Assinale o que caracteriza exclusivamente a sociedade capitalista segundo Marx

As relações de produção regulam tanto a distribuição dos meios de produção e dos produtos quanto a apropriação dessa distribuição e do trabalho. Elas expressam as formas sociais de organização voltadas para a produção. Os fatores decorrentes dessas relações resultam em uma divisão no interior das sociedades.

Por ter uma finalidade em si mesmo, o processo produtivo aliena o trabalhador, já que é somente para produzir que ele existe. Em razão da divisão social do trabalho e dos meios, a sociedade se extrema entre possuidores e os não detentores dos meios de produção. Surgem, então, a classe dominante e a classe dominada (ou seja, a dos trabalhadores). O Estado aparece para representar os interesses da classe dominante e cria, para isso, inúmeros aparatos para manter a estrutura da produção. Esses aparatos são nomeados por Marx de infraestrutura e condicionam o desenvolvimento de ideologias e normas reguladoras, sejam elas políticas, religiosas, culturais ou econômicas, para assegurar os interesses dos proprietários dos meios de produção.

Percebendo que mesmo a revolução burguesa não conseguiu abolir as contradições entre as classes, Marx observou que ao substituir as antigas condições de exploração do trabalhador por novas, o sistema capitalista de produção em seu desenvolvimento ainda guarda contradições internas que permitem criar condições objetivas para a transformação social. Contudo, cabe somente ao proletariado, na tomada de consciência de classe, sair do papel de mero determinismo histórico e passar a ser agente dessa transformação social.

As contradições são expressas no aumento da massa de despossuídos, que sofrem com os males da humanidade, tais como a pobreza, doenças, fome e desnutrição, e o atraso tecnológico em contraste com o grande acúmulo de bens e riquezas em grandes centros financeiros e industriais. É só por meio de um processo revolucionário que os proletários de todo o mundo, segundo Marx, poderiam eliminar as condições de apropriação e concentração dos meios de produção existentes. Acabando a propriedade desses meios, desapareceria a burguesia e instalar-se-ia, transitoriamente, uma ditadura do proletariado até que se realizem as condições de uma forma de organização social comunista.

Sabemos que esse ideal inspirou a Revolução Russa de 1917, com a criação da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), que foi a primeira tentativa de um governo dos trabalhadores tendo em vista a construção da sociedade comunista. No entanto, os fracassos dessa experiência ainda nos permitem pensar no papel da propriedade privada no interior da sociedade. Se ela provoca as desigualdades, mas também a sua forma de uso coletivo não se mostrou adequada, como pensar, nos dias de hoje, a relação entre política e economia? Ainda que não haja respostas contundentes sobre esse assunto, parece ser o desafio do nosso tempo enxergar as contradições do sistema e buscar, de modo adequado, tomar consciência de que a transformação exige a participação de todos.

Assim, parece inquestionável o papel de Marx para os pensadores de nossos dias. Ainda que a solução encontrada por esse autor tenha ganhado concretude (fiel ou não a ele), é importante retomar sua crítica ao sistema visando sanar as contradições que estão evidenciadas em nosso cotidiano.

Por João Francisco P. Cabral Colaborador Brasil Escola Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Resolva exercícios sobre a teoria da luta de classes para testar seus conhecimentos sobre esse tema.

Questão 1

(Unimontes)

A questão das classes sociais ocupa um papel fundamental na teoria de Karl Marx. Para ele, existem condicionantes e determinantes na complexa relação entre indivíduo e sociedade e entre consciência e existência social. Considerando as reflexões de Karl Marx sobre esse tema, marque a alternativa INCORRETA.

a) As classes sociais sustentam-se em equilíbrios dinâmicos e solidários, sendo a produção da solidariedade social o resultado necessário à vida em sociedade.

b) A luta de classes desenvolve-se no modo de organizar o processo de trabalho e no modo de se apropriar do resultado do trabalho humano.

c) A luta de classes está presente em todas as ações dos trabalhadores quando lutam para diminuir a exploração e a dominação.

d) Em meio aos antagonismos e lutas sociais, o indivíduo pode repensar a realidade, reagir e até mesmo transformá-la, unindo-se a outros em movimentos sociais e políticos.

Questão 2

(UEM – Inverno 2008)

Em termos sociológicos, assinale o que for correto sobre o conceito de classes sociais:

a) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais as desigualdades se estruturam e se reproduzem nas sociedades.

b) De acordo com Karl Marx, as relações entre as classes sociais transformam-se ao longo da história conforme a dinâmica dos modos de produção.

c) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo, pelas relações de cooperação que se desenvolvem entre os diversos grupos envolvidos no sistema produtivo.

d) A formação de uma classe social, como os proletários, só se realiza na sua relação com a classe opositora, no caso do exemplo, a burguesia.

e) A afirmação “a história da humanidade é a história das lutas de classes” expressa a ideia de que as transformações sociais estão profundamente associadas às contradições existentes entre as classes.

Questão 3

Diante de sua visão materialista da história, Karl Marx descreve a luta de classes como:

a) Consequência direta do fenômeno de individualização do sujeito moderno.

b) Fenômeno fundamental para que uma democracia possa existir.

c) Fenômeno social inevitável diante das desigualdades materiais que existem entre as classes.

d) Parte essencial do processo de transição de monarquias no mundo feudal.

Questão 4

Para entendermos a ideia de lutas de classes e todos os desdobramentos que Marx atribuiu a esse importante aspecto social, devemos primeiro entender o que são as classes sociais a que tanto ele se referiu. Nesse sentido, Karl Marx defendia a ideia de classes a partir da noção de que:

a) as classes sociais são o conjunto de sujeitos unidos sob uma mesma ideologia política.

b) as classes sociais são entendidas como os diferentes grupos que se formam em função de sua condição material e social.

c) as classes sociais estão ligadas pelo conceito de solidariedade orgânica.

d) as classes sociais existem apenas em espaços específicos e em sociedades altamente desenvolvidas.

Resposta - Questão 1

A teoria da solidariedade social é abordada nos trabalhos de Émile Durkheim, em que o conceito de classes não é tão trabalhado, e não na obra de Karl Marx. Letra “a”.

Resposta - Questão 2

A alternativa “e” está correta. Segundo Marx, não seriam os valores ou as ideias que motivariam as mudanças sociais de nosso mundo, mas sim a condição material, ou a situação econômica, das classes da sociedade. A luta de classes seria o motor das mudanças sociais e o reflexo das diferenças materiais que se instauraram no meio social.

Resposta - Questão 3

A resposta correta está na letra “c”. Para Marx, a luta de classes seria o motor das mudanças sociais. Esse pensador dedicou-se a observar na história humana as formas como ocorreram as diferentes mudanças sociais nas sociedades europeias anteriores ao capitalismo. Ele concluiu, então, que os conflitos sociais estavam ligados sempre à condição econômica dessas sociedades. Nessa perspectiva, Marx acreditava que, assim como os comerciantes que ascenderam durante o período feudal para derrubar o poder da nobreza, a classe proletária, ou os trabalhadores, também ocasionariam mudanças nas organizações sociais do mundo capitalista.

Resposta - Questão 4

A resposta correta está na letra “b”.

Luta de classes

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Por Thiago de Mello

Doutor em Ciências Sociais pela UERJ

Karl Marx (1818-1883) nasceu em Treves, na Alemanha, e participou intensamente da vida intelectual e política de seu tempo. Conhecido por expor a história da exploração do homem, seu pensamento – que consiste numa crítica total ao capitalismo – se baseia no materialismo histórico. O materialismo de Marx se opõe ao idealismo de Hegel, embora sua filosofia fosse também dialética, como a de Hegel.O materialismo histórico se fundamenta na observação da realidade a partir de fatos econômicos e técnicos. Nessa perspectiva, a história das sociedades se dá através de luta de classes, onde os modos de produção e a evolução tecnológica são os principais fatores para gerar a mudança política e social.

A DialéticaMas o que é dialética? O termo é bastante antigo. Na Filosofia Antiga, foi Platão o primeiro a oferecer-lhe o sentido de um diálogo que, confrontando proposições opostas e superando suas contradições, orientaria o pensamento na direção da verdade. O uso moderno do termo, no entanto, deriva de Hegel.

Para Hegel, a única realidade absoluta, a Ideia, é de essência espiritual. Dela derivam as coisas materiais a partir de um movimento ternário: tese, antítesesíntese. O progresso da Ideia dependeria de crises violentas, representadas pela antítese. Marx inverteu a dialética hegeliana ao negar a possibilidade da Ideia ser a realidade: na dialética marxista as ideias são o produto do processo evolutivo da matéria, esta, sim, a realidade absoluta, vista como um universo em contínuas mutações, evoluindo por movimentos bruscos, sempre determinados pela superação de uma contradição.

Burguesia

Para Marx a burguesia teria desempenhado papel fundamental no processo de desmoronamento do regime feudal ao desenvolver, ainda naquelas situações adversas ao burguês, o comércio e as atividades manufatureiras. Nesse caso, a burguesia teria sido a própria antítese do antigo feudalismo. Após a Revolução Francesa, em que ocorreu o elemento progressista, a burguesia saiu triunfante e conquistou o poder político. Seguindo a dialética adotada por Marx:

“À medida que a burguesia cresce, isto é, o capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe operária moderna que só pode viver sob a condição de encontrar trabalho e que só o encontra quando o seu trabalho aumenta o capital” (Marx e Engels. O Manifesto Comunista).

Burguesia e Proletariado

Segundo a ótica marxista, no século XIX a classe do proletariado passou a representar o elemento da antítese, sendo ao mesmo tempo alienada (do ponto de vista humano) e, por isso mesmo, potencialmente revolucionária. Se a história da humanidade era movida pela luta de classes e naquele instante as sociedades eram cindidas pela burguesia e pelo proletariado, caberia a este último fazer a revolução (e instaurar a ditadura do proletariado), última etapa antes da implantação do comunismo (síntese).

O entendimento que Marx faz do capitalismo se baseia na ideia de que toda sociedade se estrutura a partir do modo como os homens se organizam para produzir socialmente seus bens. As relações de produção na sociedade industrial moderna opunham homens que detinham os meios de produção (a burguesia, os capitalistas) a homens que, sendo desses meios destituídos, possuíam apenas a sua força de trabalho (o proletariado, os trabalhadores). Para sobreviver, o proletariado deveria vender sua força de trabalho ao capitalista. Sendo o objetivo do capitalista acumular capital, ele o fazia através da exploração da mais-valia. Ou seja, o trabalho realizado pelo proletariado era sempre muito maior em relação à sua remuneração, sendo contínua sua exploração.

O comunismo como fimA denúncia das desigualdades sociais por Marx criticava a ideologia liberal – trazida à tona pelo advento das revoluções burguesas –, segundo a qual todos os homens teriam os mesmos direitos à justiça e à liberdade. A situação social evidenciava que tal ideologia apenas mascarava uma perversa relação de dominação do proletarido pela burguesia. Baseando-se no materialismo histórico, Marx afirmava ser possível a superação daquela etapa da humanidade através da revolução imposta pelo proletariado, visando ao comunismo.

Questão resolvida

(Ufu 2003) Considere a citação abaixo e, a seguir, marque a alternative correta acerca da concepção materialista da história formulada por Karl Marx. 

"... na produção social de sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qualcorrespondemdeterminadasformas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intellectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência."

MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Estampa, 1973. p. 28. 

a) Marx expressa, também nessa passagem, sua concepção determinista e finalista, segundo a qual o conjunto das relações sociais reduz-se ao âmbito da produção econômica. b) Marx afirma que a moral, os sistemas políticos, os princípios jurídicos e as ideologias não têm vida própria diante do modo pelo qual os homens produzem e reproduzem a existência. c) Marx nega todo e qualquer papel ativo na história à consciência, sendo esta, antes, um mero reflexo da esfera da produção material. d) Marx sustenta que o ser social que pensa, que atua politicamente e que representa o seu espaço reproduz simplesmente as condições históricas vigentes, independente de sua classe social.

Resolução
A concepção materialista da História, proposta por Marx, atribui aos fatores econômicos (técnicas e relações de trabalho e produção) um valor preponderante no desenrolar dos acontecimentos históricos. Segundo essa visão, a consciência do homem não fundamenta essas relações, sendo, antes, resultado delas. Assim como os sistemas conceituais (direito, moral, sistema politico, religião, ideologia) – a superestrutura da sociedade – são derivados da estrutura econômica. Letra B.

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