O que a abelha produz além do mel

O que a abelha produz além do mel

A industrialização dos produtos da apicultura permite a obtenção de diversos subprodutos. Na prática, esse processo consiste na transformação da matéria-prima com agregação de novos componentes ou pelo simples fracionamento do produto, possibilitando a diversificação e, consequentemente, contribuindo para a melhoria da renda do produtor.

Abaixo, listamos os principais produtos que você pode fazer na atividade apícola:

1 – Mel

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As abelhas pertencem ao Filo Artrópode, Classe Insecta, Ordem Himenóptera, Família Apoidea. São insetos sociais, ou seja, os indivíduos da espécie vivem juntos em colmeias e tem divisão de tarefas dentro dela. Apresentam heteromorfismo, há diferenças morfológicas relacionadas à função que desempenham dentro da colmeia.

Apresentam três tipos morfológicos: Rainha, Operárias e Zangão.

Rainha

A função da rainha na colmeia é reprodutiva, ela passa a vida na colmeia colocando ovos que se transformarão nas futuras abelhas operárias, zangões ou novas rainhas. A abelha que é escolhida para ser rainha é alimentada a vida toda com geleia real, um tipo especial de alimento produzido na colmeia que nutre e possibilita a rainha a fertilidade para produzir óvulos e colocar os ovos. Quando a futura rainha atinge a “adolescência” sai para o voo nupcial, encontra-se com o zangão e copula. Após a cópula retorna à colmeia e começa a postura de ovos.

O que a abelha produz além do mel

Abelha rainha, no centro, é maior que as outras abelhas. Foto: Jaroslav Moravcik / Shutterstock.com

Assim como a abelha rainha, a função do zangão (que é o macho) é reprodutiva. Ele realiza o voo nupcial, fecunda a abelha rainha e em algumas espécies, morre após a cópula ou é abandonado pela colônia de abelhas por não ter mais “utilidade”.

Operárias

São abelhas estéreis que executam funções diversas dentro da colmeia. Algumas são responsáveis pela alimentação da rainha, larvas e zangão. Outras cuidam para que a estrutura da colmeia seja mantida fazendo reparos nas células, limpando a colmeia e construindo novas células para guardar mel ou abrigar os ovos postos pela rainha. Além das funções internas, as operárias guardam a entrada da colmeia e outras saem para visitar as flores de plantas onde procuram néctar e pólen.

O que a abelha produz além do mel

Abelha operária coletando pólen de uma flor. Foto: Jack Hong / Shutterstock.com

Com o néctar e o pólen coletado nas flores, as abelhas operárias produzem o mel, cera, própolis e geleia real.

O mel é um tipo de açúcar com alto valor energético que serve de alimento para as abelhas. Dependendo da espécie de néctar coletado nas flores, o mel apresentará uma constituição diferente, assim, temos mel de flor de laranjeira, silvestre, etc. Algumas abelhas tem capacidade de produzir grande quantidade de mel como a abelha Apis melífera, conhecida como abelha africana. Outras produzem pequenas quantidades, como a abelha jataí (Tetragonista angustula), porém seu mel é muito valorizado pelo sabor.

Outro produto das abelhas é a cera. Ela é produzida com a mistura do pólen com néctar ou pólen e mel e utilizada na construção das células da colmeia. Tem propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes, por isso é utilizada na medicina natural pelo homem.

O própolis é produzido a partir da ação de enzimas das abelhas operárias com a modificação de ceras e também a partir de resinas das plantas. Sua função é de proteger a colmeia de micro-organismos como vírus, bactérias e também insetos invasores. Ele está presente geralmente na entrada da colmeia e tem uma função desinfetante. Quando as abelhas operárias passam pela entrada da colmeia são desinfetadas pela ação do própolis.

Como informado, as abelhas que se tornarão rainhas da colmeia e as larvas, recebem um tipo especial de alimentação, a geleia real. É uma substancia gelatinosa, com propriedades regenerativas, produzida por glândulas hipofaríngeas que as abelhas jovens produzem.

O que a abelha produz além do mel

Colmeia. Foto: StockMediaSeller / Shutterstock.com

As abelhas tem uma função importante na reprodução das plantas realizando a polinização. No momento em que visitam as flores à procura de néctar e pólen, o mesmo gruda em seus pelos e quando elas visitam novas flores esse pólen acaba caindo na entrada do gineceu (órgão reprodutivo feminino da flor) e encontra o óvulo, promovendo a fecundação. Muitas espécies de plantas simplesmente não existiriam sem a presença das abelhas.

O que a abelha produz além do mel
O que a abelha produz além do mel
Fotos: Divulgação / Emater-DF

Instituído nacionalmente como data a ser comemorada em 22 de maio, o Dia do Apicultor traz à tona a conscientização sobre o papel fundamental das abelhas na cadeia alimentar. No Distrito Federal, 80 apicultores cadastrados na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) produziram, em 2019, 13,8 toneladas de mel, além de outros derivados como o própolis, cera e pólen.

13,8 mil toneladas Quantidade de mel produzida, em 2019, por apicultores do DF

Aliada às práticas agrícolas, a apicultura gera benefícios para todos os envolvidos. Enquanto as abelhas conseguem o néctar e o pólen necessários para se alimentar e produzir mel, a agricultura se beneficia da polinização, que amplia sua produtividade e garante frutos com mais qualidade e, consequentemente, maior valor de mercado.

Produção

Segundo o extensionista rural da Emater Carlos Morais, as abelhas com ferrão possuem enxames de 70 mil a 90 mil indivíduos, em média, e produzem de 30 kg a 40 kg de mel por caixa, anualmente, em apiários fixos.

90 mil Número de abelhas de ferrão que podem compor um enxame

Há apicultores de enxames itinerantes que, em busca de índices maiores de produtividade, transportam as abelhas em caminhões para áreas com floradas variadas, em diferentes épocas do ano. Dessa forma, conseguem obter de 80 kg a 100 kg de mel por ano, por colmeia.

“São criadores de enxames itinerantes que alugam os serviços de polinização das abelhas para os produtores de frutas cítricas, melões, maçãs, peras, café, hortaliças e algodão, por exemplo”, explica o extensionista. “Essa prática é mais comum em locais com grandes áreas de cultivo, como em São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais e um pouco no Paraná”.

A apicultura

Antes de começar a criar abelhas, lembra Carlos Morais, é preciso definir toda a estratégia de trabalho, identificar os objetivos da atividade e, a partir daí, fazer um planejamento. Também é importante conhecer o inseto.

300 metros Distância mínima que um espaço de apicultura deve manter de residências e estradas

O produtor, que não pode ser alérgico ao veneno das abelhas, deve montar o espaço de cultura a uma distância de 300 metros a 500 metros de residências, de locais com animais domésticos e de estradas.

“Buscar toda e qualquer informação é fundamental”, resume o extensionista rural, que sugere livros, pesquisas científicas e páginas da internet. A Emater pode contribuir com a assistência técnica e no contato com os demais produtores da região. “Essas visitas vão ajudar a sanar dezenas de dúvidas para o iniciante na atividade”, explica.

Mel e própolis

De acordo com Carlos Morais, o mel produzido no DF tem como vantagem em relação aos das outras regiões o teor menor de umidade. O preço médio do quilo do produto é de R$ 45, e, nesse período de pandemia, o própolis também tem sido muito procurado.

Morais explica que as abelhas produzem própolis para sua defesa e proteção de crias, a partir de resinas e seivas das plantas. “Aqui no Cerrado, elas utilizam principalmente o alecrim-do-campo e produzem o melhor própolis do país – o própolis verde” detalha. “Criadores em outras regiões estão cultivando essa planta especialmente para a produção de própolis”.

“O mel e seus derivados fazem parte de uma extensa cadeia produtiva” Carlos Morais, extensionista rural da Emater-DF Carlos Morais, extensionista rural da Emater-DF

Além dos produtos provenientes das abelhas, a apicultura gera emprego na fabricação de caixas, vestimentas, utensílios para o manejo na criação, bem como equipamentos industriais para processamento, embalagem, transporte e comercialização dos mais variados itens. “O mel e seus derivados fazem parte de uma extensa cadeia produtiva”, pontua o técnico. “Os produtos são utilizados para alimentação, estética, para fabricação de medicamentos, entre outros”.

O que a abelha produz além do mel


Espécies sem ferrão

Uma alternativa à abelha melífera são as abelhas nativas sem ferrão, as meliponíneas. A espécie é conhecida por ser polinizadora mais eficiente do que a exótica Apis mellifera (que tem ferrão) para grande parte das plantas cultivadas.

Na região do Lago Norte, um grupo de produtores vem investindo na criação de abelhas indígenas sem ferrão  como alternativa de atividade produtiva aliada à preservação ambiental. As abelhas jataí (Tetragonisca angustula) polinizam até 90% das árvores e flores nativas da região e produzem um mel de maior valor agregado que o de abelhas com ferrão.

Além de a abelha indígena ter maior potencial como agente polinizador das flores que não são trabalhadas pela espécie com ferrão, ela não é agressiva, o que facilita seu manejo. A jataí produz um mel com maior umidade, menos denso, com sabor e aroma diferentes.

A produtividade anual das abelhas jataí é de 0,5 kg a 1,5 kg de mel por caixa, quantidade baixa se comparada à produção da espécie com ferrão. Entretanto, enquanto o quilo do mel da abelha com ferrão custa em média R$ 45, a mesma quantidade do produto das abelhas nativas varia de R$ 60 a R$ 120.

A importância das abelhas, contudo, vai além da produção de mel. “A criação das abelhas é apenas a ‘cereja do bolo’”, atenta Carlos. “Ela está associada também à preservação ambiental e à produção de frutas no Cerrado, já que as abelhas têm importante papel na fruticultura”.

Trabalho premiado

Com auxílio do escritório da Emater do Paranoá, um projeto sobre criação de abelhas sem ferrão, nascido de uma roda de contação de histórias na área externa do Centro de Educação Infantil Tia Nair, Unidade I, foi premiado pela Regional de Ensino da cidade.

Quando a atividade começou, as abelhas que passavam pelo local chamaram atenção das crianças. Foi então que uma enxurrada de perguntas dos alunos terminou com a escola sendo campeã do projeto pedagógico de 2019 na região.

Sem conseguir responder aos questionamentos das crianças com faixa etária de 4 anos, as professoras tiveram a ideia de buscar auxílio especializado. Carlos Morais, que atua no escritório da empresa na região, de pronto encarou o desafio. Além de orientar as professoras sobre todas as questões a esse respeito, foi à escola, ensinou as crianças a confeccionar iscas com garrafa pet, papel plástico e cera de abelha, com intuito de começar a fazer uma colmeia.

“Foi na Emater que aprendemos mais sobre as abelhas”, conta a professora Jaqueline Oliveira. “Até então, só sabíamos que as abelhas produzem mel. Aprendemos ainda a diferenciação entre as abelhas que picam e as que não picam”.

Com todo esse trabalho desenvolvido, as professoras investiram na proposta das crianças dentro do projeto pedagógico da regional de ensino com o tema da meliponicultura, que é a criação de abelhas sem ferrão. O trabalho foi um dos escolhidos para exposição no Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic) do Paranoá, concorrendo com todas as escolas das áreas rurais e urbanas da região.

* Com informações da Emater-DF

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