Explique a importância dos povos Iorubás e Bantos para a formação da cultura brasileira

A escravidão no Brasil, teve início com a produção de açúcar na primeira metade do século XVI. A maior parte dos africanos aqui escravizados, vinham da África Centro-Ocidental, e eram fornecidos por africanos chefes políticos ou mercadores portugueses.

A procedência dos africanos que aqui chegavam alcançava países da costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue.

Estes africanos dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses e bantus. Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: yorubás, jejes e fanti-ashantis. Esse grupo tinha origem do que hoje é representado pela Nigéria, Benim e Costa do Ouro e o seu destino principal no Brasil, era a Bahia.

Já os bantus, grupo mais numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A origem desse grupo estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique e tinha como destino: Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os guineanos-sudaneses dividiam-se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussás e tapas, e tinham o mesmo destino dos sudaneses.

No final do século XVI, a população da cidade do Rio de janeiro era de 3.850 habitantes, entre índios, portugueses e africanos. A grande parte desses africanos no Rio era de etnia bantu. Eles contribuíram não só na época de toda a colonização como também já no progresso do século XVIII, com os serviços de estiva no porto da cidade. Os Bairros centrais da cidade como Gamboa, Sáude, Santo-Cristo até a Cidade Nova era chamada de "Pequena África", pois eram habitadas por muitos africanos e seus descendentes. Os bantus promoveram e mesclaram sua cultura nativa no Rio, com os cucumbis, as congadas e o jongo que são ritmos considerados pais do samba. Na culinária inseriram, o quiabo, o angu, maxixe, jiló, a moqueca de peixe e a feijoada. Os bantus contribuíram também com seu culto aos ancestrais e as práticas medicinais e ritualísticas que favoreceram o nascimento da Umbanda. Não só no dia a dia carioca, mas em todo o Brasil, línguas bantus como: kikongo, Kimbundo, kioko e umbundo influíram nossa linguagem atual.

As etnias yorubás e jejes influenciaram nas práticas de cultos aos Orixás e Voduns, nas músicas com citações as suas divindades, nas indumentárias e na culinária afro-baiana. Mas, mesmo o vocabulário do culto jeje-nagô (mistura de yorubá com língua fon), sofre influência bantu, como no termo quizila (tabu).

A contribuição bantu na formação linguística brasileira é muito expressiva, pois são inúmeras palavras presentes em nosso vocabulário: angu, abano, banda, bunda, bazuca, caçula, capanga, candango, cachimbo, cafundó, caxumba, dendê, fubá, fundanga, batuque, macumba, miçanga, mocotó, moleque, muamba, muvuca, muquiço, quitanda, quizila, quitute, quilombo, samba, umbanda, saravá, camundongo, ginga, tanga, sunga, catinga e tantas outras palavras que marcam a influência da língua, e da cultura bantu no Brasil.

Sakidila Mbuntu Ngola! (Louvada seja a Nação Angola!)

Aueto!

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Iorubá é o nome de uma das maiores etnias do continente africano em termos populacionais. Na verdade, o termo é aplicado a uma coleção de diversas populações ligadas entre si por uma língua comum de mesmo nome, além de uma mesma história e cultura. Os grupos étnicos que vivem próximos aos iorubás são os fon, ibo, igala e Idoma.

A maior parte dos iorubás vive na Nigéria, mais precisamente na região sudoeste do país. Há também importantes comunidades presentes em Benim, Gana, Togo e Costa do Marfim. Devido ao tráfico de escravos, bastante ativo na área entre os séculos XV e XIX, muitos traços da cultura, língua, música e demais costumes foram disseminados por extensas regiões do continente americano, com destaque para Brasil, Cuba, Trinidad e Tobago e Haiti. Boa parte da população negra no Brasil veio de terras iorubás.

Presentes há vários séculos em áreas dos atuais Benim e Nigéria, a história recente dos iorubás é marcada pelo surgimento do Império de Oyo no final do século XV, que se ergueu com o auxílio dos portugueses interessados no comércio local. Lagos, aliás, a mais importante e populosa cidade da Nigéria, localizada em terras iorubás, recebeu seu atual nome do entreposto construído pelos portugueses, uma referência à cidade do sul de Portugal.

No início do século XIX os iorubás sofrem com a invasão dos fulani, que empurram os iorubás para o sul, onde as cidades de Ibadan e Abeokuta são fundadas. A maior parte das áreas iorubá são oficialmente colonizadas pelos britânicos a partir de 1901, sob um sistema de governo indireto que imitava as estruturas tradicionais.

Na Nigéria atual, os iorubás são uma importante etnia, representando cerca de um sexto da população. São na sua maioria católicos, mas uma parte segue também o islamismo, ficando o culto tradicional em terceiro lugar. Cerca de 75% dos homens são agricultores que vivem daquilo que cultivam. As mulheres geralmente são encarregadas de vender parte do excedente nos mercados populares das cidades. Alguns indivíduos possuem grandes fazendas de cacau onde o trabalho é realizado por mão de obra contratada. Nas cidades, os iorubás respeitam além das autoridades formais, o líder temporal, o “oba”, que conquista sua posição de várias formas diferentes, incluindo herança, casamentos, ou sendo pessoalmente selecionados por um Oba já no poder. Cada Oba é considerado um descendente direto do Oba fundador de cada cidade. O Oba é geralmente auxiliado por um conselho de chefes.

Um destaque da cultura iorubá são os trajes elaborados, feitos tradicionalmente de algodão. O mais básico a Aso- Oke, com muitas cores e padrões diferentes. Um dos trajes masculinos típicos é o agbada, cujo nome no Brasil virou sinônimo de uma espécie de uniforme de um determinado bloco de carnaval.

Bibliografia:
Yoruba information (em inglês). Disponível em: < //www.uiowa.edu/~africart/toc/people/yoruba.html >
Yoruba (em inglês). Disponível em: < //www.everyculture.com/wc/Mauritania-to-Nigeria/Yoruba.html >

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Os iorubás configuram uma das mais significativas culturas da história do continente africano; eles estão localizados na região sudoeste da Nigéria e no sul do Benin, onde se concentra uma minoria. Afirmam os historiadores que os domínios iorubás se desenvolveram ao longo da margem sul do rio Níger.

Este povo encontra sua procedência primitiva em um núcleo aborígene ancestral, posicionado em torno da cidade de Ifé, antes de ser subjugado pelo guerreiro Oduduwa, considerado o criador desta civilização, e por seus seguidores. Seus descendentes estruturaram as distintas dinastias que se fixaram neste espaço geográfico entre os anos 600 e 900; supõe-se que eles eram originários do Alto Nilo.

Vários estudiosos crêem que o povo iorubá tem prováveis laços com a cultura do Egito, enquanto outros defendem que ele está mais intimamente ligado ao legado da Núbia; estes pesquisadores também investigam a possibilidade das crenças iorubás serem herdeiras das concepções helenistas. Até hoje nenhuma especulação foi comprovada.

Os povos africanos se apóiam integralmente no poder da oralidade, a qual, no caso das tradições iorubás, se mantém ao longo dos séculos no interior dos Poemas Sagrados de Ifá, de onde este povo extrai a base fundamental para preservar seu legado, mesmo distante do lar, nas Américas, especialmente no Brasil e em Cuba.

A palavra oral tem um peso sagrado, pois traz em si o mistério do culto àquilo que se encontra em uma dimensão invisível ao olhar humano. Mais que isso, ela é o tecido estrutural que molda cada esfera da vivência dos povos africanos, particularmente a dos iorubás. É ela que permite a uma geração transmitir sua herança ancestral à que lhe sucede, preservando assim sua cultura original.

O caráter consagrado da palavra lhe confere o dom de criar cenários, pois ela abriga um universo mítico. Seus mestres têm a responsabilidade de estabelecer vínculos de conexão entre as entidades divinas, os ancestrais e os futuros iorubás, disponibilizando o legado cultural desta civilização.

Os Versos Sagrados de Ifá constituem o meio essencial para se entender o Cosmos, a cultura, a religiosidade, a educação, a poética, a dança, o legado musical, a estrutura político-social, as interações sociais, a configuração do perímetro urbano, o meio-ambiente, a relação com os ancestrais e a ciência praticada pelos iorubás.

Dentre os elementos presentes nesta obra-prima da oralidade iorubá estão os Oriki – evocações; os Orin – cantos; os Orin-Esa – cantigas em louvor aos ancestrais masculinas; os Orin-Efe – canções dirigidas às ancestrais femininas; as Aduras – orações; os Ibás – saudações. Nos poemas maiores, os Iremoje e os Ijala, estão preservados os elementos mais significativos da trajetória mitológica deste povo.

O cosmo iorubá é arquitetado em uma estrutura quádrupla, daí os sacerdotes serem também enquadrados em categorias que correspondem a esta visão de mundo. Os babalaôs dirigem o culto a Ifá, na dimensão da interação humana; os babalorixás e ialorixás – pais e mães que presidem as iniciações no orixá – lideram a adoração a estas divindades; os babalossaim – símbolos da paternidade – são os responsáveis pelo culto a Ossaim, a esfera das folhas, representantes da Natureza; e os babalojés/ babaojés – que protagonizam os pais na veneração aos ancestrais da linhagem masculina – comandam a adoração aos mortos.

Nas terras americanas os iorubás procuram reproduzir esta representação espacial geográfica e cosmológica. Cada esfera do recinto sagrado na América reflete a mesma teia sagrada que marca o universo iorubá no continente africano. O Ifá atua como o protetor do saber sagrado, um depósito palpitante das memórias desta civilização.

Fontes:

//ospiti.peacelink.it/zumbi/news/semfro/249/sf249p21.html

Juarez Tadeu de Paula Xavier. As teias entrelaçadas pela oralidade africana, in Dora Incontri. Educação e Espiritualidade – Interfaces e Perspectivas. Editora Comenius, Bragança Paulista, 2010, pp. 207-216.

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