A comparação da vagina com uma flor

A comparação da vagina com uma flor
Lavar demais pode fazer mais mal do que bem à vagina. Foto: Flickr Commons

Por muito tempo, eu achava que minha vagina tinha algum problema por causa do cheiro. Passei em várias ginecologistas tentando descobrir o que estava errado, mas sempre estava tudo dentro dos conformes. Como assim? Tinha aquele cheiro que eu odiava, ao ponto de não querer receber sexo oral porque tinha vergonha.

Mas, Helena, que cheiro era esse? Bem, era um cheiro. O simples fato de existir um odor ali me incomodava, porque eu achava que vaginas eram inodoras. Para piorar, esse cheiro não parecia nada com o de flores. Eu esperava alguma semelhança com os aromas dos sabonetes íntimos ou dos lencinhos umedecidos.

Alguma coisa tinha que estar errada para ser assim, né?

Não sou só eu eu que piro com esse cheiro

Antes de falar do cheiro certo da vagina, quero falar dos porquês desse incômodo que eu tinha e sei que não é só coisa minha. Bati um papo com a médica Bruna Wunderlich, que me contou que sempre recebe em seu consultório pacientes que acham que o cheiro das ppks ou a secreção vaginal estão com problemas, quando nada está errado.

A comparação da vagina com uma flor

“É uma construção cultural. A gente aprendeu que a vagina e a vulva são sujas. E é muito difícil desconstruir esse padrão”, explica, contando que além do desconforto, isso pode levar a doenças. “Informação é muito importante e a gente precisa falar sobre isso e falar de novo e de novo”.

Então vamos falar.

Como é o cheiro normal da vagina?

“É um cheio que algumas pessoas descrevem como ácido, ou picante, e tem a ver com as bactérias que habitam a vagina”, diz Bruna. Ela conta que esse odor varia de pessoa para pessoa e também em diferentes momentos para uma mesma mulher.

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É que as responsáveis pelo cheiro são as bactérias naturais da flora vaginal. E essa flora é diferente em cada uma e também muda de acordo com o que comemos e ao longo do nosso ciclo menstrual, porque os hormônios também mudam.

Então assim, o que dá para saber é que a ppk não é inodora, mas esse cheiro não vai ser padronizado.

Além disso, é preciso levar em conta o suor da região. Se você passa muito tempo usando roupas que abafam a área, outras bactérias vão se proliferar na virilha e causar odor. Isso também é normal e nada que um banho não resolva.

Mas como saber que algo está errado?

“Bem, a primeira coisa é identificar qual é o cheiro normal”, afirma Bruna. “As mulheres não sabem como é seu cheiro, elas têm vergonha, ou medo, ou nojo. Então se você não sabe qual é seu caso, faça um estudo de caso: põe o dedo limpo na vagina, de manhã cedo de preferência, onde tem um acúmulo maior da secreção, e cheira para ver como é.”

Ela diz para fazer isso várias vezes ao longo do ciclo, para conhecer também a variação ao longo do tempo.  

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Assim dá para entender qual é o normal, para poder identificar o anormal.

Bruna ressalta que é um odor leve, que ninguém vai sentir só de conversar com você.

O alerta deve vir quando você notar alguns odores mais fortes e diferentes, principalmente de “peixe podre”, porque é típico de algumas infecções vaginais e vaginoses.

“É um cheiro bem intenso, diferente do normal, e em alguns casos se acentua depois da relação sexual. Ele pode ser muito intenso e isso é sinal de que alguma coisa pode estar errada e daí o é ideal procurar auxílio médico para identificar”, diz Bruna.

Não gosto do meu cheiro, o que faço?

Não fique usando sabonetes, lenços e perfumes, para começar. Eles vão mascarar infecções que você possa ter e pode até piorar. Na verdade, mesmo se estiver tudo bem, eles podem fazer mal.

“A vagina é autolimpante, ela não é suja. As bactérias que existem ali são muito importantes para manter o ambiente como deve ser”, explica a especialista. São esses lactobacilos que mantêm o PH da vagina, que é ácido, e evitam que bactérias ruins se proliferem ali. Quando você usa esses produtos, você mata as bactérias boas e abre espaço para que as ruins se desenvolvam, levando às infecções vaginais.

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Bruna contou que muitas mulheres começam a tomar vários banhos, usar lencinhos várias vezes ao dia e absorventes diários, alterando a flora vaginal e provocando doenças.

O jeito certo de lavar

A dica número um é não pecar pelo excesso nem pela falta. Ou seja, não lavar demais, nem de menos. Uma vez por dia está de bom tamanho. Além disso, sabonete tem que ser neutro, sem cheiro e líquido. Segundo a Bruna, para fazer o sabonete em barra é usada uma substância que faz mal para a flora vaginal.

Se tomar dois banhos por dia, no segundo use apenas água.

Outra coisa importante: o que você lava é a vulva, ou seja, a parte de fora da ppk, e não a vagina (o canal). Mesmo depois do sexo, mesmo que esteja com cheiro, não jogue água lá, muito menos sabonete, ok? Esse canal se limpa sozinho!

Já os lencinhos umedecidos, só vale usar em situações de emergência e não como hábito.

Assim a ppk vai ficar com o cheirinho não floral que é característico dela e com a saúde que deve ter!

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

A comparação da vagina com uma flor
Conhecimento sobre a vagina foi prejudicado pelo modelo patriarcal e até hoje muitos desconhecem suas características básicas. Crédito: Shutterstock

A comparação da vagina com uma flor
Segundo a ginecologista Patrícia Leite, conhecer a vagina é essencial para ter uma boa relação com o corpo. Crédito: Divulgação

  1. Muitas mulheres têm dificuldade para nomear e entender a vagina. Algumas até usam apelido para ela, mas na verdade a região externa é a vulva. Quando agachamos sem roupa no banheiro e pegamos um espelho, o que vemos é a vulva! Se você afastar os lábios, consegue ver a entrada da vagina, que é um canal interno.

  2. Algumas mulheres têm medo de colocar algo interno e "perder” dentro da vagina, mas isso não é possível, segundo Patrícia Leite. “A vagina tem um fundo fechado, como se fosse um copo. A abertura seria a entrada da vagina e o fundo do copo é a sua parte final. O fundo dela se conecta com o colo do útero, que é fechado e não é capaz de absorver nenhum objeto”, esclarece. 

  3. A vagina mede aproximadamente 8cm, mas durante a excitação e a relação sexual ela pode mais que dobrar de tamanho. A vagina estica-se tanto em comprimento quanto em diâmetro, o que permite uma relação sexual confortável ou a passagem do bebê durante o parto.

  4. Assim como a vulva (parte externa), a vagina também não tem um padrão e pode mudar seu aspecto e sua cor ao longo da vida da mulher. Pode mudar a coloração, tornando-se mais opaca e esbranquiçada na menopausa e mais arroxeada na gravidez, pela mudança hormonal. Está tudo bem se a sua não é igual à da sua amiga ou parecida com aquela que você viu em uma revista.

  5. A vagina é um tubo muscular flexível e, com isso, pode retornar ao seu tamanho e formato após se expandir. Logo após a relação sexual, ela volta ao normal. A largura da vagina não fica comprometida pela frequência ou pela quantidade de relações sexuais.

  6. A vagina tem uma rede de microrganismos que a habitam, incluindo grupos de bactérias e fungos, que formam a microbiota vaginal. Isso é essencial para a saúde dos órgãos sexuais e reprodutivos, pois são esses microrganismos que fazem o efeito protetor contra bactérias causadoras de doenças.

  7. De acordo com a ginecologista, o principal grupo presente na flora vaginal são os lactobacilos. Essas bactérias naturais produzem o ácido lático, um composto responsável por gerar o pH ácido característico do órgão, que confere o odor suave da vagina saudável. Não é necessário usar cremes ou produtos que modifiquem esse cheiro - isso pode causar alergias e desequilíbrio local.

  8. O canal vaginal consegue se “limpar” sozinho a partir da sua própria secreção natural. Aliás, é essa secreção, geralmente clara ou esbranquiçada, que muitas vezes fica na calcinha após um longo dia para lá e para cá. Não deve-se usar duchas vaginais ou algum outro instrumento para lavar a vagina: isso poderá destruir a flora vaginal natural, causando desequilíbrios e até aumentando a chance de corrimentos anormais.

  9. As principais glândulas ficam bem na entrada da vagina e são responsáveis pela lubrificação feminina. São conhecidas como glândulas de Bartholin. Quando estimuladas, elas trabalham para fornecer a lubrificação adequada antes e durante a penetração, evitando o desconforto no ato sexual.

  10. O cheiro e o odor característicos da vagina são influenciados principalmente pelo seu pH ácido, mas isso pode variar ao longo do ciclo menstrual. Em geral, essas mudanças são sutis e podem não ser notadas. Porém, é possível perceber um leve cheiro e gosto metálico na proximidade do período menstrual, por exemplo. Muitas mulheres também percebem que o odor fica mais acentuado durante o período fértil, e isso decorre das alterações hormonais.

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