Fora do Brasil, a onda de calor e a seca provocam novos incêndios florestais na Europa

 Incêndios florestais de grandes proporções têm sido cada vez mais frequentes ao redor do mundo. No ano de 2021, países europeus banhados pelo Mar Mediterrâneo, como Grécia, Turquia, Itália e Chipre, sofreram intensos incêndios florestais, que devastaram centenas de milhares de hectares, mataram milhões de animais e forçaram centenas de pessoas a abandonarem as suas residências.

As causas desses incêndios são atribuídas às temperaturas elevadas ocasionadas por um anticiclone, além dos efeitos das mudanças climáticas, que intensificaram a ocorrência de fenômenos extremos, como intenso calor e secas sem precedentes.

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Resumo sobre os incêndios na Europa

  • Os incêndios florestais que ocorreram na Europa tiveram origem natural, sendo causados pelo calor extremo que assolou o continente nos meses de verão, o que se deve, além de outros fatores, à instalação de um anticiclone (área de alta pressão) na região sul.

  • Em 2021, o fogo atingiu áreas na Grécia, Itália, Portugal, Espanha, Turquia e Chipre.

  • As mudanças climáticas tiveram um papel ativo na intensificação dos incêndios na Europa, com a ocorrência de temperaturas recordes e secas extremas.

Causas dos incêndios na Europa

A ocorrência de queimadas e incêndios florestais em áreas onde há a predominância de climas com uma estação seca, como é o caso do clima Mediterrâneo, não é incomum. Os países europeus que vivenciaram incêndios florestais de grandes proporções nos últimos anos, com destaque para os que ocorreram entre julho e agosto de 2021, experimentam verões bastante quentes e secos, o que afeta diretamente a sua vegetação e pode proporcionar o início de queimadas, que se alastram rapidamente pelas plantas ressecadas, especialmente rasteiras. Esse tipo de incidente pode ocorrer ainda por meio da queda de raios, que dá origem a focos de incêndio, além, é claro, dos incêndios causados pela ação antrópica.

Os incêndios que ocorreram em parte dos países mediterrâneos, incluindo a região norte da África, e da Europa Central no ano de 2021, embora tenham tido origem natural, foram potencializados pelas temperaturas recordes registradas para o verão naquele continente e que foram ocasionadas pela passagem de um anticiclone (área de alta pressão), denominado Lúcifer.

A Grécia chegou a registrar temperaturas entre 45 ºC e 47 ºC, enquanto na região da Sicília os termômetros marcaram um extremo de 48,8 ºC, a maior temperatura já registrada na Europa. O verão europeu de 2021 tem sido considerado o terceiro mais quente de todo o planeta.

No total acumulado, mais de 693 mil hectares sofreram queimadas na Europa somente até o mês de agosto de 2021. A Itália e a Grécia foram os dois países mais castigados pela ação do fogo, com, respectivamente, 120.166 e 116.365 hectares atingidos. Entre o final de 2020 e agosto de 2021, o continente europeu contabilizou 663 incêndios florestais.

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Consequências dos incêndios na Europa

Os incêndios que ocorreram na Grécia, Turquia, Itália, Portugal, Espanha e no Chipre, principalmente, trouxeram consequências de curto, médio e longo prazo para os moradores dessas áreas, para os ecossistemas que nelas se instalaram e também para o planeta como um todo.

O primeiro efeito direto é o de destruição da vegetação nativa, morte dos animais que têm nessas áreas o seu habitat, cuja estimativa chegou a 20 milhões de perdas somente na Itália, e o descobrimento do solo, deixando-o mais suscetível aos processos erosivos.

Para além disso, a maior parte desses incêndios ocorreu em áreas urbanizadas, algumas delas regiões turísticas, como a capital grega, Atenas, e a ilha de Evia, pertencente ao mesmo país, bem como praias na Turquia. Muitos residentes e turistas se viram obrigados a deixar suas casas e locais de abrigo em decorrência do avanço das chamas, o que levou à evacuação de municípios inteiros. Países como a Itália registraram ainda mortes de pessoas pela ação direta do fogo ou no momento em que procuravam escapar para outros locais mais seguros.

Cidade de Atenas, na Grécia, recoberta pela fumaça dos incêndios florestais em agosto de 2021.[2]

Tais acontecimentos emitem ainda uma grande quantidade de gases poluentes na atmosfera, causando:

  • problemas respiratórios na população das áreas afetadas pela drástica redução na qualidade do ar;

  • chuvas ácidas, em decorrência da reação da água com os elementos poluentes em suspensão, e a consequente poluição de rios e mananciais;

  • possível agravamento do efeito estufa, a longo prazo, levando ao aumento da temperatura terrestre e criando, assim, um verdadeiro ciclo vicioso.

Qual a relação entre as mudanças climáticas e o agravamento dos incêndios na Europa?

As mudanças climáticas estão diretamente associadas ao agravamento dos incêndios no continente europeu. Com o aquecimento global, que é caracterizado pelo aumento das temperaturas da superfície do planeta Terra, registra-se a ocorrência de cada vez mais fenômenos climáticos extremos, a exemplo de temperaturas recordes e secas acentuadas.

Foi exatamente esse o cenário que se instalou na Europa no ano de 2021, quando temperaturas mais elevadas, como os 48,8º C medidos na Sicília, quebraram um recorde que havia sido registrado no ano de 1995 na mesma região, que foi de 48,5º C. Esse período coincidiu com o intervalo de tempo de 50 anos, identificado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), em que as temperaturas da superfície terrestre cresceram de forma mais acelerada do que em mais de dois mil anos.

Áreas que já eram suscetíveis à ocorrência natural de incêndios em função do tempo seco e quente que se estabelece durante o verão agora veem esses efeitos potencializados pelas mudanças climáticas e pelo aumento das temperaturas da superfície do planeta.

Confira em nosso podcast: O dilema das queimadas no Brasil e no mundo

Quais foram os maiores incêndios na Europa e o que eles geraram?

Devastação causada pelos incêndios na Grécia, em 2018.[3]

Uma das séries de incêndio mais mortais do atual século ocorreu na Europa, na região grega de Ática, à qual a cidade de Atenas pertence. As queimadas ocorreram no ano de 2018 e levaram a óbito 103 pessoas. Foram ocasionadas também por uma forte onda de calor que atingiu aquele continente durante o verão. É considerado o 5º incêndio mais mortal do mundo desde o início do século XX.

Antes desse, outros incêndios de grandes proporções ocorreram na Europa desde meados do século passado, sendo eles:

  • França, 1949: 82 bombeiros mortos na região de Landes, no sudoeste francês;

  • Grécia, 2007: causou a morte de 77 pessoas na ilha de Evia;

  • Portugal, 2017: 64 vítimas fatais e 205 feridos na região de Lieira, no oeste do país.

Créditos das imagens

[1] Alizada Studios / Shutterstock

[2] yiannisscheidt / Shutterstock

[3] Ververidis Vasilis / Shutterstock

Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia 

As queimadas são fenômenos naturais que podem surgir em áreas secas, de clima árido e semiárido, que contenham vegetação. Com a ajuda do vento e da baixa umidade, fagulhas podem surgir de forma natural, causando incêndios que, em alguns casos, podem chegar a proporções enormes. Há, também, as queimadas antrópicas, muito comuns em áreas rurais para a limpeza do pasto ou para a preparação do solo para a próxima colheita.

Leia também: Ações antrópicas no meio ambiente: quais são as consequências?

Tipos de queimadas e suas causas

Ao tratarmos de queimadas, podemos distinguir dois tipos: as naturais e as artificiais (antrópicas). As primeiras podem acontecer por meio de outros eventos naturais, como a queda de um raio ou a ocorrência de tempo muito seco com altas temperaturas e baixa umidade. Em regiões como o Cerrado brasileiro, focos de queimadas naturais podem ser identificados com facilidade nos períodos de estiagem, durante o inverno, de junho a setembro.

Muitas vezes, o fogo é usado para limpar uma área para a pastagem ou o plantio agrícola.

Já as queimadas artificiais são aquelas em que o ser humano ateia fogo em alguma área para eliminar possíveis entulhos ou matéria orgânica. É uma prática antiga, mas que traz sérios danos ao solo e à qualidade do ar. Geralmente, esse tipo de queimada tem como justificativa a limpeza de um terreno para um novo plantio, pasto, a abertura de grandes áreas, estradas e, também, o desmatamento.

Quando há queimadas provocadas por humanos, o risco é enorme, pois caso o vento mude de direção, fagulhas são levadas para outras áreas, podendo iniciar-se outro incêndio que pode ficar fora de controle. Além disso, a fumaça prejudica a qualidade do ar nas áreas de ocorrência de queimadas e em áreas distantes, pois ela é transportada pela ação das correntes de ar. Mesmo havendo técnicas, o ato de colocar fogo em um terreno é extremamente perigoso, tanto para os humanos quanto para o meio ambiente.

No Brasil há uma grande quantidade de queimadas dos dois tipos já citados, principalmente nos biomas Amazônia e Cerrado, com a expansão da fronteira agrícola, iniciada na década de 1970, e o desmatamento ilegal na Floresta Amazônica.

Diante disso, percebe-se um claro descaso em relação à preservação do meio ambiente, pois há maior preocupação com a produção econômica, o agronegócio e as grandes madeireiras do que com o uso ecológico e sustentável dos biomas.

Estima-se, segundo o MapBiomas, que a Amazônia já perdeu para o desmatamento e as queimadas, de 1985 até 2018, mais de 720 mil km² de cobertura vegetal, algo equivalente a todo o território chileno.

Vista do espaço mostrando queimadas na Amazônia.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é o órgão governamental responsável pela medição e análise dos focos de queimadas em todo o país.

Segundo o instituto:

  • em 2007 houve mais de 340 mil focos em todo o país, sendo o ano com o maior número de focos desde que a medição começou, em 1998;

  • em 2020 foram registrados mais de 198 mil focos até o mês de outubro, o maior número desde 2010, quando foram registrados 282.389 focos de queimadas.

Essa medição é feita com base em imagens de satélites, sendo atualizadas de dois em dois dias, e com base em dados enviados para centrais robotizadas, com a mínima interferência humana, para não haver alterações e/ou manipulações de números.

Veja também: Efeito estufa: causas e consequências

Queimadas pelo mundo

No mundo, áreas como o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e a Austrália são constantemente afetadas por incêndios florestais que, na maioria das vezes, saem do controle e causam a morte de habitantes.

Floresta em chamas na Califórnia, Estados Unidos.

Na América do Norte, em especial na costa oeste dos Estados Unidos, onde está a Califórnia, os incêndios florestais são comuns no verão, entre junho e setembro, período em que as temperaturas são bastante elevadas, a umidade do ar é baixa e há fortes ventos, por ser uma área litorânea.

A maioria desses incêndios florestais é causada por ações humanas, como uma fogueira mal apagada de um acampamento, a limpeza de um terreno ou a queima de lixo nas residências próximas às florestas, situações bem comuns nessa região dos EUA.

Em 2018 faíscas de uma rede elétrica provocaram o maior incêndio da região, matando 85 pessoas e destruindo áreas de três cidades da Califórnia: Magalia, Paradise e Concow. O incêndio deixou um rastro de 62.053 hectares queimados.

No ano de 2020, segundo a Universidade de Stanford, pelo menos 1200 pessoas acima de 65 anos morreram em consequência das fumaças geradas pelos incêndios, número muito acima das estatísticas oficiais. Elas divulgaram que 23 pessoas haviam falecido em ocorrência direta das consequências dos incêndios florestais.

Na Austrália, as queimadas são frequentes nos finais do ano, entre novembro e dezembro, em áreas litorâneas do país, principalmente na costa leste. No último registro de janeiro de 2020, estima-se que 15 pessoas tenham morrido devido aos focos de incêndios, que também afetam áreas florestais do país.

Lá a combinação é semelhante a que ocorre na Califórnia: altas temperaturas (que podem ultrapassar os 40 ºC), baixa umidade do ar, ventos fortes e vegetação seca.

A fauna é bastante afetada pelos incêndios florestais.

As duas localidades sofrem com um mal em comum: as mudanças climáticas. A cada ano, os incêndios florestais nessas áreas têm sido maiores e mais catastróficos, pois o período de estiagem é maior, bem como as temperaturas durante o verão. Devido a isso, qualquer tipo de queimada pode ser perigoso, pois a ação do vento, associada à vegetação seca, faz com que uma pequena fagulha transforme-se num evento aterrorizante e mortal.

Problemas causados pelas queimadas e suas consequências

As queimadas, quando naturais, podem trazer alguns benefícios para solos e biomas acostumados com esses eventos, como o Cerrado brasileiro. Pode haver a renovação de matéria orgânica e o potencial de fertilidade aumentar com as cinzas, além do desfalecimento das ervas daninhas, mas isso não é comprovado pelos cientistas.

Quando as queimadas são causadas de forma artificial, muitos perigos podem surgir tanto para o bioma quanto para quem as inicia. Elas podem sair do controle, dependendo das condições climáticas, e atingir áreas que estavam fora de alcance do foco inicial.

A fumaça prejudica toda a fauna da localidade, obrigando animais a irem para habitat que não os de origem. Há, também, a poluição causada nas estradas e rodovias, prejudicando o trânsito e podendo gerar graves acidentes, além do incômodo gerado para as pessoas, causando sérios problemas respiratórios.

De forma geral, os malefícios ocasionados pelas queimadas são muitos, como:

  • perca de umidade do solo;

  • acentuação de erosões e outros processos que degradam o solo;

  • aumento de dióxido de carbono na atmosfera;

  • poluição de rios e suas nascentes por meio das cinzas, transportadas para o leito dos rios nas primeiras chuvas;

  • destruição de habitat.

Além dessas, há várias outras situações semelhantes, como a poluição de aquíferos, lagos e açudes.

Acesse também: Quais são as formas de degradação do solo?

Possíveis soluções para as queimadas

A grande solução para as queimadas seria a interrupção dessa prática pela população, mas sabemos que isso é impossível, uma vez que tal ação é histórica e acompanha os seres humanos desde seus primórdios.

Assim, como grande parte das queimadas é oriunda de ações humanas, as soluções para esse problema também passam pela conscientização e mudança de hábitos da sociedade.

Evitar jogar bitucas de cigarros em áreas de vegetação seca já é um avanço, além de contribuir para a limpeza dos ambientes. Não colocar fogo em lixo, mesmo que nas residências ou áreas abertas, pois uma fagulha pode ser transportada pelo vento e atingir áreas distantes, dando início a um outro foco de queimada.

Para a limpeza de áreas imensas, o ideal é capinar o mato, e não promover o fogo como agente limpador.

A melhor solução para as queimadas é a preservação ambiental e a prevenção dos focos.

As melhores soluções para as queimadas passam pela prevenção. Entretanto, caso encontre focos de incêndio e queimadas, chame as autoridades competentes, como o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193 e a Polícia Militar pelo telefone 190. Se o incêndio for em área de morro e houver vítimas, procure também a Defesa Civil pelo telefone 199. Tais autoridades são treinadas para lidar com essas situações extremas.

Por Átila Matias
Professor de Geografia

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