O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor

Por: Lindamir Salete Casagrande

Hoje é 15 de outubro de 2021, Dia do Professor, sim, é assim que se fala devido as regras de nosso idioma, o português brasileiro. Mas a maioria das pessoas que atuam nesta nobre profissão são mulheres, então, eu mulher feminista que sou, vou subverter a ordem e usar o feminino neste post. Os homens docentes sintam-se incluídos no termo usado no feminino. Nós mulheres temos que fazer isso a vida toda.

Muitas homenagens serão prestadas às professoras neste dia. Homenagens sinceras, mas restritas a um dia do ano, dia 15 de outubro. Isso não é suficiente.

Meu convite é para que vocês reflitam como é sua postura em relação às professoras nos demais dias do ano. Como você se refere a elas quando, depois de muitas lutas, cansadas de serem ignoradas pelos governantes (aqui sim no masculino pois a grande maioria são homens que jamais entraram numa sala de aula como docentes), decidem fazer uma greve para reivindicar condições mínimas de trabalho decente com remuneração justa? O que você faz? Fica ao lado delas ou faz coro aos/às que as tratam como vagabundas (vagabunda é o termo preferido pelos ignorantes para desqualificar as mulheres)? Durante a pandemia você valorizou os esforços feitos por elas para proporcionar as melhores condições de aprendizado aos seus filhos e filhas ou se juntou ao grupo que afirmava/a que as professoras não queriam/em trabalhar? Como as professoras trabalharam nesta pandemia! Não tinham horário para atender às/aos estudantes. Final de semana não existia. Tiveram que aprender a dar aulas no sistema remoto sem nenhum apoio e com recursos próprios. Você sabia disso? Você apoiou a professora de seus/suas filhos/as? Ou você também a chamou de vagabunda, a acusou de não querer trabalhar? Pensa aí! Se quiser responda nos comentários, mas sem ofensas por favor.

Ser professora é acreditar que a educação transforma vidas. Acreditar que devemos proporcionar a todas/os as/os estudantes o direito de se desenvolver integralmente, de sonhar com um futuro melhor. É imprimir todos os esforços para possibilitar um ambiente seguro, acolhedor, amoroso no qual as/os estudantes possam construir conhecimento, sonhos, amizades, conquistar autonomia para buscar e encontrar seus caminhos no mundo.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor

Atuar como professora envolve conhecimento, estudo contínuo (a professora nunca está completamente formada. Sempre há o que se aprender, atualizar pois o mundo está em constante transformação.), construção de parcerias (é difícil fazer as coisas sozinhas), apoio da comunidade (já pensou em oferecer seus conhecimentos para desenvolver projetos junto a escola de suas/seus filhas/os? Seria bacana né?) e amor, muito amor a todo este universo e de modo especial, às/aos estudantes.

Porém amor não paga conta. Você já tentou pagar seus boletos com um cheque de amor? Eu não, mas acredito que não iriam aceitar. Nunca vi um cartaz dizendo aceitar “amor” como forma de pagamento.

As professoras precisam mais do que palavras bonitas escritas uma vez ao ano (no Dia do Professor). Precisa de apoio em suas lutas, de salários dignos, condições de trabalho adequadas, de respeito e valorização em todos os dias do ano.

Nós (sim, eu também sou professora!) gostamos de receber homenagens no dia de hoje. Também gostamos dos presentinhos, cartinhas com desenhos criativos, originais (essas são as que mais nos agradam e aquecem o coração), mas isso não é suficiente. Ensine seus/suas filhos/as a respeitarem as professoras e todas/os as/os profissionais que atuam nas escolas. Ensine-os a respeitar os/as coleguinhas com suas singularidades. Eles/as são diversos e isso enriquece a vivência das crianças. A sociedade é diversa e precisamos saber e respeitar o outro em suas singularidades e isso se aprende desde pequenos em casa, na escola, na igreja, com os/as amigos/as, enfim, em todas as esferas da cotidianidade.

Quanto a você, pessoa adulta com ou sem filhos/as, apoie as professoras em suas lutas que são justas. Valorizem o trabalho docente e não cobre delas mais do que é possível realizar dentro de suas realidades. Professoras também tem famílias, filhos/as, problemas pessoais, problemas de saúde, enfim, são gente. Precisam de apoio, compreensão, carinho, amor. Olha só, professora precisa de amor. Grande descoberta!

E você professora receba meu abraço carinhoso e meu agradecimento pelo importante trabalho que realiza com nossa juventude. Não desanime e nem se cale diante das injustiças. Vocês não estão só. Uma parcela significativa da população está ao seu lado e lhe apoia, porém, os raivosos é que vão a público manifestar seu ódio e ignorância, mas acredite, eles são minoria, barulhenta, mas minoria.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor

Fonte: http://blogs.20minutos.es/eneko

Desejo a todas as pessoas que escolheram esta profissão, que é uma das mais importantes em nossa sociedade, o reconhecimento social e financeiro. Desejo que a felicidade de ver suas/seus alunas/os conquistando seus espaços no mundo (como eu fico feliz com isso!) renove suas forças para continuar fazendo a diferença. Sejam felizes hoje e sempre!

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Por: Lindamir Salete Casagrande

Quando brindávamos a chegada do novo ano, sequer podíamos supor o que aconteceria no ano de 2020. Com o raiar de um novo ciclo, muitos planos são renovados, expectativas, sonhos e promessas são revelados. O sorriso e a alegria são elementos presentes nesses momentos. Juntamos amigos/as e familiares para agradecer o ano que passou e brindar o vindouro.

No dia 31 de dezembro de 2019 não foi diferente, entretanto, 2020 chegou e trouxe consigo um vírus tão pequenino que sequer pode ser classificado como ser vivo e mudou tudo. Da noite para o dia, tivemos que nos recolher e refugiar em nossas casas (que bom que temos casa!). Perdemos o direito de ir e vir, de encontrar as pessoas, de abraçar, de sorrir livremente. As máscaras passaram a ser as peças do vestuário mais importantes, porém elas escondem nossos sorrisos que também perderam muitas das razões de existir. Estamos sorrindo menos, e quando o fazemos, vem um remorso por lembrarmos das famílias que perderam seus entes queridos e não tem motivos para sorrir.

O ano de 2020 foi um ano de muitas perdas. Quase 200 mil mortos no Brasil em decorrência da covid19, doença causada pelo coronavírus, causador da pandemia que assolou o mundo. Quase 200 mil famílias destroçadas por uma doença totalmente fora de controle e tão ignorada por autoridades nacionais e por uma parcela da população.

Outra grande perda foi a crença na humanidade destas pessoas que se recusam a usar máscara, a evitar aglomeração, a ouvir as orientações dadas pelas autoridades científicas e médicas nacionais e mundiais. É difícil ver humanidade nessas pessoas.

Outra característica deste ano foi o aprendizado que ele nos obrigou a construir. Neste ano aprendemos que nossa casa é o nosso refúgio (como eu amo meu cantinho!); que ficar longe é uma forma de demonstrar amor (quanta saudade eu senti e sinto!); que sentimos muita falta do abraço, do afago; que professoras/es são fundamentais para o desenvolvimento das crianças e para a liberdade para trabalhar dos familiares; que universidades não são um antro de balbúrdia e de desocupados (quanta pesquisa foi realizada nas universidades!); que precisamos muito da ciência e dos/as cientistas (Vacina! Vacina! Vacina!); ah o SUS! Que bom que temos o SUS. Quantas vidas ele salvou! Quantos/as profissionais da saúde perderam a vida para salvar as vidas de outros/as!

Neste ano tão sombrio tivemos que nos reinventar, encontrar novas formas de exercer as atividades cotidianas e inventar ou descobrir habilidades que não sabíamos que tínhamos. Durante a pandemia muitas pessoas descobriram onde ficava a cozinha de suas casas (tem um pouquinho de exagero aqui!) e se descobriram com habilidades culinárias jamais supostas. Outros/as encontraram na culinária uma fonte de renda para manter a família. Enfim, se descobriram.

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Card de divulgação da última live do ano by Letícia Rodrigues

E as lives? Foram uma excelente iniciativa e levaram arte e conhecimento às redes sociais. O Ary Fontoura virou o muso da internet (adoro os vídeos dele!) e a Marilia Mendonça produziu a live mais vista do ano (foi muita gente assistindo, mesmo!).  Até eu me descobri uma scientific influencer (acho que estou cunhando este termo. Será?). O projeto “Conversando sobre” conduzindo pelo Michel Alves Ferreira e por mim produziu 80 conversas muito bacanas com pessoas que além de muito conhecimento, compartilharam conosco suas histórias e muito afeto. O projeto se tornou uma janela para o mundo (ousada!) e permitiu conhecer muitas histórias e recebermos muito carinho de todas as pessoas que conversaram conosco e das que nos assistiram ao vivo ou viram os vídeos depois. Adoramos a experiência e já estou com saudades. Quero agradecer a Letícia Rodrigues que fez os lindíssimos cards de divulgação das lives.

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Capa do livro

Eu também me descobri escritora, ou melhor, contadora de histórias. Em 2020 publiquei três livros muito bacanas. No dia 08 de março lancei o segundo volume da série Meninas, moças e mulheres que inspiram. Este livro conta a história da médica catarinense que adotou o Paraná como seu lugar para viver, Zilda Arns (Ela é paranaense. Pronto falei!). O livro intitulado Zilda Arns: a tipsi que amava as crianças traz a trajetória desta mulher incrível desde a infância até sua morte no terremoto que assolou o Haiti onde ela fazia o que mais gostava. Semeava o amor e o compartilhava o conhecimento. Zilda entendeu como ninguém os ensinamentos de Cristo e semeou amor por onde andou. Quem me ajudou a contar essa história por meio das ilustrações foi a talentosíssima Lucy Ana Soares Camelo Casagrande que também é minha cunhada e estreou como ilustradora neste livro. Obrigada por aceitar o desafio e cumpri-lo tão lindamente.

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Capa do livro

No mesmo dia (08/03/2020), atendendo as provocações de pessoas com as quais convivo, publiquei o livro Ervilhas tortas. Este livro é constituído de episódios da infância de Lindinha, uma menina que viveu sua infância lá na roça nos interiores do Paraná. Esta menina viveu muitas aventuras e desventuras numa vida simples na qual a criatividade tinha que ser acionada para assegurar diversão e lazer. Quem é Lindinha? Use a imaginação para descobrir ou leia o livro que lá eu conto.

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Capa do livro

No mês de setembro a série Meninas, moças e mulheres que inspiram ganhou mais um volume. Foi a vez de resgatar a história de uma mulher que viveu nos séculos IV e V d.C. Você já ouviu falar de Hipátia de Alexandria? Não? Asseguro que você vai gostar de conhecer esta grande mulher que amou o conhecimento acima de qualquer coisa. Te convido a conhecer essa história contada no livro Hipátia de Alexandria: a matemática, astrônoma e filósofa lendária. Por que lendária? No livro eu conto. As lindas ilustrações que contam a história por outra linguagem são de Andréa Martau. Grata pela parceria. todos os livros podem ser adquiridos no site da Editora Inverso – http://www.editorainverso.com.br.

É, o ano de 2020 foi muito doloroso, porém não foi um ano perdido. Vimos muitos avanços no campo científico, principalmente para o desenvolvimento da vacina e de equipamentos para melhorar o tratamento desta doença tão cruel que assolou a humanidade. Graças a esses esforços e estudos o índice de mortalidade diminuiu sensivelmente, embora permaneça alto. O aprendizado foi grande e a solidariedade também. Vimos muitas ações sendo feitas para minimizar os impactos da pandemia na vida da população mais carente. Pudemos perceber muitas pessoas deixando seu melhor lado florir, vir à tona.

Agora estamos batendo às portas de 2021 e é hora de renovar as esperanças. Esta renovação é possível por estarmos vendo, ali na frente, a vacina chegando (no Brasil ela está sendo conduzida por uma lesma, mas virá! O descaso dos governantes me irrita e entristece profundamente!). Junto com a vacina vem a esperança dos encontros, dos abraços, dos chás com as amigas, das idas à praia, aos shoppings, das viagens, das aglomerações…

Mas será que voltaremos a viver a vida como antes? Espero que não. Espero que tenhamos aprendido a ser mais solidários/as, a olhar e a enxergar o outro/a, a nos cuidar e cuidar dos/as outros/as, a respeitar a natureza, a valorizar a ciência, as/os professoras/es e o SUS, a nos respeitar. Espero ainda, que a vacina chegue para todas as pessoas e que essas pessoas não acreditem em notícias falsas, invencionices de pessoas mal intencionadas, danosas, inescrupulosas, mau caráter e vacinem-se para que possamos minimizar as consequências desta pandemia.

Que venha 2021 e que seja mais leve. Cuide-se pois eu quero te encontrar bem no novo ano.

Por: Lindamir Salete Casagrande

Na última reunião do Núcleo de Gênero e Tecnologia do ano de 2019 surgiu a proposta de levarmos a discussão sobre ciência para além das quatro paredes das salas de aula da universidade. Espaços como livrarias, cafés, pátios abertos de universidades, institutos federais e escolas estavam nos planos para sediar este evento. Naquele momento definiu-se que a primeira edição aconteceria no mês de março, dentro da programação do Mês das mulheres na UTFPR e abordaria a história de Marie Curie. Michel Alves Ferreira e eu conduziríamos a atividade que aconteceria no pátio coberto da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – campus Curitiba, sede centro. O livro infantojuvenil Marie Curie: uma história de amor pela ciência seria utilizado como ponto de partida para a conversa. Com esta definição, fomos para as férias de verão.

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Cartaz da edição presencial arte de Letícia Rodrigues

No retorno em fevereiro de 2020, tomamos as providencias para fazer acontecer a atividade programada e, no dia 11 de março de 2020, as 12 horas, nos reunimos no pátio central da UTFPR, munidos de caixa de som e microfone para uma conversa sobre ciência. O pátio central fica em frente ao restaurante universitário e o horário foi escolhido por sabermos que muitos/as estudantes estariam na fila do almoço e poderia ouvir nossa conversa enquanto aguardavam sua vez de se alimentar. Foi ali que aconteceu a primeira edição do projeto Conversando sobre. O que nós não sabíamos é que seria também a última no formato presencial. A pandemia do Coronavírus batia a nossa porta e no domingo, 15 de março de 2020, o reitor da UTFPR suspendeu as atividades presenciais e o projeto teve que ser interrompido. Seria o fim do projeto? Essa dúvida pairou sobre nossas cabeças.

Depois de um tempo de inércia por não sabermos que rumo tomar, algumas pessoas, dentre elas, minha orientanda de doutorado Glacielli Thaiz Souza de Oliveira, começaram a me instigar a fazer algumas lives mas eu resisti por não ter domínio deste espaço. Mas, depois de um tempo refletindo, em conversa com Michel, decidimos migrar o projeto Conversando sobre para o mundo virtual e escolhemos a plataforma do instagram para realizar as conversas afetuosas e cheias de conhecimento.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Cartaz da primeira live – arte de Letícia Rodrigues

Depois de um planejamento, fizemos o convite para pessoas de nossas relações que poderiam contribuir ao projeto. Iniciamos com as que já haviam aceitado fazer uma participação no modo presencial. Sendo assim, no dia 16 de junho de 2020, Michel deu a largada a nova modalidade do projeto recebendo a Dra. Regina Facchini (Unicamp/Cadernos Pagu) para uma conversa sobre Divulgação Científica, Gênero e Desigualdades em Tempos de Quarentena. No dia seguinte, 17 de junho, Michel deu continuidade ao projeto recebendo Dra. Megg Rayara Gomes de Oliveira (UFPR), a primeira travesti negra a defender o doutorado em educação na UFPR, para uma conversa sobre Pessoas Trans, Tecnologias e Sociedade. Foram duas conversas impactantes e que nos estimulavam a seguir.  Dia 18, foi minha vez de receber minha querida amiga Dra. Cíntia de Sousa Batista Tortato (IFPR), única mulher a compor o corpo docente do mestrado em Ciência, Tecnologia e Sociedade na ocasião de sua criação junto ao IFPR-campus Paranaguá,  para abordar a temática Mulheres pesquisadoras e, no dia seguinte, 19 de junho foi a vez de eu receber a queridíssima Dra. Ângela Maria Freire de Lima e Souza (UFBA) para Uma Conversa Feminista Sobre Ciência. Ângela é uma das mulheres que mais orientou e ainda orienta pesquisas de mestrado e doutorado na área de gênero e ciência no Brasil.Foi uma semana intensa de troca de afetos e construção de conhecimento com mulheres fantásticas que nos brindaram com seu conhecimento e sua amizade.

Na semana seguinte, no dia 22 de junho, o projeto alçou voo internacional. Michel recebeu a Dra. Brigitte Baptiste (EAN – Colômbia), primeira mulher trans a assumir a reitoria de uma universidade colombiana, para uma conversa sobre os Desafíos para las personas LGBTI: enredando conocimientos y experiencias en tiempos de pandemia. E fechamos a primeira rodada de lives com a conversa de Michel com Msc. Giseli Cristina dos Passos (SEED/PR) e Esp. Gesiele Vargas (SEED/PR) sobre Lesbianidades, Tecnologias e Vivências na Educação.

Esta primeira leva de lives foi diversificada, apresentou debates profundos e plenos de afetos. Foi uma experiência muito positiva e nos levou ousar mais em nossos convites, bem como no número de lives para o mês seguinte. No mês de julho fizemos uma programação composta por 15 conversas com pesquisadoras e pesquisadores de diversos lugares do país, bem como, da Colômbia.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Cartaz da primeira live do mês de julho – arte de Letícia Rodrigues

Iniciamos o mês de julho no qual eu recebi a minha eterna orientadora e amiga, bem como uma das pessoas que mais orientou dissertações e teses na área de Gênero, Ciência e Tecnologia no Brasil, a queridíssima Dra. Marília Gomes de Carvalho (UTFPR) para conversar sobre Família e gênero em tempos de pandemia no dia 06 de julho. No dia seguinte a conversa sobre Racismo linguístico: questões interseccionais foi entre Michel e Dr. Gabriel Nascimento (UFSB). Na sequência, dia 08 de julho, tive o prazer de receber uma das cientistas brasileiras mais reconhecidas tanto no Brasil, quanto no exterior.  Dra. Marcia Cristina Bernardes Barbosa (UFRGS) e eu travamos uma provocante conversa intitulada Feminismos: algumas verdades inconvenientes. Dia 10 de julho, Michel recebeu Antonio Pita (sócio fundador – Díaspora Black) para uma discussão sobre como o turismo pode ser excludente e pensar formas de mudar esta realidade na live intitulada Turismo, racismo, sexismo e tecnologias. A semana foi encerrada de forma brilhante, em conversa guiada pelos orixás entre Michel e Dr. Sidnei Nogueira (Instituto Ilê-Ará) com o título Ignorância, diversidades, religiosidades afro e (r)existires. Foi uma semana com muita troca de conhecimento, reflexões sobre nosso cotidiano e sobre o futuro.

A semana seguinte iniciou com uma participação internacional. No dia 13 Michel recebeu Christian Camilo Galeano Benjumea (jornal on-line La Cola de Rata – Colômbia) para uma conversa sobre Subjetividades fragmentadas en tiempos de pandemia. No dia seguinte foi minha vez de receber a baiana que vive lá no garrão do Brasil, Dra. Eliade Lima (UNIPAMPA) para uma conversa afetuosa e provocativa na live intitulada Astronomia e Astrofísica também é lugar para elas. No dia seguinte, atravessamos o País e aterrissamos no Pará para conhecer o projeto Manas Digitais. A conversa foi com a coordenadora do projeto Dra. Danielle Couto (UFPA/Projeto Manas Digitais). Finalizamos a semana com uma excelente conversa sobre Divulgação científica de mulheres: as cientistas em foco e ação com a queridíssima Dra. Camila Silveira da Silva (UFPR). Nesta live pudemos falar sobre nossos projetos de divulgação da produção científica de mulheres. Abordamos nossos projetos em vigência com Camila falando sobre o Livreto passatempos Mulheres nas Ciências: Coronavírus disponível online no endereço https://meninasemulheresnascienciasufpr.blogspot.com/2020/05/livreto-passatempos-mulheres-nas.html e eu abordei a série meninas, moças e mulheres que inspiram que consiste em livros destinados ao público infantojuvenil publicados pela Editora Inverso (www.editorainverso.com.br). Foi uma semana intensa na qual pudemos conhecer um pouco da ciência feita de norte a sul deste nosso país.

Dia 20 de julho eu iniciei mais uma semana deste projeto que começou no presencial e ganhou o meio digital recebendo Msc. Thiago Teixeira (PUC-Minas/Revista Senso) para a live Ética inflexiva e questões de gênero. Foi mais uma excelente conversa com uma temática superatual e importante. Na sequência tive uma excelente reflexão sobre a Cruzada anti-gênero e estratégias de resistência! A educação em disputa com a competentíssima Dra. Dayana Bruneto Carlin dos Santos (UFPR). Nela pudemos refletir como a parcela conservadora da sociedade distorceu os estudos de gênero para atingir seus objetivos pessoais e políticos. No dia 22 foi a vez de viajamos virtualmente para Mossoró, no Rio Grande do Norte, para conhecer uma jovem cientista que muito nos orgulha. Recebi Ekarinny Medeiros (Facene-RN e voluntária do projeto Ciência para Todos – RN) na live intitulada Ganhe o mundo com uma boa ideia. Ekarinny ganhou o mundo com a ciência e me fez sentir que estaremos muito bem representadas futuramente. Para encerrar a semana, Michel recebeu a Msc. Patrícia Teixeira (IFPR) para uma conversa sobre Memória, patrimônio e racismo. Foi mais um excelente momento de troca de afetos e construção e disseminação do conhecimento.

A última semana do mês foi conduzida pelo Michel. No dia 27 ele recebeu Bruno Nzinga Ribeiro (Unicamp) para a live cujo título foi Cruzamentos de raça, gênero e sexualidades sob o ponto de vista de um jovem pesquisador. Foi o momento de receber mais um jovem pesquisador para abordar uma temática atualíssima e tão necessária nestes momentos de intolerância e falta de respeito em que vivemos. O mês foi encerrado com a live Tecnologías de los cuerpos y acompañamiento médico de personas trans en Colombia que o Michel dividiu com Juan David Cañaveral Orozco (Residente de Sexología Clínica y Médico Cirujano de la UdeC).

Como podemos ver, foi uma programação bem diversificada e que contou com a participação de mulheres (cis e trans) e homens, com suas singularidades para debater temas contemporâneos e urgentes nestes tempos de pandemia. Para mim, este projeto é uma janela para o mundo, mantém meu contato com o mundo lá fora, além de proporcionar encontros afetivos e que me enriquecem muito como ser humano que sou.

Agradeço, em meu nome e do Michel, a todas as pessoas que dedicaram um tempinho de suas vidas para participar deste projeto e, de modo especial, à Letícia Rodrigues que tem nos brindado com sua arte e produzido lindos cartazes para divulgação de nosso projeto.

O projeto segue sua caminhada com uma vasta programação para agosto e setembro. Se você não nos acompanhou nesta trajetória, as lives estão disponíveis no instagram meu (@lindamirsalete) e do Michel (@michelitoferreira). Apoie o projeto “Conversando sobre” assistindo nossas lives e divulgando a programação. Não pode assistir ao vivo? Tudo bem. Está gravado no IGTV. Deixe seu comentário, seu like e siga este blog para me incentivar a mantê-lo atualizado. Ele é feito com muito carinho para vocês.

Por: Lindamir Salete Casagrande

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Natália Mota
Fonte: Arquivo pessoal

A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico que dificulta o julgamento adequado sobre a realidade que pode se manifestar de diversas formas como, por meio da presença de alucinações e delírios, pensamento e discurso desconexo, incapacidade de manifestar afetividade e de se relacionar com as outras pessoas, dentre outras.

Foi este transtorno que despertou o interesse de pesquisa da psiquiatra e neurocientista cearense Natália Mota. A dificuldade de diagnosticar a doença começou a povoar a mente e provocar inquietações em Natália já na graduação. Esta dificuldade causava sofrimento à família e aos pacientes pois levava a um tratamento equivocado por um longo tempo, causando sofrimento, incertezas, preconceito, isolamento e dor. Isso precisava mudar e, pensando em diminuir este tempo de diagnóstico, Natália iniciou, no ano de 2006, o desenvolvimento de um programa computacional que facilita o diagnóstico da doença diminuindo o tempo para tal diagnóstico e antecipando o tratamento adequado. Antes baseado exclusivamente em exame clínico, agora o diagnóstico pode ser traduzido em números, o que facilita o acompanhamento do desenvolvimento, avanço ou recuo, da doença. Com isso, o tratamento pode ser melhor avaliado e ajustado de acordo com o/a paciente.

O trabalho da doutora Natália foi reconhecido internacionalmente ao ser indicada, no ano de 2019, ao prêmio Nature Research Award, sendo a única cientista sul-americana a obter tal indicação. Este prêmio é destinado a mulheres cientistas que inspiram outras meninas/moças/mulheres a ingressarem na carreira científica. Com certeza, Natália é uma dessas mulheres.

A pesquisa está sendo desenvolvida em parceria com pesquisadores/as da Inglaterra e os resultados estão despertando o interesse dos estrangeiros. Em depoimento a Ícaro Carvalho da Tribuna do Norte, publicada em 15/02/2020, ela afirma que: “Grupos estrangeiros estão procurando a tecnologia feita aqui para aplicar em outros lugares do mundo”, fato que demonstra a replicabilidade do projeto em países com outras culturas e outros idiomas. É a ciência nordestina alçando voos internacionais e, levando consigo, o nome de nosso país, mesmo com os parcos recursos destinados a ciência no Brasil. Ela afirma que o índice de sucesso no diagnóstico da esquizofrenia obtido com o uso do programa de computador chega a 90% dos casos analisados.

No ano de 2020 Natália foi eleita uma das mulheres mais poderosas do Brasil pela Forbes Brasil. Isso se deve a capacidade intelectual, seriedade, dedicação e esforços por ela empreendidos ao fazer ciência. 

Mas quem é Natalia Mota?

Para apresentar a pessoa que está por traz deste projeto, entrei em contato com Natália via facebook e ela, gentilmente, me permitiu conhecer as entranhas de sua trajetória. É com base neste depoimento que construo o texto que segue.

Ela é a filha caçula de uma família nordestina tendo mais uma irmã e um irmão. Nascida em Fortaleza, Ceará, desde criança gostava de ciência e cresceu em um ambiente em que a leitura e as discussões políticas eram companhia frequente no cotidiano familiar. O pai foi exilado político devido ao golpe de 64 e a mãe participou ativamente do movimento pela anistia em Fortaleza. Essa militância fez com que eles se conhecessem e formassem uma linda família e nos presenteassem com Natália. A vivência familiar despertou nela o desejo e a certeza que deveria ao menos tentar mudar, para melhor, a realidade na qual estava inserida. Despertou a consciência de que havia muito a ser feito para melhorar a sociedade. Essa consciência norteou sua caminhada.

Natália, motivada pela curiosidade, mesmo tendo predileção para física, foi convencida pelo seu pai e decidiu estudar medicina. Para tal, mudou-se para Natal, no Rio Grande do Norte onde fez a graduação em medicina, residência em psiquiatria, mestrado e doutorado em neurociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ela se orgulha de ter feito toda a formação acadêmica e científica no nordeste brasileiro. Com essa trajetória, ela evidencia que é possível obter formação de excelência sem, obrigatoriamente, sair de seu habitat, do lugar onde se sente bem, se sente em casa.

Desde o primeiro semestre do curso de medicina, Natália trabalhou no laboratório de neurociências da UFRN e logo se apaixonou pela psiquiatria. Durante o internato, iniciou suas atividades junto ao Instituto de Neurociências de Natal, em parceria com Sidarta Ribeiro, permanecendo lá até 2010 quando saiu para criar o Instituto do Cérebro onde atua até o momento. Durante a residência, coletou relatos de sonhos de seus pacientes e estudou matemática e programação – Sim, médicos/as precisam saber matemática e, no caso de Natália, a programação também foi fundamental.

No mestrado fez a primeira publicação de artigo “sobre análise de grafos em relatos de sonhos, já na perspectiva de auxiliar avaliação mental e diagnóstico” (Natália, 2020). Segundo Natália, no doutorado, teve a oportunidade de “participar por 3 vezes da LASchool, que me ajudou a buscar mais uma perspectiva de desenvolvimento cognitivo típico, e estudar infância e educação. Ganhei muita profundidade e amplitude na interpretação dos resultados que vinha colhendo.”

Natália também é mãe. O primeiro filho nasceu entre a residência e o mestrado e, segundo ela, “no doutorado ele ainda com 3 anos, observava com muita curiosidade e encantamento seu desenvolvimento. Isso transformou sem dúvida minha clínica e pesquisa.” Sim, ela teve que conciliar a maternidade com a vida acadêmica, tarefa que sobrecarrega as mulheres que decidem se desenvolver como profissional sem renunciar à maternidade. Ela afirma:

“Eu pude perceber, também no doutorado, a diferença de retorno para cientistas mulheres, principalmente as mães. De alguma forma sempre creditavam meus trabalhos aos meus colaboradores homens. Em resposta segui publicando, e produzi 15 artigos em 4 anos de doutorado, publicando 11 nesse período (os demais na sequência). Costumo dizer que estava com raiva, brincadeira com um fundo de verdade.”

Este depoimento de Natália evidencia que o trabalho das mulheres cientistas, além de ser dificultado pela forma como nossa sociedade lida com as atividades domésticas, pelos preconceitos que se impõe às mulheres, é, muitas vezes, usurpado pelos colegas do sexo masculino. A “raiva” dela é compreensível e justificada. Como não sentir raiva diante de situações tão injustas?

Mesmo enfrentando estas situações adversas, Natália conseguiu ter seu trabalho reconhecido e manter uma vida familiar saudável. Ao falar sobre sua rotina, ela afirma:

“Sou uma pessoa bem comum, apaixonada pelo trabalho e pelas minhas crias. Adoro brincar com eles, pintar, aquarelar. Danço balet e amo tocar pandeiro com meus amigos músicos. Se deixar viro a noite numa roda de samba. Na quarentena comecei a escrever contos, e como novos projetos estou empreendendo com um sócio uma startup na área de psiquiatria computacional. Dessa maneira pretendo tornar minha pesquisa autônoma financeiramente, e viabilizar a passagem da tecnologia das bancadas e artigos científicos para a vida das pessoas.”

Esta é uma síntese sobre quem é Natália Mota, a cientista que assim como Mandacaru que floresce na seca, conseguiu florescer e superar as adversidades impostas às mulheres cientistas em uma sociedade machista.

Hoje, aos 37 anos de idade, Natália conseguiu inscrever seu nome na história da ciência brasileira. É certamente uma mulher que inspira!

Fontes:

CARVALHO, Ícaro. Natália Mota: “Conseguimos mapear, com muita precisão, a perda de conectividade na esquizofrenia”. Tribuna do Norte. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/conseguimos-mapear-a-perda-de-conectividadea/472390. Acesso em: 27/04/2020.

DUARTE, Rafael. Reconhecida mundialmente, Natália Mota carrega o Nordeste em busca de igualdade e apoio à ciência brasileira. Mandacaru Científico. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/causador-natalia-mota/#mandacaru-cientifico. Acesso em: 27/04/2020.

FORBES. As mulheres mais poderosas do Brasil em 2020. Disponível em: https://forbes.com.br/listas/2020/03/as-mulheres-mais-poderosas-do-brasil-em-2020/#foto14. Acesso em: 27/04/2020.

Por: Lindamir Salete Casagrande

No último final de semana, 13 e 14 de março de 2020, aconteceu o I Simpósio Brasileiro de Mulheres nas STEM (I SMSTEM) que reuniu mulheres de todas as idades no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em São José dos Campos, São Paulo, Brasil. Foi um momento lindo que ocorreu sob a ameaça do coronavírus que se espalhava pelo Brasil. Mulheres de todo o país se deslocaram, mesmo temerosas, até o ITA para compartilhar os resultados e práticas de seus projetos que estimulam a inserção e permanência de meninas/moças/mulheres nas áreas STEM (Science, Technology, Engeneering and Math) e eu estava dentre elas. Ao dar as boas-vindas ao evento, o reitor do ITA, prof. Dr. Anderson Ribeiro Correia ressaltou que nunca viu tantas mulheres naquele instituto no qual a maioria dos/as estudantes e professores/as são homens. Fizemos história.

Segundo as organizadoras, o evento superou as expectativas no que tange a quantidade de propostas. Foram 182 resumos submetidos e 145 aceitos. Todos apresentavam resultados de experiências bem sucedidas e realizadas nos mais distantes rincões deste país continental. Tivemos 32 apresentações orais e 115 pôsteres que foram divididos em duas seções. A imagem que segue mostra a distribuição dos trabalhos pelo território brasileiro. Os quatro estados com maior número de trabalhos foram São Paulo (44), Minas Gerais (17), Rio de Janeiro (15) e Paraná (12). Apenas 4 estados não compareceram ao evento. São eles, Acre, Ceará, Mato Grosso e Rondônia.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Mapa de distribuição dos trabalhos
Fonte: arquivo pessoal

A grande quantidade de submissões significa que muitas ações estão sendo realizadas pelo país com o intuito de promover a inserção e permanência feminina na área STEM e assim, diminuir gradativamente os obstáculos que a elas se impõe para se consolidarem e serem reconhecidas como cientistas, bem como, o preconceito com relação a participação feminina neste campo do conhecimento.

Foi um momento de muita aprendizagem. Eu arrisco dizer que este foi o Simpósio que mais me acrescentou conhecimento e esperança dentre todos os que tive a oportunidade de participar ao longo de minha trajetória acadêmica. A presença de muitas meninas, sim meninas, estudantes do ensino médio e universitário, renovou as esperanças e deu a certeza de que temos sucessoras. Meninas/moças com lindas iniciativas que possibilitam a maior aproximação e conhecimento de outras meninas/moças sobre o mundo da ciência. Com o conhecimento pode haver o encantamento e a decisão de seguir por este caminho. Este indicativo foi possível perceber nas falas das participantes, no brilho no olhar e no sorriso que era marca constante em seus rostos. Estas expressões injetaram uma dose extra de energia e vontade de continuar atuando junto com elas na transformação da realidade da juventude brasileira, de modo especial da parcela que encontra mais dificuldades e tem menos oportunidades.

Dentre a diversidade de trajetórias e de projetos, uma história chamou a atenção de todas as pessoas que lá estavam. Ela foi evidenciada já na abertura do Simpósio pela fala do vice-reitor Prof. Jesuíno Takachi Tomita que destacou a jornada que ela fez para chegar até São José dos Campos. Foram 12 horas de barco, 8 horas de voo e 1 hora de ônibus, isso tudo acompanhada de uma bebê de pouco menos de um ano de idade. Estou falando de Eliene Santos que pode ser conhecida na imagem que segue. Ela apresentou o projeto As ciências exatas e as “cunhantãs” do Quilombo do Abuí – Oriximiná – Pará. Cunhantã, segundo definição de Eliene, significa meninas/moças guerreiras. Eliene esteve presente em todo o evento e sua filha a acompanhou. Em nenhum momento a bebê chorou, parecia entender a importância da participação de sua mãe naquele momento histórico. Em vários momentos quis oferecer ajuda com a bebê, mas, em tempo de coronavírus, tive que me conter. Certamente muitas outras mulheres tiveram o mesmo sentimento e o mesmo cuidado.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Perseverança e determinação
Fonte: arquivo pessoal

Quando assisti à apresentação de seu projeto pude entender a razão do título, super adequado, diga-se de passagem. Eliene, com sua filha dormindo em seus braços, explicou que as meninas participantes do projeto tinham que se deslocar de barco em viagem que durava 12h desde o Quilombo do Abuí até Oriximiná, ou seja, 12h para ir e outras 12h para voltar. Contou inclusive, que em uma das viagens, o barco ficou à deriva com as crianças a bordo. Sem dúvidas elas, assim como Eliene, são guerreiras.

Eu estive lá apresentando um projeto que será desenvolvido neste ano junto às escolas municipais e estaduais de Curitiba e Região Metropolitana. O projeto Contando histórias de mulheres, inspirando crianças e adolescentes, embora embrionário pois ainda não foi colocado em prática, teve excelente aceitação e algumas participantes manifestaram a intenção de replicar o projeto em seus municípios, fato que me deixou extremamente feliz. Foi uma troca de experiência e de ideias muito produtiva e estimulante. A exposição na forma de pôster permitiu o contato direto com as demais participantes e surgiram muitos convites para fazer parceria e visitar outros projetos com participação em algumas atividades deles. Para que serve a participação em congressos e simpósio? Serve para compartilhar conhecimento, ampliar a rede de relações, planejar parcerias e construir amizades.

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Eu e o projeto
Fonte: Arquivo pessoal

No dia 13 de março a tarde tive a oportunidade de lançar meus livros Marie Curie: uma história de amor à ciência, Zilda Arns: a tipsi que amava as crianças e Ervilhas tortas. Foi muito gratificante receber o carinho e apoio das mulheres que ali estavam. Também levamos o livro Ada Lovelace: a condessa curiosa de autoria de minha querida amiga Silvia Amélia Bim que fez muito sucesso por lá. Marie Curie e Ada Lovelace formaram uma linda e poderosa dupla e foram encantar as crianças e adolescentes Brasil afora.

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Preparada para as dedicatórias.
Fonte: Arquivo pessoal

Outro momento importante e lindo do evento foi a palestra da profa. Dra. Marcia Barbosa. Ela aliou dados quantitativos e bom humor para denunciar os preconceitos e barreiras que se impuseram ao longo da história das mulheres nas ciências. Nas palavras dela, ciência se faz com pesquisa e dados, então seria baseada em dados que construiria sua fala e assim o fez. Ao final foi aplaudida de pé por uma plateia feminina e que se viu ali representada, tanto pela pessoa de Marcia (inteligente, competente, simpática, bem humorada e generosa), quanto pelos dados por ela apresentados. Aqueles obstáculos lhes eram familiares, elas tiveram que transpô-los para estarem ali.

Depois da palestra, Marcia continuava distribuindo sorrisos e gentilezas e não se negava em registrar aquele momento em muitas fotos. Me chamou a atenção o encanto que provocava nas meninas/moças que a cercavam e em mim também evidentemente. Na imagem que segue, reunimos algumas paranaenses para registrar o encontro com esta mulher encantadora e competentíssima. Sem abraços mas com muito afeto e sorrisos.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Paranaenses marcando presença e tietando
Fonte: arquivo pessoal

Essas são algumas memórias deste Simpósio memorável. Ao final acordamos que o II SMSTEM será realizado novamente no ITA daqui a dois anos (2022). Também acordamos que realizaremos encontros regionais bianuais a partir de 2023. Esperamos vocês lá.

Retornei para Curitiba com as energias renovadas e sem trazer na bagagem o coronavírus. Ufa!

Por: Lindamir Salete Casagrande

Muitos ainda acreditam que as mulheres não têm capacidade, habilidade, interesse, disponibilidade para se dedicar a carreira científica. Esta crendice infundada sofreu um duro golpe neste último final de semana. Enquanto a maioria das pessoas brincavam o carnaval nas ruas ou descansavam em locais paradisíaco (inclusive eu!), um grupo de cientistas brasileiros liderados por duas mulheres, uma mais experiente (alguns chamariam de velha, fora de mercado) e outra jovem pós-doutoranda negra (inexperiente? Não!) trabalhavam arduamente para sequenciar o genoma do coronavírus, recém chegado ao Brasil, em tempo recorde nos laboratórios de duas instituições públicas, a USP e a FIOCRUZ.

Os/as cientistas, professores/as e funcionários/as públicos brasileiros têm sido covardemente atacados por setores conservadores de ultradireita do país. Acusados de maconheiros, vagabundos, responsáveis pela destruição do país, eles são lembrados e cobrados quando surge uma nova doença em escala nacional e internacional e dão respostas positivas como foi ocorrido neste final de semana, mesmo poucos recursos financeiros e de apoio. O vírus do primeiro paciente confirmado com a doença teve seu genoma sequenciado em 48 horas e o do segundo paciente em 24 h. Destaca-se que a Itália, país de onde foram importados os vírus, ainda não conseguiu fazer este sequenciamento (03/03/2020).

O episódio evidencia a relevância de se investir e defender as universidades e a ciência brasileira, bem como o SUS (todos precisamos dele!). No ano de 2010, 67,5% do total de cientistas brasileiros atuavam nas universidades. Dentre as instituições de ensino mais produtivas do Brasil as universidades públicas se destacam, daí a importância de defendê-las. Nós precisamos delas, para estudar, para desenvolver ciência que poderá solucionar problemas que nós mesmos criamos.

Sendo assim, é fundamental dar visibilidade às pessoas que dedicam suas vidas ao fazer científico e este blog tem por objetivo dar visibilidade às mulheres que tem como objetivo de vida desenvolver ações em prol do bem comum. Sendo assim, vou fazer uma singela homenagem por meio deste post às duas mulheres que lideraram os trabalhos de sequenciamento do genoma deste vírus que assombra a população mundial. São elas Ester Cerdeira Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP e bolsista da agência de fomento Fapesp. Vamos conhecer um pouco mais sobre elas?

Profa. Dra. Ester Sabino

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Ester Cerqueira Sabino
Fonte: site da Revista Claudia

Ester formou-se em medicina no ano de 1984 pela Universidade de São Paulo – USP e concluiu seu doutorado em Imunologia pela USP no ano de 1994. Atualmente é professora Associada do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP e Diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP desde 2015. Investigadora principal dos programas do NIH “Recipient Epidemiology and Donor Evaluation Study-IV pediatric” e do “São Paulo- Minas Gerais Neglected Tropical Disease Research Center for Biomarker Discovery”. Coordenadora do projeto PITE FAPESP “A translational study for the identification, characterization and validation of severity biomarkers in arboviral infections” e do projeto FAPESP/MRC ” The Brazil-UK Centre for Arbovirus Discovery, Diagnosis, Genomics and Epidemiology (CADDE)”. Seus estudos são desenvolvidos principalmente nas áreas de segurança transfusional, HIV, doença de Chagas, arboviroses e anemia falciforme (Currículo Lattes).

Ester é fruto de uma universidade pública na qual obteve a sua formação acadêmica, bem como, desenvolveu sua vida profissional, devolvendo à sociedade o investimento que possibilitou seu desenvolvimento profissional.

Como coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), entidade dedicada ao estudo em tempo real epidemias de arboviroses, como Dengue e Zika que assombram o país e é um desafio para a sociedade brasileira, ela argumenta que o objetivo do trabalho desenvolvido no Cadde “é produzir respostas que ajudem os serviços de saúde em testes diagnósticos e no desenvolvimento de vacinas.” (PAIVA, 2020, online) Sabemos que a Dengue e a Zika são doenças que assolam o país e atingem, de modo especial, as populações mais carentes. O paraná vive, neste verão, uma epidemia de Dengue que reflete a falta de compromisso da população e dos governos no combate ao mosquito causador deste mal. Pesquisas que visem minimizar os impactos destas doenças como as desenvolvidas no Cadde são fundamentais e merecem todo o apoio.

Ester, ao observar os primeiros casos de COVID-19 originados na China e que se espalhavam mundo afora, juntamente com sua equipe, “treinou pesquisadores para usar uma tecnologia de sequenciamento conhecida como MinION, que já é usado para monitorar a evolução do vírus Zika nas Américas.” (PAIVA, 2020, online) 

Sendo assim, com a experiencia acumulada nos estudos sobre outros vírus e o treinamento realizado previamente, a equipe conseguiu sequenciar o genoma do Coronavírus em apenas 48 horas. Ester afirmou, em entrevista para Letícia Paiva, da revista Claudia que:

“Ao sequenciá-lo, ficamos mais perto de saber a origem da epidemia. Sabemos que o único caso confirmado no Brasil veio da Itália, contudo, os italianos ainda não sabem a origem do surto, pois ainda não fizeram o sequenciamento de suas amostras. Não têm ideia de quem é o paciente zero e não sabem se ele veio diretamente da China ou passou por outro país antes.”

Dona de um currículo invejável, Ester assina 247 artigos publicados em revistas nacionais e internacionais, além de 15 capítulos de livros sobre medicina.

Sem dúvidas é uma mulher cientista inspiradora!

Dra. Jaqueline Goes de Jesus

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Jaqueline Goes de JesusFonte: Site da Revista Claudia

Jaqueline  graduou-se em Biomedicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública no ano de 2012, concluiu o mestrado em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) pelo Instituto de Pesquisas Gonçalo Moniz – Fundação Oswaldo Cruz (IGM-FIOCRUZ) no ano de 2014 e o doutorado em Patologia Humana e Experimental pela Universidade Federal da Bahia em 2019. Desenvolveu atividades de pesquisa no Laboratório de Biologia Molecular na Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (FUNDHERP) e no Laboratório de Biologia Celular e Molecular do Câncer da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Desenvolve pesquisas na área das arboviroses emergentes ZIKV, DENV, CHIKV, YFV, ORV e MAYV. Integra o ZIBRA Consortium e participa do ZIBRA project – Zika in Brazil Real Time Analisys (http://www.zibraproject.org/), projeto itinerante de mapeamento genômico do vírus Zika no Brasil. Realizou estágio de doutoramento sanduíche na Universidade de Birmingham, Inglaterra, desenvolvendo e aprimorando protocolos de sequenciamento de genomas completos pela tecnologia de nanoporos dos vírus Zika, HIV, além de protocolos para sequenciamento direto do RNA. Atualmente desenvolve pesquisas como bolsista FAPESP, em nível de pós-doutorado, no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo – Universidade de São Paulo (IMT-USP), no âmbito do CADDE – Brazil-UK Centre for Arbovirus Discovery, Diagnosis, Genomics and Epidemiology (http://caddecentre.org). (Currículo Lattes)

Com base no breve currículo exposto acima percebe-se que Jaqueline é uma mulher negra que dedicou sua vida aos estudos sobre vírus e doenças que acometem a população sem distinção de cor, raça, classe social, orientação sexual. Sua formação, realizada integralmente em universidades públicas, a qualificou para coordenar e conduzir os trabalhos para o sequenciamento do genoma do coronavírus no Brasil. Jaqueline, ao desenvolver suas pesquisas voltadas a entender os vírus que causam doenças que atingem e afligem a população brasileira, devolve a sociedade o investimento público em sua formação. Sua trajetória evidencia a relevância de se investir e defender as universidades públicas. É nelas que se forma as/os pesquisadoras/es que fazem as pesquisas que podem beneficiar a população.

Jaqueline ainda é uma cientista em formação, estando no início de sua carreira tem a oportunidade de desenvolver suas pesquisas por meio do pós-doutorado financiado pela Fapesp. Ela é uma mulher da qual vamos ouvir falar muito. Apesar se sua pouca idade já conseguiu registrar seu nome dentre as maiores cientistas do Brasil.

Em seu perfil no Instagram, Jaqueline agradece o carinho e apoio recebido e afirma
“Muito obrigada pelo carinho que tenho recebido de todos vocês: familiares, amigos e pessoas que ainda não conheço. Mas não poderia deixar de enfatizar que não estou sozinha nessa jornada. Tudo é fruto do trabalho incansável de uma equipe extremamente dedicada da qual faço parte.”

Ao reconhecer e enaltecer a importância de toda a equipe na obtenção do resultado, Jaqueline deixa transparecer que além de uma grande cientista, é um ser humano que preza pelo respeito e o trabalho em equipe. Não seria nada de mais se o ocultamento da contribuição da equipe não fosse tão frequente no meio científico, principalmente, das mulheres cientistas.

Jaqueline é uma jovem mulher negra que inspira!

Os demais pesquisadores/as que contribuíram para levar essa missão a cabo são:

Dr. Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz;

Dr. Nuno Faria, Dr. Oliver Pybus;

Dra. Sarah Hill;

Doutorando Darlan Candido, da Universidade de Oxford;

Dr. Joshua Quick e Dr. Nicholas Loman, da Universidade de Birmingham;

Mestre Filipe Romero, da UFRJ;

Mestre Pâmela Andrade;

As estudantes Mariana Cardoso e Camila Maia;

A bióloga Thais Coletti;

A farmacêutica Erika Manuli;

As biomédicas Ingra Morales e Flavia Sales.

Fontes:

MELO, Rafael.  Cientistas brasileiras são as mais rápidas no mundo a sequenciar o coronavírus. Disponível em: https://razoesparaacreditar.com/brasileiras-sequenciamento-genoma-coronavirus/?fbclid=IwAR0IxN6iWdw6YHrOyV0soirFb3J7DvL4mbWQJV47BGWPk0UfEJDdhdtJqx4. Acesso em: 03/03/2020.

PAIVA, Letícia. As brasileiras que sequenciaram o genoma do coronavírus. Disponível em: https://claudia.abril.com.br/sua-vida/as-brasileiras-que-sequenciaram-o-genoma-do-coronavirus/. Acesso em: 03/03/2020.

PLATAFORMA LATTES. Ester Cerdeira Sabino. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/8590492866942091. Acesso em: 03/03/2020;

PLATAFORMA LATTES. Jaqueline Goes de Jesus. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/5852030355340056. Acesso em: 03/03/2020.

Por: Lindamir Salete Casagrande

Dia 08 de março celebramos o dia internacional da mulher, porém, diante da realidade atual, na qual, os direitos mais elementares são retirados e/ou negados a elas, pouco temos a comemorar.

Porém, neste 08 de março acontece o evento Mulheres na Literatura, promovido pela Editora InVerso em sua sede situada na rua Dr. Goulin, 1523, no qual 4 mulheres lançarão suas obras literárias. A literatura é uma forma de resistência, de expor a forma de pensar, de levar ludicidade a outras pessoas, de construir sonhos, de ampliar a realidade, de se expressar. As mulheres têm produzido muita literatura e merecem ser lidas.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Material de divulgação

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor

Eu sou uma dessas mulheres que encontram nos livros uma forma de expressar seu pensamento e vou lançar duas obras neste dia.

A primeira é destinada ao público infantojuvenil e traz a biografia de Zilda Arns, médica pediatra catarinense que construiu sua trajetória profissional em Curitiba. Sua vida foi permeada pela fé cristã, conhecimento científica e amor ao próximo. Zilda foi uma mulher forte e sensível e, com sua obra, mudou a vida de milhões de brasileiros ao criar e coordenar a Pastoral da Criança que se espalhou mundo afora. O livro Zilda Arns: a tipsi que amava as crianças é uma homenagem a esta mulher inspiradora e conta com a participação de Lucy Ana Soares Camelo Casagrande que, com sua arte, contou a história de Zilda por meio das belíssimas ilustrações. Quando você ler o livro, preste atenção à última ilustração e reflita o que ela significa. Se puder, compartilhe sua percepção comigo.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Capa do Livro Zilda Arns: a tipsi que amava as crianças

A segunda, destinada ao público geral, intitulada Ervilhas Tortas traz episódios da minha infância na roça. Apresenta ao público urbano a realidade de uma menina que viveu sua infância na simplicidade do campo, próximo à natureza, que propiciava uma liberdade que hoje já não mais existe. Os episódios se passam nos idos dos anos 1970. Compartilho as aventuras e desventuras minha e de meus familiares naquele sítio no interior do Paraná, do qual tenho muita saudade e que hoje já não mais existe. A pequena propriedade familiar que produzia muita riqueza e lindas histórias, virou um pedacinho de uma fazenda de grandes empresários que cultivam eucalipto, arvore fria e sem emoção.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Capa de Ervilhas tortas

Convido a todas e todos para participar deste momento comigo e com as demais autoras que lançarão suas produções neste dia. Ler a produção de mulheres é incentivá-las a continuar produzindo. Vem você também!

Por: Lindamir Salete Casagrande

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Fonte: Divulgação/Faculdade de Saúde Pública/USP

Renata é pesquisadora científica VI no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, principal universidade brasileira. Também atua como pesquisadora colaboradora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP. Com graduação em Nutrição pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC-Campinas (1991), Mestrado (2002) e Doutorado (2007) em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP, se tornou uma dos/as 6000 cientistas mais importantes do mundo. Esse número engloba pesquisadores e pesquisadoras de 60 países e conta com apenas15 nomes de brasileiros na lista, sendo que, destes 15, somente quatro são mulheres. Este reconhecimento foi feito pelo instituto britânico Clarivate Analytics em 2019.

Atuando no Programa de Pós-graduação em Nutrição e Saúde Pública e no Programa Pós-graduação de Medicina Preventiva da USP em nível de mestrado e doutorado, sua experiência em saúde coletiva e suas pesquisas no campo da epidemiologia nutricional a inseriram neste seleto grupo de pesquisadores/as. Ela é referência quando se trata do impacto social e de saúde dos produtos ultraprocessados, tão presentes em nossas mesas. Ela faz parte do grupo que desenvolveu o NOVA, uma classificação que divide os alimentos por grau de processamento e que já foi utilizada para gerar políticas públicas no Brasil. Sobre esta escala, Renata afirmou, em depoimento ao Catraca Livre, publicado em 15/01/2020, que:

“Essa classificação de alimentos que a gente desenvolveu em 2010, denominada NOVA, elevou o país para um patamar diferente na ciência mundial de alimentação. Ela mudou o paradigma da área de epidemiologia nutricional, tirou um pouco o foco reducionista do nutriente e mudou a maneira de enxergar a alimentação.”

Outro de seus relevantes estudos analisa os impactos destes produtos na alimentação escolar, não só nos alimentos oferecidos na merenda escolar, mas também nos que são comercializados no entorno das escolas. Considera que o consumo de salgadinhos e refrigerantes, produtos que se enquadram neste grupo de alimentos e são desejados e acessíveis às crianças e adolescentes, pode resultar em hipertensão, obesidade e até quadros de asma. Em entrevista a Marcio Candido, para o Universa em 27/11/2019, ela argumentou que “As mesmas políticas de combate ao fumo, por exemplo, poderiam ser aplicadas para diminuir o consumo de ultraprocessados”. Acredito que esta redução deve ocorrer não somente nas escolas, mas na alimentação geral da população.

Pensar, pesquisar e divulgar dos estudos nesta área do conhecimento pode melhorar as políticas públicas de alimentação das crianças e adolescentes das escolas públicas brasileiras.

Renata considera que o Brasil, devido a seu tamanho, deveria ter mais cientistas nesta lista, porém, considera que isso é reflexo do baixo investimento em ciência que ocorre no País. Em sua opinião “o Brasil tinha que ter mais cientistas e mais mulheres na lista” (CANDIDO, 2019, online). As outras três cientistas brasileiras que figuraram na lista são Heniette M.C. de Azevedo e Renata Valeriano Tonon, da Embrapa, e Miriam D. Hubinger, da Unicamp.

Renata também foi homenageada, na categoria Ciência, com o Prêmio Cidadão SP, em evento ocorrido no Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM em 25 de janeiro de 2020.

Na atualidade, Renata trabalha em um estudo coordenado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, no qual serão acompanhados os hábitos alimentares e dados de saúde de 200 mil brasileiros/as por dez anos. O projeto é intitulado NutriNet Brasil.

As pesquisas de Renata visam melhorar a qualidade de vida dos brasileiros e brasileiras com base na mudança dos hábitos alimentares.

Renata é uma mulher brasileira que inspira!

Fontes:

CANDIDO, Marcos. Professora da USP entra em ranking de cientistas mais influentes do mundo. Universa. Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/11/27/professora-da-usp-entra-em-lista-de-cientistas-mais-influentes-do-mundo.htm?fbclid=IwAR3bSk9Vowf5Q2WVg2tr6cGIUCmDstmEUPSY0Kp0S1D6iKDi-m9sTp6b1lY. Acesso em: 07/02/2020.

CATRACA LIVRE. Prêmio Cidadão SP homenageia Renata Bertazzi Levy, em Ciência. Disponível em: https://catracalivre.com.br/cidadania/premio-cidadao-sp-homenageia-renata-bertazzi-levy-em-ciencia/. Acesso em: 07/02/2020.

Por: Lindamir Salete Casagrande

Mais um ano se finda. Um ano muito pesado devido as condições que nosso amado país foi submetido graças a escolhas equivocadas que nosso povo tomou nos últimos anos. Um ano em que a intolerância de todas as formas se ampliou. Vimos agressões por intolerância religiosa se manifestar em incêndios a terreiros de Candomblé, em ataques a presépio em igrejas católicas, supostos cristãos (não dá para considerar cristãos quem não pratica os preceitos de Cristo) fazendo arminhas com as mãos dentro de supostas igrejas (para mim, igreja é um espaço de oração e de pregar o amor e a paz), defendendo torturador. Esquecem que Jesus foi torturado até a morte. Acho que Cristo jamais defenderia a tortura né?

Foi pesado também porque vimos muitas mulheres sendo agredidas e assassinadas por homens que se acham proprietários delas. Não aceitam o fim do relacionamento e, por isso, matam. Não querem o filho que a mulher espera e, por isso, matam. Não conseguem ouvir um não, não podem ser contrariados. Vimos crianças serem assassinadas por aqueles que as geraram (não ouso chamar de pai) para atingir/punir a mãe, sua ex-mulher, ex-companheira. Que tipo de homem é esse? Essa violência toda manifesta o quão fracos e covardes são estes sujeitos que se escondem atrás do machismo.

A homofobia e o racismo passaram a ser cotidianos. Foram raros os dias que não ouvimos um relato, ou lemos uma notícia de uma pessoa negra que sofreu preconceito, violência ou foi morta por causa da cor de sua pele. Pessoas brancas que se acham superiores por isso se sentem no direito de agredir, ofender, humilhar, matar. Com toda a certeza, essas pessoas não são superiores, muito pelo contrário. Quando flagrados, denunciados e/ou presos, tem coragem de negar mesmo as imagens mostrando a agressão. Outros seres humanos iguaizinhos a eu e a você que está lendo este texto sofrem violência por causa de sua orientação sexual. Racismo e homofobia são crimes, mas, com a justiça que temos no Brasil, quem teme? Somente os/as negros/as e/ou pobres.

Vimos o meio ambiente mundial e principalmente de nosso país ser destruído por meio de incêndios, desmatamentos, rios sendo mortos depois do rompimento de barragens por irresponsabilidade humana. Muitas vidas foram interrompidas precocemente devido a estes crimes. Muitas outras vidas sofrem as consequências desta atitude interesseira, irresponsável, gananciosa dos diretores da Vale, que vivem em suas salas com ar condicionado. A vida marinha também sofreu com a irresponsabilidade e falta de seriedade e compromisso do ser humano. O óleo que chegou ao nosso litoral, ainda sem explicação, e pior, sem interesse dos governantes em explicar e resolver, ou pelo menos, minimizar os impactos desta tragédia, matou muitos animais marinhos, destruiu santuários naturais e acabou com a fonte de renda e sustendo de muitas famílias que viviam do que extraiam do mar. Muita mulheres sustentam sua prole com o que retiram artesanalmente do mar.

É, 2019 foi pesado!

Mas também teve coisas boas. E é nestas coisas boas que busco forças para receber o novo ano que se inicia amanhã. Dentre essas coisas, temos a consolidação dos Cadernos de Gênero e Tecnologia que já iniciará o ano com o primeiro número de 2020 publicado. Está recebendo artigos de diversas instituições do País e se transformando, cada vez mais, em um espaço para divulgação do conhecimento produzido por homens e mulheres que consideram a temática de gênero fundamental para atingir a equidade e a paz. Muito obrigada a todas as pessoas que acreditaram e acreditam em nosso trabalho. Vocês são demais!

Neste ano que se finda iniciei o projeto de publicação de biografias femininas para o público infantojuvenil. A série Meninas, moças e mulheres que inspiram deu seu primeiro passo com a publicação do livro Marie Curie: uma história de amor a ciência que conta a história da maior cientista que esse mundo já viu. Em minha modesta opinião, Marie Curie superou Albert Einstein, mas é a minha opinião. Como sou feminista, entendo que cada um pode ter a sua opinião, ou seja, você pode discordar de mim, mas precisa respeitar minha opinião desde que ela não prejudique, não faça mal a ninguém. Obrigada a Editora Inverso (www.editorainverso.com.br), na pessoa de Cristina Jones, por acreditar neste projeto!

No dia de ontem entreguei à editora o texto do próximo livro que deverá ser lançado no mês da mulher, março de 2020. O livro será lindo! Também entreguei a primeira parte de um novo projeto, mas esse permanecerá em segredo, por enquanto. Aguardem!

Ainda em 2019 comecei este blog. Foi um desafio de minha querida amiga Lea Velho que me cutucou dizendo que eu deveria criar este espaço para publicar minhas reflexões. Comentei com outras amigas e uma delas, de modo especial, botou muita pilha. Foi Silvia Amélia Bim. Eu tentei não me deixar seduzir pela ideia pois nada entendia (e pouco entendo) de construção e alimentação de blog. Mas aos poucos me rendi a ideia e fui em busca de ajuda. Agradeço a Rael Dill de Mello e Danilo Moraes da Silva que me ajudaram com as noções básicas e Adriana Ripka que me socorreu no meio do caminho. Meu querido Tommy foi o responsável pela arte que você vê no cabeçalho. O blog está no ar e aguardando que vocês deem likes, nos sigam e enviem suas colaborações.

Neste ano também vi meus alunos e minhas alunas, meus amigos e minhas amigas conquistando seus espaços neste mundo maravilhoso e desafiador e isso me deixa muito feliz.

Para o próximo ano, desejo que estejamos unidas/os e fortalecendo umas/uns às/aos outras/os para que o fardo seja mais leve e consigamos enxergar as flores do caminho. Que consigamos encontrar paz interior e exterior para apreciar a natureza e enxergar novas possibilidades que se apresentam e, muitas vezes, não conseguimos vê-las. Que nos amemos para que possamos amar ao próximo. O amor ilumina a alma, adoça a vida, faz o mundo mais bonito.

Seja bem-vindo 2020! E que tenhamos esperança do verbo esperançar, como nos ensinou Paulo Freire.

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor

Por: Lindamir Salete Casagrande

O que mais chamou a sua atenção na história a mulher lesma comente com os colegas e o professor
Marithania Silvero Casanova
Fonte: El Español

Marithania, nascida em Huelva na Espanha em 1989, é professora assistente da Universidade de Sevilha na área de Matemática. Ela, desde muito jovem, gostou de desafios o que a fez se apaixonar pela matemática e pela ciência. Seu principal passatempo na infância e adolescência era resolver os problemas matemáticos. Era uma menina que fugia aos padrões esperados em um ser do sexo feminino.

Quando questionada por Paolo Fava (2019, online, tradução nossa) sobre quando surgiu seu interesse pela matemática ela respondeu:

“desde os sete ou oito anos. A matemática sempre foi o que eu mais gostava. E tive a sorte de ter professores muito bons que sempre me propunham a resolução de problemas como uma meta. Ou uma adivinhação. E em minha casa brincávamos muito, como, por exemplo, no carro: ‘Vamos somar as placas!’.”

Seu amor pela matemática se manteve aceso e só aumentou com seu crescimento e amadurecimento. Diante disso, ela percebeu que a carreira matemática era o caminho a ser seguido e assim o fez. Em 2015, com apenas 24 anos de idade, concluiu seu doutorado com a tese intitulada On some families of links and new approaches to link homologies (Em tradução livre – Em algumas famílias de vínculos e novas abordagens para vincular homologias) defendida na universidade de Sevilha, Espanha.

Marithania é uma pesquisadora que gosta da pesquisa em matemática pura e defende a pesquisa básica, fundamental para o desenvolvimento científico de qualquer país. Em entrevista a Raúl Limón (2019, online,) Silvero afirmou:

“Gosto de pesquisa pura, de ciência básica, a responsável por expandir os limites do conhecimento. Se depois meus resultados puderem ajudar cientistas de outras áreas a resolver seus problemas, ficarei feliz, mas esse não é meu objetivo.”

Silvero se especializou em “teoria dos nós” e assim explica, para pessoas leigas, o que é um nó:

“Lhe diria para pensar em uma corda normal, amarre as duas pontas com um nó. O que estudamos são as transformações que podemos fazer nessa corda sem rompê-la: esticando-a, passando uma parte por cima da outra… Em linguagem matemática, diríamos que se busca formas de deformar o espaço de uma dimensão (a cordapode ser comparada a uma reta) para um espaço de três dimensões.” (FAVA, 2019, online, tradução nossa)

Seus estudos estão dando resultados. Neste ano de 2019 ela recebeu o “premio de Investigación Matemática Vicent Caselles que otorgan la Real Sociedad Matemática Española y la Fundación BBVA” (FAVA, 2019, online, grifos do autor) por ter refutado a conjectura de Louis Kauffman, cientista estadunidense, que já durava 30 anos. Ela encontrou um nó que rebate a teoria de Kauffman (não vou explicar essa teoria aqui, pois meu objetivo e apresentar Marithania) e isso a fez merecedora de tal premiação. Esta refutação ocorreu pouco antes de um encontro entre Silvero e Kauffman, seu mestre, que não só endossou a descoberta de Silvero como os dois se tornaram colaboradores e parceiros de pesquisa.

Silvero atribui seu êxito em sua caminhada ao apoio de familiares, amigos/as e professores/as. Ela ressalta a importância dos/as professores/as na vida dos/as estudantes. Em sua opinião, professores/as que amam o que ensinam e transmitem esse amor aos/às seus/suas alunos/as podem fazer com que as aulas sejam mais agradáveis e atrativas e assim, aumentar o interesse pela aula e palos estudos.

Ela, embora afirme não ter sofrido os preconceitos que se impõe às mulheres que almejam ou melhor, ousam, adentrar nas áreas científicas, reconhece que eles existem e dificultam a trajetória das mulheres nesta área do conhecimento. Em suas palavras “Não senti um tratamento diferente ao dispensado aos meus companheiros, mas é verdade que conheço companheiras que tiveram outras experiências” (Silvero apud LIMÓN, 2019, online,). Silvero destaca que quando fala que é matemática costuma ouvir um espantado “não parece!”. Isso se deve aos estereótipos do que é um/a cientista. Normalmente as pessoas pensam que matemáticos são do sexo masculino e velhos. Marithania é mulher, jovem e bonita, ou seja, não pode ser matemática. Pode sim!

Destaca ainda a importância de modelos atuais para que mais jovens se interessem pela área científica. Para ela, as mulheres que se destacaram no século XIX e até antes dele, não servem de exemplo, pois, as adolescentes atuais não se identificam com elas. Neste aspecto eu discordo de Silvero e acredito ser fundamental que as meninas/moças/mulheres conheçam as suas antecessoras e se inspirem nelas independente de que século elas são. Entretanto concordo com ela no que diz respeito à relevância de se mostrar a história de mulheres atuais que sirvam de exemplo e de inspiração. Por isso escolhi contar brevemente a história de Marithania. Ela é sem dúvida uma mulher da atualidade e serve de exemplo por sua genialidade.

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Fontes:

FAVA, Paolo. La matemática andaluza que solucionó a los 26 la conjetura que nadie había resuelto en 30 años. El Espanhol, 08 de outubro de 2019. Disponível em: https://www.elespanol.com/ciencia/investigacion/20191008/matematica-andaluza-soluciono-conjetura-nadie-resuelto-anos/434956720_0.html . Acesso em: 21/12/2019

LIMÓN, Raúl. Jovem matemática refuta conjectura estabelecida há 30 anos. El País, 21, dezembro de 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ciencia/2019-12-21/jovem-matematica-refuta-conjectura-estabelecida-ha-30-anos.html?fbclid=IwAR1WOxfFIo7H2JYUXYPJWacaewABIeOkUNe6UK4IhSq9guYjDkkWoYKB7Qk . Acesso em: 23/12/2019.Os nós. Disponível em: https://www.math.tecnico.ulisboa.pt/~cviva/teoria_dos_nos.html. Acesso em: 23/12/2019.