Como se cultiva os produtos orgânicos

Os sistemas orgânicos de produção agropecuária buscam a otimização do uso dos recursos naturais e socieconômicos disponíveis, mantendo a integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável e a proteção do meio ambiente, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados, de radiações ionizantes, em armazenamento, distribuição e comercialização (Lei 10.831 de 31/12/2003).

Nos sistemas orgânicos de produção, o equilíbrio ecológico entre as espécies vegetais e entre os micro e macrorganismos é de fundamental importância para manter as populações de pragas e de agentes causadores de doenças em níveis que não causem danos econômicos às culturas comerciais.

O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até animais maiores. Desta forma procura-se atingir a sustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no espaço. Para isto, deve-se, na medida do possível, incorporar ao manejo da propriedade características de ecossistemas naturais, como:

  • reciclagem de nutrientes;
  • uso de fontes renováveis de energia;
  • manutenção das relações biológicas que ocorrem naturalmente;
  • uso de materiais de origem natural, evitando àqueles oriundos de fora do sistema;
  • estabelecimento de padrões de cultivos apropriados com espécies de plantas adaptadas às condições ecológicas da propriedade;
  • ênfase na conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.

O condicionamento climático é conseguido com a delimitação dos talhões de cultivo por cordões de contorno ou cercas vivas. A cerca viva funciona como um quebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e a movimentação de algumas pragas e doenças. Cria-se uma seqüência de microclimas, com maior ou menor sombreamento, umidade e temperatura, garantindo eficiência na fotossíntese, evitando ventos fortes e temperaturas extremas. Os microclimas são aproveitados para a acomodação de diferentes espécies vegetais e animais, inclusive de pragas e de seus inimigos naturais. Por isso, a cerca viva funciona também como um tampão fitossanitário e um componente da biodiversidade da propriedade orgânica.

A composição destas barreiras pode ser com espécies de interesse econômico, como por exemplo o café, espécies frutíferas, madeiras, etc. ou com outros fins como o capim napier, o guandu, a leucena, o hibiscus, o malvavisco, a primavera e a flor do mel (girassol mexicano) que tornam-se fontes de biomassa para as áreas de produção devido a necessidade de podas freqüentes.

É interessante que os cordões de contorno funcionem como reservas biológicas, abrigando agentes polinizadores, inimigos naturais de pragas e outros insetos benéficos.

Para funcionarem desta forma estas barreiras precisam ser botanicamente diversificadas, existindo várias possibilidades de combinação, que em última análise depende da realidade de cada região, criatividade e interesse do produtor.

O manejo recomendado para a cebola em sistema orgânico de produção segue os princípios agroecológicos já citados acima e algumas práticas específicas para a produção orgânica:

  • Alternância de culturas por meio da sucessão vegetal e rotação - essa prática permitirá explorar os nutrientes do solo de maneira mais racional, evitando seu esgotamento, uma vez que se pode alternar culturas mais exigentes com outras menos exigentes em nutrientes (rústicas), além de explorar seções diferentes do solo pela diferença na estrutura radicular. Uma boa estratégia para produção de cebola é rotacioná-la com plantas de enraizamento denso, boa produção de palhada, elevada capacidade de extração de nutrientes do solo e fixação de nitrogênio, que pode ser conseguido combinando espécies de gramíneas (melhoram a estrutura física do solo) e leguminosas (fixam o nitrogênio biologicamente).
  • Deve-se preferir espécies de crescimento rápido, com boa cobertura do solo e  com grande produção de biomassa vegetal. Geralmente, a incorporação é realizada na época do florescimento, período de maior produção de biomassa e fixação de N. No verão, as espécies de adubos verdes mais utilizadas são: mucuna preta, Crotalaria juncea, Crotalaria spectabilis, feijão-de-porco, girassol, milheto e sorgo forrageiro. No inverno, as principais espécies utilizadas são: aveia preta, nabo forrageiro, ervilhaca e ervilha forrageira;
  • Aplicação de adubos orgânicos, na forma de estercos animais, compostos ou outras fontes orgânicas recomendadas pelas normas técnicas de produção - quando utilizar adubos oriundos de fontes externas à propriedade ou de sistemas convencionais de criação, recomenda-se a compostagem para eliminar possíveis problemas de contaminação química e/ou microbiológica.
  • Adubações auxiliares com adubos minerais de baixa solubilidade são utilizadas para a correção temporária de deficiências. Em relação a fosfatagem, deve-se utilizar fontes de fósforo permitidas para o cultivo orgânico, que são os termofosfatos, fosfatos naturais e fosfatos reativos. Todas as fontes de macro e micronutrientes possíveis de serem utilizadas em cultivos orgânicos encontram-se descritas na instrução normativa 064 do Ministério da Agricultura. Adubações suplementares podem ser feitas com compostos a base de farelos e microorganismos eficientes (EM), tipo bokashi e com biofertilizantes líquidos via solo ou foliar;
  • Manejo de ervas espontâneas - como forma de proteção do solo, ciclagem de nutrientes e preservação de equilíbrio biológico da área de produção, sugere-se o manejo da vegetação espontânea que permita o convívio sem danos com a cultura de interesse econômico.
  • Recomenda-se a capina em faixas, de forma a evitar a presença das ervas próximas à cultura e no caso do plantio em canteiro, recomenda-se capinas nos momentos críticos apenas nos leitos de semeadura, preservando-se a vegetação dos carreadores ou apenas roçando-a quando estiver dificultando os tratos culturais.
  • O uso de cobertura morta em sistemas orgânicos é desejável, tanto para manter o equilíbrio e as boas características do solo, quanto para manter sob controle o aparecimento de plantas espontâneas. Assim, é recomendável usar cobertura morta nas entrelinhas logo após o transplante das mudas. Como material de cobertura podem ser utilizados diversos tipos de capins secos triturados (sem sementes), palha de arroz ou outros resíduos vegetais de alta relação C:N, para retardar a decomposição e prolongar os efeitos da cobertura morta, em camada de aproximadamente 5 cm;
  • Manejo de pragas e doenças - em agricultura orgânica o que se busca é o equilíbrio ecológico, por meio das inúmeras técnicas descritas anteriormente. Portanto, antes de se buscar métodos alternativos de controle, deve-se lembrar que o emprego dos princípios e conceitos convencionais do Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD) podem auxiliar de forma determinante as práticas de manejo e controle em sistemas orgânicos: diversificação, manejo do solo e nutrição vegetal, utilização de cultivares adequadas e adaptadas às condições de solo e clima da região, consorciação e rotação, o cultivo em faixas ou bordadura, a antecipação ou o retardamento do plantio, do cultivo e da colheita, cultivo de plantas armadilhas, etc.

Autor: Francisco Vilela Resende
Fonte: //www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cebola/arvore/CONT000gn9eurvn02wx5ok0liq1mqsbf1sud.html

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