modernismo brasileiro b) um retrato alegórico do sertão, realizado com as inovações linguísticas características de “Grande Sertão: Veredas”, escrito por Guimarães Rosa

c) o tema da miséria nordestina retratado em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, representante da prosa regionalista da segunda geração modernista

d) o enaltecimento das riquezas naturais do Brasil, típico do Romantismo, em particular na obra “O Guarani”, de José de Alencar

e) a intenção de analisar e conhecer cientificamente o povo nordestino e seu ambiente, objetivo de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha

76. (UFLA) Sobre a obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, todas as alternativas estão corretas, EXCETO:

a) O romance focaliza uma família de retirantes, que vive numa espécie de mudez introspectiva, em precárias condições físicas e num degradante estado de condição humana. b) O relato dos fatos e a análise psicológica dos personagens articulam-se com grande coesão ao longo da obra, colocando o narrador como decifrador dos comportamentos animalescos dos personagens. c) O ambiente seco e retorcido da caatinga é como um personagem presente em todos os momentos, agindo de forma contínua sobre os seres vivos. d) A narrativa faz-se em capítulos curtos, quase totalmente independentes e sem ligação cronológica e o narrador é incisivo, direto, coerente com a realidade que fixou.

e) O narrador preocupa-se exclusivamente com a tragédia natural (a seca) e a descrição do espaço não é minuciosa; pelo contrário, revela o espírito de síntese do autor.

77. (UFV) A respeito de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, somente NÃO podemos afirmar que: a) os personagens, Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos, são convertidos em criaturas brutalizadas, numa sugestão de que a dureza do solo nordestino aproxima a vida humana da vida animal.

b) a obra insere-se no chamado romance de 30 por uma total fidelidade aos experimentalismos linguísticos da fase heroica do movimento modernista.

c) a narrativa denuncia o flagelo do sertão nordestino, onde o homem, fundindo-se ao seu meio, é arrastado por um destino adverso e inútil. d) o retirante Fabiano, incapaz de verbalizar seus próprios pensamentos, expressa-se, quase sempre, através do discurso indireto livre de um narrador onisciente.

e) embora composta de pequenas narrativas isoladas, a obra mantém a estrutura de um romance pela presença quase constante de seus personagens e por uma sucessão temporal.

78. (UFRS) Leia o fragmento abaixo, extraído de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. “Olhou a caatinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo. Virou o rosto para fugir à curiosidade dos filhos, benzeu-se. Não queria morrer. Ainda tencionava correr o mundo, ver terras, conhecer gente importante como seu Tomás da bolandeira. Era uma sorte ruim, mas Fabiano desejava brigar com ela, sentir-se com força para brigar com ela e vencê-la. Não queria morrer. Estava escondido no mato como tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca, andaria com a cabeça levantada, seria homem. – Um homem, Fabiano. Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro. Não, provavelmente não seria um homem: seria aquilo mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos, quase uma rês na fazenda alheia.” Considere as seguintes afirmações sobre o fragmento acima. I – Interessa ao narrador registrar, além da tragédia natural provocada pela seca, a opressão social que recai sobre Fabiano. II – Para não demonstrar seus sentimentos diante da proximidade da desgraça, Fabiano evita o olhar dos filhos. III – Fabiano tenta compreender o mundo, mas, respondendo ao conflito interno, rebela-se contra o seu destino. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas I e II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

79. (FUVEST) Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era ao mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da prefeitura. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia paciência que suportasse tanta coisa.

– Um dia um homem faz besteira e se desgraça.   Graciliano Ramos, Vidas secas.

Tendo em vista as causas que a provocam, a revolta que vem à consciência de Fabiano, apresentada no texto como ainda contida e genérica, encontrará foco e uma expressão coletiva militante e organizada, em época posterior à publicação de Vidas secas, no movimento

a) carismático de Juazeiro do Norte, orientado pelo Padre Cícero Romão Batista.

b) das Ligas Camponesas, sob a liderança de Francisco Julião.   

c) do Cangaço, quando chefiado por Virgulino Ferreira da Silva (Lampião).

d) messiânico de Canudos, conduzido por Antônio Conselheiro.

e) da Coluna Prestes, encabeçado por Luís Carlos Prestes.

80. (UNEB-BA )“Sinhá Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito, dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama de varas. Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: — ‘Hum! hum!’ E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de entender, deitara-se na rede e pegara no sono. Sinhá Vitória andara para cima e para baixo, procurando em que desabafar. Como achasse tudo em ordem, queixara-se da vida. E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé.”RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 18. ed. São Paulo: Martins, 1967. p. 48.

Inserindo-se o fragmento no contexto do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é correto afirmar:

a) Sinhá Vitória possui desejos de consumo que traduzem a ânsia de acumular posses.

b) O grunhido de Fabiano é revelador da sua dificuldade para se comunicar através da linguagem verbal.

c) A cadela Baleia é considerada, pela família, tão-somente como um animal de estimação.

d) A narrativa prende-se, sobretudo, à discussão de problemas que se esgotam no regional.

e) Fabiano e Sinhá Vitória não se adaptam ao meio rural, por isso desejam o convívio com as pessoas na cidade.

81. (CEFET-RJ)“A caatinga estende-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.

— Anda, excomungado.

O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.” RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Livraria Martins, 16ª ed. p. 3.

Considerando o romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, é falso afirmar que:

a) o seu regionalismo é crítico, indo além do neorrealismo, que caracterizou a segunda fase modernista.

b) o “herói” é sempre um problema: não aceita o mundo, nem os outros, nem a si mesmo.

c) a natureza interessa ao romancista só enquanto propõe o momento da realidade hostil.

d) o autor abre ao leitor o universo mental esgarçado e pobre de um homem e sua família, tangidos pela seca e opressão dos que podem mandar: o “dono” e o “soldado amarelo”.

e) o narrador, ao apresentar-se na 1ª pessoa do discurso, parece ter sumido por trás das criaturas, mas na verdade apenas deslocou o eu para a natureza e para o latifúndio.

82. (UNIFOR-CE) “É perfeita a adequação da técnica literária à realidade expressa. Fabiano, sua mulher, seus filhos rodam num âmbito exíguo, sem saída nem variedade. Daí a construção por fragmentos, quadros quase destacados, onde os fatos se arranjam sem se integrarem, sugerindo um mundo que não se compreende, e se capta apenas por manifestações isoladas.”

O texto acima analisa a relação entre a estrutura narrativa e o tema tratado em:

a)Vidas secas, Graciliano Ramos.

b) Sagarana, Guimarães Rosa.

c)Laços de família, Clarice Lispector.

d)Menino de engenho, José Lins do Rego.

e)A vida real, Fernando Sabino.

83. (ACAFE / SC) A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul, as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre. De acordo com o fragmento acima, é incorreto o que se afirma em: a) Tanto Sinhá Vitória quanto Fabiano tinham fé na providência divina. b) O enfoque é narrativo. c) O que se relata ao longo do parágrafo tem o objetivo de confirmar a afirmação da primeira frase. d) Há evidências de que Sinhá Vitória e Fabiano estão fragilizados, pois ela “benzia-se tremendo” e ele estava “encolhido na banco do copiar”.

e) O tema predominante é a indagação metafísica sobre a existência (inexistência) de Deus.

84. ( UNEB-BA) “Antônio Balduíno agora era livre na cidade religiosa da Bahia de Todos os Santos e do paide-santo Jubiabá. Vivia a grande aventura da liberdade. Sua casa era a cidade toda, seu emprego era corrê-la. O filho do morro pobre é hoje o dono da cidade.

Cidade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia. Igrejas suntuosas bordadas de ouro, casas de azulejos azuis, antigos sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais, principalmente o cais, tudo pertence ao negro Balduíno. Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos, vagabundeou em todas as suas ruas, se meteu em quanto barulho, em quanto desastre aconteceu na sua cidade. Ele fiscaliza a vida da cidade que lhe pertence.

…………………………… Brilha a luz de um saveiro. O vento levará até ele a melodia do realejo que o velho italiano toca? Um dia — pensa Antônio Balduíno — hei de viajar, hei de sair para outras terras. Um dia ele tomará um navio, um navio como aquele holandês que está todo iluminado, e partirá pela estrada larga do mar. A greve o salvou. Agora sabe lutar.” AMADO, Jorge. Jubiabá. 48. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987. p. 64 e 329.

“Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara- se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra. Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como um judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca.

…………………………

Tudo seco em redor. E o patrão era seco também, arreliado, exigente e ladrão, espinhoso como um pé de mandacaru. Indispensável os meninos entrarem no bom caminho, saberem cortar mandacaru para o gado, consertar cercas, amansar brabos. Precisavam ser duros, virar tatus.

…………………………

Comiam, engordavam. Não possuíam nada: se se retirassem, levariam a roupa, a espingarda, o baú de folha e troços miúdos. Mas iam vivendo na graça de Deus, o patrão confiava neles (…).” RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 71. ed. Rio, São Paulo: Record, 1996. p. 19, 24 e 44-5.

Com base na leitura dos fragmentos e das obras de que foram extraídos, a comparação entre Fabiano e Balduíno conduz às afirmações:

(01) A vida dos dois personagens decorre num círculo vicioso de acontecimentos rotineiros,

relacionados com a problemática geradora das narrativas que protagonizam.

(02) A inquietação interior é um estado permanente em Fabiano, ao contrário de Balduíno,

voltado para o imediatismo de uma vida exterior, para a aventura.

(04) Fabiano se adapta ao ambiente hostil em que vive, ao passo que Balduíno se insurge,

fazendo valer a sua individualidade.

(08) O saber usar as palavras, para Fabiano, é inalcançável; já, para Balduíno, é objeto de

crescimento e de aprendizado, conduzindo-o à condição de líder.

(16) Fabiano é caracterizado por um permanente sentimento de derrota, vítima das adversidades;

Balduíno é o herói de uma vida marcada por acontecimentos vitoriosos.

(32) A valorização negativa do trabalho por parte dos dois personagens justifica-se pelo

servilismo a que são submetidos no desempenho das profissões que exercem.

(64) A devoção religiosa alimentada pelos dois personagens impede-os de atitudes impensadas

a que se sentem inclinados em momentos difíceis.

SOMA: 14

85. (U. F. Viçosa-MG) Sobre a construção dos personagens do romance Vidas Secas, é INCORRETO afirmar que:

a) o “herói” personagem é sempre um problema: retirante, não aceita o mundo, nem a si mesmo, em sua dura realidade.

b) no drama dos retirantes, Graciliano interessa-se pela investigação do aspecto social, da hostilidade da terra nordestina, ignorando o aspecto psicológico de seus personagens.

c) Graciliano apresenta seus personagens com uma visão fatalista, de total negação e destruição, enfim, de anulação do homem, num mundo sem amor.

d) na narrativa, todos os personagens representam, realmente, “vidas secas”: mostradas em linguagem sóbria, racional, lúcida, exprimem a visão de um mundo árido e sombrio.

e) o autor constrói seus personagens como figuras humanas animalizadas, vítimas de um ambiente de desencanto e indiferença, de uma terra áspera, dura e cruel.

86. (UEL) A composição de sua obra resulta de um processo rigorosamente seletivo e subordinado essencialmente aos limites da experiência pessoal, notadamente sertaneja. Pela aproximação que se pode fazer entre os romances e o livro de memórias – INFÂNCIA – vê-se que a obra do ficcionista está em grande parte presa à percepção inicial de seu mundo, durante a infância e a adolescência. O romancista intuiu admiravelmente a condição sub-humana do caboclo sertanejo, com a sua consciência embotada, com seu sofrimento secular, com sua condicionada passividade ante os mais poderosos. O texto acima está falando do autor de a) O TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA. b) UM LUGAR AO SOL.

c) VIDAS SECAS.

d) CANAÃ.

e) URUPÊS.

87. (F.C. CHAGAS) É um romance em que se aprofunda a análise das relações entre o homem e o meio, a partir do relato da vida de um retirante, sua mulher, seus filhos e uma cachorra, tangidos pela fome e pela opressão dos poderosos.

A afirmação acima refere-se ao romance:

a)O Quinze, de Rachel de Queiroz

b)Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

c)Sertanejo, de José de Alencar

d)A Bagaceira, de José Américo de Almeida

e)Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

88. (PUC-SP) Vidas Secas, apesar da objetividade de linguagem e secura de estilo, reveste-se, com

frequência, de fina poesia e revela sensível lirismo. Assim, indique, dos trechos abaixo, o que apresenta a função dominantemente poética, como resultado do processo de seleção e de combinação das palavras e gerador de efeito estético.

a) Fabiano, meu filho, tem coragem. Tem vergonha, Fabiano. Mata o soldado amarelo. Os soldados amarelos são uns desgraçados que precisam morrer. Mata o soldado amarelo e os que mandam nele.

b) As contas do patrão eram diferentes, arranjadas a tinta e contra o vaqueiro, mas Fabiano sabia que elas estavam erradas e o patrão queria enganá-lo. Enganava. Que remédio?

c) Como era que sinhá Vitória tinha dito? A frase dela tornou ao espírito de Fabiano e logo a significação apareceu. As arribações bebiam a água. Bem. O gado curtia sede e morria. Muito bem. As arribações matavam o gado. Estava certo. Matutando, a gente via que era assim, mas sinhá Vitória largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano percebia o que ela queria dizer.

d) De repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs e a vermelhidão sinistra das tardes.

e) Os três pares de alpercatas batiam na lama rachada, seca e branca por cima, preta e mole por baixo. A lama da beira do rio, calçada pelas alpercatas, balançava.

89. (UEMA) No livro Vidas Secas, tanto as dificuldades de interlocução de Fabiano como o silêncio que lhe é característico, relacionam-se à condição subalterna que a personagem vivencia em seu meio social. Essa relação é evidenciada no seguinte fragmento:

a) “Às vezes dizia uma coisa sem intenção de ofender, entendiam outra, e lá vinham questões. Perigoso entrar na bodega. O único vivente que o compreendia era a mulher. Nem precisava falar: bastavam gestos.”

b) “Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomes arrevesados, por embromação. Via perfeitamente que tudo era besteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Se pudesse… Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarelos que espancam as criaturas inofensivas.”

c) “Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros.”

d) “Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.”

e) “Era como se Fabiano tivesse esfolado um animal. A barba ruiva e emaranhada estava invisível, os olhos azulados e imóveis fixavam-se nos tições, fala dura e rouca entrecortava-se de silêncios.”

90. (PUC-SP) A respeito de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, é correto afirmar que

a) elaborada em 13 capítulos, é uma novela caracterizada por uma estrutura romanesca circular, em que o primeiro e o último capítulo se tocam pelo tema da eterna retirada.

b) narrada em primeira pessoa, volta-se para a análise subjetiva do mundo das personagens, marcando-se pela presença dominante do monólogo interior.

c) organizada a partir de uma sintaxe rigorosa, em que predominam períodos subordinativos e longos , caracteriza-se por um estilo intrincado e difícil.

d) marcada por uma temática regional, constitui-se de quadros que se reduzem a si mesmos, impedindo, assim, a análise psicológica e social das personagens.

e) construída a partir do mundo do sertanejo, revela personagens fortes, imunes ao autoritarismo das estruturas de poder e à violência nas relações humanas.

91.(FUVEST) Leia o trecho para responder ao teste.

“Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera os meninos, que se adiantavam, aconselhara-os a poupar forças. A verdade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando estava definitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alheias: o chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo de fábrica, bom companheiro, a égua alazã, as catingueiras, as panelas de losna, as pedras da cozinha, a cama de varas. E os pés dele esmoreciam, as alpercatas calavam-se na escuridão. Seria necessário largar tudo? As alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de seixos.” (Vidas secas, Graciliano Ramos) Assinale a alternativa incorreta: a) O trecho pode ser compreendido como suspensão temporária da dinâmica narrativa, apresentando uma cena “congelada”, que permite focalizar a dimensão psicológica da personagem. b) Pertencendo ao último capítulo da obra, o trecho faz referência tanto às conquistas recentes de Fabiano, quanto à desilusão do personagem ao perceber que todo seu esforço fora em vão.

c) A resistência de Fabiano em abandonar a fazenda deve-se à sua incapacidade de articular logicamente o pensamento e, portanto, de perceber a gradual mas inevitável chegada da seca.

d) A expressão “coisas alheias” reforça a crítica, presente em toda obra, à marginalização social por meio da exclusão econômica.

e) As referências a “enterro” e “cemitério” radicalizam a caracterização das “vidas secas” do sertão nordestino, uma vez que limitam as perspectivas do sertanejo pobre à luta contra a morte.

92. (UEL) O texto abaixo apresenta uma passagem do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, em que Fabiano é focalizado em um momento de preocupação com sua situação econômica. Escrito em 1938, esta obra insere-se num momento em que a literatura brasileira centrava seus temas em questões de natureza social.
“Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco.”
(In: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991.) Sobre este trecho do romance, somente está INCORRETO o que se afirma na alternativa:

a) Este trecho resume a situação de permanente pobreza de Fabiano e revela-se como uma crítica à economia brasileira e às relações de trabalho que vigoravam no sertão nordestino no momento em que a obra foi criada. Isso pode ser confirmado pelas orações: “… Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes….”


b) A oração: “Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça” tanto pode ser o discurso do narrador que revela o pensamento de Fabiano, quanto pode ser o próprio pensamento dessa personagem. Esse modo de narrar também ocorre com as demais personagens do romance.
c) A oração: “… Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco” indica a voz do narrador em terceira pessoa, ao mostrar o estado de agonia em que se encontra a personagem.
d) A expressão “Forjara planos”, típica da linguagem culta, é seguida no texto por um provérbio popular: “quem é do chão não se trepa”. Essa mudança de registro linguístico é reveladora do método narrativo de Vidas secas, que subordina a voz das classes populares à da elite.
e) O texto tem início com a esperança de Fabiano de mudanças em sua situação econômica; a seguir, passa a focalizar a realidade de pobreza em que a personagem se encontra, e finaliza com sua revolta e angústia diante da condição de empregado, sempre em dívida com o patrão.

93. (ACAFE / SC) Sobre a obra Vidas secas, é correto afirmar que: a) a preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o sentimento dramático da vida, habitualmente presente nos poemas do autor.

b) apresenta temática indianista, a exemplo do que fizera Gonçalves Dias em Os timbiras e Canção do tamoio.


c) as personagens humanas, em razão da seca, da fome, da miséria e das injustiças sociais, animalizam-se; em contrapartida, os bichos humanizam-se.
d) Chico Bento, antes da seca, não era vagabundo, nem bandido; era um trabalhador rural. e) narra a história de um burguês, Paulo Honório, que passara da condição de caixeiro-viajante e guia de cego à de rico proprietário de uma fazenda. Para atingir seus objetivos, o protagonista elimina todos os empecilhos que se colocam à sua frente, inclusive pessoas.

Leia o Texto IV para responder às questões 94 e 95.

Cadeia

Estava tão cansado, tão machucado, que ia quase adormecendo no meio daquela desgraça. Havia ali um bêbedo tresvariando em voz alta […] Discutiam, queixava-se da lenha molhada. Fabiano cochilava, a cabeça pesada inclinava-se para o peito e levantava-se. […] Acordou sobressaltado. Pois não estava misturando as pessoas, desatinando? Talvez fosse efeito da cachaça. Não era: tinha bebido um copo. […]

Ouviu o falatório do bêbedo e caiu numa indecisão dolorosa. Ele também dizia palavras sem sentido, conversava à toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando como um escravo.

[…]  RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. (Adaptado) 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.

94. A leitura do segundo parágrafo permite depreender a imagem que Fabiano tem de si mesmo e a sua reação ao domínio a que se submete, por meio do discurso indireto livre. Esse discurso é efetivado pela

a) reprodução dos estados mentais, dos gestos ou dos pensamentos da própria personagem.

b) narração, por nexo de subordinação sintática, com verbos de ação adequados.

c) interlocução evidenciada entre duas personagens, com pontuação pertinente.

d) voz de um narrador intruso, que faz reflexões ou comentários.

e) primeira pessoa, com o recurso do narrador-personagem.

95. Atentando para o emprego dos tempos verbais, quanto à produção de sentidos no texto literário, o presente do indicativo em “Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito?” sugere que as ações expressas estão caracterizadas como

a) desejos e hipóteses com projeção para um tempo virtual do querer do falante.

b) fatos de um universo imaginário ou de um mundo de faz-de-conta.

c) ocorrências habituais repetidas anteriores ao enunciado no momento.

d) acontecimentos pontuais de um tempo lembrado, mas já terminado.

e) confirmação da identidade existencial da personagem no mundo real.

96. (IELUSC) Texto para a próxima questão.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés. […] [Sinhá Vitória] distraiu-se olhando os xiquexiques e os mandacarus que avultavam na campina. Um mormaço levanta-se da terra queimada.

Estremeceu, lembrando-se da seca, o rosto moreno desbotou, os olhos pretos arregalaram-se…

(Graciliano Ramos)
O texto é um trecho da obra de Vidas Secas (1938), que sobre a qual é INCORRETO afirmar que:
a) Apesar de as personagens da história viverem no sertão nordestino, boa parte da trama se passa em São Paulo, que é o destino da maioria dos retirantes. b) Focaliza uma família de retirantes que vive numa espécie de mudez introspectiva, em precárias condições físicas e num estado degradante de condição humana. c) O autor descreve a realidade a partir da visão amarga do sertanejo, associando a psicologia das personagens com as condições naturais e sociais em que estão inseridas. d) É um “romance desmontável”, tendo em vista sua composição descontínua, feita de episódios relativamente independentes e sequências parcialmente truncadas.

e) Algumas das personagens são: Sinhá Vitória, Fabiano, Baleia e o Soldado Amarelo.

97. (FAPA) Leia o texto abaixo, de Vidas Secas, de Graciliano Ramos:
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e faminhos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos da catinga rala.”
Considere as afirmações abaixo a respeito do romance Vidas Secas: I – O fragmento – parágrafo inicial do romance – apresenta o cenário da seca, que obriga uma família pobre do sertão a vagar triste e resignadamente em busca de um lugar onde possa sobreviver.

II – Como um típico Romance de 30, Vidas Secas aborda a estrutura econômica, social e histórica do Brasil daquela década, fazendo com que aspectos documentais estejam presentes na tessitura narrativa.


III – O mundo injusto e opressivo retratado em Vidas Secas é decorrente do latifúndio nordestino, responsável pela desigualdade social. Quais são corretas? a) Apenas I b) Apenas I e II c) Apenas I e III d) Apenas II e III

e) I, II e III

98. (UFBA) A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel. Então Fabiano resolveu matá-la. […] Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: — Vão bulir com a Baleia? […] Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras. Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas senha Vitória levou-os para a cama de varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos: prendeu a cabeça do mais velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-se e tratou de subjugá-los, resmungando com energia. Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia. […] Na luta que travou para segurar de novo o filho rebelde, zangou-se de verdade. Safadinho. Atirou um cocorote ao crânio enrolado na coberta vermelha e na saia de ramagens. Pouco a pouco a cólera diminuiu, e sinhá Vitória, embalando as crianças, enjoou-se da cadela achacada, gargarejou muxoxos e nomes feios. Bicho nojento, babão. Inconveniência deixar cachorro doido solto em casa. Mas compreendia que estava sendo severa demais, achava difícil Baleia endoidecer e lamentava que o marido não houvesse esperado mais um dia para ver se realmente a execução era indispensável.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 74. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 85-86.

Sobre o fragmento, contextualizado na obra, é correto afirmar: (01) O primeiro e o segundo parágrafos contêm argumentos que justificam a decisão a ser tomada em relação a Baleia. (02) Fabiano demonstra cuidados com Baleia, apesar de ser o seu algoz. (04) O comportamento de sinhá Vitória caracteriza-a como a mãe protetora, zelosa do bem-estar de seus filhos. (08) O poder de decisão do chefe de família no ambiente rural fica evidente no texto. (16) Sinhá Vitória, ao aceitar passivamente a decisão do marido no que se refere a Baleia, demonstra ser indiferente ao animal e preocupar-se exclusivamente com seus filhos. (32) A decisão de matar Baleia deixa patente o temperamento agressivo de Fabiano. (64) A palavra “Mas”, no último parágrafo, antecede uma explicação do conflito entre razão e emoção vivido por sinhá Vitória.

RESPOSTA: 01 + 02 + 04 + 08 + 64 = 79

99. (FUVEST ) Quando nos apresentam os homens vistos pelos olhos dos animais, as narrativas em que aparecem o burrinho pedrês, do conto homônimo (Sagarana), os bois de “Conversa de bois” (Sagarana) e a cachorra Baleia (Vidas secas) produzem um efeito de

a) indignação, uma vez que cada um desses animais é morto por algozes humanos.

b) infantilização, uma vez que esses animais pensantes são exclusivos da literatura infantil.

c) maravilhamento, na medida em que os respectivos narradores servem-se de sortilégios e de magia para penetrar na mente desses animais.

d) estranhamento, pois nos fazem enxergar de um ponto de vista inusitado o que antes parecia natural e familiar.

e) inverossimilhança, pois não conseguem dar credibilidade a esses animais dotados de interioridade.

100. (UNEB/BA) – Universidade do Estado da Bahia –

Trecho 01

 Impossível dar cabo daquela praga. Estirou os olhos pela campina, achou-se isolado. Sozinho num mundo coberto de penas, de aves que iam comê-lo. Pensou na mulher e suspirou. Coitada de sinha Vitória, novamente nos descampados, transportando o baú de folha. Uma pessoa de tanto juízo marchar na terra queimada, esfolar os pés nos seixos, era duro. As arribações matavam o gado. Como tinha sinhá Vitória descoberto aquilo? Difícil. Ele, Fabiano, espremendo os miolos, não diria semelhante frase. Sinhá Vitória fazia contas direito: sentava-se na cozinha, consultava montes de sementes de várias espécies, correspondentes a mil-réis, tostões e vinténs. E acertava. As contas do patrão eram diferentes, arranjadas a tinta e contra o vaqueiro, mas Fabiano sabia que elas estavam erradas e o patrão queria enganá-lo. Enganava. Que remédio? Fabiano, um desgraçado, um cabra, dormia na cadeia e aguentava zinco no lombo. Podia reagir? Não podia. Um cabra. Mas as contas de sinhá Vitória deviam ser exatas. (RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 71. Ed. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 1996. P. 113.)

Trecho  02

Encheu, minha Marília, o grande Jovem

de imersos animais de toda a espécie

as terras, mais os ares,

o grande espaço dos salobres rios,

dos negros, fundos mares.

Para sua defesa,

a todos deu as armas, que convinha,

a sábia Natureza.

Ao homem deu as armas do discurso,

que valem muito mais que as outras armas;

deu-lhe dedos ligeiros,

que podem converter em seu serviço

os ferros e os madeiros;

que tecem fortes laços

e forjam raios, com que aos brutos cortam

os vôos, mais os passos.

Às tímidas donzelas pertenceram

outras armas, que têm dobrada força:

deu-lhes a Natureza,

além do entendimento, além dos braços,

as armas da beleza.

Só ela ao céu se atreve,

só ela mudar pode o gelo em fogo,

mudar o fogo em neve.GONZAGA. Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: Círculo do Livro, s/d. p. 62-3.

A mulher é apresentada:

a)nos dois textos, equiparada ao homem, já que os dois seres possuem os mesmos atributos;

b ) em ambos os textos, com qualidades que a tornam um agente de transformação da realidade concreta;

c) no texto I como um ser predestinado ao sofrimento e, no II, ao prazer;

d) no texto I como corajosa, capaz de enfrentar os obstáculos da vida e, no II, beneficiada pela natureza, no entanto acomodada;

e) no texto I como perspicaz, dotada de uma sabedoria construída na relação com as coisas práticas do cotidiano e, no II como um ser cujo atributo maior é a formosura.

 (UEMA) Leia o fragmento extraído do referido romance, para responder às questões 101 e 102.

 […]

Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:

– Você é um bicho, Fabiano.

Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades.

Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.

– Um bicho, Fabiano.

[…]

Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro.

Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, a sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.

[…]

Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! […] RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.

101. Com marcas temporais adequadas, o narrador usa o recurso do flash back para

a) fazer digressões do narrador, fora do contexto das personagens.

b) fazer valer momentos memoráveis da vida de uma das personagens.

c) focar o cenário onde se passa a história narrada.

d) dar maior dinamismo à fala das personagens.

e) evitar recorrências na tessitura narrativa.

102. A pontuação sintático-estilística, no fragmento, compõe a auto expressividade da personagem, com o emprego da vírgula no vocativo, no seguinte trecho:

a) “Sim senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades.”

b) “E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara.”

c) “Você é um bicho, Fabiano.”

d) “Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques.”

e) “Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali.”

103. (UFRGS) Leia os trechos abaixo, retirados respectivamente do segundo e do penúltimo capítulos de Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

 — Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar sozinho. E, pensando bem, ele não era um homem; era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha olhos azuis e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença de brancos e julgava-se cabra. (Capítulo II).

Cabra ordinário, mofino, encolhera-se e ensinara o caminho. Esfregou a testa suada e enrugada. Para que recordar a vergonha? Pobre dele. Estava tão decidido que ele viveria sempre assim? Cabra safado, mole. Se não fosse tão fraco, teria entrado no cangaço e feito misérias. Depois levaria um tiro de emboscada ou envelheceria na cadeia, cumprindo sentença, mas isto não era melhor que acabar-se numa beira de caminho, assando no calor, a mulher e os filhos acabando-se também. Devia ter furado o pescoço do amarelo com faca de ponta, devagar. Talvez estivesse preso e respeitado, um homem respeitado, um homem. Assim como estava, ninguém podia respeitá-lo. Não era homem, não era nada. Aguentava zinco no lombo e não se vingava. (Capítulo XII).

Assinale a alternativa correta sobre os trechos acima.

a) No segundo trecho, Fabiano revela o projeto de virar cangaceiro para ser respeitado como um homem.

b) No primeiro trecho, Fabiano revela vergonha de se afirmar como homem, por ser “apenas um cabra ocupado em guardar as coisas dos outros”.

c) No primeiro e no segundo trechos, a sensação de não ser homem permanece, apesar de Fabiano ter furado o pescoço do soldado amarelo.

d) Em ambos os trechos, Fabiano revive a vergonha de ter dito que era homem para o soldado amarelo.

e) Na presença dos meninos, Fabiano luta para superar a vergonha de ser cabra e de se afirmar como homem.

104. (UFGD) Leia o texto a seguir.

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão. – Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai. Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu  algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.

Com base no texto, assinale a alternativa correta.

a) A palavra “catinga”, em destaque no texto, é uma variação linguística diatópica por se tratar de uma forma menos culta ou prestigiada, devendo ser utilizada especialmente quando há maior grau de informalidade entre os interlocutores ou em situações descontraídas.

b) Em “Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro”, o trecho sublinhado tem a função de sujeito da oração.

c) Nos trechos “gritou-lhe o pai” e “Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas”, o pronome “lhe” funciona, respectivamente, como adjunto adnominal e complemento nominal.

d) No trecho “Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão”, os termos gramaticais “se” são, respectivamente: conjunção integrante, conjunção integrante, partícula expletiva e índice de indeterminação do sujeito.

e) Em consonância com a norma culta, no trecho “Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos”, o termo sublinhado poderia ser substituído pelo pronome “lhe”.