Quando é analisada uma série temporal de valores em unidades monetárias, na comparação de valores de anos passados com valores de anos mais recentes, é necessário considerar o efeito da inflação. Uma nota de R$10,00 em 1990 não tem o mesmo poder de compra que uma nota de R$10,00 em 2019, mas podemos tornar esses períodos comparáveis se transformarmos os dois valores para um mesmo ano de referência. Por exemplo, podemos transformar os R$10,00 de 1990 em seu equivalente em termos de poder de compra, em R$ de 2019, para que possamos comparar o valor passado ao valor futuro.
Por exemplo:
Um empregado tem salário de R$5.000,00 em Julho de 2010. O salário desse mesmo empregado em Julho de 2019 é de R$ 8.000,00. O salário dele cresceu ou diminuiu?
Se analisarmos valores nominais (isso é, sem considerar a inflação), diremos que o salário cresceu nesse período. No entanto, é importante ponderar que o poder de compra do dinheiro diminuiu de 2010 para 2019, pois o preço de todos os bens que compramos subiu nesse período, como resultado da inflação (aumento contínuo no preço dos bens ao longo do tempo).
Desse modo, para que a comparação dos valores seja coerente, o primeiro passo é definir um período de referência para o qual vamos atualizar os valores. Uma solução prática, nesse caso, é transformar os valores para R$ de 2010, ou então para R$ de 2019. Para fins didáticos, a opção mais interessante é converter os valores para R$ de 2019, pois permite que tenhamos uma percepção melhor do seu significado.
Para tanto, é necessário adotar um índice de correção. Dois índices muito utilizados são o IGP-M e o IGP-DI, calculados pela Fundação Getúlio Vargas. Os índices diferem em relação à metodologia pela qual mensuram a inflação, mas não serão detalhados esses aspectos no presente material. Aqui será utilizado o IGP-M.
Existem calculadoras online que geram o valor do índice para corrigir valores, bastando inserir o valor monetário a ser corrigido, o período inicial (momento ao qual os dados se referem) e o período final (para o qual se quer atualizar os valores).
Um link confiável é o da calculadora cidadão do Banco Central do Brasil (BCB). Para acessá-la, clique aqui.
Nesse caso inserimos como período inicial o mês de Julho de 2010, pois o índice é mensal, e o período final como sendo Julho de 2019. Clicando em corrigir valor, obtém-se:
O índice de correção no período, com valor 1,73477790, é o valor pelo qual se deve multiplicar os valores de Julho de 2010 para atualizá-los para Julho de 2019. Nesse caso, para que possamos transformar o salário de Julho de 2010 (R$5.000,00) de forma que seja comparável com o valor de Julho de 2019, é necessário fazer:
1,73477790 x R$5.000,00 = R$8.673,89
Agora é possível trabalhar com uma comparação real. O salário de 2010, de R$5.000,00, equivale a um salário de R$ 8.673,00 em Julho de 2019. Desse modo, se considerarmos o atual salário do empregado em comparação com o salário de 2010, temos que houve uma redução no salário real do empregado.
Em síntese:
Em uma comparação nominal, obtém-se uma conclusão equivocada a respeito da variação nos valores. No exemplo citado, a comparação real evidencia que ao invés de um aumento no salário, houve uma redução, uma vez que, embora o valor nominal tenha aumentado, a inflação apresentou efeito superior à esse aumento.
Esse raciocínio é válido para a comparação de valores de qualquer variável representada monetariamente.
Adauto Brasilino Rocha Junior
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (2016), mestre em Economia pelo Departamento de Economia da Universidade Federal de Viçosa (2018). Atualmente é doutorando pelo programa de Pós Graduação em Economia Aplicada na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), visiting scholar (doutorando sanduíche) na University of Nebraska-Lincoln (EUA) e analista econômico no Grupo de Políticas Públicas (GPP-ESALQ).
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Para os estudos da economia, o entendimento do conceito de deflator é fundamental.
Com o auxílio do deflator, é possível comparar séries de preços de diferentes períodos. Esse conceito é muito utilizado para avaliar o PIB (Produto Interno Bruto) de diferentes anos, por exemplo.
O que é deflator?
O deflator é um indicador econômico utilizado para corrigir valores presentes para valores passados, possibilitando que o efeito da inflação com o tempo seja removido do valor presente.
O deflator do PIB é uma das principais aplicações deste importante conceito econômico. Contudo, mesmo com algumas similaridades, existem diferenças entre os índices de inflação e o deflator, que tornam a utilidade de ambas as informações distintas.
Para que serve o deflator implícito?
O deflator implícito, ou do PIB, é uma importante informação econômica, calculada e utilizada pelas principais potências mundiais.
Diferente dos índices de inflação, como é o caso do IPCA, o deflator do PIB não considera apenas o valor de uma determinada cesta de bens, mas sim de todo fluxo de produção em determinado período.
Por isso, além dos preços dos bens, informações como: gasto do governo, formação de capital bruta de capital fixo e balança de pagamentos do país.
Este indicador é conhecido como implícito, já que o valor não é calculado a partir de uma pesquisa, mas sim através de um cálculo envolvendo o PIB nominal e o PIB real.
Como calcular o deflator do PIB?
Muitas pessoas se perguntam como calcular o PIB real, já que esta informação não é dada diretamente através da soma dos gastos do governo, consumo, investimento e exportações líquidas de determinado ano corrente.
Para calcular o PIB real, é necessário dividir o valor do PIB nominal pelo deflator do PIB.
Logo, para calcular o deflator do PIB, é apenas necessário inverter a ordem desta equação.
Através da divisão do PIB nominal pelo PIB real, é possível encontrar o valor do deflator. Por isso, muitas vezes, o indicador em questão pode até ser reconhecido como índice PIB.
A fórmula do deflator do PIB é a seguinte:
- Deflator do PIB = (PIB nominal / PIB real) x 100
Se o valor calculado for igual a 105, por exemplo, podemos interpretar que houve um aumento de preços de 5% entre o ano atual e o ano base utilizado.
É importante lembrar que o indicador do PIB do ano base escolhido sempre será igual a 100, já que neste caso o PIB nominal e real serão os mesmos.
Deflator do PIB e os gastos do governo
No Brasil, e em grande parte do mundo, a política monetária é guiada pelas famosas metas de inflação.
Uma das implicações deste fato é que o teto de gastos do governo deverão ser corrigidos pela inflação do período em questão.
No entanto, essa correção ocorre através de algum índice de inflação, como o IPCA, por exemplo.
Quando deflator do PIB é maior que o índice de inflação é importante entender o que acontece na relação dívida/PIB.
Como o aumento de gastos do governo (dívida) é corrigido pelo IPCA e o PIB é atualizado pelo deflator, o denominador (PIB) tende a aumentar mais, permitindo o governo aumentar mais seus gastos, sem alterar a relação dívida/PIB do país.
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