Filme sobre medicina na Idade Média

Pós-graduanda em Educação e Divulgação Científica (IFRJ)

O filme O físico é uma produção alemã baseada no livro homônimo de Noah Gordon e dirigida por Philipp Stölzl. A história se inicia na Inglaterra, em 1021, e vem apresentando que na Idade Média a arte de curar as pessoas havia sido deixada para trás, só existindo barbeiros (curandeiros) com pouco conhecimento sobre o assunto. Como a História mostra, essa era uma época em que o conhecimento no Ocidente ficou retido na Igreja Católica, porém no Oriente os estudos sobre as mais diversas áreas se propagavam.

O filme traz a história de um menino, Rob, que após a morte de sua mãe se vê sozinho no mundo e decide seguir um barbeiro local. Ele cresce ajudando-o e se interessa cada vez mais pela profissão de curandeiro. Porém, para poder ajudar mais os doentes, ele precisaria ir para longe da Inglaterra para estudar. Com pessoas que ele vem a conhecer, uma família judia, Rob fica sabendo que existe uma cidade no Oriente Médio, na Pérsia, onde ele poderia aprender mais o ofício de curandeiro, e então resolve viajar para esse local para estudar, já que lá o conhecimento e os estudos sobre Medicina eram mais avançados.

Antes de partir, Rob toma conhecimento de que só os judeus seriam aceitos para estudar na tal cidade, que era gerida por muçulmanos. Como ele era católico, resolveu se passar por judeu para poder entrar na cidade. Nessa época, a Igreja Católica era a instituição que mantinha sob seu poder tudo que havia de documentos sobre o conhecimento científico na Europa. Esses documentos, muito superficiais, eram escritos em latim e grego, e apenas os estudiosos da Igreja tinham acesso a eles. Logo, não era possível que as pessoas tivessem como ter contato com o conhecimento. O filme também mostra, além da questão do conhecimento científico, as disputas e lutas de povos com religiões diferentes.

Pela história contada no filme, é possível observar a diferença entre católicos e muçulmanos no que diz respeito ao conhecimento, que era aplicado de forma mais abrangente deste último lado; percebe-se que o saber científico podia contribuir de forma mais eficaz para essas populações.

Ainda que o conhecimento científico pudesse ser estudado na região, a religião se fazia presente fortemente, interferindo em muitos estudos. Com o surgimento da peste negra, o xá prefere acreditar que Deus não deixará que a doença se alastre pela cidadela. Porém, o curandeiro mestre, Ibn, alerta-o sobre uma possível infestação na população local e sugere o esvaziamento da cidade. O xá confirma sua crença na intervenção divina e, com isso, a população acaba sofrendo com a peste.

Os estudiosos trazem com eles o conhecimento deixado pelos filósofos antigos, o que contribui como método científico para o tratamento das doenças, especialmente o conhecimento deixado por Hipócrates, que o mestre o menciona em determinado momento, dizendo que Hipócrates comparava as raízes das feridas da peste com raízes de árvores, que não poderiam ser cortadas. Rob então questiona Ibn e os dois saem para realizar uma autópsia em um animal a fim de comprovar tal informação. Mais uma vez religião e ciência entram em conflito, pois Rob não aceita que as feridas dos animais possam ser iguais às das pessoas. Ele quer realizar o procedimento em um dos tantos cadáveres humanos, mas o confronto com a religião se põe acima da ciência.

As leituras, assim como as experimentações, se fazem fundamentais para que Rob e Ibn consigam definir a causa da doença e possam agir contra ela. Pelos números apresentados durante as pesquisas, foi então possível verificar a eficácia do tratamento.

O filme também mostra a relação entre as religiões e a crença do pós-morte, assim como os preconceitos religiosos. Após Rob e Ibn serem presos por realização de necropsia feita por Rob, eles conversam sobre a experiência do seu contato com os órgãos humanos e as quebras de paradigma sobre o que se pensava em relação ao corpo humano e como ele realmente era.

No filme é notório que na Idade Média o conhecimento científico era extremamente restrito, especialmente no Ocidente, e que os estudos científicos eram empíricos. Por conta da religião, mexer no corpo de seres humanos já falecidos era considerado extremamente desrespeitoso com Deus, o que dificultava muito as experimentações. A Filosofia é tratada com bastante ênfase no filme e faz uma ligação interessante com a História da Ciência, proporcionando de forma criativa e simples entender como a ciência era tratada na Idade Média.

Ficha técnica do filme

Título: O físico Direção: Philipp Stölzl Gênero: Aventura Ano: 2013

Produção: Alemanha

Publicado em 28 de maio de 2019

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.

Existe uma polêmica acerca de O Físico, que passa ao largo da qualidade do filme: a tradução brasileira de seu título original. The Physician, o título original, seria O Médico ao ser traduzido para o português. Entretanto, é este também o título do livro de Noah Gordon no Brasil, o que levanta a questão da fidelidade ao material original. Mais ainda: há quem defenda esta tradução, já que na época apresentada pela história não existiam médicos de fato e as pessoas que se dedicavam a cuidar das doenças eram, na verdade, chamadas de physicist, ou seja, físico. Questões linguísticas a parte, fato é que o longa-metragem dirigido por Philipp Stölzl traz uma interessante abordagem sobre um tema pouco visto nas telas de cinema, mas que fracassa devido aos exageros e clichês presentes no decorrer da trama. O início de O Físico até anima. Em plena Inglaterra do século XI, os poucos que se dedicam à arte da cura enfrentam as mais diversas dificuldades, seja pelo desconhecimento do próprio corpo humano ou pela crendice da população acerca de seus remédios e métodos. Este cenário, típico da Idade das Trevas, reflete bem o momento em que a igreja detinha tanto poder na vida das pessoas que prejudicava a própria evolução da sociedade, já que aqueles que abriam e dissecavam corpos humanos eram considerados hereges e condenados à morte. Este trecho, que dura em torno de 20 minutos, chama a atenção justamente pelo tom realista e até histórico, bem caracterizado e atuado. O problema vem logo a seguir.

Como o personagem principal, Rob Cole (Tom Payne, burocrático), deseja aprender mais sobre a (quase inexistente) medicina, ele topa viajar para o outro lado do mundo conhecido, a Pérsia, onde pode estudar com um consagrado médico chamado Ibn Sina (Ben Kingsley, apático e se repetindo em mais um personagem asiático), que fazia algo revolucionário: cuidar de um hospital. É a partir de então que o filme passa a apelar para todo tipo de clichê dramatúrgico: apresenta as dificuldades da travessia, cria um triângulo amoroso mal desenvolvido, traz colegas de turma que logo batem de frente com o novato bem intencionado, um xá bem egoísta e arrogante e ainda uma doença perigosa à espreita, a peste negra. Quer mais? Rob ainda tem o poder de antever quando as pessoas estão prestes a morrer, o que lhe dá a oportunidade de tentar desvendar a enfermidade antes que ela seja fatal – um dom que o dr. House adoraria ter em mãos.

Diante de tantos estereótipos, não há qualidade que resista. Ainda mais quando a representação da Pérsia é tão pobre visualmente, especialmente a direção de arte, o que alimenta ainda mais a sensação constante de filme B. Isto sem falar de certos diálogos sofríveis e dos cortes abruptos presentes no longa-metragem, decorrentes da diminuição da duração do filme em 36 minutos pela distribuidora brasileira. É fácil notar de onde tais cenas foram retiradas, especialmente no período em que a travessia rumo à Pérsia é apresentado – há um grande salto entre a saída de Londres e a chegada ao Egito.

Ao optar pela história fácil do triângulo amoroso em detrimento de uma possível crítica ao ideal reinante que impedia uma maior investigação sobre o corpo humano, e consequentemente o aprofundamento do conhecimento, O Físico se apequena bastante e fica bem longe do que seu início insinuava. Ainda mais porque teima em deixar de lado o fundo realista para investir em um lado metafísico, como se Rob fosse um mutante com poderes que o ajuda a seguir seu dom natural em curar as pessoas. Soou piegas? É por aí mesmo.

Não recomendado para menores de 14 anos

Inglaterra, século XI. Ainda criança, Rob vê sua mãe morrer em decorrência da "doença do lado". O garoto cresce sob os cuidados de Bader (Stellan Sarsgard), o barbeiro local, que vende bebidas que prometem curar doenças. Ao crescer, Rob (Tom Payne) aprende tudo o que Bader sabe sobre cuidar de pessoas doentes, mas ele sonha em saber mais. Após Bader passar por uma operação nos olhos, Rob descobre que na Pérsia há um médico famoso, Ibn Sina (Ben Kingsley), que coordena um hospital, algo impensável na Inglaterra. Para aprender com ele, Rob aceita não apenas fazer uma longa viagem rumo à Ásia mas também esconde o fato de ser cristão, já que apenas judeus e árabes podem entrar na Pérsia.

Por Graça Vignolo de Siqueira

Sinopse:

“Na Inglaterra, no século XI, o pequeno Rob vê sua mãe morrer vítima da “doença do lado”. O garoto cresce sob os cuidados de Bader (Stellan Sarsgard), o barbeiro local, que vende bebidas para cura de doenças. Ao crescer, Rob (Tom Payne) aprende tudo o que Bader sabe sobre cuidar de pessoas doentes, mas ele sonha aprender muito mais. Então descobre que, na Pérsia, há um médico famoso, Ibn Sina (Ben Kingsley), que coordena um hospital. Algo impensável na Inglaterra. Para aprender com ele, Rob aceita fazer uma longa viagem rumo à Ásia e para isso esconde o fato de ser cristão, já que apenas judeus e árabes podem entrar na Pérsia.”

Uma das estreias da semana no Cineflix do Shopping Pelotas, The Physician, nome original do filme, é baseado no livro do jornalista Noah Gordon, já conhecido por retratar em seus livros a evolução da medicina, ética médica, cultura judaica e época da Inquisição. O livro faz parte de uma trilogia e foi lançado em 1986.

 A história inicia na Europa, Idade Média, em plena Idade das Trevas. Tudo que Roma desenvolvera em termos de cura caíra em esquecimento. Sem médicos ou hospitais, as pessoas estavam nas mãos de “barbeiros/curandeiros”, que com suas bebidas curavam algumas doenças.

 Ano de 1021, Inglaterra, Rob Cole vê chegar o barbeiro Bader no lugar onde mora com a mãe e o casal de irmãos. Rob fica fascinado. Porém, quando sua mãe passa mal ele busca por ajuda e nada é feito, afinal não sabem o que ela tem.

Rob então é descartado pelos moradores do povoado, por ser o mais novo, afinal seus irmãos poderiam trabalhar. Bader então fica como seu tutor e lhe ensina tudo o que sabe. Essa primeira parte é bem interessante e mostra a

disputa de poder entre as principais religiões da época: cristãos, judeus e árabes.

Esse primeiro mestre de Rob nem deseja que ele siga seus passos, pois sabe o quanto é difícil ir contra a igreja. Mas já com catarata, não acredita que alguém o possa curar. Então o aprendiz opera o mestre.

A partir daí Rob quer mais e parte em direção ao oriente na busca pelo médico que administra um hospital. Ele precisa aprender. No meio do caminho ele conhece Rebecca, o que nem seria tão necessário para a história, mas é compreensível.

Pausa para apresentar o lindo casal Rob e Rebecca, que deixa o filme mais bonito com suas imagens na tela. Tom Payne já fez A Vida Num Só Dia, Reality da Morte e Luck, entre outros. Emma Rigby esteve na nova versão de Amor Sem Fim, O Conselheiro do Crime e Once Upon a Time in Wonderland. O casalzinho faria uma ótima nova versão para Romeu e Julieta.

Rob chega ao seu destino e fica ainda mais fascinado com o que vê. Quando conhece o grande médico Ibn Sina a afinidade acontece de imediato e logo se torna seu seguidor constante.

A epidemia da peste negra se alastra na cidade e com a ajuda de Rob conseguem diminuir o número de mortes. O famoso médico ainda assim respeita as limitações impostas pela religião e não se arrisca a pesquisar cadáveres, mas Rob não aceita qualquer limite e rompe com todas as regras.

A trama ganha um pouco de suspense e ação e é interessante ver Rob com a coragem de se declarar cristão e com fé ao confrontar o inimigo.

Tom personifica otimamente o jovem em busca de respostas e Kingsley defende muito bem seu papel.

O filme estreou na Alemanha e Espanha no fim de 2013. Depois foi para o resto do mundo. De produção alemã, foi indicado a cinco prêmios no German Film Awards, embora sem ganhar nenhum prêmio.

Embora meio lento em alguns momentos gostei do que vi, recomendo para quem goste de filmes de época e minha nota é 8,9.

Foto: Divulgação

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