Se todos os seres vivos evoluem por qual motivo não vemos os organismos evoluindo diariamente

Quase 150 anos após sua publicação, a teoria da evolução continua fazendo muita gente torcer o nariz. Um estudo recente publicado na revista Science mostrou que mais de um terço dos norte-americanos acredita que o ser humano foi criado por Deus sem passar por qualquer processo evolutivo. No Brasil, a aceitação das idéias de Charles Darwin não é muito melhor: uma pesquisa feita em 2004 apontou índices parecidos de rejeição às idéias evolucionistas. Mas o que leva tanta gente a contrariar as evidências empíricas da seleção natural em pleno século 21? A CH On-line ouviu especialistas no Brasil e no exterior e tenta entender os motivos.

A teoria da evolução estabelece que todos seres vivos evoluíram de organismos menos sofisticados ao longo do tempo, o que vai de encontro a crenças religiosas. Ela é motivo de polêmica desde que foi proposta pela primeira vez por Charles Darwin (1809–1882) em seu livro clássico A origem das espécies , de 1859. Desde aquela época ela sofre críticas ferrenhas, pois nem todos admitem que os humanos possam ser descendentes de macacos, bem como que seres vivos tenham surgido de outra forma que não seja a criação de Deus.

O estudo publicado em 11 de agosto na Science mostra que, de 34 países em que a aceitação da teoria da evolução foi avaliada, os Estados Unidos aparecem na penúltima posição – o teste também foi feito no Japão e em países da Europa. Em alguns deles, a “popularidade” do evolucionismo chega a 80%, enquanto nos Estados Unidos um terço da população diz não acreditar que os seres humanos evoluíram dos primatas.

O caso do Brasil
Uma pesquisa semelhante foi feita em dezembro de 2004 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os dois mil entrevistados nas cinco regiões do país, 31% acreditam que Deus criou o ser humano nos últimos 10 mil anos, da forma como somos hoje; 54% acreditam que o homem vem se desenvolvendo ao longo de milhões de anos, mas Deus planejou e dirigiu esse processo; 9% acreditam que o ser humano vem se desenvolvendo ao longo de milhões de anos, mas Deus não esteve envolvido nesse processo; e 6% não opinaram. Além disso, 89% deles acreditam que o criacionismo – concepção exposta no livro Gênesis da Bíblia, segundo a qual os indivíduos foram criados à imagem e semelhança de Deus – deve ser ensinado nas escolas.

Aceitação pública da evolução em 34 países em 2005. Pediu-se aos entrevistados que dissessem se consideravam a teoria de Darwin verdadeira ou falsa. O gráfico mostra os resultados por país, em ordem crescente de aceitação (reprodução/ Science )

Jon Miller, professor da Escola Médica da Northwestern University e um dos autores do estudo publicado na Science , ressaltou, em entrevista à CH On-line , que o ensino do criacionismo nas escolas pode prejudicar muito o aprendizado de diversas áreas da biologia. “A maior parte dos avanços científicos nas próximas décadas acontecerá em áreas biológicas, como genética e virologia”, afirma. “É impossível aprender os fundamentos dessa ciência sem ter um bom entendimento da teoria da evolução”.

Para explicar os motivos da baixa popularidade de Darwin nos Estados Unidos, os autores do artigo argumentam que há naquele país um fundamentalismo religioso que não existe nos países europeus. Eles esclarecem que a religião católica e as religiões protestantes européias enxergam o Gênesis como uma metáfora, ao contrário das religiões protestantes norte-americanas. Muitas pessoas acham que as plantas e os animais evoluíram, mas não o ser humano. “Os indivíduos acreditam que foram criados por Deus à sua imagem e semelhança. Nesse contexto, é difícil aceitar que o ser humano, assim como todos os outros seres vivos, passou por um processo evolutivo que durou bilhões de anos”, explica Miller.

Educação insuficiente
O biólogo Ricardo Waizbort, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), defende que no Brasil a pequena aceitação da teoria de Darwin está diretamente relacionada ao fato de que as pessoas não têm uma educação científica formal eficiente. “Muitas vezes o cidadão não compreende o que significa a evolução”, diz. “Por isso, responde a uma pesquisa desse tipo sem nem entender porque está sendo perguntado em relação àquilo, o que vai gerar uma resposta superficial.”

Waizbort recebeu a CH On-line na Fiocruz para uma entrevista em que discutiu a aceitação do darwinismo no Brasil. Clique e leia a íntegra da entrevista .

Franciane Lovati
Ciência Hoje On-line
30/08/2006

7. Os amniotas modernos - animais cujos embriões são rodeados por uma membrana amniótica e que englobam os mamíferos e os sauropsídeos (répteis e aves) - tipicamente desenvolvem dois centros de ossificação na região proximal (superior) do tornozelo: o astrágalo e o calcâneo. O astrágalo dos dinossauros terópodes possui um processo triangular ascendente (PTA) projetando sobre a superfície anterior da tíbia. O PTA também está presente nos aves quando filhotes e durante a fase embrionária, porém desenvolve um centro de ossificação separado, projetando-se do calcâneo na maioria das espécies. Apesar disso, à primeira vista não tornar esse desenvolvimento ósseo comparável com os dinossauros terópodes em termos de homologia - apenas uma evolução convergente -, um estudo de 2015 publicado na Nature (Ref.152), analisando representantes aviários extintos e não extintos, mostrou que o PTA não é uma projeção nem do astrágalo ou do calcâneo, mas, sim, um elemento independente - o intermédio. Ou seja, isso explica a mobilidade dessa estrutura óssea homóloga durante a evolução dos dinossauros terópodes para as aves modernas. Aliás, também explica porque nas aves paleognatas o PTA é projetado mais perto do astrágalo e nas aves neognatas a projeção ocorre mais perto do calcâneo. Os pesquisadores também mostraram que durante o processo evolutivo, o PTA dos dinossauros adquiriu um desenvolvimento similar aos anfíbios (evolução reversa) nas aves modernas.

8. Em Dezembro de 2016, um estudo publicado no Current Biology (Ref.24) descreveu a descoberta de uma cauda de dinossauro - provavelmente do grupo Coelurosauria - preservada em âmbar, a qual possuía uma antiga plumagem! Quer prova mais sólida do que essa? Datado de um período em meados do Cretáceo, a estrutura é mais do que valiosa, porque mostra os padrões de penas em um real substrato ósseo, o qual também tem preservado outros tecidos, como o epitelial, e até vestígios sanguíneos (presença significativa do íon Fe2+ no interior da cauda). Antes, diversas descobertas de plumagens em terópodes não-aviários vinham confirmando várias características previstas pelo modelo da Evolução das Penas, como os dois espécimes descritos acima. Essa nova descoberta bate o martelo de aprovação no modelo.


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     DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES

           Hoje já se tem documentado e descrito quase 1,5 milhão de espécies de plantas, fungos e animais. Enquanto muitas delas possuem amplos espaços de ocupação e nichos ecológicos pelo mundo, como o ser humano e os cães, outras são altamente especializadas e habitantes exclusivas de uma região, como uma espécie de fungo do gênero Laboulbeni que cresce exclusivamente na parte traseira da estrutura que cobre as asas de um besouro (Aphaenops cronei), este o qual é encontrado apenas em algumas cavernas do Sul da França. Mas apesar das grandes diferenças nos papéis ecológicos e estruturas corporais únicas, diversas espécies são bastante parecidas entre si. Ilhas são um excelente exemplo disso, onde muitos animais são parecidos com aqueles habitando porções de terra maiores e próximas (como a ilha Galápagos), mas são muito similares entre si. A Teoria da Evolução Biológica explica isso.

           Quando isolamentos geográficos separam e isolam regiões, criam-se ambientes novos para os espécimes separados ou que migram para essas áreas. Uma população original contendo uma única espécie pode ser dividida em duas áreas e os indivíduos tomarem um rumo evolucionário diferente um do outro por causa das novas condições que levarão a distintos mecanismos de seleção natural. Quando a América do Norte e a América do Sul eram separadas entre si, as espécies de mamíferos em cada uma das áreas evoluíram de forma completamente diferente, dando origem a diversas espécies únicas. Há cerca de algo entre 3 e 8 milhões de anos (1), os dois continentes foram unidos pelo istmos do Panamá (seta vermelha na imagem abaixo), e permitiu que diferentes espécies cruzassem os continentes, onde tatus, ouriços e opossuns (um tipo de marsupial) - todos os três de origem sul-americana - acabaram indo para o Norte, enquanto a onça-parda - e outras espécies de origem norte-americana - migrou para o Sul. Por isso hoje todos esses mamíferos são encontrados em toda a América, mas os registros fósseis são claros: antes essas espécies tão diferentes entre si só eram encontradas ou em um ou em outro continente.

           O Havaí é outro caso bem interessante. Cerca de um quarto de todas as quase 2000 espécies de moscas do gênero Drosophila vivem lá. Além disso, também habitam o Havaí mais de 1000 espécies de caracóis, e outros moluscos também são encontrados apenas lá. A explicação para tal diversidade de espécies tão próximo relacionadas entre si em uma única região é também explicada pela Teoria da Evolução. Como as ilhas do Havaí são muito afastadas de qualquer porção de terra continental, relativamente poucas espécies foram capazes de alcançá-la. Com isso, essas poucas dominaram todos os seus ambientes e nichos ecológicos, gerando suficiente espaço e baixa competição por recursos para várias populações de uma mesma espécie evoluírem de forma distinta à medida que colonizavam o arquipélago. Para se ter uma ideia, apenas uma espécie de mamífero - no caso, um morcego - foi encontrada lá pelos registros fósseis antes da chegada e estabelecimento do ser humano na América do Norte. Ou seja, um animal da porção continental capaz de migrar para lá, com a ajuda das asas.

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   SIMILARIDADES EMBRIONÁRIAS

          Outro exemplo notável está associado à estrutura óssea no ouvido dos mamíferos. Nos ossículos do ouvido médio, temos o estribo, o qual evolutivamente tem origem do osso hiomandibular nos peixes, o qual suporta as guelras. Primeiro, esse osso nos peixes migrou para o palato duro, o qual é englobado contra o crânio nos peixes com mandíbula e nos primeiros tetrápodes. Uma nova mudança evolutiva fez esse osso se tornar a columela no ouvido médio dos pássaros e o estribo no ouvido médio dos mamíferos. Ou seja, agora um auxiliar auditivo, o estribo antes era um auxiliar alimentar e ainda antes um auxiliar respiratório. Aqui chegamos no ponto mais do que interessante. Os gambás (ordem Didelphimorphia) - mamífero marsupial endêmico das Américas -, quando nascem imaturos e vão em direção à bolsa da mãe para terminar o desenvolvimento fetal, seus futuros ossículos do ouvido ainda estão articulando as mandíbulas; o estribo migra para o ouvido médio à medida que o embrião se desenvolve. Essa é uma evidência vestigial mais do que óbvia da transição evolutiva dessa estrutura óssea.

          E em um exemplo mais dramático de expressão da ancestralidade comum impregnada no desenvolvimento embrionário/larval com a descoberta de vários fósseis datados em 95 milhões de anos de idade pertencentes à mais estranha espécie de crustáceo já encontrada (no caso, um caranguejo). Representando também um fóssil de transição evolutiva e descrita em um estudo publicado na Science Advances (Ref.132), o Calichimaera perplexa não possui um plano corporal típico de um caranguejo caracterizado por uma carapaça encurtada, margens laterais bem definidas e um abdômen ventralmente escondido. Ao invés disso, essa espécie é uma mistura quimérica de vários grupos de crustáceos, incluindo caranguejos verdadeiros e falsos. Sua carapaça dorsal é similar àquelas de algumas lagostas e de membros da família Palaeocorystidae; seus grandes olhos compostos similares ao gênero Ekalakia e a vários homoloides; pediforme mxp3 carregando uma crista dentada similar a lagostas, a maioria dos anomuranos e a linhagens iniciais braquiuranas; dois pares de pernas achatadas na forma de remo, similares a membros da família Matutidae; dois pares de pernas anteriores reduzidas, como em caranguejos ermitas, braquiuranos podotreomos e linhagens iniciais eubraquiuranas; abdômen simétrico com ausência de anéis articulados e placas uropodais, como a maioria dos braquiuranos; entre outras características quiméricas.

          Essa singular composição anatômica observada no C. perplexa é similar àquela vista no estágio larval dos caranguejos, a qual espelha uma ancestralidade comum com vários táxons de crustáceos. Nesse sentido, essa espécie provavelmente evoluiu via desenvolvimento heterocrônico (pedomorfose) durante os estágios iniciais ontogenéticos, retendo características juvenis para a fase adulta.

          Por último, outro destaque mais do que válido de ser citado é um robusto e inédito estudo publicado no periódico Development, onde um time de biólogos especializados em evolução biológica, e liderados pelo Dr. Rui Diogo da Universidade de Howard, EUA, mostrou que numerosos músculos atavísticos dos membros (pernas e braços) - conhecidos de estarem nos membros de vários animais mas geralmente ausentes nos adultos humanos - são de fato formados durante o desenvolvimento embrionário humano e então perdidos previamente ao nascimento. Além disso, os pesquisadores mostraram que alguns desses músculos, como os metacarpais dorsais, desapareceram dos nossos ancestrais vertebrados adultos há mais de 250 milhões de anos, durante a transição evolutiva dos répteis sinapsídeos para os mamíferos. Para mais detalhes, acesse: Cientistas revelaram vários vestígios evolucionários nos músculos de embriões humanos.


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     BIOLOGIA MOLECULAR

            Pouco tempo depois da elucidação do código genético da bactéria Escherichia coli, foi observado que um particular mapa de 64 códons feitos a partir de 20 aminoácidos e duas marcas de pontuação (sinais de início e fim) era compartilhado, com ínfimas modificações, por todas as formas de vida conhecidas na Terra. Diversas outras regularidades também foram observadas serem similares com o resto da vida no planeta, mesmo havendo mais de 1084 possibilidades alternativas do rearranjo dos códons a partir dos aminoácidos a disposição. Além disso, o próprio fato de existir apenas quatro nucleotídeos e 20 aminoácidos (com notável exceção da selenocisteína e pirrolisina) para, virtualmente, todas as formas de vida, sugerem uma forte existência de ancestralidade comum a todas elas, obedecendo, mais uma vez, à lógica da Evolução Biológica. Diversas estruturas proteicas e hormonais, como a hemoglobina e a mioglobina - transportadores proteicos de oxigênio no sangue - acabam, por consequência, sendo muito similares entre diferentes grupos de animais, por exemplo, de moluscos a mamíferos.

         
              Todos os seres vivos compartilham proteínas vitais, como o ribossomo, DNA polimerase e o RNA polimerase, desde primitivas bactérias até os complexos mamíferos. O RNA é universal.  Os organismos aeróbicos compartilham a proteína citocromo c, a mitose é um processo presente em todos os organismos celulares, a meiose é bastante similar em todos os organismos que se reproduzem sexuadamente, o ATP é usado por todos os organismos para a transferência de energia, quase todas as plantas usam a mesma molécula de clorofila para a fotossíntese, etc. E quanto mais próximo relacionados os organismos parecem ser, mais similares suas sequências genéticas são, mostrando, novamente, a ação esperada da Evolução Biológica. Por exemplo, humanos, bonobos e chimpanzés compartilham em torno de 95,8% das sequências de genes codificantes do DNA; já os humanos compartilham 1,6% das sequências genéticas com os gorilas, e 3,1% com os orangotangos (um primata superior Asiático); saindo dos primatas superiores, os humanos compartilham cerca de 7% das sequências genéticas com os macacos Rhesus. De fato, quanto mais distante o ancestral em comum do primata com a nossa espécie, menos similaridades genéticas são compartilhadas, como esperado do processo evolutivo.

          Nesse sentido, é mais do que válido mencionar dois estudos de alto impacto recentemente publicados (2), onde foi alcançada a feitura de organismos geneticamente modificados que possuíam nucleotídeos artificiais. No primeiro estudo, o editor genético CRISPR-Cas9 (1)  inseriu as letras X e Y em bactérias E.coli , as quais foram capazes de continuarem a se reproduzir normalmente. Em testes laboratoriais, após se dividirem mais de 60 vezes, as bactérias modificadas conseguiram manter os nucleotídeos "alienígenas" na seu material genético (DNA). Antes desse feito, apenas as clássicas quatro letras - adenina (A), guanina (G), citosina (C) e timina (A) - eram conhecidas de atuarem de forma eficiente nos seres vivos. Já no segundo estudo, mais recente, pesquisadores conseguiram criar quatro novas letras artificiais altamente estáveis (S, B, P e Z) capazes de manter sozinhas uma estrutura de dupla-hélice e ainda atenderem os requisitos teóricos para que processos evolutivos possam emergir. Além disso, as quatro letras artificiais foram capazes de codificar proteínas.

  • (1) Sugestão de leitura: CRISPR-Cas9, o poder da edição genética!

             Esse exemplo, somado à existência dos aminoácidos selenocisteína e pirrolisina em alguns poucos organismos, mostra que a vida como um todo poderia ter uma estrutura química bem diversificada, mas acabou ficando limitada a padrões e blocos moleculares muito parecidos. Os organismos compartilham vários genes entre si e inúmeros genes encontrados no DNA humano, por exemplo, podem também ser encontrados no DNA de outras criaturas, incluindo plantas e até bactérias. E temos os notáveis genes Homeobox - os quais atuam na determinação de planos corporais durante o desenvolvimento embrionário através da expressão de proteínas Hox - que são altamente conservados entre todos os animais (vertebrados e invertebrados) e inclusive estão posicionados na mesma ordem em seus respectivos cromossomos (Ref.122-123), algo que grita uma ancestralidade comum. São associados também a esse último caso os "genes fósseis", ou seja, genes desativados presentes em uma espécie e que estavam presentes ativos em outras espécies ancestrais. Em outras palavras, genes que perderam sua função original no processo evolucionário (como os citados dentes expressos em galinhas, por exemplo). Não faria sentido tê-los se os seres vivos fossem frutos de uma 'criação inteligente'. Somando-se a isso, processos de plasticidade fenotípica e epigenéticos podem expressar fenótipos mal-adaptativos ao ativarem esses genes 'dormentes'. A única lógica que explica isso é a evolução biológica.              Isso sem contar que todos os seres vivos partilham de algo em comum: só utilizam os isômeros L (levógiros) de aminoácidos, mesmo com os isômeros D (destrógiro) possuindo as mesmas propriedades físico-químicas e serem formados em igual quantidade (mistura racêmica) em reações não biológicas. Tudo isso representa fortíssimas evidências de que a explicação mais provável e lógica é que todos tiveram origem de um ancestral comum para esse curioso fato ser explicado com mínima plausibilidade.

          Temos notavelmente também as ferredoxinas, uma diversa classe de pequenas proteínas ferro-sulfuradas - e dímero-simétricas - presente em vários grupos de seres vivos, de bactérias até animais e plantas, e um essencial componente das cadeias de transferência de elétrons nas células. É proposto que as ferredoxinas possuem uma origem simétrico, evoluindo e se diversificando via duplicações genéticas seguido por mutações. Em um estudo publicado na PNAS (Ref.153), pesquisadores realizaram engenharia reversa para produzir uma proteína mais simples e simétrica carregando características comuns entre as ferredoxinas bacterianas. Em seguida, eles deletaram o gene responsável pela expressão da ferredoxina na bactéria E. coli e inseriram um gene para expressão da nova proteína criada. As bactérias geneticamente modificadas sobreviveram e foram capazes de se replicarem, mesmo que de forma mais lenta.

          E falando em proteínas, mais de 40% delas não possuem uma estrutura definida nos organismos vivos devido a mecanismos de geração de microestruturas em regiões proteicas desordenadas, mesmo na ausência de mutações, reforçando que o processo que as produzem estão longe de perfeitos, e indicando um processo de refinamento natural através de pressões evolutivas diversas (Ref.154) e de potenciais oportunidades para a emergência de novas estruturas proteicas e locais de catálise a partir de uma proteína ancestral.

            Aliás, analisando a evolução a nível molecular, diversos padrões podem ser previstos, ajudando a paleontologia, por exemplo, a elucidar os caminhos evolucionários ao longo das eras, ou mesmo criar relógios evolucionários a partir das pequenas diferenciações moleculares entre os seres vivos. Exemplificando, assume-se factualmente há um bom tempo que as baleias descenderam de mamíferos terrestres que voltaram para as águas, nesse caso a partir de animais desse grupo com cascos (vacas, ovelhas, camelos, hipopótamos, etc.). Análises relativamente recentes de genes codificadores de proteínas do leite (beta-caseína e kappa-caseína) confirmaram essa relação evolucionária e reforçaram evidências genéticas anteriores de que os mamíferos modernos terrestres mais próximo relacionados com as baleias são os hipopótamos (família Hippopotamidae, a qual possui hoje apenas duas espécies vivas: hipopótamo-comum - Hippopotamus amphibius - e o hipopótamo-pigmeu - Choeropsis liberiensis)  . Aliás, estudos nos últimos anos usando embriões de golfinhos já mostraram que mutações em um gene responsável pela produção de uma proteína necessária para o desenvolvimento normal dos membros em tetrápodes resulta na perda dos membros traseiros, mutações essas presentes nos golfinhos e baleias atuais. E isso é só uma ponta do que os avanços na tecnologia genética estão fazendo para elucidar os detalhes dos processos envolvidos na Evolução.


          E além dos padrões comuns que observamos no genoma de todos os seres vivos, o material genético de organismos simples e complexos é encharcado de sequências genéticas adquiridas de outros organismos e de estruturas impossíveis de não estarem associadas a mutações e hibridizações. Os humanos, por exemplo, possuem várias sequências genéticas que foram transmitidas através de vírus. As células eucarióticas possuem mitocôndrias (2) e/ou cloroplastos (3) que claramente são organelas oriundas de bactérias englobadas por células procariontes ancestrais, por possuírem material genético diferentes daquele presente no núcleo e por se assemelharem muito com organismos bacterianos tanto morfologicamente quanto geneticamente. E não precisamos nem comentar a suruba de transferências laterais de genes entre os procariontes e o verdadeiro ecossistema de elementos transponíveis (jumping genes) moldando continuamente os genomas (3). Já em termos de mutações, diversos organismos, especialmente plantas, são marcadas por duplicações genômicas, as quais deixam um rastro de enorme 'sobra' genética (excesso de sequências repetidas) e gigantescos genomas totalmente inconsistentes com quaisquer ideias de um design inteligente.

Leituras recomendadas:



         Tudo isso mostra que o material genético nos seres vivos é fruto de uma enorme e tumultuada junção de eventos associados a mecanismos evolutivos diversos. Na verdade, apenas a existência dos  elementos transponíveis - como os transposons - e das duplicações genômicas são suficientes para consolidar a evolução biológica como um fato científico. De fato, nos últimos milênios, os humanos foram os responsáveis pela emergência de diferentes espécies de plantas via contínuas hibridizações de espécies selvagens e domesticadas, em eventos marcados por frequentes duplicações genômicas inteiras (3).

   FÓSSEIS DE TRANSIÇÃO

         Já tendo sido mencionados em detalhes os dinossauros, hoje possuímos diversos fósseis de transição, ou seja, fósseis mostrando transições evolucionárias de um táxon (espécie, gênero, Reino etc.) para outro, em direção a uma nova clade (grupo de organismos originados de um único ancestral comum exclusivo - esse ancestral comum pode ser um indivíduo, uma espécie ou até mesmo um Reino). Dos dinossauros terópodes em direção às aves temos tantos registros fósseis - somados com tantas estruturas comuns - que fica impossível questionar que as aves evoluíram dos dinossauros.

         O mais famoso modelo de transição foi do peixe Tikaalik, o qual foi encontrado em 2004 e representava claramente uma transição dos animais vertebrados (tetrápodes) da água para a terra, e o qual tinha sido previsto pela Teoria da Evolução. (Na seção 'Criacionistas X Evolução Biológica' a questão do Tikaalik será abordada com mais detalhes).

          Outro famoso exemplo foi a descoberta de um fóssil de 49 milhões de anos atrás de uma "baleia com patas". Desenterrado no Paquistão em 1992 pelo paleontólogo Hans Thewissen - com a ajuda do seu time de pesquisa -, esse é um dos mais perfeitos fósseis de transição, pertencente à espécie Ambulocetus natans e representando a transição de um tetrápode terrestre para um mamífero exclusivamente marinho (no caso, um ancestral das baleias). O animal fossilizado possuía orelhas e dentes típicos de baleias, entre outras características morfológicas semelhantes, mas trazia quatro membros e dedos nas patas.



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ATUALIZAÇÃO (06/04/19): Mais uma importante lacuna de transição evolutiva das baleias foi preenchida, com a descoberta e a descrição de uma espécie anfíbia e quadrúpede de cetáceo (uma baleia com quatro pernas) que viveu há cerca de 42,6 milhões de anos. O estudo sobre o achado foi publicado na Current Biology (2). Para saber mais, acesse: Descoberto fóssil de uma baleia com quatro pernas no Peru, em clara transição evolutiva

ATUALIZAÇÃO (12/12/19): Em um estudo publicado no periódico PLOS ONE, pesquisadores da Universidade de Michigan descreveram o fóssil de mais um novo gênero e espécie de baleia primitiva que representa um importante passo no percurso evolutivo das baleias modernas, e trazendo um corpo similar ao gênero Basilosaurus. Datada em cerca de 35 milhões de anos atrás, a nova espécie, Aegicetus gehennae, é o mais recente representante da família Protocetidae. Comparado com baleias mais primitivas, o A. gehennae possuía um corpo e uma cauda mais alongados, pernas traseiras mais curtas, e a falta de uma firme conexão entre as pernas traseiras e a coluna espinhal, indicando um animal mais próximo de ser totalmente adaptado ao meio aquático e dependente da cauda para o nado do que seus ancestrais (incluindo o P. pacificus). Para mais informações e detalhes do fóssil descritos, acesse: Outro fóssil de baleia de quatro pernas foi descrito, em crucial transição evolutiva

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         Fica aqui também a sugestão de leitura das matérias abaixo descrevendo fósseis de transição recentemente encontrados e descritos em estudos de grande impacto:


          Aliás, não é necessário nem recorrer exclusivamente aos fósseis para mostrar exemplos de transições evolucionárias. Na nossa fauna e flora temos notáveis modelos e representantes vivos de transição, onde podemos citar os famosos ornitorrincos, estes os quais são mamíferos monotremados que possuem diversas características morfológicas e genéticas em comum com os répteis -  incluindo também as aves -, sendo que botar ovos é a mais óbvia. Além disso, certas espécies de peixes, como aquelas da família Oxudercinae - e até mesmo a classe Dipnoi, a qual é composta por peixes ósseos que apresentam pulmões primitivos, conseguindo respirar fora da água - são também famosas por conseguirem se locomover fora da água, frequentemente com as nadadeiras dianteiras, representando possíveis passos para a saída dos vertebrados da água. 

          Um exemplo ainda mais notável nessa linha são os peixes marinhos da família Blenniidae, cujas diferentes espécies representantes exibem variados graus de comportamento anfíbio: algumas raramente ou nunca emergem da água, outras gastam grande quantidade de tempo dentro e fora da água, enquanto outras são altamente terrestres e gastam toda a fase juvenil e vida adulta fora da água na zona de 'splash' (zona supralitoral, onde o ambiente é continuamente úmido devido às ondas mas não submerso) (Ref.168). A predação aquática é um dos fatores que empurraram esses peixes gradualmente para fora da água, e muitos variam o tempo fora e dentro da água dependendo das condições temporais, do nível da maré e da disponibilidade de refúgios/abrigos terrestres (fendas ou buracos nas rochas). Uma dieta também mais generalista - possibilitada pelo tipo distinto de dentição desses peixes - e grande plasticidade comportamental são outros fatores contribuintes importantes para a transição. Esse contínuo espectro de adaptabilidade aquática-terrestre pode espelhar o que ocorreu há centenas de milhões de anos quando os primeiros peixes emergiram da água para dar origem aos tetrápodes terrestres.

          Existem pelo menos 33 famílias de peixes que possuem, no mínimo, uma espécie que demonstra alguma atividade terrestre, e em vários casos esse comportamento evoluiu de forma independente nas diferentes famílias. Nos peixes da família Blenniidae são pelo menos 7 convergências para um estilo de vida altamente anfíbio (Ref.169). Apesar de ser comumente pensado que é muito raro tais transições, exemplos ainda hoje vivos indicam que o comportamento anfíbio evoluiu repetidas vezes ao longo de famílias ecologicamente diversas, sugerindo poucas limitações para esse tipo de processo adaptativo.



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     ESTRUTURAS VESTIGIAIS 

          Vestigialidade, em termos evolucionários, é a retenção de estruturas geneticamente determinadas ou atributos de acentrais que perderam alguma ou todas as funcionalidades em uma dada espécie. Esses vestígios são claramente previstos nos processos de seleção natural e deriva genética, já que estruturas que não trazem prejuízos mas que ao mesmo tempo não trazem vantagens podem ser mantidas por um longo período de tempo durante os processos evolucionários. Geralmente muitas delas ganham novas funções ou mantêm funções secundárias. Lembre-se: a evolução é um processo dinâmico, não possuindo um fim específico ou uma fase estática.

          E nesse quesito, temos inúmeros exemplos (Ref.69), sendo muitos deles óbvios demais para não serem atribuídos à evolução biológica. Aliás, só são explicados em termos evolucionários. Se levarmos em conta diferentes graus de vestígios, é provável que toda a fauna e a flora os possuem em alguma extensão. Vamos, então, fazer uma lista de alguns principais.

1. Os cetáceos (baleias e golfinhos) evoluíram de mamíferos terrestres há 54 milhões de anos. Apesar de terem perdido os membros anteriores, ficando com apenas dois visíveis na forma de nadadeiras, todas as 92 espécies hoje existentes (com exceção de duas) mantiveram vestígios muito reduzidos dos ossos da pelve e até muitas vezes dos membros traseiros (subcutâneo). Além disso, no desenvolvimento embrionário tanto de baleias dentadas (Odontocete) quanto em baleias de barbatana (Mysticete), protuberâncias dos membros anteriores estão presentes, regredindo completa ou parcialmente durante o desenvolvimento desses animais. No caso da pelve, esse vestígio parece ter evoluído e mantido para dar apoio ao pênis nos machos. As duas espécies na exceção, Kogia sima e K. breviceps, parecem ter substituído os ossos pélvicos com estruturas cartilaginosas funcionais (Ref.75). E, além das baleias, esses vestígios também estão presentes na ordem Sirenia (englobando os famosos peixe-bois).



(a) Dugong dugon (dugong) (b) Trichechus manatus (Peixe-boi indiano) (c) Physeter catodon (baleia cachalote) (d) Delphinapterus leucas (baleia beluga) (e) Eschrichtius robustus (baleia cinza) (f) Eubalaena glacialis (Baleia-do-Atlântico-Norte)

2. Pítons e boas (grupos de cobras) mantiveram prováveis vestígios de membros anteriores na forma de estruturas parecidas com esporões na região pélvica, como mostrado na foto abaixo, os quais não parecem trazer significativas vantagens e oferecem uma das várias evidências de que esses animais evoluíram de répteis com quatro membros. Esses animais também trazem estruturas vestigiais rudimentares de um fêmur. Aliás, já foram revelados vários fósseis de antigos ancestrais das cobras que não possuíam os membros dianteiros, apenas os traseiros (transição evolutiva) (1).
Aqui, os prováveis vestígios de membros de uma Píton-Africana-Rochosa (Python sebae)

3. Certos peixes de caverna e salamandras possuem olhos não funcionais, os quais representam uma clara herança dos seus ancestrais. O mais estudado é o Tetra-Cego (Astyanax mexicanus), um peixe cego de caverna que evoluiu de peixes da superfície durante alguns poucos milhões de anos, ao ficarem isolados na escuridão de cavernas Mexicanas. Nesses ambientes de completa ausência de luz, existem populações com total perda dos olhos (mas presente durante o estágio larval) e outras populações que mantiveram os olhos mas praticamente sem funcionalidade e sem utilidade. Essas observações só são explicadas por mecanismos evolutivos (regressão evolutiva).


         Basicamente, existem duas hipóteses evolucionárias, uma via genética e a outra via epigenética. Na via genética, mutações que levaram à perda de funcionalidade do olho nesses peixes foram acompanhadas de mudanças adaptativas - ou outras mutações benéficas - que compensaram a perda total ou parcial de visão, esta a qual, já não era mais necessária nas cavernas. Porém, nenhum gene diretamente ligado a esse processo foi ainda encontrado. A segunda e mais aceita explicação é que mecanismos epigenéticos herdados, ligados à hipermetilação do DNA, geram efeitos não só de desativação dos genes responsáveis pelo desenvolvimento ocular normal, mas também efeitos adaptativos compensatórios - nesse caso para explicar as populações de A. mexicanus com total perda do olho durante a fase adulta, como aqueles encontrados na caverna Pachón (Ref.112). Aliás, um estudo publicado recentemente na  Nature Ecology & Evolution (Ref.115) trouxe fortes evidências de que a perda de tecido ocular no A. mexicanus ocorre em grande parte através do silenciamento epigenético - via hipermetilação - de vários genes ligados ao desenvolvimento dos olhos.


4. O segundo e quarto metacarpos dos cavalos não mais funcionam como suporte entre o dedo e o carpo ou tarso, sendo vestígios do segundo e quarto dedos dos seus ancestrais (sentido de evolução: a -> e). Apesar disso, essas estruturas ósseas reduzidas passaram a funcionar como guias para ligamentos suspensórios e como locais de anexação muscular, além de suporte para os ossos carpais. Somando-se a isso, o estabelecimento de um único dedo facilita a locomoção do cavalo no seu ambiente - geralmente planícies -, prevenindo supinação e pronação, e gerando uma maior estabilização ao reduzir o número total de articulações.

ATUALIZAÇÃO (25/01/18): Segundo novas evidências científicas, os cavalos podem ainda estar retendo os quatro vestígios dos dedos dos seus ancestrais tetrápodes pentadáctilos, não apenas os dedos II e IV. Para saber mais sobre o assunto, acesse: Os cavalos podem ter 5 dedos, não apenas 1. 

5. O cóccix de primatas superiores (incluindo nossa espécie) - uma série fundida de três a seis vértebras - é um claro vestígio de caudas presentes em outros primatas e mamíferos ancestrais. Essa extensão de vértebras não fica visível fora do corpo e, portanto, não possui mais função de sinalização, balanço, etc. De qualquer forma, tal estrutura desenvolveu outras funções de suporte e absorção de impacto. Aliás, durante o desenvolvimento embrionário humano e dos outros primatas superiores, os fetos apresentam uma real cauda - constituída de tecido conectivo, pele, músculos, vasos, nervos e 10-12 vértebras - que regride progressivamente até desaparecer, deixando o cóccix como vestígio. Porém, em alguns raros casos a cauda persiste mesmo após o nascimento, e acaba precisando ser retirada por via cirúrgica (por questões estéticas). Em outras palavras, uma herança do desenvolvimento embrionário de ancestrais com caudas.

(a) Pan troglodytes (chimpanzé), visão ventral (b) Homo sapiens (humano), visão dorsal

6. Nossos dentes do siso, os quais surgem entre 17 e 25 anos de idade - podendo compreender entre 0 e 4 deles (mas com a maioria possuindo 4) - muitas vezes geram impactos negativos na estrutura dentária e possuem limitada ou nenhuma utilidade. A hipótese mais aceita é que nossa subespécie (Homo sapiens sapiens) evoluiu uma menor mandíbula por causa da dieta mais refinada (com a descoberta do fogo e agricultura), fazendo esse dente desnecessário e difícil de se encaixar;

7. Nós, humanos, temos músculos na parte externa do ouvido, os quais geralmente são muito pouco desenvolvidos (imagem ao lado). A maior parte das pessoas não conseguem controlar esses músculos, tornando-os inúteis. Porém, algumas pessoas ainda conseguem acioná-los para mexer a orelha, mesmo assim sem utilidade. Isso é uma óbvia herança de ancestrais primatas - e outros mamíferos - que usam a ampla movimentação da orelha para orientá-la na direção de um som e melhorar a audição.

8. O Panda-Gigante (Ailuropoda melanoleuca), ou Panda, está inserido na ordem Carnivora, e descende de ancestrais ursos carnívoros. Porém, essa espécie evoluiu para uma dieta quase exclusivamente (99%) vegetariana, no caso, alimentando-se avidamente de bambu. E nesse quesito, seu intestino ainda possui muitas adaptações para um dieta carnívora, algo que notavelmente diminui a eficiência digestiva de bambu, sendo um dos fatores que justificam a enorme quantidade desse vegetal ingerida pelos indivíduos adultos diariamente (acima de 12 kg). No entanto, isso é enormemente compensado pelo fato de que o seu habitat original possui uma massiva quantidade de bambu e pouquíssima competição.



9. Apesar dos músculos relacionados ao arrepio dos pelos em humanos parecerem ter importantes funções na região epitelial (Ref.72), o reflexo de arrepiar os pelos de forma emocional ou na presença de frio não possui utilidade para nós, apenas nos nossos ancestrais e outros mamíferos com uma maior cobertura de pelos: no frio, os pelos eriçados reduzem a perda de calor ao aumentar verticalmente as camadas de pelo, e, em situações de estresse - especialmente frente a um predador - os pelos eriçados deixam o animal com um aspecto maior e mais imponente, impondo uma maior medo no atacante. Como nossa pelagem corporal é muito rala, não faz sentido esse reflexo (nesse caso, um vestígio comportamental). Aliás, a própria presença de pelos em grande parte do nosso corpo é praticamente inútil e acaba sendo outro vestígio dos nossos ancestrais peludos.

10. Os tamanduás (Vermilingua) são animais pertencentes a uma subordem de mamíferos placentários da ordem dos pilosos e endêmicos das Américas. Esses mamíferos não possuem dentes, porém, durante a fase de gestação, os fetos expressam dentes primários que mais tarde são perdidos na mandíbula. Esses dentes não possuem, obviamente, nenhuma função para o feto, sendo apenas vestígios de ancestrais com dentes.

11. Em um último exemplo, temos o mais amplamente citado, o qual não é um real 'vestígio' mas uma adaptação provavelmente gerada pelo processo evolucionário: o nervo laríngeo recorrente. Esse nervo é uma ramificação do nervo vago que supre funções motoras e sensitivas para a laringe (caixa vocal). O mais interessante desse nervo é a sua natureza 'recorrente', onde ele dá uma volta desnecessária em torno da artéria subclávia direita ligada ao músculo cardíaco. Considerando a localização do coração no ancestral 'peixe' dos modernos tetrápodes, e a extrema volta que esse nervo dá nas girafas (acima de 4,5 metros!), o famoso evolucionista Richard Dawkins sugeriu que, ao longo do processo evolucionário, à medida que o pescoço começou a se estender e o coração ficou cada vez mais na parte inferior, o nervo laríngeo foi pego no lado errado do coração.

            A partir da seleção natural, o nervo foi sofrendo incremento graduais em sua extensão para se acomodar ao alongamento do pescoço, resultando na longa volta observada hoje. Mais interessante ainda é que uma rara anomalia entre os humanos resulta em um nervo não-recorrente, sem prejuízos para o indivíduo (Ref.73-74)! Essa anomalia, gerada por causa de erros no desenvolvimento embrionário, faz exatamente o que a lógica demanda: um caminho reto entre o nervo vago e a laringe, como mostrado na figura abaixo (em A, um nervo laríngeo não-recorrente, e, em B, o nervo normal, recorrente), fornecendo também provas de que o nervo não precisava ser recorrente.

Essa anomalia afeta entre 0,3% e 0,8% da população no lado direito e em torno de 0,004% no lado esquerdo. Estudos científicos sempre alertam os cirurgiões sobre essa anomalia anatômica, para evitar erros cirúrgicos. 

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  FALHAS DECORRENTES DO PROCESSO EVOLUCIONÁRIO

           Complementando a questão dos órgãos vestigiais, podemos citar diversas imperfeições ligadas ao processo evolucionário, ou seja, onde prejuízos tragos por mudanças evolutivas em uma parte do corpo trazem, para compensar, um maior benefício em outra parte. Entraria também aqui partes corporais não muito bem adaptadas ao ambiente por "falta de tempo evolutivo". Como o processo evolucionário possui uma base aleatória e direcionada principalmente pela seleção natural ou sexual, as maiores vantagens sempre prevalecem, independentemente se trazem danos associados, já que nada aqui é planejado ou arquitetado. Na natureza existem inúmeros exemplos que podem ser citados para ilustrar isso, mas para deixar mais palpável, listaremos evidências explícitas no corpo humano.

1. Em associação com a emergência da linguagem falada entre os humanos, uma reduzida face prognática e a relativa reduzida cavidade oral foram acompanhadas por uma reorganização da garganta com uma faringe elongada e uma faringe mais baixa. Isso cria uma câmara ressonante na qual a língua pode se mover e articular sons. A baixa posição da laringe, no entanto, não permite que a epiglote se feche atrás do palato mole, algo que faz possível engasgar enquanto comendo ou bebendo. Essa adaptação da garganta humana para a fala é, portanto, uma falha, resultando de uma troca entre a vantagem seletiva de uma complexa linguagem para a comunicação social e a necessidade de engolir. De um ponto de vista evolucionário, a vantagem de uma fala sofisticada supera os riscos de engasgo.

2. O bipedalismo foi a adaptação inicial entre os primatas que pavimentou o nosso longo caminho evolucionário. Essa mudança veio, no mínimo, há 4 milhões de anos, transformando-nos nos únicos mamíferos bípedes hoje existentes. Muitas hipóteses existem para explicar o porquê da evolução do bipedalismo nos hominídeos, indo de adaptação a um ambiente desnivelado até as vantagens energética das corridas. De qualquer forma, muitos dos problemas de saúde que enfrentamos hoje são decorrentes desse resultado evolucionário. Devido ao fato de ficarmos de pé, o peso da cabeça e da parte superior do corpo gera uma grande compressão nas vértebras do pescoço e na coluna espinhal inferior, o que faz requerer mais esforço muscular para manter uma postura bipedal do que quadrupedal. Dor no pescoço e nas costas são problemas médicos altamente comuns entre a nossa espécie, resultando desde um desconforto até uma séria debilidade física. Joelhos, tornozelo e pés são frágeis e experimentam danos com facilidade, já que sustentam todo o peso do corpo, este o qual, em termos de ancestrais vertebrados, era sustentado por quatro membros. Problemas digestivos, hemorroidas, aderências viscerais e hérnia inguinal também ocorrem devido à compressão vertical das vísceras da cavidade abdominal. Prejuízos também se estendem para o sistema circulatório, onde a posição vertical aumenta a pressão hidrostática nos membros inferiores, podendo causar varizes e pés/tornozelos inchados. Já no polo oposto, a região cerebral recebe uma menor pressão sanguínea, o que pode resultar em tontura e desmaio, por exemplo, quando a pessoa se levanta de forma repentina. Nenhum desses problemas existe em outros primatas ou espécies de mamíferos, as quais são quadrúpedes.

3. Com o volume cerebral cada vez crescente, aumentou bastante a necessidade de energia para mantê-lo funcionando bem. O cérebro humano consome 25% da nossa energia em repouso e, portanto, a busca por alimentos altamente energéticos também aumentou bastante durante nosso processo evolucionário. De fato, o Homo sapiens desenvolveu um apetite enorme por alimentos doces e gordurosos, facilitando a satisfação da demanda energética e a manutenção de estoques energéticos para momentos de fome. Porém, essa adaptação evolucionária surgiu em ambiente selvagem, e à medida que a nossa civilização avançou socialmente e estruturalmente em um período de tempo muito curto (impedindo significativos processos evolucionários de ocorrerem para permitir uma nova adaptação), passamos a ficar mais sedentários e a ter acesso abundante à qualquer tipo de comida, incluindo gorduras e doces. Isso levou à nossa atual crise de obesidade mundial e de diabetes, além do aumento de problemas cardíacos e outros problemas decorrentes da obesidade e inadequada alimentação.

4. O processo evolucionário não se preocupa em aumentar a longevidade de uma espécie e, sim, em aumentar sua taxa de reprodução. Como hoje somos auxiliados enormemente pela medicina e tecnologia moderna, nossa expectativa de vida aumentou bastante e, com o avanço da idade, diversas doenças se tornam extremamente comuns, já que nosso corpo não foi selecionado durante a evolução para ficar vivo por 50, 60 ou mais anos, apenas tempo o suficiente para os processos reprodutivos.

5. Como a evolução do bipedalismo da nossa espécie evoluiu bem antes - há cerca de 4 milhões de anos - do que o significativo e rápido aumento do volume cerebral - há cerca de 2,5 milhões de anos -, os partos se tornaram de relativo alto risco para a fêmea humana. Com o bipedalismo, nossa pélvis diminuiu, e como o cérebro do Homo sapiens triplicou de tamanho em relação aos nossos ancestrais hominídeos primordiais, a passagem do bebê pelo canal vaginal se tornou problemática. Isso levou também a outro prejuízo: os bebês humanos passaram a nascer muito pouco desenvolvidos, sendo que o tamanho cerebral dos mesmos é 25% menor do que o adulto, e onde nos bebês de outros primatas a porcentagem é bem maior (em torno de 45% nos chimpanzés, um dos nossos parentes mais próximos), para permitir uma passagem mais fácil pela vagina. Para compensar ainda mais os riscos associados ao parto, nossa espécie desenvolveu um sistema de assistência social durante o ato, onde outros indivíduos ajudam a mulher na hora de dar a luz. Além disso, como o bebê nasce extremamente dependente e demora para ter o seu desenvolvimento mínimo completado, existe outro prejuízo: maior custo para os pais, onde investe-se muito nos cuidados para a cria. Isso também provavelmente direcionou a formação de casais mais duradouros em detrimento da poligamia, para aumentar o investimento parental. No final, temos um amplo balanço de riscos e benefícios apenas explicado pelo processo evolucionário.

6. Com um maior cérebro - muito ativo e com grande demanda metabólica - e alta taxa de plasticidade e complexidade provavelmente derivada, em parte, da alta porcentagem de desenvolvimento cerebral pós-parto (75%), ganhamos inúmeras vantagens, desde na linguagem e aprendizado até no uso de ferramentas, mas também ganhamos uma alta susceptibilidade a desenvolver doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, e doenças neuropsiquiátricas, como autismo e esquizofrenia.

7.  Todos os vertebrados precisam de grandes quantidades diárias de Vitamina C, especialmente nós, humanos (média de 60 mg/dia). Essa importante vitamina é necessária para a síntese de colágeno, é um potente antioxidante, participa do catabolismo da tirosina, entre várias outras funções. Por causa disso, a grande maioria dos vertebrados são capazes de produzi-la através principalmente do fígado e/ou rins, sem a necessidade de consumi-la exclusivamente da alimentação. Porém, muitas espécies, como aquelas pertencentes aos peixes teleósteos, primatas antropoides (humanos incluídos), porcos da guineia, assim como alguns morcegos e pássaros Passeriformes, perderam a capacidade de sintetizar tal vitamina. E isso encaixa-se perfeitamente com o processo de Evolução Biológica. Todas as espécies conhecidas que perderam essa capacidade de síntese são resultado de mutações no gene L-gulono-γ-lactona-oxidase (GLO), o qual codifica a enzima que cataliza o passo final da biossíntese da vitamina C. Ou seja, mutações aleatórias no material genético dessas espécies garantiram várias vantagens adaptativas, mas vieram junto com mutações no GLO. Porém, como essa parte do DNA só é importante para a síntese de uma única vitamina - a C -, se as outras mutações trouxerem vantagens que compensem essa perda, o novo conjunto de mutações será selecionado pelo ambiente. E estudando a filogenia relacionada com as perdas de síntese de vitamina C, os cientistas já mostraram que elas ocorreram em várias partes do curso evolucionário dos vertebrados, sendo inclusive ganhas novamente por algumas espécies de morcego devido a novas mutações que as reativaram o GLO! Aliás, nós humanos, e outros primatas antropoides, possuímos ainda o GLO, mas com perdas de 7 a 12 exons na sua sequência genética que o tornaram inativo, ou seja, um óbvio vestígio evolucionário. Já outras mutações em genes que fazem parte do caminho sintético do qual participa o GLO trariam perdas na síntese de outras moléculas vitais, não apenas a vitamina C, e, por isso, não são selecionadas e vistas nos vertebrados. O GLO pode ser perdido na linha evolucionária, já que isso traz prejuízos que podem ser compensados - especialmente considerando que a vitamina C encontra-se em abundância em vários alimentos. De fato, todas as espécies que perderam a funcionalidade do GLO possuem dietas ricas em vitamina C.


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            É ainda difícil entender como existem tantas pessoas resistentes em aceitar a Evolução Biológica como um fato científico, mesmo com a quantidade esmagadora de evidências científicas - desde paleontológicas até genéticas - dando-lhe sólida base de sustentação e comprovação. Obviamente, a falta de uma boa educação escolar é um dos principais fatores, onde manipuladores religiosos, para reforçar crenças e poder de influência, tentam cegar seus seguidores para a razão científica, aproveitando-se principalmente da deficiente educação básica em várias partes do mundo e da complexidade do tema em vários campos. É um absurdo e um profundo retrocesso. Apesar disso, instituições como a Igreja Católica vêm tentando nas últimas décadas unir a biologia evolucionária com suas crenças, o que pelo menos conta como um passo de avanço e mostra que a fé não precisa criar empecilhos para o necessário enraizamento da ciência na nossa sociedade.          Entre os argumentos usados pelos criacionistas para refutarem ou distorcerem a Evolução Biológica, e a Teoria da Evolução, grande parte deles acabam sendo baseados na pura fé ou vontade de tornar cientificamente realístico o irreal. Muitos argumentos sequer mostram um mínimo de conhecimento de biologia básica. Vamos explorar os principais:

       SE OS HUMANOS DESCENDERAM DOS MACACOS, PORQUE ESSES ÚLTIMOS AINDA ESTÃO AÍ?

           O grande erro aqui é achar que os humanos evoluíram diretamente dos chimpanzés ou de qualquer outro primata moderno. O gênero Homo, que abrange os humanos modernos - incluindo a nossa espécie (Homo sapiens) - e outras espécies ancestrais ou relacionadas, apenas evoluiu de um antecessor primata comum entre nós e os chimpanzés-comuns (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus), com divergência evolutiva a partir desse ancestral comum ocorrendo há cerca de 9,3-6,5 milhões de anos (Ref.176). Outros primatas superiores, como os orangotangos, também evoluíram de outro ancestral comum prévio a esse antecessor. Nosso gênero (Homo) descendeu diretamente do gênero Australopithecus. O fato dos chimpanzés - incluindo os bonobos - possuírem um DNA bem parecido com o nosso (cerca de 98,5% de semelhança entre sequências codificantes) (1) é justamente por estarem em um ramo evolutivo mais próximo do nosso a partir do momento de separação das linhagens evolucionárias (linhagem Pan e linhagem Homo).


         E para complementar a resposta, é válido dizer que um estudo recente foi publicado (Ref.30) mostrando que os bonobos parecem ser os mais relacionados com o ancestral comum mais próximo de nós do que os chimpanzés-comuns. Aliás, eles compartilham em torno de 98,6% das sequências codificantes no DNA com os humanos (1).  Os cientistas acreditam que a linhagem humana separou-se da linhagem dos primatas atuais mais parecidos conosco (chimpanzés-comuns e bonobos) há cerca de 2 milhões de anos. Assim, essas duas espécies de primatas superiores desenvolveram diferentes características em relação à nossa espécie, habitando a mesma região na África e tendo apenas como principal divisão geográfica o Rio Congo. Só que sempre existiu uma importante dúvida: qual deles ficou mais próximo de nós na época da separação?
Bonobo (Pan paniscus)
            Bem, além das pistas genéticas mais recentes já indicarem os bonobos como a provável resposta, a análise da estrutura muscular desses primatas parece certificá-la. Seus músculos e funcionalidades mais lembram a nossa anatomia do que os chimpanzés. Isso mostra que, para montar um modelo do misterioso ancestral comum citado, os bonobos parecem ser a melhor escolha.

          Apesar disso, o estudo também mostrou que certas características nossas são compartilhadas com ambas as espécies, ora de forma exclusiva, ora de forma conjunta, algo reforçado por um trabalho recente publicado no Frontiers (2). Mas, no geral, somos mais próximos anatomicamente (ninguém aqui mencionou capacidade intelectual) com os bonobos.

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(1) As notáveis diferenças fenotípicas entre chimpanzés e bonobos em relação aos humanos são determinadas principalmente pelas substanciais diferenças associadas a inserções e deleções na parte genômica não-codificante (em especial elementos regulatórios) (Ref.151). Ou seja, enquanto as sequências de genes codificantes entre humanos e chimpanzés são quase idênticas entre si devido à ancestralidade comum, existem grandes lacunas genômicas em áreas adjacentes aos genes onde retrotransposons foram inseridos ou deletados de forma distinta. Esses elementos transponíveis compreendem cerca de 50% do genoma de cada uma dessas espécies e influenciam na expressão dos genes. Para mais informações sobre os elementos transponíveis, acesse: Como nova informação genética é gerada durante o processo evolutivo? -----------

         Aliás, as fortes similaridades entre nós e os outros primatas superiores africanos é tão grande que levou Charles Darwin, em 1871, a predizer que a África era o local mais provável de onde a linhagem humana tinha primeiro surgido. E essa previsão se mostrou verdadeira depois de vários estudos genéticos e arqueológicos na área! Algo fantástico já usando os primeiros passos da Teoria da Evolução! Com os achados fósseis encontrados até o momento, a árvore evolutiva humana é disposta como mostrado na figura abaixo, com os represantes mais antigos datando de 6 milhões de anos atrás.

  1. Sahelanthropus tchadensis
  2. Orrorin tugenensis
  3. Ardipithecus kadobba
  4. Ardipithecus ramidus
  5. Australopithecus anamensis
  6. Australopithecus afaerensis
  7. Australopithecus garhi
  8. Australopithecus africanus
  9. Paranthopus aethiopicus
  10. Paranthous robustus
  11. Paranthropus boisei
  12. Homo habilis
  13. Homo rudolfensis
  14. Homo erectus
  15. Homo heidelbergensis
  16. Homo floresiensis
  17. Homo neanderthalensis
  18. Homo sapiens
*Recentemente foram descritas mais duas espécies de Australopithecus: A. sediba
A. prometheus (a)  

**Os Denisovanos (parentes evolutivos do gênero Homo muito próximos dos humanos modernos e dos Neandertais) (b) também não estão apontados no esquema, assim como o Homo luzonensis (c).

Sugestões complementares de leitura sobre a evolução humana:

       SE A EVOLUÇÃO É REAL, POR QUE AINDA TEMOS BACTÉRIAS E OUTROS ORGANISMOS MUITO SIMPLES ATÉ HOJE? ERAM PARA TER EVOLUÍDO TAMBÉM, NÃO?            Esse tipo de questionamento crítico é frequentemente feito, mas demonstra uma completa falta de compreensão de como ocorre o processo básico de evolução biológica. Como já dito, as mutações e mudanças genéticas responsáveis pelo processo evolucionário são aleatórias e só são selecionadas pelo ambiente e conservadas ao longo de várias gerações caso resultem em vantagens adaptativas. Não existe um objetivo na evolução de se chegar a um ser mais complexo, apenas mudanças geradas por mecanismos evolutivos diversos que podem ou não ser selecionadas. Caso ocorra mutações e outros processos evolutivos levando ao acúmulo de fenótipos que levem um organismo vivo a ficar mais complexo, e bem adaptado ao meio, essa nova forma persistirá. Caso variações genéticas e extra-genéticas mantenham o organismo com uma forma simples, mas adaptado ao meio, essa nova forma também persistirá. Portanto, seres simples e seres complexos podem perfeitamente - e o fazem - conviver juntos na natureza, apenas sendo necessário que estejam bem adaptados ao meio em que estão. O que não ocorre é o surgimento de um ser vivo com uma maior complexidade/organização celular antes de um mais simples.
          Aliás, um dos mecanismos de evolução biológica opera inclusive via acaso, a partir da deriva genética (O que é a deriva genética?).

       NINGUÉM VIU NENHUMA EVOLUÇÃO OCORRENDO

            É, no mínimo, estranho pensar que um povo de fé use esse argumento para derrubar outro argumento (Risos). Bem, aqui os criacionistas dizem que nunca ninguém viu um ser vivo evoluindo ou que nós não estamos evoluindo. Primeiro de tudo é preciso relembrar mais uma vez que a evolução ocorre por variações genômicas e extra-genômicas aleatórias que geralmente e eventualmente deixam o organismo vivo mais apto a sobreviver em um determinado ambiente. A natureza essencialmente seleciona resultados de probabilidade genética. O processo evolucionário não é algo automático, programado e "consciente". Ele é fruto da pressão ambiental sobre os seres vivos e depende da volubilidade genética e extra-genética.

           De qualquer forma, enquanto que processos de macro-evolução (especiações) são geralmente bem lentos para serem testemunhados em escalas de tempo tão reduzidas (dias, meses, décadas ou séculos), inúmeros exemplos de eventos micro-evolucionários - englobados dentro dos processos macro-evolutivos - podem ser acompanhados frequentemente em tempo real. E três deles, e mais do que preocupantes, são a resistência bacteriana, a resistência de insetos a inseticidas e as mutações virais. Todos esses exemplos representam graves ameaças à saúde pública e são frutos diretos da Evolução Biológica. Bactérias acabam se tornando resistentes aos antibióticos, onde estes últimos selecionam as mais resistentes aos seus efeitos (O que são as superbactérias e a resistência bacteriana?). Vírus, como o da gripe (Influenza), estão sempre sofrendo mutações, levando continuamente a variações genéticas resistentes às vacinas criadas ou ao sistema imune.

          E, no caso de seres mais complexos, como os insetos, muitos deles acabam se tornando mais resistentes aos inseticidas usados nas lavouras, sendo este estresse ambiental responsável por selecionar indivíduos com uma genética que favoreça a sobrevivência em meio ao ambiente mais tóxico. Humanos também estão induzindo preocupantes processos evolutivos nas plantas, onde cada vez mais espécies de ervas-daninhas  na agricultura estão ficando resistentes aos herbicidas utilizados para controlá-las (i). Conhecidas, existem 253 espécies resistentes de ervas-daninhas. Em um estudo publicado no final de 2019 no periódico Nature Sustainability (Ref.164), pesquisadores calcularam que a resistência aos herbicidas na espécie Grama-Negra (Alopecurus myosuroides) já está causando um prejuízo acumulado anual de £400 milhões à economia Britânica e uma perda estimada em 800 mil toneladas de trigo todos os anos, com potenciais implicações para a segurança alimentar do Reino Unido. Se o uso excessivo de de herbicidas continuar e grandes quantidades de resistência atingir todos os campos do bloco econômico, os pesquisadores estimaram que a perda anual poderia ultrapassar £1 bilhão (econômica) e 3,4 milhões de toneladas (trigo). Agora imagine as perdas globais. A evolução não só é observável como também é pesadamente sentida no bolso.

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(i) Para mais detalhes sobre esses processos evolutivos, acesse: Essa erva-daninha está evoluindo rápido e se tornando indestrutível              Além desses exemplos mais óbvios, podemos citar vários outros sendo constantemente reportados nos periódicos, incluindo especiações.

1. Cigarras mudas: Em um estudo que começou em 2003, e foi publicado na Nature (Ref.31), cientistas evolucionários ficaram admirados com o que viram na ilhas de Kauai e Oahu, no Havaí.

          Dois tipos de cigarras foram identificados nessas ilhas. Uma que 'cantava' com as asas para atrair as fêmeas, e outra que não emitia som algum. Os pesquisadores pensavam que as duas eram espécies distintas que foram colocadas em contato por migração ou deslocamento facilitado. A cigarra silenciosa se dá melhor nas ilhas, porque a fêmea de uma mosca parasitoide (Ormia ochracea) que coloca seus ovos no corpo destes insetos (onde seus filhotes devoram a cigarra quando eclodem dos ovos) é guiada pelo som característico deles, ou seja, o tipo mudo não é atacado, e leva vantagem, mesmo sendo prejudicado na hora do acasalamento. E por causa disso, as cigarras mudas estão progressivamente tomando conta da região.

          Até aí, tudo bem. Mas qual foi a surpresa dos pesquisadores quando eles descobriram que as duas "espécies" eram, na verdade, a mesma (Teleogryllus oceanicus)! Desde 2003, os cientistas estão presenciando um processo evolucionário, via seleção natural, de seres complexos e macroscópicos, em tempo real. A mutação relativa ao processo afeta principalmente as asas das cigarras afortunadas, interferindo no mecanismo de geração sonora.

            E mais: um estudo publicado em 2018 no periódico Biology Letters (Ref.142) mostrou que ambos os machos (mudos e não-mudos) continuam com o mesmo comportamento de produção de som (movimentação rítmica das asas), claramente indicando um vestígio evolucionário nos machos mudos. Não faz mais sentido as cigarras mudas continuarem com um comportamento que gasta tanta energia - apenas 0,05% da energia metabólica direcionada para o canto é transformada em energia acústica - em qualquer outro cenário que não seja um processo evolutivo. Eventualmente, esse padrão motor de movimento das asas irá ganhar uma nova funcionalidade ou será perdido.

2. Mariposas sem vício por lâmpadas: Um estudo recente, feito pelo pesquisador de Biologia Evolutiva Florian Altermatt, em parceria com o pesquisador Dieter Ebert, na Universidade de Basel (Ref.32), mostrou claras evidências de um processo evolucionário afetando mariposas urbanas.

          Todas as noites, inúmeros desses insetos morrem de forme e desgaste por serem atraídos e ficarem interagindo com as luzes artificiais das cidades (lâmpadas, neons, etc.). Para ver se existiam mariposas resistentes a esse comportamento na cidade, ambos os cientistas pegaram 728 larvas de mariposas urbanas e 320 larvas de mariposas rurais, cuidaram delas até se transformarem em mariposas adultas e, então, liberaram elas em um quarto escuro com a presença de uma lâmpada fluorescente. Das mariposas rurais, quase todas voaram para a lâmpada, mas apenas cerca de dois terços das mariposas urbanas voaram até a luz artificial, sendo que o resto permaneceu bem afastada dela.            Ainda é um estudo preliminar, mas é certo que muitas mariposas resistentes à luz foram selecionadas pelo ambiente urbano, dando origem a novas variações de espécie. Pode ser que, futuramente, com cada vez mais iluminação urbana, não testemunhemos mais mariposas, e outros insetos noturnos, batendo a cara em lâmpadas. Porém, essa mudança evolucionária pode eventualmente trazer prejuízos a nível populacional para esses insetos e para várias espécies de plantas. Evitando as áreas muito iluminadas, essas mariposas acabam visitando menos flores noturnas (prejudicando a reprodução dessas) e sofrem em termos de taxa de acasalamento, devido à reduzida probabilidade de encontro entre machos e fêmeas. E esse cenário é agravado com a expansão urbana cada vez crescente.  

3. Nova espécie em Galápagos. Esse é um exemplo mais do que notável por envolver uma macro-evolução. Nesse caso, pesquisadores acompanharam o processo evolutivo que levou ao surgimento de uma nova espécie de ave em Galápagos via especiação por hibridização. Para saber mais, acesse: Nova espécie de ave surge em Galápagos, e os cientistas acompanharam o processo evolutivo

4. Peixe 'Virgem Maria'. Em fevereiro de 2019, em um estudo publicado na Scientific Reports (Ref.160), pesquisadores descreveram um peixe ovíparo da espécie Gasterosteus aculeatus, que acabou tendo seus óvulos fecundados internamente e dando luz (auxiliada por pesquisadores) a embriões saudáveis. Mecanismos como hermafrodismo e partenogênese foram descartados. A fêmea, de fato, foi fertilizada pelo esperma de um macho (talvez ao interagir com uma ninhada de óvulos de outra fêmea já cobertos por esperma). Segundo os pesquisadores esse pode ter sido um raro flagra do passo inicial para uma grande transição evolucionária (desenvolvimento externo do embrião para desenvolvimento interno, como ovovivíparos e placentários), via, por exemplo, uma mutação favorável.





Leituras complementares trazendo mais exemplos de evoluções observáveis:
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            Somando-se a esses exemplos, diversos estudos recentes também mostram claras evidências de processos evolutivos ocorrendo em várias populações de seres vivos devido às mudanças climáticas, estas as quais são um dos maiores estresses ambientais atualmente (Ref.33). E, claro, sob condições laboratoriais, diversos experimentos já conseguiram induzir marcantes processos evolutivos em seres com curto período de vida e alta taxa de reprodução, como a mosca-da-fruta (mudanças nas frequências de alelos) (Ref.34). Para finalizar, podemos inclusive citar a "evolução biológica artificial", onde a nossa espécie seleciona artificialmente, através de cruzamentos ou engenharia genética, variações de plantas e animais de acordo com interesses econômicos específicos. Aqui podemos citar, por exemplo, a domesticação de vários animais (a) e plantas. Os cães, por exemplo, e suas diversas raças associadas, emergiram via intervenção humana a partir dos lobos. Cães não existiam antes dos humanos. Aliás, de tão próximo-relacionados, é bastante comum o cruzamento e geração de híbridos entre lobos e cães em várias partes do mundo.            


   
(a) Leituras recomendadas:
               
       A TERRA NÃO POSSUI TANTO TEMPO DE EXISTÊNCIA PARA PERMITIR A EVOLUÇÃO

            Esse é outro argumento também bastante usado. Muitos criacionistas contestam a ideia de que a Terra possui seus 4,6 bilhões de anos e se recusam a acreditar nas dadas obtidas nos estudos da paleontologia. Isso mostra apenas desconhecimento científico das técnicas de datação geológica, incluindo as análises de camadas de rochas e, principalmente, a medição do decaimento radioativo de elementos como o urânio. Sobre a datação radioativa, peça chave para determinarmos as idades geológicas, fiz um artigo separado: Como calcular a idade da Terra?

         MUITAS ESTRUTURAS VIVAS SÃO COMPLEXAS DEMAIS PARA TEREM SURGIDO SEM A PRESENÇA DE UM SER SUPERIOR

           Isso é típico da sociedade humana como um todo. Tudo o que é complexo demais e sem aparente explicação precisa ter tido uma origem sobrenatural ou ser fruto dos projetos de um Deus Todo Poderoso. A única coisa que essa tendência demonstra é a preguiça em aprender os mecanismos e passos por trás de algo, supostamente, complexo demais para ser explicado pelas vias naturais e científicas. Mostra também que tendemos a subestimar demais o que milhões ou bilhões de anos significam.           Para deixar a evolução biológica mais palpável nesse aspecto, é só olharmos para a nossa tecnologia. E não precisamos ir muito longe. Se pegarmos um indivíduo da idade média, há apenas algumas centenas de anos, e conseguíssemos jogá-lo aqui, na nossa atual realidade, ele não acreditaria que o homem foi capaz de fazer tudo o que temos hoje sem magia. Imagina apresentar a ele um Smartphone ou uma televisão. Magia, claro, e das bravas! Mas nada aconteceu do dia para noite. Foi necessário um pequeno passo de cada vez e acumulação de conhecimento por todo o globo. Até para nós é difícil conceber a existência de um 'Iphone' ou de um avançado notebook, mas sabemos que esses aparelhos são fruto da própria inventividade humana. Agora, se algo assim foi feito em algumas centenas de anos, imagine o que pode ocorrer na natureza em bilhões de anos!

         O olho pode parecer algo fantástico demais para ser fruto da evolução biológica, mas se refazemos todo o caminho evolucionário, analisando cada estrutura que compõe esse órgão e tentando entender os passos necessários para criá-lo via mutações aleatórias e outros mecanismos evolucionários guiados pela seleção natural e adaptações homólogas associadas, veremos que ele é mais do que plausível sob os 'olhos' da ciência. Além disso, nosso corpo, por mais complexo que seja, ainda é um enorme conjunto de células eucarióticas de mesma natureza daquelas formando organismos unicelulares eucarióticos, como os protozoários, ou seja, não existe nada de especial a nível celular em comparação com outros seres vivos mais simples. E mesmo complexos mecanismos e estruturas celulares possuem um espelho mais simples em células menos complexas (eucariotas e procariotas, por exemplo). Aliás, quando alguém duvida que temos um ancestral comum com um ser unicelular, esse mesmo indivíduo esquece que os humanos, assim como todos os outros seres vivos no planeta, crescem a partir de uma única célula (no nosso caso, a partir de um zigoto - união entre óvulo e espermatozoide) (1).

        Gostamos sempre de simplificar as coisas, porque é mais fácil aceitar o mundo dessa forma. E esse é um dos grandes problemas da nossa sociedade: não queremos buscar entender, apenas assumir situações mais cômodas. E o que eu disse acima não é apenas voltado para a briga entre Anti-Evolucionistas e Teoria da Evolução. Isso engloba desde o preconceito até as realizações pessoais. As ações constroem o mundo, não apenas conveniências. Muitas vezes as pessoas que desacreditam a Evolução Biológica nem mesmo possuem um conhecimento mínimo de bioquímica, genética e paleontologia, e acabam apenas repetindo falácias disseminadas por grupos que querem manter sua influência.           Aliás, já que citamos o olho e o argumento falho dos anti-evolucionistas de que a estrutura ocular nos vertebrados é muito complexa para ter surgido a partir da evolução biológica, é válido lembrar que os olhos dos vertebrados, incluindo o nosso, é muito mal "arquitetado" se os compararmos com os olhos do cefalópodes (classe de moluscos marinhos que englobam os polvos, lulas, náutilos e os chocos), estes os quais surgiram por evolução convergente nesses moluscos (quando estruturas/formatos/comportamentos semelhantes surgem em organismos não relacionados ou distantes na árvore evolutiva em resposta a problemas similares no ambiente).

             Nos vertebrados, fibras nervosas e vasos sanguíneos passam em frente da retina, lançando sombras nessa última e criando um ponto cego (indicado pela seta preta abaixo). Já no olho dos cefalópodes não existe um ponto cego ou perda de eficiência visual pelas sombras, porque os nervos ficam por trás da retina, ou seja, a luz atinge primeiro os receptores visuais ao invés de passar através de uma camada de nervos. Ora, parece que o nosso "Criador" falhou com a gente e deu uma melhor arquitetura geral para uma classe de moluscos. A explicação para essa grosseira falha é dada pela evolução, onde limitações impostas pelo processo evolutivo ou balanço entre custo e benefício durante o desenvolvimento ocular nos vertebrados resultou nessa menor qualidade estrutural.

            Diversos invertebrados terrestres (insetos, aracnídeos, etc.) possuem estruturas de visão - muitas vezes bem complexas - que são bastante diferentes dos olhos dos vertebrados, mas que não deixam de serem olhos. Olhos, em diferentes níveis de complexidade, surgiram várias vezes durante o processo evolucionário, seja de forma convergente ou não, e acabam sendo bons retratos de como ocorreram os passos evolutivos para o desenvolvimento de órgãos visuais tão complexos como o dos mamíferos e dos cefalópodes. Por fim, precisamos lembrar que muitas estruturas fotossensíveis podem ser consideradas um passo inicial para estruturas oculares, e que estão presentes inclusive entre plantas e algas. Os girassóis, por exemplo, quando na fase de broto (Leitura recomendada: O segredo na movimentação dos girassóis), conseguem se movimentar guiados pela luz solar.

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> Aliás, existem dois grupos de animais que conseguem 'ver' sem possuírem estruturas oculares. Ouriços-do-mar (classe Echinoidea) e estrelas-frágeis (classe Ophiuroidea) carregam milhares de células fotorreceptoras espalhadas ao longo do corpo: dentro dos poros esqueléticos, espinhas, nervos radiais e tubos dos pés. Essas estruturas facilitam foto-comportamentos e possibilitam visão extraocular: a habilidade de resolver cenas sem olhos discretos. Para mais informações, acesse: Estudo confirma que esse estranho parente das estrelas-do-mar pode ver sem olhos

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          Aliás, a evolução convergente é outra óbvia evidência de evolução biológica, em específico uma prova do mecanismo de seleção natural. Como os seres vivos compartilham diversas sequências genéticas devido à ancestralidade comum, pressões ambientais semelhantes acabam levando o organismo a reagir de forma semelhante, mesmo que as espécies com estruturas morfológicas similares tenham se separado e divergido no percurso evolutivo há centenas de milhões de anos. Isso pode levar inclusive a uma evolução paralela, quando populações derivadas de uma mesma população ancestral evoluem traços fenotípicos e/ou genéticos adaptativos extremamente similares.

          Um exemplo notável desse fenômeno de convergência evolutiva ocorre com o tunicado-das-estrelas-douradas (Botryllus schlosseri), um invertebrado marinho cordado pertencente ao grupo ainda vivo mais próximo relacionado dos vertebrados (peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos). Mesmo parecendo uma flor, tendo divergido dos vertebrados há cerca de 500 milhões de anos, e não possuindo a mínima semelhança conosco, esses animais possuem um sistema imune incrivelmente semelhante ao nosso, sendo que os cientistas já estão o usando como modelos clínicos para o estudo de cânceres e transplante de órgãos em humanos. Formando colônias em substratos duros, quando uma outra colônia desses invertebrados vem para ocupar o mesmo substrato mas são geneticamente incompatíveis (uma invasão), as células das duas colônias entram em guerra, assim como o sistema imune vertebrado reage quando um corpo estranho invade. Indivíduos que possuem mesma compatibilidade genética se auto-reconhecem e as reações citotóxicas alo-específicas são inibidas.

           Essa fascinante relação foi revelada por um estudo publicado em 2018 na Nature (Ref.136), o qual isolou 34 tipos de células da B. schlosseri e mostrou que algumas delas ativavam os mesmos genes que estão ativos nas nossas células-tronco hematopoiéticas (células que se diferenciam nos vários tipos de células sanguíneas, como os leucócitos). E como as células-tronco hematopoiéticas dos vertebrados, as versões desses invertebrados podem se dividir e se especializar em diferentes tipos celulares. Além disso, os pesquisadores descobriram três tipos de células que são quase idênticas em função em relação aos macrófagos - células de defesa essenciais aos vertebrados -, compartilhando um padrão de atividade genética similar, e células especializadas em matar outras células, similares às nossas células natural killers.

          Não existe outra possibilidade plausível, científica, para um sistema imune tão similar ao nosso em invertebrados - e estes coincidindo em pertencer ao grupo mais próximo relacionados com os vertebrados - a não ser ancestralidade comum.

          Ainda mais recente, um estudo publicado no periódico Zoological Journal of the Linnean Society (Ref.155) trouxe evidências irrefutáveis de que um gênero da família de aves Rallidae colonizou o Atol de Aldabra, Seychelles, no Oceano Índico, em duas ocasiões independentes e evoluiu uma não-capacidade de voo durante sua adaptação na região nessas duas ocasiões (uma mesma espécie emergiu duas vezes). Os pesquisadores identificaram primeiro fósseis da espécie extinta Dryolimnas cuvieri nesse atol datados do Pleistoceno Médio até o Pleistoceno Superior. Há cerca de 340 mil anos, a plataforma do atol sofreu ao menos um evento de total inundação (e possivelmente dois outros em 240 mil e 200 mil anos atrás). Isso marcou a extinção da ave, a qual tinha descendido de uma espécie voadora proveniente provavelmente de Madagascar. Então, os pesquisadores encontraram fósseis da mesma espécie de ave não-voadora (D. c. abbotti) na mesma região datados em torno de 100 mil anos atrás, e que foi extinta entre 1907 e 1937. Após análises morfológicas, o D. c. abbotti mostrou também ter evoluído não-capacidade de voo de forma independente a partir do mesmo ancestral voador (espécie) proveniente de Madagascar.


          Somando com as outras espécies ainda existentes do gênero Dryolimnas (D. c. cuvieri e D. c. aldabranus) definitivamente não-voadoras, isso prova que uma mesma espécie de ave emergiu em duas ocasiões geológicas diferentes na mesma região. As condições no atol, especialmente a ausência de predadores terrestres e mamíferos competidores (pressões ambientais similares), permitiu a evolução independente em pelo menos duas ocasiões da não-capacidade de voo característica do gênero Dryolimnas, e, literalmente, fez uma espécie renascer via evolução paralela.

        OK, MICROEVOLUÇÃO EXISTE, MAS MACROEVOLUÇÃO É IMPOSSÍVEL.

            Esse é mais um argumento extremamente falho e sem muito sentido. Microevolução e Macroevolução apenas especificam processos evolutivos que ocorrem em diferentes escalas de tempo e graus de mudança.

            Microevolução é um termo frequentemente aplicado para o processo onde uma espécie (ou uma população) sofre mudanças significativas com o tempo e suficientes para que ocorram variações como 'sub-espécie', 'raça' ou 'variedade' da espécie original. Processos onde existe uma mudança na frequência de alelos dentro de uma população de uma geração para a próxima são tipicamente encaixados na microevolução. Já a Macroevolução se refere, geralmente, à formação de grupos principais de organismos de outros grupos que são bastante diferentes entre si, como, por exemplo, a evolução de mamíferos de tetrápodes ancestrais não-mamíferos e a evolução das baleias a partir dos mamíferos terrestres.

              Mas o mecanismo por trás de ambos é o mesmo, englobando mutações, migrações, deriva genética e seleção natural. Em muitos casos, podemos entender a macroevolução como microevoluções se acumulando ao longo de milhões de anos, resultando em uma crescente diversidade de seres vivos. O processo evolutivo em ambos é, virtualmente, o mesmo, mudando apenas o intervalo de tempo considerado e o grau evolutivo.             Entre eles, podem existir diferenças teóricas de como as mudanças podem ter ocorrido em certos períodos. Pode ser que a evolução biológica na macroevolução ocorra sempre de maneira gradual (microevoluções sucessivas) mas pode ser que certas mudanças significativas nesse processo macro possam ocorrer de forma mais rápida - entre 5 e 50 mil anos, por exemplo - devido à fatores diversos, como raras catástrofes ambientais (intensas atividades vulcânicas, impacto de grandes asteroides, bruscas mudanças climáticas, extinções em massa, etc.) e os contínuos ciclos glaciais-interglaciais, para explicar certos processos evolutivos mais bruscos ('Equilíbrio Pontuado'). Em diferentes níveis de escala temporal, obviamente poderão existir certas diferenças na intensidade dos mecanismos evolucionários, mas eles não deixam de ser processos evolutivos.             Como a "microevolução" ocorre em períodos mais curtos de tempo, é extremamente fácil a presenciarmos no nosso cotidiano, sendo que já foram citados alguns exemplos neste artigo. Bem, e com as evidências se tornando bastante óbvias e abundantes - aliás, estamos atualmente até vivendo uma crise de saúde pública devido à resistência bacteriana, um clássico exemplo de microevolução -, pessoas e grupos de oposição à Evolução Biológica - em grande parte por motivos religiosos - começaram a disseminar a ideia que a microevolução é completamente diferente da macroevolução, onde a primeira de fato existe mas a segunda, supostamente, não pode ser explicada.

            ENCONTRAM REGISTROS DE PEGADAS FÓSSEIS DE TETRÁPODES MAIS ANTIGOS DO QUE O TIKAALIK DESCOBERTO, ALGO QUE DESCREDITA A EVOLUÇÃO

          Os registros de pegadas fósseis de tetrápodes (como já citado, animais com quatro membros) mais antigos que se tem conhecimento datam do Devoniano Médio, há cerca de 397 milhões de anos e os registros de restos fósseis dessa superclasse de animais data do Devoniano Superior, entre 375 e 385 milhões de anos atrás. Consensualmente, no meio científico, é considerado que os tetrápodes colonizaram o ambiente terrestre durante o Carbonífero, possivelmente há 359 milhões de anos. E, quanto ao processo de evolução, ou seja, de animais aquáticos passando a ser animais terrestres, estudos mais recentes (Ref.46) indicam que esse ocorreu entre 397 e 416 milhões de anos.

          Analisando o tamanho dos seres invertebrados marinhos e outras características do período, acredita-se que os níveis de oxigênio estavam bem altos no início do Devoniano. Ainda sendo debatido de qual ambiente aquático os primeiros tetrápodes surgiram, evidências apontam para regiões marinhas de águas rasas, onde andar - tanto na água quanto no solo marinho - trazia vantagens energéticas e inexistência de grandes quantidades de predadores. Outra possibilidade são as regiões litorâneas entre marés, onde o nível da água está constantemente mudando e deixando animais vulneráveis (encalhados) ao ataque dos primeiros pseudo-tetrápodes e tetrápodes  Com a alta disponibilidade de oxigênio na atmosfera e no ambiente marinho, os primeiros tetrápodes certamente não eram pressionados pelo ambiente a respirar diretamente o ar atmosférico, sendo que estruturas de respiração aérea sofisticadas devem ter começado a surgir no final do Devoniano, quando observa-se que os níveis de oxigênio tiveram uma grande redução.

           Bem, e entrando no ponto visado da discussão, as evidências fósseis apontam que um grupo de peixes conhecido como Sarcopterygii foram os responsáveis por darem origem aos primeiros tetrápodes. Em 2004 paleontólogos descobriram os fósseis mais antigos de uma espécie de Tiktaalik, pertencente ao tetrapodomorfa, estes os quais são englobados pelos Sarcopterygii. Essa espécie, assim como outros Tiktaalik, era metade peixe metade tetrápode, sugerindo um dos POSSÍVEIS elos evolutivos entre os peixes e os tetrápodes terrestres. Mas pegadas fósseis encontradas em 2010, no sudeste da Polônia (Ref.48), quase 18 milhões de anos mais antigas do que o achado de 2004, apontaram que provavelmente os Tiktaalik não eram a transição direta para as formas tetrápodes terrestres. Isso foi suficiente para fomentar diversos criacionistas a disseminarem diversas desinformações, sendo a principal delas de que a Evolução Biológica tinha sido corrompida, já que uma espécie em transição (Tiktaalik) tinha surgido depois de uma forma tetrápode completa e deixando também inexplicável a origem dos tetrápodes.

Pegadas encontradas (segunda imagem) em rochas do sudeste da Polônia  da criatura pré-histórica (impressão artística de como ela seria na primeira imagem), esta qual possuía um comprimento em torno de 2,4 metros

            Em 2014, pegadas fósseis ainda mais antigas foram descobertas em Zachelmie, também na Polônia, datadas em torno de 390 milhões de anos atrás (Ref.49). Em 2016, mais pegadas fósseis de tetrápodes foram encontradas na Ilha de Valentia, na Irlanda, sendo menos antigas do que a de 2014 e mais antigas do que a de 2010. Mas o que realmente isso quer dizer? Ora, que os Tiktaalik eram apenas um dos possíveis elos diretos de transição. Outros representantes mais antigos dos Sarcopterygii podem ter dado origem aos tetrápodes. E temos três explicações óbvias para a existência ainda dos Tiktaalik em meio aos tetrápodes completos:

1. Ambos, Tiktaalik e os tetrápodes, possuem um ancestral comum, assim como ocorre entre nós e os outros primatas superiores. Enquanto uma linhagem continuou evoluindo até dar origem aos tetrápodes, os tiktaalik permaneceram como uma relíquia viva, se adaptando bem ao ambiente e não sendo pressionados por esse último a evoluir. Lembre-se novamente: a evolução biológica não é algo programado, sendo apenas resultado da seleção natural. Muita gente confunde "Pokémon" com evolução biológica, e isso é lamentável.

2. O Tiktaalik podem representar um caso de evolução paralela, evoluindo de um ancestral comum com os tetrápodes, mas chegando até certo estágio (em algo parecido com a hipótese anterior).

3. Os tetrápodes podem ter evoluído mais de uma vez a partir de diferentes ancestrais, ou seja, mais de uma linhagem derivada dos Sarcopterygii pode ter dado origem a diferentes formas independentes de tetrápodes, sendo os Tiktaalik uma posterior.

            E não é nada estranho vermos um tipo de animal vivendo lado a lado com seus sucessores evolucionários. Várias espécies de dinossauros terópodes com penas, por exemplo, continuaram existindo lado a lado com as aves por milhões de anos. E isso é mais do que natural, já que estamos fazendo referência a um processo de transição evolutiva. O que não pode ocorrer são aves surgindo antes dos dinossauros. Isso sim viola a Evolução Biológica.

          Outro exemplo é o famoso grupo ainda vivo dos Dipnoicos, o qual engloba várias espécies de peixes que possuem tanto pulmões primitivos - mas complexos - quanto guelras, e que vivem em pântanos e lagos de água-doce da Austrália, África e América do Sul. Em épocas de secas, eles recorrem à respiração pulmonar para retirarem oxigênio direto da atmosfera e compensarem a escassez de água ao seu redor (ficam geralmente enterrados na lama, esperando novas chuvas encherem os lados). A maioria das espécies desses assim chamados "peixes-pulmonares" possuem dois pulmões e também fazem parte dos Sarcopterygii. Estudos genéticos recentes mostram fortes evidências de que eles são os parentes vivos mais próximo dos tetrápodes, ou seja, possuindo um ancestral em comum bem próximo. Em outras palavras, nós, tetrápodes, estamos convivendo com uma forma menos complexa associada diretamente com os nossos ancestrais, mas que se adaptou bem ao ambiente sem precisar seguir caminhos evolucionários levando a uma forma tetrápode.

-> Para quem estiver interessado, um curto vídeo da BBC capturando cenas de um peixe-pulmonar: The Lungfish.

Peixe-Pulmonar (Dipnoi)


   O FLAGELO BACTERIANO É IMPOSSÍVEL VIA EVOLUÇÃO BIOLÓGICA           Esse argumento mais do que recorrente entra na mesma categoria do já discutido olho humano, ou seja, a incapacidade das pessoas em aceitar que estruturas complexas possam ser fruto de mecanismos evolucionários. Além disso, supostamente, partes complexas cujos componentes não se mostram úteis isoladamente, não poderiam ter surgido sem a existência de um Design Inteligente para uni-las, a famosa 'complexidade irredutível'. Porém, quando analisamos os olhos dos vertebrados e fazemos uma observação da natureza, encontramos diversas estruturas mais simples que servem com propósitos de visão ou similares (fotossensíveis), em vários estágios de complexidade. O mesmo pode ser aplicado ao flagelo, especialmente quando analisamos os genes responsáveis por essa estrutura.

         O flagelo bacteriano compreende organelas complexas e bem volúveis que fornecem mobilidade de nado e até mesmo movimentação em meio sólido para muitas bactérias, e que também possuem um importante papel na adesão, formação de biofilme e invasão de hospedeiros. Seu motor ancorado na parede celular usa energia eletroquímica para rotacionar microfilamentos que propelem a bactéria para longe de toxinas e para perto de nutrientes. Enquanto algumas espécies de bactérias possuem apenas um flagelo, outras podem ter vários ao longo do corpo celular. Nas últimas décadas, um extenso conhecimento se acumulou sobre a estrutura, genética, formação e regulação dos flagelos em várias linhagens bem diversificadas de bactérias. A Escherichia coli e a Salmonella enterica são duas das espécies melhores estudadas em relação ao flagelo, onde acima de 50 genes estão envolvidos com a formação proteica dessa estrutura.




           Como acontece com diversos outros tópicos científicos envolvendo a evolução biológica, anti-evolucionistas continuam presos em argumentos do passado e fecham os olhos para os grandes avanços alcançados nas últimas décadas, especialmente na genética. Durante esse período, já conseguimos sequenciar os genes completos de diversos procariontes, incluindo aqueles específicos associados aos flagelos. Analisando essas informações genéticas, já em 2007 (Ref.97) temos um importante e impactante estudo onde pesquisadores mostraram que as estruturas comuns dos flagelos se originaram muito cedo na história evolutiva do planeta, antes da diversificação de filos contemporâneos das bactérias, e evoluíram de forma gradual através de uma série de eventos de duplicações, perdas e transferência de genes.

           Analisando a estrutura proteica básica dos flagelos, eles conseguiram isolar 24 genes ancestrais e com homólogos compartilhados por todas as bactérias, e os quais conseguem suportar um flagelo funcional. Quando cada um desses genes são comparados na E. coli, fica bastante evidente a semelhança entre eles. As proteínas na parte externa da membrana citoplasmática do flagelo (bastonete, anzol, filamento...), por exemplo, são parálogas e, segundo demonstrado no estudo, derivadas umas da outras através de duplicações genéticas. Em outras palavras, isso indica que o conjunto básico de genes do flagelo se originou de um único ou de alguns poucos genes. Nessa linha, analisando a similaridade dos genes associados, foi até possível detalhar, sugestivamente e logicamente, a ordem de surgimento evolutivo das proteínas. As proteínas do bastonete proximal precedem (tanto evolucionalmente quanto fisicamente) as proteínas do anzol, estas as quais precedem a junção anzol-filamente e as proteínas do filamento, por exemplo.

           Além disso, as características estruturais do flagelo, junto com fortes evidências de homologia entre os genes Flil e subunidades da ATP sintase e entre os genes MotA/B e aqueles associados às proteínas de secreção TolQ-ToIR - quando se compara os genes flagelares e os não-flagelares no genoma com mais de 4 mil genes da E. coli -, sugerem que essa estrutura bacteriana se originou como um primitivo sistema de excreção, primeiro envolvendo ATPase e, então, adicionando o bastonete, anzol e componentes do filamento via duplicação e diversificação genética.

          Portanto, assim como outras estruturas biológicas complexas, o flagelo claramente teve um início simples, sendo grandes as chances de ter surgido de um único gene no início da evolução das primeiras bactérias. Estudos posteriores também encontraram outras homologias genéticas e bases de evolução do flagelo (Ref.102-104) - especialmente em relação ao compartilhamento de várias proteínas do flagelo com o sistema de excreção bacteriano tipo III -, descartando a ideia de complexidade irredutível. Aliás, esse último argumento usado pelos anti-evolucionistas chega até a ser risível e ingênuo. Obviamente, se você pegar uma estrutura biológica complexa na natureza hoje e "desmontá-la", as partes finais não terão, de fato, propósito, porque, OBVIAMENTE, foram modificadas durante a evolução biológica a partir de partes/estruturas primitivas que antes tinham possíveis funções. Durante essas modificações, tais partes ganham cada vez mais especialização na nova estrutura. Isso sem contar que partes não-funcionais e sem benefícios podem ser mantidas durante o curso evolucionário caso não tragam efeitos negativos e estejam paralelamente acompanhadas de mudanças positivas. Até mesmo mudanças levemente negativas podem ser passadas para frente durante a evolução caso estejam acompanhadas de mudanças positivas.

         É válido também lembrar que nem o estudo de 2007 nem os outros estudos subsequentes são conclusivos, sendo impossível apontar passo por passo a evolução do flagelo que ocorreu há bilhões de anos e entre organismos que não deixaram fósseis bem definidos. Existem, ainda, debates quanto ao papel (grande importância ou pequena importância) de outros mecanismos genéticos além das duplicações, como a transferência lateral de genes, na formação dessa estrutura (Ref.99). Contudo, apenas o fato de ser possível mostrar que o flagelo facilmente pode ser originado de componentes simples e via evolucionária já derruba o argumento falacioso dos anti-evolucionistas.

         COMO AS MUTAÇÕES PODEM SER BASE DA EVOLUÇÃO SE ELAS SÃO MALÉFICAS?

         Como estamos sempre consumindo produtos de ficção científica e outras obras fantásticas da cultura humana, acabamos associando 'mutações' com 'aberrações', 'monstros', 'morte', etc. Além disso, várias doenças se originam via mutação genética, como o câncer. Porém, nem todas as mutações são ruins, longe disso. A partir delas, diversas novidades benéficas - novas informações genéticas - também surgem e podem ser selecionadas pelo ambiente, como já explicado neste artigo.
         As mutações são um dos principais mecanismos que sustentam a evolução biológica, e isso fica claro quando acompanhamos a rápida evolução de bactérias e vírus. Para se ter uma ideia, um estudo recente publicado na Science (Filmando as mutações no DNA!) - onde biofísicos conseguiram documentar visualmente mutações individuais ocorrendo em células bacterianas - mostrou que que as mudanças mutagênicas na E. coli ocorrem na mesma taxa ao longo do tempo e somente cerca de 1% delas eram letais, bem menos do que antes suposto. Além disso, todas as bactérias em uma dada cepa pareciam ter quase a mesma taxa de mutação - cerca de 1 mutação a cada 600 horas em bactérias normais. Em outras palavras, são inúmeras as mutações em uma dada população bacteriana - considerando os números absurdos de bactérias em qualquer amostra ambiental -, e pouquíssimas delas são capazes de matar a bactéria.

         Aliás, mutações prejudiciais para uns pode ser benéfica para outros. Para exemplificar, podemos citar o peixe-cego (Astyanax mexicanus), o qual possui um rosto assimétrico que o ajuda a navegar nas águas escuras de cavernas. Nesses peixes, o crânio é mais curvado para a esquerda, deixando o lado direito mais exposto, como pode ser visto na imagem abaixo. Isso torna as sensações diferentes entre os lados da cabeça, tornando mais fácil a detecção de obstáculos (Ref.126). Essa assimetria no crânio é devido a variações no gene Mn1, ligadas a deformações ósseas prejudiciais em mamíferos, mas que nesse peixe estão associadas a uma vantagem adaptativa.

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          Outro exemplo de mutação que é deletéria no geral mas benéfica em casos específicos, é a seleção natural dos heterozigotos carregando alelos do gene HBB associados à anemia falciforme na nossa espécie (Homo sapiens), de forma a aumentar a prevalência da doença falciforme na população da África Central para a proteção contra o parasita da malária (Plasmodium), transmitido por mosquitos do gênero Anopheles que se proliferaram com a desmatamento de florestas tropicais nessa área geográfica. Na doença falciforme, a estrutura da molécula de hemoglobina (responsável pelo transporte de oxigênio no sangue) é afetada, podendo levar a deformações nas hemácias (geralmente determinando um formato de foice). Nesse sentido, o protozoário mais letal da malária (Plasmodium falciparum) mostra uma preferência em infectar as células deformadas e acaba sendo retirado mais facilmente da circulação sanguínea - os macrófago estão constantemente limpando o sangue das células deformadas -, o que dificulta o estabelecimento da doença. No balanço de prejuízos e benefícios, é mais vantajoso contrair a doença falciforme do que a malária, pelo menos na forma heterozigótica, onde o número de hemácias afetadas é bastante reduzido (na forma homozigótica, é tipicamente manifestada a anemia falciforme, muito mais perigosa, especialmente quando o indivíduo é afetado pela malária).

         A SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA IMPOSSIBILITA A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA, PORQUE OS SISTEMAS SE TORNAM MAIS DESORDENADOS (MAIOR ENTROPIA) AO LONGO DO TEMPO

         Esse é um argumento que muitos Criacionistas utilizam para dar uma maior 'credibilidade' e 'inteligência' às suas afirmações, aproveitando do pouco entendimento de Física por parte da população em geral. Para começar, a 2° Lei da Termodinâmica afirma apenas que em sistemas isolados a entropia total não pode diminuir, apenas aumentar (ou seja, na ausência de trocas de energia/matéria com o ambiente externo). Porém, dentro do sistema isolado pontos locais podem ter sua entropia diminuída em favor do aumento de entropia em outros locais. E olha que isso porque até agora estamos considerando a Terra como um sistema isolado, porque aqui vem outra coisa ainda mais grave: a Terra não é um sistema isolado, oras. Nosso planeta interage continuamente com o resto do Universo (este, sim, um sistema idealmente isolado na teoria), especialmente com o Sol, o qual manda uma quantidade gigantesca de energia para o nosso planeta.

         Para ver como o argumento da 2° Lei da Termodinâmica para impossibilitar a Evolução Biológica é um total fracasso e sem base científica alguma, se ele fosse levado a sério não existiria possibilidade de estruturas inorgânicas complexas ocorrerem na Terra, algo longe da verdade. Cristais diversos, altamente organizados e diversificados ocorrem a todo momento, desde cristais de gelo até cristais de minerais. Aliás, os planetas, estrelas e galáxias seriam impossíveis, já que são aglomerados. E por que são possíveis? Ora, porque estão presentes dentro do Universo, este o qual possui sua entropia sempre crescente, mas possuindo incontáveis pontos onde ela pode aumentar e outros incontáveis pontos onde ela pode diminuir com o tempo. Teoricamente, é previsto que só daqui a muito, muito tempo o Universo encontrará sua morte térmica (1) devido à crescente entropia. Mas, até lá, aumentos e diminuições de entropia em seu interior são facilmente obtidas, contando que a soma final resulte sempre em uma crescente entropia.

         Organismos vivos podem se tornar mais complexos simplesmente via mecanismos evolucionários abastecido com o consumo de outras formas de vida e de materiais não vivos - incluindo energia solar - sem que isso, de forma alguma, desrespeite a 2° Lei da Termodinâmica.
  • (1) Leitura recomendada: Morte Térmica do Universo

         ONDE ESTÃO OS FÓSSEIS DE CADA PASSO DAS TRANSIÇÕES DE TODOS OS SERES VIVOS?

         Segundo esse "argumento", já era para os cientistas terem encontrado todos os fósseis de transição, incluindo aqueles marcando o passo a passo das transições evolutivas. Mais uma vez, temos os anti-evolucionistas argumentando com base no achismo e sem mínimo suporte científico.         Os fósseis são definidos como uma evidência naturalmente preservada de seres vivos do passado, geralmente anteriores ao Período Holoceno (>10 mil anos atrás). Existem fósseis de partes de um organismo (ossos, por exemplo) e fósseis relativos à existência desse organismo (pegadas, por exemplo).         No geral, para um ser vivo se transformar em um fóssil, é preciso muita sorte e condições bastante específicas. Quando um animal, por exemplo, morre, seus restos geralmente são decompostos por completo até não sobrar nada, nem mesmo os ossos, após milhares, milhões, bilhões ou mais de anos. Porém, em algumas raras ocasiões, o animal acaba sendo enterrado de forma rápida e de modo a ter seu esqueleto parcialmente ou totalmente protegido. E existem vários caminhos para a formação de um fóssil.

         Em outras palavras, são poucos os espécimes que serão realmente fossilizados e menos ainda aqueles que estarão facilmente acessíveis aos cientistas. Isso sem contar os organismos vivos que dificilmente deixam rastros fósseis, como micróbios e animais de corpo mole. Montar um filme com um "passo a passo" das etapas evolutivas com frames de evidências fossilizadas é algo impossível.

          Outra provável forma de fossilização de seres vivos ocorreu com aqueles do período Ediacarano (630-541 milhões de anos atrás) que representam os mais antigos organismos complexos de grandes dimensões. Fósseis desse período (como o mostrado na imagem abaixo) parecem não mostrar o exterior desses animais (forma externa), e, sim, as estruturas internas do corpo. Um estudo publicado na Nature Ecology & Evolution (Ref.135) demonstrou na prática (simulação) que um processo de radiologia sedimentar - envolvendo preenchimento com argila ou arenito - conservou o "esqueleto" orgânico desses animais de corpo mole, não a forma externa. Esse mecanismo reológico de sedimentação explica como a biota Ediacarana foi preservada por tanto tempo mesmo sem esqueleto e o porquê os seus integrantes à primeira vista serem similares a "alienígenas", muito diferentes de outros animais.

           Importante também mencionar que o registro de vida no início da sua emergência na Terra também pode ser fossilizado, mesmo sem nem mesmo a existência de células. Em rochas altamente metamorfoseadas com mais de 3,7 bilhões de anos, material orgânico proveniente de sistemas bióticos frequentemente se transformam no material grafite (estrutura constituída por lâminas de carbono). Em um estudo publicado no periódico Earth and Planetary Science Letters (Ref.139), os pesquisadores analisaram diferentes rochas quase tão antigas quanto 2 bilhões de anos e argumentaram que o carbono preservado na forma de cristais de grafite ('carbono grafítico') localizados junto a minerais como apatita e carbonato em silicatos na Faixa de Formação do Ferro (BIF) metamorfoseados a temperaturas acima de 550°C são bioassinaturas das formas de vida mais antigas do nosso planeta. Especificamente, as coberturas e inclusões de grafite em grãos de apatita indicariam remobilização fluída durante o metamorfismo (recristalização) de biomassa percursora.

          Segundo o estudo, a estrutura de carbono que baseia toda a vida que conhecemos é decomposta em diferentes substâncias, como carbonato, apatita e óleos (em maior parte hidrocarbonetos como os alcanos). Esses compostos acabam ficando presos em camadas de rochas sedimentares e eventualmente o óleo (como o petróleo) se transforma em grafite durante um subsequente metamorfismo na crosta.

           AINDA NÃO SE SABE AO CERTO COMO A VIDA SURGIU NA TERRA, PORTANTO A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA É ALGO TAMBÉM MAIS DO QUE INCERTO



          Esse é um argumento se tornando bem comum (desespero argumentativo), mas que não faz sentido em termos de contra-atacar a evolução biológica. Não importa se a vida inicial na Terra surgiu pelas mãos de uma civilização alienígena, por vestígios de vida em um cometa ou se aqui mesmo no nosso planeta através de reações químicas favoráveis. Não importa nem mesmo a origem da matéria prima abundante para fazê-la, se de cometas ou da própria superfície terrestre. O que importa é que ela surgiu e, a partir daí, a evolução biológica acompanhou sua diversificação. A evolução biológica é um processo natural que surgiu com a vida, e independe do seu começo.

          E é válido também mencionar que os elementos químicos base para a vida (carbono, hidrogênio, oxigênio, fósforo, enxofre e nitrogênio) e a necessidade de água não são apenas fruto do acaso. Todos eles possuem propriedades físico-químicas essenciais para a sua manutenção. O carbono, esqueleto fundamental para a vida, por exemplo, é capaz de formar quatro ligações químicas com facilidade, fomentando a síntese de moléculas muito complexas, e, além disso, é formado em relativa grande abundância pelas estrelas (Como são criados os elementos químicos?). Estruturas grandes, complexas e fundamentais são possíveis graças ao carbono. Os outros elementos da sua família (silício, por exemplo) também possuem propriedades químicas parecidas, mas as pequenas diferenças (ligações químicas mais difíceis de serem quebradas, por exemplo) e menor abundância no Universo (quanto mais pesado o elemento químico, mais difícil de ser produzido nas estrelas), o tornam candidatos bem menos eficiente para a vida. Já a água (H2O) é uma substância única, apresentando diversas propriedades extremamente importantes para a formação da vida (solvente universal; estado líquido a temperaturas entre 0 e 100°C e pressão normal; ligações de hidrogênio, entre outros).

          Em outras palavras, caso esses elementos estejam presentes em condições de pressão e temperatura favoráveis, teremos um ambiente propício à vida, não sendo realmente necessário existir a presença de algo fantástico para a mesma ser criada. Também fica óbvio perceber também o porquê da vida ser algo difícil de ser encontrado no Universo, já que vários parâmetros precisam ser primeiro atendidos. Não é uma questão necessariamente ligada à "vontade de um Criador Divino em ter escolhido a Terra como um lugar para a vida". Se o parâmetros mínimos forem atendidos, diversos planetas e satélites naturais também podem abrigar vida (Leitura recomendada: Satélite natural de Saturno capaz de sustentar vida!). Além disso, podemos também pensar na trajetória de um meio abiótico para um meio biótico como etapas evolucionárias de uma crescente complexação da matéria. Nesse sentido, um princípio evolucionário provavelmente acompanhou a vida desde os seus primórdios pré-bióticos. E, se formos mais, fundo, o Universo pode também ser explicado pela via evolucionária, no sentido em que partículas fundamentais se agrupam para formar complexos sistemas (átomos, moléculas, estrelas, sistemas estelares, galáxias, etc.).

            Para melhor aprofundamento no assunto, acesse o artigo A origem da vida: Mais um grande avanço conquistado!

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           No meio científico, um 'fato' tipicamente se refere a uma observação, medida ou fenômenos diversos que são esperados de ocorrerem do mesmo modo caso as circunstâncias sejam mantidas as mesmas. No entanto, os cientistas também usam o temo 'fato' para fazerem referência a uma explicação científica que já foi testada e confirmada tantas vezes que se torna desnecessário trazer novas evidências ou novos testes para prová-la como verdadeira. Nesse sentido, a Evolução Biológica é um fato, a qual sem dúvida alguma agiu no passado, continua agindo no presente e continuará agindo no futuro do nosso planeta enquanto a natureza como hoje a conhecemos persistir. E a Teoria que atualmente propomos para explicá-la, apesar de estar sempre em constante aperfeiçoamento, é bastante poderosa, sendo que seus princípios básicos, como a seleção natural e necessidade de erros/mudanças genéticas aleatórias, são, virtualmente, uma verdade absoluta.            Devido ao fato da Evolução Biológica possuir evidências de suporte tão grandes e fortes, os cientistas não mais questionam se ela é algo real ou não. Hoje, os estudos sobre a evolução biológica voltam  o seu foco para a investigação dos seus mecanismos e melhor entendimento dos passos dados durante o percurso evolucionário, especialmente a nível genético e molecular (aperfeiçoamento da Teoria). Assim como a Teoria da Gravidade inicialmente não conseguia explicar razoavelmente a órbita de Mercúrio e precisou da ajuda da mecânica relativística para complementá-la, a Teoria da Evolução está em constante otimização, mas a evolução biológica não deixa de ser um fato científico inquestionável.

         E lutar contra o campo de estudo da Evolução Biológica pode trazer potenciais prejuízos para a saúde pública, para o setor tecnológico e para a conservação ambiental (1). A resistência bacteriana, por exemplo, já é uma forte crise hoje e pode representar um gigantesco perigo para a humanidade em um futuro próximo. Os mecanismos por trás da resistência bacteriana são evolucionários e negar a Evolução Biológica entre o público pode fomentar ideias conspiratórias sobre a origem das superbactérias e descaso das pessoas quanto às recomendações das agências de saúde que objetivam frear a ascensão desse problema. Além disso, a biologia evolucionária também é importante para entendermos no nosso genoma, especialmente a partir de estudos comparativos com outras espécies.  Já no meio ambiente, as pressões impostas aos ecossistemas por causas diversas, especialmente devido às atividades humanas, acabam ativando e fomentando mecanismos evolucionários, e entendê-los acaba sendo muito importante para o planejamento e execução de programas de conservação ambiental. E, para finalizar, recentemente o Prêmio Nobel de Química agraciou três pesquisadores que fizeram enormes avanços na produção de inúmeras novas enzimas e anticorpos - empregadas com sucesso nas últimas décadas em áreas que vão da indústria até a medicina - via utilização dos mecanismos de evolução em células bacterianas (2).


            Evolução Biológica é a fundação para a biologia e biologia é a fundação para a medicina, ou seja, a Evolução é a fundação para a medicina. Entender os processos evolutivos pelos quais nossa espécie Homo sapiens passou, incluindo os ancestrais hominis e vertebrados em geral, é uma poderosa ferramenta auxiliar aos profissionais de saúde. O resultado gerado pela seleção natural e sexual nos define hoje, e entender esse processo garante enormes benefícios na prática clínica e nas pesquisas. Nosso corpo é longe de ser perfeito e está propenso a diversas falhas, como dor nas costas, dor no pescoço, fragilidade da bacia, joelhos e calcanhar, miopia, obesidade, diabetes, depressão, entre diversas outras condições. Isso sem contar os órgãos vestigiais e os problemas que acompanham o avanço da idade (já que nossa espécie não evolui para se adaptar a uma expectativa de vida tão alta quanto observamos hoje). Geralmente o ensino de medicina nas Universidades é bastante limitado no quesito Evolução Biológica e muitos acadêmicos insistem para que essa situação mude.           Obviamente, também é válido ressaltar que a ciência não é a única coisa que move o nosso mundo. Arte, reflexões filosóficas, literatura e crenças religiosas são todos parte de uma sociedade saudável, ou seja, culturalmente rica. Porém, para tudo existe limite e espaço, onde o fanatismo é prejudicial em qualquer campo. A Evolução Biológica não é apenas uma curiosidade e, sim, a base para entendermos o nosso mundo e permitir grandes avanços em diversas áreas científicas. Quando grupos tentam fechar os olhos da sociedade para a ciência em prol de benefícios e crenças próprias, isso é um grave dano para todos. Não podemos desacreditar o meio científico de maneira tão injusta, porque isso limita o apoio da população ao avanço da ciência, esta a qual é o que de mais poderoso a civilização humana produziu.
Dê um oi para o seu provável ancestral mais distante entre os mamíferos...:)

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Artigos Complementares:

Artigo Especial: Qual seria a ciência ecológica por trás dos Pokémon? 


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