Por que as bruxas eram queimadas

A influência dos tribunais da Inquisição e as crenças trazidas pelos europeus ajudaram a criar o imaginário da bruxaria em todo o Brasil, inclusive em Florianópolis. De acordo com o historiador e coordenador do Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e presidente da Comissão Catarinense de Folclore, Francisco do Vale Pereira, desde a Idade Média as pessoas que trabalhavam com ervas, orações, cantos, com atitudes diferentes dos costumes e modos de vida da sociedade da época, eram consideradas bruxas ou bruxos. Esse imaginário não está ligado somente à construção do personagem da bruxa, mas também à mudança de cultura como um todo. Os açorianos trouxeram com eles os medos, receios e incertezas da mudança para uma terra desconhecida. Francisco explica que esses sentimentos se fortaleceram com tantas descobertas que tiveram que fazer: o conhecimento do tempo, das estações do ano, da capacidade do solo de produzir, da alimentação, etc. E ainda a falta de padres para atender às necessidades espirituais daquelas pessoas, que eram, e são, muito religiosas. — No Arquipélago dos Açores, ainda hoje, há muitas manifestações de eventos sísmicos, vendavais, tempestades, agitações do oceano, e tudo isso faz com que as pessoas se apeguem aos astros, às crenças e às forças divinas e sobrenaturais para acalmar a alma e o espírito — diz Francisco. Entretanto, bem antes disso, os hábitos indígenas de práticas de curas com ervas nativas, danças, cantos, preparos de poções à base de areias, barro e veneno de animais peçonhentos contribuíram para a construção desse universo mágico.

— O hábito bruxólico, o ser bruxa, está conosco desde sempre, uma vez com os indígenas, e depois incorporado dos hábitos trazidos pelos que vieram para o território. Temos que destacar que muitos costumes chamados “bruxólicos” vieram para cá com os africanos trazidos para essas terras. Portanto, desde a vinda de expedições com europeus houve a chegada e mistura de conhecimentos e práticas de cura, que para muitos são bruxaria — explica.

Os hábitos indígenas de práticas de curas contribuíram para a construção desse universo mágico.


Uma vertente de narrativa sobre bruxas sem influência católica cristã enraizada foi identificada pela pesquisadora Sônia Weidner Maluf, doutora em antropologia social e autora do livro “Encontros Noturnos - Bruxas e bruxarias na Lagoa da Conceição”. Segundo ela, uma das características da cristianização das crenças e cultos pagãos é a introdução da figura do diabo como protagonista dos rituais e de pactos bruxólicos: — Nas narrativas de bruxas e embruxamentos que ouvi e recolhi nos anos 80 nas comunidades em torno da Lagoa da Conceição, percebi que não havia a figura do diabo. As bruxas agiam por conta própria, de certo modo. O que me fez pensar que seria uma vertente do imaginário pagão ainda não cristianizada. Ela recolheu depoimentos de diversas pessoas na comunidade e conseguiu traçar uma narrativa comum nas histórias contadas pelos moradores da Lagoa. Embruxamento de crianças recém-nascidas e roubo de canoas de pescadores pelas bruxas são alguns dos temas mais recorrentes.

Os depoimentos foram colhidos nos anos 1980, mas muitas lendas sobrevivem ainda hoje.


Por que as bruxas eram queimadas

Por Gabriela Streb

No século XII a Igreja Católica criou o Tribunal do Santo Ofício, denominado “Inquisição” com o objetivo de impedir que pessoas desviadas da Igreja a deixassem.

Um dos episódios mais horríveis da Inquisição foi deflagrado contra as mulheres na literal “Caça às Bruxas”.

Não que homens também não fossem acusados de serem bruxos. Mas foram em bem menor número.

O Papa Inocêncio VIII emitiu uma bula oficial para condenações à prática da feitiçaria. Ou seja, um manual ou código que legitimava os atos dos inquisidores.

De todas as denúncias, 80% eram contra mulheres acusadas de feitiçarias e pacto com o demônio. Mulheres com alguma deficiência física, viúvas, com deformidade ou idade avançada eram acusadas. Mulheres muito bonitas que despertavam desejos não correspondidos à algum homem também estavam nesta lista.

Eventos como pragas e colheitas malsucedidas, esterilidade feminina e impotência masculina eram atribuídas à bruxaria.

O mais esdrúxulo disso tudo eram as provas pelas quais a mulher passava para comprovar que não era bruxa. Pois um mero boato já era prova de suas atividades com o demônio. Então vingança contra esta ou aquela mulher e sua família rolava solta.

Existia o mecanismo de reconhecimento das feiticeiras. A inquisição pesava as bruxas pois eram muito magras e deveriam ser leves. Engraçado que ninguém mencionava que a magreza dessas se dava pela subnutrição e sim pela prática da bruxaria.

As vezes eram amarradas e jogadas em um lago abençoado. Se afundassem eram inocentes se flutuassem, eram culpadas. Marcas no corpo eram sinais de bruxaria tais como pintas, sinais de nascença ou cicatrizes.

O exame era feito em público onde a mulher ficava nua. O inquisidor tirava todos os pelos do corpo dela, raspava sua cabeça e com um instrumento, retirava a pinta ou cicatriz que não deveria sangrar.

Estima-se que mais de 100 mil mulheres foram executadas pela prática de bruxaria, normalmente queimadas numa fogueira e se confessassem previamente, seriam então estranguladas. Caso as mulheres tivessem bens eles eram confiscados pela Inquisição tornando a instituição cada vez mais rica e forte.

Apenas no século XVIII a caça às bruxas cessou. Pasmem!!!

Incrível como o ser humano não mede esforços para praticar certos atos em nome de uma crença, ideologia ou qualquer outra desculpa esfarrapada. Ao longo da nossa existência se viu e se vê isso. Que bom que a caça às bruxas formalmente não existe mais, talvez algumas situações veladas por aí, mas com bem mais proteção a mulher. Por aqui, bruxas são mais comumente vistas em Halloween e festas à fantasia. Ufa!

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Você já parou para pensar por que se fala em “caça às bruxas” e não em “caça aos bruxos”? A expressão vem do movimento de perseguição religiosa, ocorrido na Europa e Nova Inglaterra (atualmente, região no nordeste dos Estados Unidos), entre os séculos XV e XVIII. Mas por que a maioria das supostas bruxas eram mulheres?

É fato que as mulheres eram maioria entre os acusados de bruxaria. Por exemplo, no famoso julgamento das bruxas de Salém, em 1692, 14 das 19 pessoas consideradas culpadas e executadas por bruxaria eram mulheres.

Em toda a Nova Inglaterra, onde os julgamentos de bruxas ocorriam quase que regularmente entre 1638 e 1725, as mulheres superaram largamente o número dos homens entre os acusados ​​e executados.

E, vale destacar, mesmo quando os homens enfrentavam alegações de bruxaria, geralmente isso acontecia porque estavam de alguma forma associados às mulheres acusadas, como maridos ou irmãos.

O alto número de mulheres acusadas de serem bruxas é explicado pela posição que elas ocupavam na sociedade da época. Dentro dessa sociedade profundamente religiosa, quase tudo que uma mulher fizesse poderia se transformar em prova de seu pacto com as forças das trevas.

Na época, pensava-se que as mulheres deveriam apenas dar à luz a filhos, criá-los, administrar a vida doméstica e ser exemplo de subserviência cristã a seus maridos. Esse pensamento vinha da leitura da época sobre a Bíblia e a história de Eva e sua maçã pecaminosa. 

Por conta disso, as mulheres eram vistas como mais propensas a serem tentadas pelo diabo. Como magistrados, juízes e clérigos, os homens impuseram as regras dessa sociedade americana primitiva.

Toda mulher poderia ser uma bruxa

Não é exagero quando dissemos que praticamente qualquer coisa que a mulher fizesse poderia ser motivo para que ela fosse acusada de praticar bruxaria. Exemplificando, possuir muitas riquezas poderia ser visto como ganhos pecaminosos. Por outro lado, ser muito pobre sinalizaria um caráter duvidoso. Ter muitos filhos poderia indicar um acordo com um diabo. Ter poucos filhos também era motivo de suspeita. 

Pior ainda para aquelas mulheres que não cumpriam de alguma forma os papéis prescritos. Muitas parteiras e curandeiras foram mortas, assim como mulheres que não eram consideradas castas o suficiente.

Boatos eram tomados como provas

Através dos registros das acusações fica ainda mais claro como a caça às bruxas era calcada em rumores. Um exemplo é a história de Mary Webster, de Hadley, Massachusetts. Ela era casada, mas não tinha filhos. Mary contava com a caridade de vizinhos para sobreviver. Aparentemente, Webster não era grata o suficiente pelas esmolas que recebia e desenvolveu uma reputação de ser uma pessoa desagradável.

Então, os vizinhos de Webster a acusavam de bruxaria em 1683, quando ela tinha cerca de 60 anos, alegando que trabalhava com o diabo para enfeitiçar as criações de gado do local.

Já Mary Bliss Parsons, de Northampton, também em Massachusetts, era o oposto de Webster. Ela era a esposa de um homem bastante rico e tinha nove filhos. Mas, os vizinhos a consideraram uma “mulher de maneiras dominadoras”. Em 1674, ela foi acusada de bruxaria.

Punição para as inocentes

Nem todos os julgamentos de bruxaria na Nova Inglaterra ou na Europa resultavam em condenação á fogueira. As acusadas nos casos acima, por exemplo, foram absolvidas. Mas, isso não quer dizer que saíram impunes da situação. Mesmo inocentadas, comum que as supostas bruxas tivessem que pagar multas, isso depois de passar algum tempo na prisão.

E ainda temos que considerar os danos à reputação dessas mulheres. Por exemplo, Mary Parsons teve que se mudar com sua família para Boston, tentando escapar dos boatos que persistem mesmo após sua absolvição. Já Mary Webster voltou a ser acusada de bruxaria, quando um de seus vizinhos adoeceu. Os moradores tentaram até enforcá-la, mas ela sobreviveu.

Acusações motivadas por vingança ou ignorância

Por que as bruxas eram queimadas
Ilustração do julgamento das “bruxas de Salém”, de William A. Crafts, 1876. (Imagem: Wikipédia)

Historiadores apontam que muitos casos de pessoas supostamente possuídas pelo demônio seriam, na verdade, vítimas de uma intoxicação. Um fungo denominado claviceps purpurea, muito comum em plantações de cereais, e é a causa mais provável. Este fungo pode afetar seriamente o sistema nervoso central. Sabe-se também que convulsões epilépticas também eram vistas como sinal de possessão.

Em outros casos, é possível perceber que as acusações de bruxaria eram uma forma de extorsão ou feitas visando se apropriar dos bens dos acusados. Vingança também era um constante motivador de denúncias.

Dessa forma, os julgamentos de bruxas não eram apenas acusações infundadas ou até absurdas. Eles também revelam um sistema de justiça que transformava rusgas locais em grandes crimes, punidos na fogueira ou com enforcamento. E, no fim das contas, já que as “provas” mais frágeis eram aceitas, os julgamentos só serviam a quem tinha mais poder e, portanto, mais peso em sua palavra.