A musica popular brasileira com teor politico

A música popular brasileira resulta de um conjunto de manifestações culturais de influência indígena, africana e europeia.

Já o gênero musical MPB (Música Popular Brasileira) é uma referência à produção nacional desenvolvida a partir de um movimento cultural originado após o golpe militar de 1964.

A maioria das músicas produzidas no período contestava a ditadura, trazendo questionamentos sobre a situação brasileira de forma poética.

A década de 60 é considerada um período de ebulição na música brasileira. É quando passam a coexistir o samba, o jazz, a bossa nova, o sertanejo de raiz, a moda de viola, o baião nordestino, o rock e outros.

Esse período é considerado um marco para o cenário da música nacional. Compositores e intérpretes passam a mesclar influências da bossa nova com estilos sonoros produzidos nos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes.

O contexto era o da Ditadura Militar, que cassou direitos e restringiu a liberdade, censurando os movimentos culturais. É nessa conjuntura que jovens músicos começam a contestar o duro regime, criando letras inteligentes e de protesto, muitas vezes de forma disfarçada.

A partir dessa fase é popularizada a sigla MPB como marca de um movimento próprio de contestação social e política.

Além disso, outros temas também foram abordados, como as relações amorosas.

Os Festivais de Música, ou Festivais da Canção, realizados nos anos 60 e transmitidos na televisão, foram muito importantes para que músicos e compositores do período ficassem conhecidos.

Confira um vídeo do Festival de Música Brasileira da TV Record em 1967, em que Chico Buarque o grupo Mpb4 cantam Roda Viva.

A musica popular brasileira com teor politico

São muitos os grandes nomes da MPB, sendo difícil listar todas as personalidades importantes desse gênero. Entretanto, podemos destacar o carioca Chico Buarque como um dos maiores representantes, ao lado de Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Edu Lobo, Nara Leão, Elis Regina, Maria Bethânia, Gonzaguinha, Tom Zé, Os Mutantes, entre outros.

Há ainda o baiano Raul Seixas, que muda a era do rock nacional revelado pela Jovem Guarda. O artista impõe letras marcadas pela contrariedade à rotina, à exploração social e do trabalho.

Como movimento, a MPB também é manifestada pelo lirismo, com letras que abordam as relações amorosas. Nessa faceta da MPB, Chico Buarque é elevado a uma espécie de tradutor da alma feminina, revelando seus desejos, culpas e sonhos no estilo denominado "cantiga e amigo".

Manifestação semelhante é observada no trabalho de Caetano e Gil, além de outros, como Djavan, Gal Costa, Simone e Leila Pinheiro.

História da Música Popular Brasileira

A música sempre esteve presente na rotina das populações nativas do Brasil em rituais e festas religiosas, antes do descobrimento. O canto era entoado para embalar o bate-pau, danças ritmadas com o uso do bambu.

A chegada do colonizador português representou incremento na sonoridade, com instrumentos como violão, viola, cavaquinho, tambor e pandeiro. Até os dias atuais, esses são elementos que remetem à identidade musical local, principalmente no samba.

Somente no século XVII, instrumentos de harmonia mais sofisticada, como o piano, foram incorporados ao arsenal musical local. Ainda assim, ficavam restritos às famílias nobres ou abastadas.

O colonizador português utilizou a música como instrumento de catequese. Os padres jesuítas musicaram peças teatrais e autos como forma de facilitar a compreensão do evangelho. O padre José de Anchieta é reconhecido como compositor de muitas dessas peças e autos.

A tradição das danças, do ritmo e do som africanos foi decisiva para as atuais manifestações da música nacional. O batuque, extraído de instrumentos como atabaques, cuíca, reco-reco, pandeiro e tambor, formam a base do que seria, mais tarde, o samba.

A música popular brasileira também recebeu influência francesa, manifestada nas tradicionais quadrilhas. A dança em pares, comum nas festas de São João, é uma alegoria às danças da corte francesa.

A partir de 1800, a mistura de influências já resulta na composição de modinhas e popularizam o ritmo lundu. Entre os mais reconhecidos compositores de modinha estão Padre José Maurício Nunes, Francisco Manuel da Silva e Cândido Inácio da Silva.

As composições de modinhas e o lundu foram incrementadas com a sonoridade erudita e influenciam para o surgimento de novos ritmos, como a polca, o maxixe e o choro.

O ano de 1870 é tido como ponto de partida do choro, que notabilizou muitos artistas, entre eles Chiquinha Gonzaga. Em 1899, a maestrina e pianista carioca lança "Ó Abre Alas", a primeira marchinha de Carnaval.

O pioneirismo de Chiquinha Gonzaga foi reconhecido por meio da Lei Federal N.º 12.624, que instituiu o dia 17 de outubro como o "Dia da Música Popular Brasileira". A data lembra o aniversário da artista. A trajetória de Chiquinha influencia compositores como Anacleto de Medeiros, Irineu Almeida e Pixinguinha.

As composições de Pixinguinha representaram um divisor de águas na história da música popular brasileira. Isso ocorreu por estarem diretamente ligadas ao surgimento do samba.

O gênero samba, que surge a partir de 1917, é considerado uma revolução e inspira compositores como Ernesto Joaquim Maria dos Santos e Mauro de Almeida. Pixinguinha, porém, é sua melhor tradução.

Até 1950, choro e samba revelam nomes como Jacob do Bandolim e Nelson Gonçalves. Essa é a época da chamada "Era do Rádio", com a influência de intérpretes como Dalva de Oliveira, Caubi Peixoto e Ângela Maria.

O início dos anos 50 também são destacados pela influência de Cartola, considerado um dos maiores mestres do samba nacional. A melodia de Cartola é revelada também na voz da gaúcha Elis Regina.

Paralelo ao sucesso do samba e do choro, surge nos anos 50 o movimento que ficou conhecido como Bossa Nova. O movimento demonstra o cotidiano local, em especial o carioca e sua malemolência.

A melodia suave foi perpetuada por Tom Jobim, com letras de Vinicius de Moraes. A Bossa Nova evidenciava a mistura da música erudita aos ritmos nacionais e recebeu reconhecimento internacional.

Entre seus representantes está também o compositor e intérprete João Gilberto.

Esse gênero é o ponto de partida para movimentos que ocorrem em paralelo entre o fim da década de 50 e a década de 60. São a Tropicália e Jovem Guarda, que apontam o cotidiano, mas demonstram a rebeldia, o questionamento às instituições oficiais.

Complemente sua pesquisa:

  • Músicas da Ditadura Militar
  • Tropicalismo

Uma noite para não esquecer. Em 29 de setembro de 1968, “Sabiá”, composição de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, foi apresentada no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, durante o 3.º Festival Internacional da Canção, e recebeu vaias quase unânimes, que se tornaram ainda mais veementes quando a música foi anunciada como a melhor do certame, segundo o júri.

O público que lotava o estádio preferia, e cantava em uníssono, “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores” (também conhecida como “Caminhando e Cantando”), de Geraldo Vandré, uma canção de protesto que criticava de forma explícita o estado de coisas no país e conclamava o povo a reagir aos desmandos do regime militar: “Vem, vamos embora/ Que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora/ Não espera acontecer”.

“Sabiá”, cuja letra é mais sutil e metafórica, foi considerada, em um primeiro momento, “desvinculada da realidade”, alienada em relação ao que estava ocorrendo no país. Logo, no entanto, a criação de Tom e Chico, interpretada pela dupla Cynara e Cybele (que formariam o Quarteto em Cy), seria percebida de outra forma: como uma premonitória canção do exílio, em referência ao poema de Gonçalves Dias (1823-1864). Sua primeira estrofe diz: “Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Para o meu lugar/ Foi lá e é ainda lá/ Que eu hei de ouvir cantar/ Uma sabiá”.

Para o musicólogo Ricardo Cravo Albin, de 69 anos, um dos maiores pesquisadores da história da música popular brasileira, foi no periodo da ditadura militar que a canção nacional mais se ocupou de falar a respeito de assuntos referentes à política, mantendo um constante embate com a censura. “Solange Hernandes, diretora do Departamento de Censura Federal, nessa época se tornou uma das figuras mais temidas e combatidas do país”, conta a jornalista Regina Echeverria, autora das biografias Furacão Elis e Gonzaguinha e Gonzagão: uma História Brasileira.

O historiador Gustavo Alonso, autor de Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga, sobre o cantor Wilson Simonal, acrescenta que não era apenas a chamada MPB que se ocupava de discutir a sociedade, o panorama político. Ele diz que gêneros musicais populares, como o sertanejo e o brega, também fizeram isso, lembrando de Odair José e de sua ousadia em músicas como “Pare de Tomar a Pílula” e “Vou Tirar Você Desse Lugar”.

Em entrevista à Gazeta do Povo, por telefone, Cravo Albin ressalta que, embora o auge da canção política tenha sido durante a ditadura, a música popular brasileira sempre refletiu de alguma forma o que estava acontecendo no país desde Sinhô (1888-1930), nome artístico do compositor José Barbosa da Silva, um dos precursores do samba. Seu gosto pela sátira lhe ocasionou problemas quando compôs, por exemplo, “Fala Baixo”, em 1921, satirizando a figura do presidente Artur Bernardes.

Para o musicólogo Ricardo Cravo Albin, de 69 anos, um dos maiores pesquisadores da história da música popular brasileira, foi no periodo da ditadura militar que a canção nacional mais se ocupou de falar a respeito de assuntos referentes à política, mantendo um constante embate com a censura.

Autor de inúmeras obras sobre música brasileira, entre elas o livro Driblando a Censura (Editora Gryphus), o pesquisador lembra Aviso aos Nevegantes, LP em dez polegadas lançado em 1956 pelo compositor Alberto Ribeiro (1902-1971), parceiro constante de João de Barro (o Braguinha), em que interpretou 16 músicas de sua autoria, todas de cunho social.

Cravo Albin ressalta, ainda, “Retrato do Velho”, marcha carnavalesca de Haroldo Lobo e Marino Pinto, gravada por Francisco Alves. A música, que embalou o retorno de Getúlio Vargas ao poder em 1950, diz em sua letra: “Bota o retrato do velho outra vez/ Bota no mesmo lugar/ O sorriso do velhinho/ Faz a gente trabalhar”.

“Poética do eu”

Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, iniciou sua carreira como compositor, escrevendo muitas canções engajadas, de protesto contra o governo militar. Segundo sua biógrafa, Regina Echeverria, cujo livro foi uma das fontes para o filme Gonzaga – De Pai para Filho, a canção “O Trem”, foi apresentada por Gozaguinha em 1969, no 2.º Festival Universitário da Música Brasileira, no mesmo dia em que o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, foi sequestrado, também no Rio, por integrantes das organizações de extrema-esquerda Dissidência Comunista da Guanabara – MR-8, episódio narrado por Fernando Gabeira seu livro autobiográfico O Que É Isso, Companheiro?.

“Era uma canção pesada, difícil de digerir. O Gonzaguinha só foi fazer sucesso de verdade, em 1979, quando suas canções de amor [como “Explode Coração” e “Grito de Alerta”, gravadas por Maria Bethânia] aconteceram. Foi justamente o ano da Abertura, em que os exilados políticos foram anistiados e começaram a retornar ao país”.

A introspecção e o romantismo que consagraram Gonzaguinha no fim da década de 70 de certa forma anunciavam um distanciamento gradual, porém determinado, da música brasileira de temas mais engajados, políticos. “Com o fim da censura e a democratização do país, passou a fazer cada vez menos sentido falar dessas coisas”, diz Regina.

Para Cravo Albin, “a música brasileira hoje tem a marca da individualidade, e da busca pela poética do eu”. Os compositores estão mais voltados para temas existenciais, profundamente pessoais e até filosóficos.

O pesquisador exemplifica sua tese, citando Chico Buarque, combativo autor de canções de alto teor político, como “Apesar de Você” e “Acorda Amor” (sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide), que, aos 68 anos, se afastou um tanto do engajamento em suas criações musicais. “No seu último disco (Chico, 2011), ele canta sobre envelhecer, morar sozinho, o amor na idade madura. Nem menciona temas políticos.”

Gustavo Alonso faz uma ressalva: do álbum de Chico, ele cita a canção “Sinhã”, que, segundo ele, tem um sutil viés de crítica social, ao falar das relações entre um escravo e sua senhora: “Se a dona se banhou/ Eu não estava lá/ Por Deus Nosso Senhor/ Eu não olhei Sinhá/ Estava lá na roça/ Sou de olhar ninguém/ Não tenho mais cobiça/ Nem enxergo bem”.

Hoje, apontam os entrevistados, o comentário sobre questões sociais e, portanto, políticas, está mais presente nos trabalhos de rappers – entre eles, MV Bill, Emicida e o grupo Racionais MC’s – e funkeiros, que trazem nas suas letras a angústia e a indignação de quem sabe do que está falando.

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