Loading Preview
Sorry, preview is currently unavailable. You can download the paper by clicking the button above.
ISSN 2359-6910
//revistas.ufrj.br/index.php/lh/
ARTIGO
Recebido em 31 de maio de 2020
Aprovado em 5 de agosto de 2020
O método histórico-comparativo e a sua
validade para o estudo da morfologia
lexical: síntese de uma proposta de
aplicação ao galego-português
e ao castelhano
The historical-comparative method and its validity for the study of lexical
morphology: the synthesis of a application proposal to Galician-Portuguese
and Castilian
DOI: //doi.org/⒑24206/lh.v6i⒊35118
Mailson Lopes
Professor de Língua Espanhola da Universidade Federal da Bahia. Doutor em
Língua e Cultura (Linguística Histórica) pela Universidade Federal da Bahia,
em regime de cotutela com a Universidade de Coimbra. Dedica-se a
investigações no âmbito da Linguística Histórica, com ênfase em Morfologia,
Semântica e Lexicologia das línguas portuguesa, espanhola e galega,
especialmente nos seguintes temas: formação de palavras (prefixação) e
antroponímia.
E-mail:
ORCID: //orcid.org/0000-0003-3926-0494
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
RESUMO
Este artigo elenca os principais postulados e alguns desenvolvimentos do método histórico-
comparativo aplicado às línguas românicas, desembocando no rastreamento de suas incursões ou
lacunas na apreciação da morfologia lexical. Pari passu a isso, esquematiza os aspectos fundamentais de
uma proposta de apreciação histórico-comparativa aplicada por Lopes (2018) à prefixação no galego-
português e no castelhano e que pode ser tomada como modelo básico preliminar para futuras
aplicações panromânicas sobre outras operações da lexicogênese morfológica, como a sufixação, a
composição e a parassíntese (e também a prefixação, com a inclusão de mais sistemas linguísticos, para
além dos dois já perscrutados pelo mencionado morfólogo). Perpassa todo o texto a ideia de uma
incontestável relevância e atualidade do método para o cotejo historicocêntrico entre línguas, desde
que sob pautas renovadas, mediante revisões teórico-epistemológicas subsidiadas pelos avanços
propiciados pelas escolas linguísticas que o sucederam, do Estruturalismo ao arquipélago teórico da
Linguística Cognitiva.
Palavras-chave: Gramática histórico-comparativa. Romanística. Línguas Românicas Ibéricas.
Morfologia histórica. Formação de palavras.
ABSTRACT
This article lists the main postulates and some developments of the historical-comparative method
applied to Romance languages, leading to the tracking of their incursions or gaps in the appreciation
of lexical morphology. Pari passu to that, the present article outlines the fundamental aspects of a
proposal for historical-comparative appreciation applied by Lopes (2018) to prefixation in Galician-
Portuguese and Castilian, which can be taken as a preliminary basic model for future panromic
applications on other morphological lexicogenesis operations, such as suffixation, composition and
parasynthesis (and also prefixation, with the inclusion of more linguistic systems, in addition to the
two already examined by the above-mentioned morphologist). The idea of an indeniable relevance
and currentness of the method for the historic-centric comparison between languages permeates the
entire text, provided with renewed guidelines, through theoretical-epistemological reviews subsidized
by the advances presented by the language thought schools that succeeded it, from Structuralism to
the theoretical archipelago of Cognitive Linguistics.
Keywords: Historical-comparative grammar. Romanistic. Iberian Romance Languages. Historical
morphology. Word formation.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
Introdução
Neste artigo, com base na literatura especializada, buscaremos discorrer sumariamente sobre
elementos capitais da gramática histórico-comparativa e o desenvolvimento de seu método,
contextualizando-os historiograficamente, apontando os seus postulados mais significativos e as suas
contribuições mais expressivas ao estudo científico da língua, não deixando ocultas, no entanto, as suas
possíveis limitações.
Não ambicionando qualquer pretensão de esgotar o tema — que é amplo e complexo, pois a
escola comparativista não se identifica com um movimento científico unificado (LINHARES, 2015)
—, e pautando-nos nos materiais acadêmico-científicos encontrados, intentaremos também distinguir
algumas aplicações do método aos estudos lexicais e morfológicos em geral e aos derivacionais em
particular, sejam mais antigas, sejam mais contemporâneas, com foco especial nas aplicações às línguas
românicas.
Como arremate do artigo, delinearemos o traçado geral de uma proposta de emprego hodierno
do método em um estudo morfolexical concernente à Ibero-România, aplicando a um domínio mais
amplo, como a afixação ou mesmo a lexicogênese de natureza morfológica em geral, o instrumental
histórico-comparativo que Lopes (2018) empregou em seu estudo doutoral à prefixação do castelhano
e do galego-português. Dito de outro modo, pretendemos explicitar o delineamento de um modelo
de comparação histórica para a formação de palavras, com as suas peculiaridades, justificativas,
novidades, ajustes e, inclusive, questionamentos e lacunas. Em suma, buscaremos dar mostras da
pertinência e utilidade da aplicação do método histórico-comparativo a análises da geração lexical
processada mediante operações morfológicas, o que resultaria tanto em uma melhor compreensão do
fenômeno lexicogênico em si, quanto em uma compreensão mais acurada dos mecanismos internos
de arcaização, inovação, ramificação e paradigmatização de unidades e operações morfolexicais no
âmbito da România, no fluxo histórico subjacente ao desenvolvimento de seu multifacetado espectro
linguístico.
1. Contextualização historiográfica sumária
da gramática histórico-comparativa
A linguística histórico-comparativa, igualmente denominada de gramática histórico-
comparativa, não obstante a importância dos estágios ou escolas anteriores, significou um salto
qualitativo de grande expressão na trajetória da ciência da linguagem, um marco divisor (PAIXÃO
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
DE SOUZA, 2006), sendo não poucos os autores que a consideram como a etapa inicial do estudo
científico sobre a língua (CYRANKA, 2014; FARACO, 2004; MUÑOZ, 1978; IORDAN, 1973
[1962]) ou, no mínimo, uma das fases mais significativas para a constituição da linguística enquanto
ciência (LINHARES, 2015; MORENO CABRERA, 1997).
Apesar de inúmeros manuais de filologia românica ou de história da linguística divisarem
Rasmus Rask (1787-1832) ou Franz Bopp (1791-1867) como os inauguradores dessa primeira
corrente científica dos estudos sobre a língua, não parece haver unanimidade no acatamento do marco
inicial do paradigma em questão exclusivamente a partir do labor desses dois grandes estudiosos. Viaro
(2011), por exemplo, parece alçar Sámuel Gyarmathi (1751-1830) à condição de primeiro
investigador do ramo, por sua atenção para com o tratamento empírico dos dados e por sua análise
austera, que o levaram não apenas à constatação de semelhanças entre as línguas urálicas
(privilegiando, por primeira vez no cotejo, as formas gramaticais, em vez das lexicais), mas à própria
hipótese da gênese comum dessas línguas, conjunção que, de certo modo, já caracteriza uma
perspectiva histórico-comparativa. Sendo assim, Gyarmathi antecederia as inúmeras investigações que
se desenvolveriam sobre o indo-europeu. É possível considerar, portanto, em consonância com Viaro
(2013), que, juntamente com James Burnett (1714-1799), William Jones (1746-1794), Karl Wilhelm
Friedrich von Schlegel (1772-1829) — apontado por Faraco (2005) como o iniciador dos estudos
comparativistas entre os alemães —, Jonathan Edwards Jr. (1745-1801) e Johann Christoph Adelung
(1732-1802), foi Gyarmathi um notável precursor da gramática comparativa.
A ênfase dos manuais de historiografia linguística nos nomes de Rask e Bopp como expoentes
iniciais do método histórico-comparativo (e da primeira fase científica dos estudos sobre a língua) não
deve ser fortuita, mas sim, pautada em alguma evidência corroborável. O próprio Viaro (2011) afirma
que o século XIX, comparado com o anterior, ofereceu ao estudo histórico-diacrônico um salto
qualitativo e isso se deveu, seguramente, às incursões investigativas e publicações do dinamarquês
Rask e do alemão Bopp, baluartes na elaboração e maturação do método histórico-comparativo. Esse
então parece ser o ponto-chave para a compreensão do destaque que se dá aos dois linguistas
mencionados: o foco no método, na elaboração de uma epistemologia própria ao estudo que
pretendiam realizar, subsidiados, é claro, pela contribuição dos predecessores, mas lançados como
vanguardistas no desenvolvimento controlado e verificável de seu método de análise e de cotejo das
línguas.
No esteio de seus predecessores, surge a figura de Friedrich Christian Diez (1794-1876), que,
num recorte metodológico muito feliz, restringiu-se à comparação histórica das línguas românicas
entre si e entre a sua matriz comum latina. Segundo Viaro (2011, p. 83; 2013, p. 50), “[...] foi Diez
quem conseguiu reunir amplos e heterogêneos aspectos linguísticos e filológicos acerca das línguas
românicas literárias mais importantes [...], filiando-as ao latim vulgar.”. Foi esse linguista alemão que
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
propiciou à filologia românica a sua esquematicidade (NASCENTES, 2009 [1954]), sendo
considerado, com justa razão, o seu mentor, não se desprezando, contudo, as robustas contribuições
fornecidas à área por August Schlegel (1767-1845) e François-Juste-Marie Raynouard (1761-1831) —
a quem Diez considerava o fundador da filologia românica (NASCENTES, 2009 [1954]; RENZI,
1982 [1976]; IORDAN, 1973 [1962]) —, que podem ser apontados como seus precursores (VIARO,
2011). Ainda segundo Viaro (2013), a gramática comparada de Diez (Grammatik der Romanischen
Sprachen) e o seu dicionário (Etymologisches Wörterbuch der Romanischen Sprachen) converteram-se em
colunas fundamentais para a filologia românica e para a linguística como um todo, contribuindo para
a sua cientificidade, o que também é notado por Tagliavini (1973 [1949]).
Todo esse fluxo constitutivo inicial da práxis comparativa na linguística mostra-se numa espécie
de genealogia, que remonta, no Ocidente, a Dante, Nebrija e a Nunes de Leão, perpassa pelas figuras
pioneiras de Bopp, Rask, Grimm e Schlegel e culmina com Diez e Wilhelm Meyer-Lübke (1861-
1936), no período áureo da filologia românica, sendo a estruturação científica desta última devedora
das contribuições dos neogramáticos (VIDOS, 1996 [1956]; RENZI, 1982 [1976]). Com a sua
gramática das línguas românicas (dedicada, em três tomos, à fonética, à morfologia e à sintaxe) e o seu
dicionário etimológico (Romanisches Etymologisches Wörterbuch — REW), Meyer-Lübke logrou
sintetizar e aprimorar todos os resultados anteriormente alcançados pelos comparativistas românicos
(sobretudo os realizados pelos neogramáticos), tendo sido o responsável em aplicar o método de
reconstrução de Schleicher às línguas neolatinas, com o intuito de reconstruir o latim vulgar,
aperfeiçoando os repertórios românicos de Diez (VIARO, 2013; RENZI, 1982 [1976]; BASSETTO,
2005).
Não é supérfluo salientar que o método histórico-comparativo não se tornou obsoleto nem
inexequível após a época de seu esplendor (segunda metade do século XIX), como se verá mais
adiante, apesar de ter conhecido desde então um abandono paulatino, causado pelo desinteresse geral
em relação à perspectiva diacrônica a partir da difusão do estruturalismo, algo que só tomaria outra
feição na segunda metade do século XX.
2. Algumas notas sobre o método e os postulados
da gramática histórico-comparativa
Em linhas gerais, o método histórico-comparativo — considerado por Campbell (1999) e Soares
e Carvalho (2014) como a técnica central e mais importante para a linguística histórica e por Rankin
(2005) como a mais estável e exitosa metodologia de toda a história da linguística — fundamenta-se
em relacionar elementos de uma língua aos análogos de outra(s) da mesma família, para assim chegar à
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
sua origem ou procedência (reconstruindo a sua protolíngua), estudando a diversificação que
porventura apresentem e reconstruindo a sua trajetória histórica no interior de cada língua
(CROWLEY; BOWERN, 2010; MAURER JR., 1967; LEHMANN, 1969 [1962]). Seus propósitos
são claramente sintetizados por Makaev (1969, p. 33), no excerto a seguir:
[...] sur la base d’une comparaison conséquente, systématique, des phonèmes et des
morphèmes de toutes les langues constituant une famille génétique déterminée, établir
l’état génétiquement initial — la langue-mère — et, sur la base des principes de la
chronologie relative, procéder à des coupes chronologiques permettant d’établir
l’existence d’archaïsmes ou d’innovations dans une aire déterminée ou dans chaque
langue concrète.
De acordo com Linhares (2015), a comparação pode compreender três aspectos: o tipológico
(modelos gerais de cada um dos níveis linguísticos), o evolucionista (trajetória histórica das formas
lexicais ou gramaticais) e o genético (voltado ao estabelecimento da gênese das línguas). Em geral,
nesse último, a reconstrução da protolíngua a partir do cotejo entre as suas descendentes inicia-se pela
fonologia (reconstrução do sistema sonoro) e, a partir dela, chega-se à reconstrução do léxico e da sua
gramática (CAMPBELL, 1999).
Pode-se dizer que as palavras-chave da práxis histórico-comparativa canônica são cognatos,
correspondências, leis fonéticas e reconstrução (MEIRA, 2009), nessa ordem, sendo os seus passos
constitutivos (i) a reunião de cognatos (eliminando-se os não cognatos, pseudocognatos ou
empréstimos); (ii) o arrolamento das correspondências sonoras regulares perceptíveis a partir da
observação desses itens; (iii) a proposta de reconstruções necessárias, desde que sistemáticas, comedidas
e pautadas em mudanças plausíveis; (iv) a determinação entre correspondências parcialmente
sobrepostas; (v) a avaliação da sistematicidade dos sons reconstruídos, respeitando-se a coerência
interna à protolíngua e a tipologia; (vi) a reconstrução de vocábulos (MEIRA, 2009).
Rankin (2005) igualmente arrola as principais etapas de aplicação do método histórico-
comparativo, mas logra ir além dos níveis fonético e lexical, já que também considera aspectos
morfológicos e sintáticos. Salienta que costuma haver superposições entre as etapas, que não seguem
uma ordenação rígida e que dão margem a que o processo de reconstrução linguística possa iniciar-se
em qualquer ponto do caminho histórico constitutivo dos sistemas linguísticos cotejados. Na escala
que esquematiza, divisa a reconstrução de natureza fonológica, vocabular, morfológica e sintática. Na
fonológica, haveria a extração de feixes de correspondências fonológicas, a classificação desses
conjuntos, a reconstrução preliminar de protofonemas, a sua análise distribucional e, por fim, ajustes
nas reconstruções a partir da consideração de informações tipológicas. Na reconstrução vocabular,
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
dar-se-ia a reconstituição de domínios léxico-semânticos mais estruturados dentro do sistema, como o
do parentesco ou dos numerais1, que subsidiariam a captação de conjuntos afins mais lacunares,
seguida da possível reconstrução semântica, ainda que houvesse algum déficit de material lexical. Na
reconstrução morfológica — entendida, segundo o sobredito estudioso, como uma extensão da
reconstrução léxico-fonológica —, haveria o estabelecimento de morfemas afins de rara ou difícil
atestação, propiciado pela paradigmaticidade atuante no próprio sistema. Finalmente, viria a
reconstrução da sintaxe (tida por ele como problemática e controversa, tal como a própria comparação
entre estruturas desse nível), com a observação de resquícios de construções (se houver), a
harmonização/paralelismo entre elas, bem como a possível consideração de cadeias de
gramaticalização e de trajetórias de mudança sintática.
Pode-se dizer que o aspecto central do método são as relações regulares de correspondência entre
cognatos e, derivado destas, o traçado do parentesco ou relacionamento entre as línguas (com a
determinação da protolíngua comum), fincado na relação histórica entre elas, cujas marcas seriam as
semelhanças existentes entre cognatos ou estruturas congêneres. Esses postulados evidenciam os
pressupostos basilares do método, que, de acordo com Campbell (1999), resumem-se em quatro
assunções: (i) a protolíngua é uniforme, destituída de variação dialetal ou diastrática; (ii) a
fragmentação das línguas (a partir da protolíngua) é brusca; (iii) após a cisão da protolíngua, não há
contatos subsequentes entre as línguas relacionadas; (iv) a mudança sonora é absolutamente regular. A
partir da leitura do texto de Rankin (2005), poderíamos agregar um quinto pressuposto do método: a
arbitrariedade da relação entre forma fonológica e significado (i.e., a não-iconicidade). Muitas das
críticas ao método parecem fincar-se no rechaço a esses princípios.
Um exemplo simples de aplicação do método histórico-comparativo pode ser esboçado a partir
de informações extraídas de Vidos (1996 [1956]) e de Monzó Gallo (2013): a partir da comparação
entre os cognatos românicos para ‘orelha’ — orelha (português), oreja (castelhano), orella (galego,
catalão), oreya (asturiano), oriya (sardo), oreille (francês), orecchio (italiano), ureche (romeno), orel’e
(friulano), aurelha (provençal), ricchi (siciliano) etc. —, podemos chegar à conclusão de que não advêm
diretamente da forma clássica auris, mas através do diminutivo deste, auric(u)la, palavra popular do
latim vulgar, registrada já na época clássica, presente, por exemplo, em Plauto, Cícero, Plínio e no
próprio Appendix Probi.
Outro exemplo da aplicação do método histórico-comparativo, com a reconstituição de formas
de uma protolíngua, é-nos apresentado por Calvet (1996): a partir da observação dos paralelismos
sonoros entre as formas correspondentes a oito e noite em espanhol, francês, italiano, português, inglês,
dinamarquês, neerlandês e alemão, bem como semelhantes convergências entre o latim, o gótico e o
1 Também sinalizam nessa direção Millar e Trask (2015).
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
grego, chega-se à reconstituição das formas indo-europeias *okt- e *nokt. A aplicação de leis da
fonética histórica, bem como a esquematização da genealogia de cognatos com o escopo de alcançar a
língua a que remontam, apresentam-se como práticas recorrentes em estudos da gramática
comparativa, ao menos em sua aplicação mais tradicional. Daí ser sinalizado por Walkden (2009) que
a reconstrução da história linguística (com a reconstituição de aspectos/elementos da protolíngua) e o
estabelecimento/captação de relações filogenéticas sejam dois propósitos centrais do método histórico-
comparativo.
Os exemplos anteriores, meramente ilustrativos2, limitam-se ao arrolamento lexical (embora seja
possível explorar, através dos cognatos listados, questões de outra ordem, como a previsibilidade e
regularidade de suas mudanças fonéticas), mas, de forma semelhante, poderiam ser estabelecidas
comparações referentes a outros níveis linguísticos, como o fonético, o morfológico, o semântico, o
sintático e até mesmo o discursivo. Comparando-se um sistema (o fonético-fonológico, morfológico,
léxico, semântico) a partir de um rol de cognatos de duas ou mais línguas, tendo em conta a língua da
qual descendem, verificar-se-iam as suas similitudes e divergências, bem como a regularidade das
mudanças processadas. Cabe dizer que o método não necessariamente se restringe à colação entre
unidades, já que pode abarcar comparações entre regras, restrições, condições ou similares,
dependendo do modelo de gramática e de estudo adotados (RANKIN, 2005).
Um aspecto que deve ser salientado quanto ao método é que o processo de cotejo e reconstrução
histórica que a ele subjaz pode ser ascendente ou descendente, a depender dos objetivos almejados na
análise. Para o domínio românico, por exemplo, pode-se partir das línguas neolatinas para chegar-se
ao latim vulgar (fluxo ascendente) ou, em sentido contrário, partir deste para chegar-se àquelas (fluxo
descendente), como exemplifica Vidos (1996 [1956]).
É por meio do método histórico-comparativo que se pode estabelecer a classificação e o
parentesco entre as línguas. A sua importância e pertinência se comprovam em outras contribuições
que essa técnica propicia à pesquisa sobre relações genéticas distantes e à pré-história linguística, como
assinala Campbell (1999). Afirma Lehmann (1962, p. 107) que “Especially for prehistoric languages, a
surer method of defining change and determining earlier forms has been developed which is known
as the comparative method.” São inúmeros os autores que enfatizam a importância desse paradigma de
estudo linguístico, sua utilidade, seu rigor e seu potencial explicativo, a exemplo de Joseph (2016).
Como seria de se esperar, o método próprio à linguística histórico-comparativa, além de seus
inúmeros méritos e contribuições, tem também as suas limitações, de ordem temporal, sócio-histórica
e linguística propriamente dita (HARRISON, 2005). Segundo Martelotta (2012), as principais críticas
2 Para uma exemplificação mais minuciosa da aplicação do método comparativo e da reconstrução linguística, cf. o
capítulo 5 do estudo de Campbell (1999) e o capítulo 8 da obra de Millar e Trask (2015).
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
ao método são as seguintes: (i) apego ao componente histórico das línguas, sem as observar em seu
funcionamento como instrumento de comunicação; (ii) observação imanentista, com primazia
absoluta da história interna, sem muita preocupação com fatores externos; (iii) abordagem atomística,
com a verificação isolada de cada unidade formal sob análise, sem observar o seu funcionamento no
interior dos sistemas linguísticos em que atuam. Outro déficit substancial do método parece ser a
precária ou inexistente consideração de efeitos do contato — e de fenômenos e processos a ele afeitos
—, algo de indiscutível importância na conformação de famílias linguísticas, claramente atuante, por
exemplo, no âmbito românico.
3. Informe conciso sobre algumas aplicações contemporâneas
do método histórico-comparativo
É falso e redutor o pensamento de que a linguística histórico-comparativa foi um período pré ou
pseudocientífico para a ciência da linguagem e que tenha estagnado no século XIX, sendo
incompatível com a linguística moderna. Starostin (2000), afastando-se expressamente de um
diagnóstico negativo, chega a afirmar que as últimas décadas do século XX (e, por extensão, também
as primeiras do século XXI) têm testemunhado grandes avanços nas técnicas da área, com o advento
de especialidades ou subcorrentes dentro do comparativismo, como as que se atrelam à lexicoestatística
e à glotocronologia. Chega a afirmar (2013) que a última década testemunhou uma explosão de
estudos sobre a aplicabilidade de modelos baseados em redes3 para a classificação linguística. Moreno
Cabrera (1997, p. 78) aponta na mesma direção, enfatizando que a linguística histórico-comparativa é
uma disciplina com um imenso potencial teórico e heurístico, totalmente atual, “[...] un dominio
científico vivo y palpitante, quizás [...] más vivo y palpitante que nunca.”
Segundo Viaro (2013), novas aplicações (muitas vezes revisadas) do método histórico-
comparativo desenvolveram-se durante todo o século XX, como as efetuadas por Greenberg (1915-
2001), primeiro com a comparação entre línguas da África, depois com as da Nova Guiné e, por fim,
com o cotejo de línguas da América (desde 1949 até a década de 80), chegando a propor, em 2000, o
3 Segundo Heggarty, Maguire e McMahon (2010), modelos analítico-representacionais de redes são uma alternativa
viável ao modelo arbóreo tradicional (árvore ramificada/genealógica) e ao modelo de ondas de difusão. Tomados da
biologia (nomeadamente, da genética), os modelos de redes são aplicáveis a diferentes tipos de dados linguísticos e a
análises léxico-estatísticas, sendo dois dos seus algoritmos/programas mais destacados o Network (BANDELT et al.,
1995; BANDELT; FORSTER; RÖHL, 1999) e o NeighborNet (BRYANT; MOULTON, 2004; HUSON;
BRYANT, 2006). Uma das principais vantagens do modelo de redes, sobretudo o NeighborNet, é a sua capacidade de
exibir distâncias em pares entre os táxons na forma de agrupamentos cruzados e a sua possibilidade de capturar
visualmente as teias e emaranhados típicos da maioria das famílias linguísticas, evidenciando as suas conexões (cf.
FRANÇOIS, 2014).
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
euroasiático. Concomitantemente, pesquisadores russos como Illič-Svityč (1934-1966) e Dolgopolsky
(1930-2012), aplicando rigorosamente o método histórico-comparativo, propuseram a reunião do
grupo indo-europeu, o afroasiático, o kartveliano, o urálico, o altaico e o dravídico, retomando a
antiga hipótese de Pedersen (1903) sobre o nostrático.
Outras propostas de relação e filiação genética foram lançadas e seguem sendo lançadas (basta
pensarmos no exemplo das línguas austronésias), sobretudo a partir do surgimento da paleolinguística.
Um exemplo é o estudo de Ratcliffe (2003), voltado à comparação do léxico na família afro-asiática.
Outros exemplos, mais voltados às línguas românicas, são: (i) o estudo de Sánchez Miret (2008) sobre a
metafonia, a influência de sons palatais sobre as vogais e a sua possível conexão com a ditongação em
algumas dessas línguas, como o castelhano; (ii) o já mencionado estudo de Monzó Gallo (2013), em
que compara os cognatos românicos para ‘nariz’, ‘olho’ e ‘orelha’; (iii) o trabalho de Tejero Benéitez
(2012) sobre as perífrases verbais no latim e nas línguas neolatinas, sob um viés também comparativo.
Os estudos de Walkden (2009) e Eythórsson e Barðdal (2016) demonstram ainda a
vitalidade/validade da aplicação do método histórico-comparativo à reconstrução sintática e à
detecção de correspondências interlinguísticas entre estruturas pertencentes a esse nível da língua.
Esses dois últimos autores demonstram, inclusive, as vantagens do aproveitamento do marco teórico
da Gramática de Construções pelo labor comparativista de reconstrução de estruturas/relações
sintáticas, o que certamente contradiz a falsa impressão de um imobilismo ou estagnação da gramática
comparativa frente aos desenvolvimentos teóricos da linguística contemporânea.
Com o advento da informática, a aplicação do método não ficou alheia às suas inovações,
havendo novas investigações subsidiadas por corpora digitais ou por ferramentas específicas de
depreensão e análise de categorias linguísticas. Tomemos como exemplo a tese de Rama (2009), com a
sua proposta de automatização da identificação de cognatos e a aplicação de técnicas de bioinformática
para a construção de árvores filogenéticas para as línguas.
Um campo em que a aplicação da técnica linguístico-comparativa tem apresentado uma
produtividade expressiva é a lexicoestatística, desde a sua gênese, pelos idos de 1950, com as
investigações de Swadesh. A escola de linguística comparada de Moscou e o Santa Fe Institute (Novo
México, EUA) têm sido prolíficos nesse âmbito, adotando-a como procedimento basal para as suas
abordagens comparativistas.
De acordo com Starostin (2013; 2010), o método lexicoestatístico (aplicado a muitas famílias
linguísticas, sobretudo por ser flexível e de fácil manejo, mas que já sofreu várias críticas, sendo fundo
para diversas controvérsias) consiste na avaliação do grau de parentesco genético entre diferentes
línguas (e a subsequente construção de árvores genealógicas), a partir de percentuais de itens
historicamente relacionados em seu léxico comum. Tradicionalmente, a comparação se pauta em uma
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
lista de duzentas (na versão estendida) ou cem palavras (na versão comprimida) pré-estabelecidas,
extraídas do léxico básico, ainda que propostas mais recentes, como a do próprio Starostin (2010),
preconizem a condensação dessa lista em cinquenta itens léxicos. Uma síntese explicativa do método
tradicional de Swadesh encontra-se exposta no artigo de Starostin (2013), em que aborda a
lexicoestatística e a glotocronologia. Para esse último linguista, a lexicoestatística não se opõe ao
método comparativo canônico; pelo contrário, pode ser vista como uma técnica complementar, que
deve acompanhá-la, para lhe propiciar uma base quantitativa adequada, o que, até então, não tem sido
oferecido satisfatoriamente por outra técnica.
Abordagens mais léxico-estatísticas e/ou computacionais do método histórico-comparativo têm
trazido interessantes contribuições a esse campo investigativo, como as publicações de Ringe,
Warnow e Taylor (2002), McMahon e McMahon (2003), Bryant, Filimon e Gray (2005), dentre
várias outras. A proposição teórica e a aplicação analítica de modelos inovadores de relação/
hierarquização/organização interlinguística, para além da representação arbórea (como a de ondas,
redes ou teias) e/ou em contraste a postulados cladísticos, por exemplo, são mostras das revisões e
reflexões constantes a que o método tem sido submetido na contemporaneidade, como as esboçadas
por François (2014), Nichols e Warnow (2008), Kessler (2008), Heggarty, Maguire e McMahon
(2010), bem como os estudos reunidos no fascículo organizado por Kalyan, François e Hammarström
(2019).
Para finalizar a demonstração da vitalidade da gramática histórico-comparativa na
contemporaneidade, podemos evocar como outras mostras dessa realidade:
(i) o grande número de estudos dessa natureza que focaram as línguas nativas
brasileiras, sobretudo os de Aryon Rodrigues — expoente da linguística histórica
voltada às línguas autóctones do país e discípulo de Mansur Guérios, o pioneiro
da linguística histórico-comparativa no Brasil —, mas também de outros
investigadores, como Mello (2000), Ramirez (2001) e Camargos (2013);
(ii) as centenas de artigos reunidos em plataformas bibliográficas (e.g., o The Tower
of Babel Electronic Library) ou em revistas digitais que versam sobre o tema (e.g.,
o Journal of Language Relationship, na Rússia; a Zeitschrift für romanische Philologie
e a Romanische Forschungen, na Alemanha; a Revue des langues romanes, a
Romania e a Revue de Linguistique Romane, na França; a Vox Romanica, na Suíça;
La Corónica: A Journal of Medieval Hispanic Languages, Literatures, and Cultures,
nos Estados Unidos; a Revista de Filología Románica, a Estudios Románicos e a
Estudis Romànics, na Espanha; a Caligrama: Revista de Estudos Românicos, no
Brasil;
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
(iii) alguns congressos específicos de romanística, como o Congrès International de
linguistique et de Philologie Romanes, o Linguistic Symposium on Romance
Languages e o Romanistentag des Deutschen Romanistenverbandes;
(iv) os grandes (embora poucos) projetos coletivos voltados à comparação
interlinguística com base no método mencionado, como, por exemplo, (a) o The
Tower of Babel, que visa a manter conexões de longo alcance entre famílias
linguísticas estabelecidas do mundo, disponibilizando um banco de dados com
as listas de palavras básicas (i.e., as Swadesh word!lists) das línguas de todo o orbe,
o The Global Lexicostatistical Database; ou (b) o Romanische Sprachgeschichte: Ein
internationales Handbuch zur Geschichte der Romanischen Sprachen, anunciado
desde 1990, que visou ao estabelecimento de manuais internacionais de história
das línguas românicas e da formação global de seus domínios, tomando como
lastro a metodologia da linguística histórica associada a disciplinas científicas
afins (HOLTUS; SÁNCHEZ MIRET, 2008);
(v) o quadro atual, com mais de setecentos membros, da Société de Linguistique
Romane, fundada em Paris, em 1924.
Apesar do quadro animador para os estudos histórico-comparativos em geral, com o destaque de
algumas escolas e países onde vicejam na contemporaneidade, o mesmo não parece ocorrer
exatamente para os estudos de filologia românica comparada no âmbito brasileiro4 (embora no passado
fosse possante, com produções que se projetavam, inclusive, internacionalmente). São poucos os
estudos dessa área no país, sendo ainda mais raros os grupos de pesquisa a ela voltados ou os projetos
coletivos oficiais destinados a essa proposta. Situação similar parece ocorrer em Portugal, pelo que se lê
em Kabatek (2007). Mesmo quanto à assunção de que em âmbito mundial (ou ao menos europeu) a
filologia românica comparada segue vigorosa, podem ser apresentadas ressalvas, pois, ao que parece,
tem passado a ocupar um segundo plano, com a predominância e o alçamento de investigações
históricas monolíngues (especializando-se na história de uma língua) em que a perspectiva
panromânica praticamente está desvanecida (HOLTUS; SÁNCHEZ MIRET, 2008; GIRÓN, 2005;
DWORKIN, 2003)5.
4 Ou, se nos fiamos nas impressões de Ridruejo (2005), também para o contexto africano, asiático e ibero-americano,
áreas em que o cultivo da disciplina é quase excepcional.
5 A avaliação do status da filologia românica comparativa em escala global na contemporaneidade não é simples.
Tampouco goza de consenso entre os linguistas, embora se observe, na maior parte dos casos, pareceres negativos.
Vejamos uma amostra representativa da divergência de opiniões quanto à vitalidade da disciplina, extraída de um artigo
de Company Company (2005, p. 144): “Por un lado, [hay] los colegas que muestran un fuerte o moderado pesimismo
respecto de la vitalidad de la lingüística histórica románica como área disciplinaria de estudio (Craddock, Dworkin,
Loporcaro, Lüdtke, Pellen, Rini), y, por otro, aquellos colegas, esencialmente optimistas, que consideran que la
lingüística romance goza de cabal (Kabatek, Koch, Penny) e incluso de excelente salud (Echenique, Wanner, Wright).
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
4. O método histórico-comparativo aplicado
aos estudos de morfologia lexical
O intuito desta seção é apresentar sinopticamente algumas aplicações do método histórico-
comparativo à lexicogênese, sobretudo românica. Para tanto, procedemos a uma varredura não-
exaustiva, representativa, pelos fundos bibliográficos disponíveis em formato digital na rede. Ao lado
da exposição dos estudos encontrados, lançamo-nos a uma avaliação geral sobre o locus da morfologia
lexical nos estudos comparativistas históricos.
Uma das principais críticas ao método histórico-comparativo refere-se à primazia da fonética em
suas reflexões (MAURER JR., 1967; VIDOS, 1996 [1956]; TRASK, 1996), sendo aplicações muito
mais voltadas a esse âmbito do que a qualquer outro da língua (RANKIN, 2005). A causa dessa
predileção é associada por Vidos (1996 [1956]) à grande regularidade desse nível linguístico e,
segundo Kilbury e Bontcheva (2004), foi através dela (mais precisamente, das correspondências
sonoras) que a linguística comparativa alcançou uma base metodológica firme para as reconstruções
propostas.
Outros autores, não deixando de indicar a preferência concedida à fonética pelo método,
estendem-na um pouco mais, com a inclusão do nível lexical e, sobretudo, do morfológico
(BARÐDAL, 2013; GARR, 2005; RANKIN, 2005). Cabe buscar refletir sobre dois aspectos a partir
desse cenário: a situação do componente sintático e, principalmente, o tratamento comparativo da
lexicogênese (i.e., se a comparação morfológica também contemplava a formação de palavras).
Rankin (2005) parece justificar a carência de aplicações da técnica histórico-comparativa ao
componente sintático ou impasses nessa prática pela dificuldade em se determinar as unidades de
colação para esse nível (no fonético, seriam os fonemas; no morfológico, os morfemas; no lexical, os
lexemas; mas qual seria para a sintaxe? Como definir sentenças ou sintagmas cognatos? Algo nada
simples de se resolver...) e, mais ainda, à dificuldade de se medir com algum grau satisfatório de
precisão (tal como é feito para os outros níveis linguísticos) as correspondências semânticas ou formais
entre as estruturas sintáticas acareadas. Iordan (1973 [1962]) e Bassetto (2005) fazem eco a esse ponto
de vista, afirmando que para a sintaxe é mais difícil comprovar a regularidade das correspondências,
que é o fundamento da técnica comparativo-histórica, e daí não se ter revelado profícua nesse ponto,
apesar de brotarem algumas tentativas de estudo, como as pautadas na visão pancrônica de Walther
von Waltburg (BASSETTO, 2005).
Otros colegas (Smith, Wireback) se decantan por una opinión intermedia: la lingüística histórica romance es una
disciplina moribunda, pero el estudio diacrónico de las lenguas romances particulares mantiene plena vitalidad.”
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
Que os estudos sintáticos de natureza histórico-comparativa tenham sido mais escassos do que os
voltados a outros níveis linguísticos é fato comprovável. Talvez o que não se possa dizer
categoricamente é que as causas comumente apontadas para tal sejam verossímeis. Para Barðdal
(2013), parece que não, pois assinala que as objeções evocadas para a marginalização da sintaxe na
práxis comparativa — a ausência de cognatos sintáticos, a falta de emparelhamentos arbitrários entre
forma e função sintáticas e a falta de regularidade na mudança desse tipo — são frágeis quando
observadas aprofundadamente. Atualmente, já se verifica a existência de diversos estudos comparativos
no campo sintático. Company Company (2005), destoando do que se costuma afirmar, desenha um
panorama positivo para a sintaxe românica histórica (e, em certa medida, também para a comparada)
nos últimos anos, considerando que “[…] ha pasado de ser el patito feo de la lingüística histórica,
romance y general, con una escasez notoria de estudios y estudiosos hace cincuenta años [...] a ser el
cisne de las subdisciplinas diacrónicas hoy en día.” (COMPANY COMPANY, 2005, p. 145).
No que concerne à situação da morfologia lexical no quadro comparativista, é de se pensar que
também não seja das mais favoráveis, quiçá ainda mais grave (no passado e no presente) que a da
sintaxe. Como já dito, houve uma incidência do método no componente morfológico, mas, pelo que
parece, voltado quase que exclusivamente à morfologia flexional (RIDRUEJO, 1989), e não à
morfologia lexical. Seria temerário afirmar que não houve estudos dessa seara referentes à
lexicogênese, mas, ao que parece, não foram muitos.
Lindner (2015) registra que no século XIX ainda era muito incipiente a análise comparativa (e
mesmo geral) da formação de palavras. A morfologia podia ainda ser tratada como parte da
etimologia, embora já emergisse em algumas obras uma separação, com um tratamento específico da
formação genolexical de cunho morfológico6. Ainda conforme essa autora, foi Grimm (1826) que
inaugurou a aplicação do método histórico-comparativo à formação de palavras, incidindo sobre o
germânico, cotejando-o com outras línguas, havendo também aproximações ao tema por parte de
Bopp (1833) e Pott (1836).
Iordan (1973 [1962]) indica que na Grammatik der Romanischen Sprachen (1838), de Diez, são
feitas comparações de morfologia derivacional das línguas românicas, o que é reforçado por Lindner
(2015), que considera tais contribuições como um importante tratado para a formação de palavras no
círculo comparativista histórico. Cyranka (2014) afirma que Pott, levando adiante os trabalhos de
Bopp e Grimm, explorou a derivação vocabular em suas aplicações do método histórico-comparativo.
No entanto, para essa primeira etapa da corrente linguística em discussão, segundo Lindner (2015), o
nome de destaque seria o de Brugmann (em seu Grundriß der vergleichenden Grammatik der
indogermanischen Sprachen, de 1880 e 1906), com um volume monumental para a descrição e
6 Sobre formações/mecanismos/paradigmas genolexicais, cf. Rio-Torto (1998).
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
comparação da formação de palavras em línguas indo-europeias, discorrendo sobre os tipos de
processos de formação, as suas motivações e sobre a composição morfológica. Para os séculos XX e
XXI, Lindner (2015) elenca uma variedade de estudos sobre o tema, mas a maioria deles numa
perspectiva monolíngue (para o latim, o antigo índico, o grego etc.), sendo poucos os efetivamente
panlinguísticos, como os de Delbrück (1900), os de Brugmann (1904, 1906) e os mais recentes de
todos, presentes nos dois tomos do quarto volume da Indogermanische Grammatik, organizados por
Linder (2015) e Sadovski (2016), respectivamente.
Especificamente para o âmbito da romanística, Holtus e Sánchez Miret (2008) afirmam que a
perspectiva comparativa na formação de palavras foi abordada em uma das edições do Romanistentag
des Deutschen Romanistenverbandes, mencionando Gauger (1988). Não obstante, o quadro para esse
campo não parece ser animador, o que é confirmado por Sánchez Miret (2001) e por inúmeros outros
teóricos da área — Stolova (2005), por exemplo —, quando asseveram que tais estudos não costumam
ser nem históricos nem comparativos, “desrespeitando-se”, de certa forma, a própria natureza
caracterizante da disciplina, sendo comumente dominados pelas teorias gerativistas. Exceções nesse
sentido são os trabalhos de Meyer-Lübke (1890-1906), Cooper (1895), Malkiel (1945), Bader (1962),
Lloyd (1964), Bagola (1988) e Lüdtke (1993), dentre alguns outros mais (SÁNCHEZ MIRET, 2001).
Dentro dessas honrosas exceções, mencionamos ainda três estudos de aplicação histórico-
comparativa à formação de palavras: (i) o capítulo A formação de palavras na România Ocidental, parte
do livro A unidade da România Ocidental, de Maurer Jr. (1951), que oferece uma sistemática descrição
panromânica de usos e sentidos das principais unidades prefixais e sufixais, bem como dos padrões
compositivos mais recorrentes; (ii) o artigo Gemeinromanische Tendenzen IV: Wortbildungslehre, de
Lüdtke (1996) — incrustado no primeiro tomo do segundo volume da monumental obra Lexikon der
Romanistischen Linguistik, organizado por Holtus, Metzeltin e Schmitt (1996) —, que traz algumas
considerações sobre o comportamento de formativos afixais no latim e no âmbito românico; (iii) o
livro intitulado La formación de palabras en las lenguas románicas: su semántica en diacronía y sincronía, do
mesmo Lüdtke (2011), que, tece diversos comentários à formação de palavras em sua evolução do o
latim ao romance.
Vários dos estudos mencionados acima servem para corroborar a legitimidade da percepção de
que, embora raros, há ainda na contemporaneidade projetos, estudos e publicações concernentes ao
âmbito teórico-metodológico em tela, não tendo estagnado em fins do século XIX, ou seja, não tendo
ficado encapsulados em práticas investigativas anteriores às novidades epistemológicas que brotaram
no século seguinte, como o estruturalismo, o gerativismo, o funcionalismo e o cognitivismo.
No espaço brasileiro, os estudos de lexicogênese românica comparada nem foram nem são
numerosos, devido ao tratamento tangencial da morfologia no panorama investigativo em geral, à
marginalização da perspectiva de análise diacrônica para a língua (só há poucas décadas
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
experimentando alguma reabilitação, com fulgor e vitalidade, mas de forma marcadamente localizada,
concentrando-se em meia dúzia de universidades) e, dentro desse último fenômeno, o engessamento
ou fenecimento das cadeiras, grupos de pesquisa, revistas especializadas e demais publicações
específicas concernentes à filologia românica, especialidade cujo ensino só tardiamente foi inserido no
país (NASCENTES, 1961), quando comparado à realidade de outros países, notadamente os europeus.
Os raríssimos estudos sobre formação de palavras encontrados, versam, em geral, sobre a
sufixação e são de autoria de investigadores da Universidade de São Paulo, fato que se explica,
possivelmente, pela sua cátedra de estudos românicos, pela tradição de linguística-histórica ali presente
e, especialmente, pela constituição do Grupo de Morfologia Histórica do Português (GMHP), fundado
pelo Prof. Mário Viaro, no ano de 2005. São principalmente os estudos desenvolvidos por Freitas
(2014), com uma colação dos derivados em -mento nas línguas românicas; Areán-García (2007, 2011),
ao comparar historicamente os sufixos -ista e -ístico(a) no português e no galego; e Condé (2013),
com o cotejo de derivados em -aría/-ería também nesses sistemas linguísticos.
Uma notável exceção quanto a essa concentração territorial-institucional dos estudos histórico-
comparativos aplicados à formação de palavras é a recente tese de Simões Neto (2020), desenvolvida
na Universidade Federal da Bahia. Trata-se de um estudo comparativo, cognitivo e construcional do
esquema X-ari- do latim às línguas românicas (considerando o romeno, o italiano, o francês, o catalão,
o espanhol, o galego e o português), pautado em pressupostos da Semântica Cognitiva, da Gramática
Cognitiva, da Gramática de Construções, da Morfologia Construcional e do modelo dos Mapas
Semânticos de Haspelmath (2003).
Quanto à prefixação, sob um prisma histórico-comparado, um dos poucos redutos acadêmicos
no país onde tem surgido alguma investigação sistemática que a contemple, é também a Universidade
Federal da Bahia, com as investigações levadas a cabo ou em desenvolvimento pelo docente autor
deste artigo e seus discípulos.
Do discutido nesta seção, podemos concluir que a formação de palavras foi contemplada (e segue
sendo) pela técnica histórico-comparativa, mas em grau inferior a outros temas, como a fonologia e a
morfologia flexional7. Além disso, para os estudos românicos, o quadro parece ser mais desanimador,
ao que se soma a dificuldade (pelo menos para um pesquisador brasileiro) em rastrear e, sobretudo, ter
acesso eficiente, às publicações de morfologia derivacional histórico-comparativa, por várias razões,
7 Um exemplo ilustrativo é o que ocorre no âmbito da linguística histórica hispânica, pois espelha o que ocorre em
outras zonas de tradição investigativa na romanística (imaginemos, então, como não o será em áreas onde não existe tal
tradição...): segundo Álvarez de Miranda (2005), dentre todas as disciplinas da linguística histórica (e, dentro dela, a
histórico-comparada, podemos dizer) as mais deficitárias são aquelas concernentes ao componente lexical, como a
história do léxico, a etimologia e a lexicografia histórica. Não seria exagero incluir nesse rol a lexicogênese de cariz
morfológico.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
sendo algumas delas os preços exorbitantes das obras disponíveis à venda na internet e o fato de muitas
estarem redigidas em alemão, língua de domínio não muito corrente8. Cabe ainda dizer que a maioria
das informações coletadas sobre esses estudos parece atrelá-los à sufixação, raramente sendo possível se
deparar com publicações efetivamente relativas à derivação prefixal ou à composição, seja no passado,
seja no presente.
5. Proposta de aplicação do método histórico-comparativo
à morfologia lexical e à prefixação
Da leitura das seções anteriores, já é possível chegar a uma inferência de que a prefixação não
gozou nem goza de grande atenção na investigação histórico-comparativa, nem mesmo na área da
romanística, de tal sorte que não exageramos ao dizer que, com certa frequência, quando os estudos
foram/são morfolexicais, não foram/são histórico-comparativos e quando foram/são histórico-
comparativos, não o foram/são morfolexicais.
Um dos fins deste artigo, como apontado em sua introdução, consiste na tentativa de desenho de
um plano geral para cotejamento histórico da formação de palavras prefixadas, o que talvez possa
fomentar o desenvolvimento de estudos histórico-comparativos voltados a esse e a outros
procedimentos de geração morfolexical, como a composição, a parassíntese e a sufixação. Como
exemplificação, principiemos, pois, pelo que consideraríamos como uma proposta ideal de
investigação comparativa e histórica para a prefixação na Ibero-România que satisfizesse as condições
e principais pautas da linguística histórica, da romanística e do método histórico-comparativo.
Seguramente, um projeto dotado de todos os seguintes traços característicos, simultaneamente:
(i) abarcador de todas as línguas românicas peninsulares de cultivo histórico que
gozassem de documentação remanescente satisfatória (i.e., suficiente), como o
galego, o português, o castelhano, o catalão, o asturo-leonês, o mirandês e o
aragonês9;
(ii) abrangedor de toda a linha histórica de constituição desses sistemas linguísticos,
iniciando-se com um prospecto sobre a prefixação no latim clássico, vulgar e
8 Quanto a essa questão, cf. o que sinaliza Dworkin (2005).
9 Haveria de se verificar, é claro, se todas essas línguas possuem o espectro textual cogentemente requerido para um
estudo histórico dessa envergadura. Ainda que o possuam como remanescente, pode ser que não o tenham
filologicamente editado, o que a princípio impediria a sua inclusão no lastro documental para estudo.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
medieval, seguindo-se a prefixação nos romances, chegando-se à produção
primitiva nas línguas neolatinas peninsulares (séculos XI a XIII) e daí inflectindo
continuamente até o presente;
(iii) fincado em um lastro teórico heterogêneo (MATTOS E SILVA, 2008) sobre
esse processo lexicogenético, pautado em contribuições de teorias estruturalistas,
gerativistas e (sócio)cognitivistas pertinentes à morfologia derivacional;
(iv) subsidiado por um lastro empírico textual corroborante de grande alcance
(quantitativa e qualitativamente), sendo tipológica, temática e discursivamente
diversificado;
(v) pautado na depreensão léxico-morfológica e na análise dos formantes e
derivados, através de ferramentas de processamento automático aliadas à
anotação manual, devido às carências ainda existentes para um estudo
informatizado ligado à formação de palavras (LOPES, 2018);
(vi) propiciador de uma análise morfológica concomitantemente horizontal e
vertical, a primeira trazendo uma visão panorâmica, sobre a constelação prefixal
em cada uma das línguas ― nos moldes dos estudos de Soledade (2004), Santos
(2009) e López Viñas (2012) ―; e a segunda, por sua vez, fincada numa análise
profunda de cada um dos formativos e de suas redes morfolexicais ― nos moldes
dos estudos de Díaz García (2006), Simões Neto (2020, 2016) e Santos (2016) ―,
também para cada uma das línguas, em ambos os casos cobrindo todo o seu
percurso constitutivo, como preconiza o item (ii) supra;
(vii) englobador de todos ou dos principais aspectos relacionados ao fenômeno
derivacional analisado, sejam etimológicos, morfolexicais, morfofonológicos,
morfossintáticos, morfopragmáticos, abarcando, inclusive, as questões de
produtividade e vitalidade, lexicocronologia (SÁNCHEZ MIRET, 2001),
gramaticalização, lexicalização, desgramaticalização, substituição de prefixos,
transcategorização, superposição de partículas etc.;
(viii) empreendedor de um processo de colação de mão dupla, de caráter retrospectivo
(dos cognatos ibero-românicos à forma original latina) e prospectivo (no sentido
inverso), que possibilite a observação e a análise dos fluxos de convergência e
divergência entre os formantes (tanto no aspecto formal quanto no semântico
ou funcional), com as possíveis flutuações variacionais e fluxos de mudança em
todos os cruzamentos panromânicos possíveis.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
Como podemos inferir, a feitura apropriada de um estudo desse alcance, que acoplasse em si
todos esses aspectos, ainda que muito desejada, seria impossível para um curto prazo, pois seria um
projeto multifacetado e com muitos obstáculos a superar, exigindo, indubitavelmente, a constituição
de um grupo de pesquisa numeroso, que a ele se dedicaria por muitos anos (talvez por mais de uma
década), distribuídos em várias etapas, cada uma com um conjunto de metas a serem alcançadas.
Devido ao exposto, ao planejar em 2013 o seu estudo de doutorado, iniciado em 2014 e
defendido em 2018, Lopes (2018) ponderou que um projeto histórico-comparativo sobre a prefixação
em línguas ibero-românicas para o período de um doutoramento não poderia ousar identificar-se
com o projeto geral acima delineado, malgrado muito o quisesse, pois não lograria cumprir todos os
seus requisitos e propósitos. Como considera Kabatek (2007, p. 188), “La realización de un proyecto
científico siempre lleva, necesariamente, a limitaciones, y por mucho que queramos rehuir a ello,
habrá que contentarse con una selección de elementos.”. E foi justamente isso ao que procedeu: um
recorte expressivo, que viabilizasse o desenvolvimento de um trabalho ao mesmo tempo factível e
pertinente.
A proposta de comparação histórica da tese de Lopes (2018) poderia ser tomada como uma
parcela do extenso projeto supramencionado, pois se pauta em vários recortes, a fim de ser exequível.
Vinculou-se a apenas dois sistemas linguísticos ibéricos, o castelhano e o galego-português e, em seu
fluxo temporal, cingiu-se especificamente ao período alusivo aos séculos XIII a XVI. Com base em
um conjunto robusto de dados, incidiu horizontal e verticalmente sobre as formações prefixais,
analisando em cada língua as características semântico-funcionais e formais dessas unidades
derivativas, o seu percurso etimológico e os conjuntos paradigmáticos que moldavam. Pretendeu
satisfazer, portanto, o máximo possível, para cada uma das duas línguas analisadas, os itens (iii), (iv), (v)
e (vi) arrolados acima e, na medida do possível, o item (vii).
No que concerne ao item (viii), relativo à técnica de comparação propriamente dita, Lopes
(2018) buscou fazê-la, o quanto foi viável, em seu fluxo ascendente e descendente, indo da matriz
genolexical latina ao castelhano e galego-português medievais e destes, por sua vez, à sua fonte
lexicogênica, em fluxo contínuo, buscando explicitar os nexos de semelhança e as particularidades
desses dois idiomas românicos, nas suas duas sincronias arcaicas. Assim sendo, pode-se dizer que foram
cumpridos os requisitos principais para um estudo de cariz histórico-comparativo, já que, de acordo
com Makaev (1969, p. 34),
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
La grammaire historico-contrastive de langues parentes, au sens vrai du mot, est la
grammaire des convergences et des divergences que l’on peut observer entre les
différentes langues ou les différentes aires linguistiques d’une famille linguistique donnée.
Pelo afirmado acima, vemos que a análise comparativa desenvolvida na tese de Lopes (2018) foi
retrospectiva e prospectiva, focando, de um lado, o percurso em direção ao elemento latino (étimo) e,
do outro, o decurso em direção ao modelo final subjacente às formas modernas das línguas
comparadas (voz hodierna em uso). Em outras palavras: dada uma forma latina, chegou-se às
respectivas formas românicas resultantes; e, sob outro prisma, dadas duas ou mais formas românicas,
atingiu-se, retrospectivamente, a forma latina inicial correspondente (NASCENTES, 2009 [1954]).
Makaev (1969) preconiza que é possível e até mesmo recomendável proceder a um confronto e a uma
junção ou síntese dessas duas rotas de análise, como o fez Pottier (1962) na análise das preposições em
latim e nas línguas que dele derivaram. Mediante uma observação acurada, seria possível lograr uma
percepção das similitudes e diferenças entre os fatos em confronto, viabilizada pelo trânsito contínuo
entre as duas vias comparativas aludidas.
Pensamos ser necessário agregar aqui um adendo explicativo a essa ideia da conjunção das duas
vias de análise comparativa, visto que não consideramos que as línguas românicas sejam meras “[...]
continuadoras del latín hablado en la ‘Romania’ [...]” ou simplesmente “[...] el resultado actual de las
evoluciones y transformaciones ininterrumpidas del latín de los antiguos romanos hasta su
fragmentación y la cristalización de las nuevas modalidades lingüísticas, distintas del idioma
originario.” (MUNTEANU COLÁN, 2005, p. 19-20).
Pelo contrário, ao repassarmos o fluxo histórico constitutivo dos sistemas linguísticos enfocados,
podemos perceber que a composição do quadro românico, com as equivalências, similitudes,
divergências e contrastes simultaneamente incidentes sobre os idiomas que o integram, explica-se não
somente pela filiação direta a uma língua originante, mas também pelo processamento de um
conjunto multivalente de variações, mudanças, transferências, permutas, conexões, interinfluências,
choques e concorrências por parte dos sistemas gerados a partir do latim vulgar, num fluxo dinâmico e
multiaxial, condicionado (ou pelo menos influenciado) pelo contato (cf., entre outros, KLEE;
LYNCH, 2009) e pelo uso, vetores essenciais na estruturação e no funcionamento de qualquer sistema
linguístico e necessariamente delineados a partir da ação de causas sociais, políticas, históricas,
culturais, estilísticas e discursivas, incrustadas em sociedades e territórios cambiantes e de modo algum
estáticos. Ora, essas características desses conglomerados sócio-territoriais eram também de algum
modo as dos sistemas linguísticos neles emergentes (MAÍLLO SALGADO, 1998), espraiados num
complexo dialetal multifacético, dotado de patente variabilidade: um continuum inicialmente
monolíngue (mas de modo algum homogêneo ou uniforme) e posteriormente cindido (WRIGHT,
1998; RAMOS REMEDIOS, 2003), embora mantendo inúmeras conexões e encaixamentos.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
Há que se esclarecer também que não foi objetivo de Lopes (2018) a utilização do cotejo
interlinguístico para lançar-se à reconstrução de estágios reais ou possíveis etapas pré-históricas de
idiomas (neste caso, o latim), um dos objetivos da prática histórico-comparativa (BARÐDAL, 2013),
mas sim, utilizar-se dela como um apoio à investigação do rastreamento de movimentos de variação e
mudança no interior das línguas aparentadas. A colação, através da percepção de contrastes e
convergências, permitiria uma observação mais clara do comportamento intralinguístico de cada um
dos sistemas enfocados e, aliada a isso, uma avaliação do grau de proximidade que estabelecem entre si,
devido à manutenção ou não de traços semelhantes e aos respectivos fluxos de mutação e conservação.
Starostin (2000), discorrendo sobre os moldes de comparação entre línguas, destaca a
importância de se encontrar as características pertinentes que possam ser adotadas para estabelecer um
paralelo entre elas, observando-se a proximidade ou distância que revelam. Recomenda certa cautela
no manejo de similitudes sonoras, morfológicas ou sintáticas como pautas de critérios para a
comparação, pois podem não propiciar a obtenção de medições equilibradas entre uma língua e outra,
já que são sistemas que em uma língua podem ser rapidamente mutáveis e em outra extremamente
conservadoras.
As observações de Starostin (2000), ainda que provavelmente destinadas a comparações mais
gerais sobre as línguas, trazem à baila inquietações epistemológico-metodológicas, pois é possível se
perguntar até que ponto as comparações morfolexicais permitem propor diferenciações ou
acercamentos entre uma realidade linguística e a outra? Quais os limites do cotejo para o
delineamento de uma caracterização diacrônica dos sistemas comparados, em termos de convergência
e distanciamento, sobretudo quando se adota como base mais uma perspectiva qualitativa que
quantitativa? A partir de uma investigação dessa natureza seria possível lançar uma hipótese plausível
sobre a proximidade ou distanciamento entre dois ou mais sistemas linguísticos quanto à lexicogênese
(prefixal, por exemplo)? Quais seriam as pautas de colação pertinentes? Inquietações que perpassam o
labor investigativo e para as quais não temos mais que expedientes provisórios, hipotéticos,
aproximativos, que nos pareceram os mais aceitáveis. Daí que Lopes (2018) tenha adotado um artifício
autorreferente na pesquisa, pois o seu próprio desenrolar é que lhe mostraria quais procedimentos
comparativos seriam mais viáveis e interessantes para a análise e confrontação das línguas abordadas.
As dúvidas, ao contrário de embaçarem a cientificidade de uma pauta de pesquisa, realçam-na, pois a
incerteza em determinados aspectos do estudo linguístico histórico-comparativo, em vez de uma
deficiência, é mais propriamente uma marca que corrobora uma práxis epistemológica fecunda.
Para findar esta seção e tendo como principal subsídio a proposta apontada por Lopes (2018) para
a prefixação, apresentamos abaixo a esquematização de uma proposta de cotejo para a afixação em
âmbito panromânico, que, com as devidas adaptações, poderia ser aplicada, sem maiores dificuldades, a
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
um procedimento afixal específico (como a sufixação, por exemplo) ou mesmo a operações de
composição:
Quadro 1 – Síntese do modus comparandi aplicado à afixação.
Cotejo intralinguístico + Cotejo interlinguístico
(i) quanto aos
sentidos que dado
afixo denota10
(ii) quanto aos esquemas
construcionais ou redes que dado afixo
molda11
(i) quanto à
feição
etimológica ou
vernacular de
cada formativo e
quanto à sua rede
alomórfica e
alógrafa
(i) quanto à
seleção das
categorias das
bases por dado
afixo
(i) quanto ao
espectro
semântico geral
dos paradigmas
considerados
(ii) quanto ao
fluxo de
conservação e
inovação nos
paradigmas
considerados 12
(iii) quanto às
relações
morfossemânti
cas que os
paradigmas
considerados
engatilham13
(i) quanto à feição
mais conservadora
(etimológica) ou
mais inovadora
(vernacular) dos
paradigmas
considerados
(ii) quanto ao registro de
cognatos perfeitos e de
ausências de correspondências
entre um paradigma e os
demais
10 Além da opacidade ou expletividade que porventura registrem.
11 E a produtividade e vitalidade de tais esquemas.
12 A conservação sendo sinalizada pela manutenção de sentidos latinos e a inovação pelo surgimento de novos sentidos
vernaculares, sobretudo através da metáfora, da metonímia e da perspectivação.
13 A saber: polissemia, homomorfismo, sinmorfismo, antinomorfismo, intentando também verificar se os fluxos da
polissemia de cada um dos afixos percorreram trajetórias semelhantes nos paradigmas abordados.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
(i) quanto às
escolhas
divergentes de
prefixos para as
mesmas bases
lexicais no fluxo
histórico dos
paradigmas
considerados14
(ii) quanto ao surgimento (ou
não) de novos elementos, via
gramaticalização (afixoides) nos
paradigmas considerados15
Fonte: Elaboração própria, com base em Lopes (2018).
Pela proposta esquematizada no quadro acima, a colação entre as línguas abordadas se
estabeleceria em dois domínios: o intralinguístico e o interlinguístico; e, dentro de cada um desses, sob
uma ótica verticalizante (individual, particular) ou panorâmica (geral, horizontal). O cotejo
intralinguístico consistiria na apreciação comparativa do comportamento (semântico, formal ou
funcional) de dado procedimento morfolexical em cada um dos cortes sincrônicos considerados no
interior de uma das línguas sob análise — e.g., para a prefixação na história do espanhol, o
desempenho desse fenômeno no período medieval (1100 a 1500) versus no Siglo de Oro (1500-1700)
versus na sincronia moderna (1700 a 1900) versus na sincronia contemporânea (1900 aos dias de hoje)
—. Já o cotejo interlinguístico consistiria na colação entre fatos de língua (unidade morfológica,
fenômeno morfossemântico etc.) pertencentes aos paradigmas morfolexicais de dois ou mais sistemas,
como, e.g., o processamento do antinomorfismo (antonímia morfológica) em formativos e derivados
do espanhol, do galego, do catalão, do asturiano e do português; ou o comportamento/desempenho
formal, funcional e semântico dos prefixos intensificadores nessas línguas.
Por sua vez, o que vem denominado na tabela por cotejo individual nada mais seria que a
comparação processada formativo a formativo. Por exemplo, no cotejo individual de corte
intralinguístico, o prefixo re- da primeira sincronia do português arcaico versus o prefixo re- da
segunda sincronia do português arcaico; no cotejo individual de corte interlinguístico, o prefixo re-
português versus o prefixo re- castelhano. E, finalmente, por cotejo geral, entenda-se a comparação dos
paradigmas morfolexicais entre duas ou mais línguas enfocadas, como, por exemplo, a constelação
prefixal do português versus a constelação prefixal do galego versus a constelação prefixal do castelhano
versus a constelação prefixal do catalão.
Se tomamos como base os dados compilados, descritos e analisados por Lopes (2018), é possível
apresentar, como exemplificação, uma mostra da aplicação das linhas de cotejo intra e interlinguístico
14 Por exemplo, esfriar (português) X enfriar (espanhol).
15 Além dos afixoides, o aparecimento de outros elementos (e.g., pseudoafixos) e de outros fenômenos (e.g.,
lexicalização de afixos).
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
a um elemento prefixal específico (sintetizadas na seção A do Quadro 1)16, que poderia ser o es-/ex- e
que nos revelaria as seguintes informações:
(i) ASPECTOS SEMÂNTICOS
- Quanto aos sentidos que o afixo denota: no latim, a existência de sete
valores semânticos: ‘movimento para fora’ (excurro), ‘movimento para cima’
(escendo), ‘mudança de estado’ (emollio), ‘privação’ (elinguis), ‘intensificação’
(exstimulo), ‘perfectividade’ (ebibo), cessativo (excōnsul), não sendo rara a sua
adjunção como mero expletivo nessa língua (ementior; evincio); no período
medieval, redução significativa dessa teia semântica no português e no
castelhano, basicamente com a veiculação dos valores de ‘privação, extração’
(espulgar, esmalhar), além de um emprego muito recorrente como expletivo
(escambhar, espaladinar, escomer, espartir, esprestar) e só esporadicamente a
veiculação dos sentidos de ‘movimento para fora’ (estirar, escaminar) e ‘mudança
de estado’ (escarzar, esfriar); a partir do período moderno, incidência apenas dos
sentidos privativo-extrativo (esfornecinar, esgalhar) e, principalmente, do cessativo
(exrector, ex-namorado), em ambas as línguas.
(ii) ASPECTOS FORMAIS
- Quanto à feição etimológica ou vernacular do formativo e quanto à sua
rede alomórfica e alográfica: no latim, o prefixo constituía uma rede
alomórfica tétrade, com as formas ex-, es-, e- e ef-; nas sincronias medievais,
perde alguma força na alomorfia, embora apresente certa variabilidade
alográfica, sendo detectadas no corpus as variantes es-/s- para o galego-
português, e es-/as- para o castelhano, com a preferência por uma maior feição
vernacular para o prefixo, portanto; nas sincronias moderna e contemporânea,
dá-se uma forte uniformização, com a seleção quase que exclusiva das variantes
ex- e es-, sinalizando uma preferência pela feição etimológica (latina) da unidade
prefixal.
16Uma mostra do cotejo geral entre os paradigmas prefixais do português e do castelhano em sua evolução histórica
(contemplando todos os aspectos elencados na seção B do Quadro 1) seria demasiadamente extensa para constar de um
artigo como este. Assim, remetemos o leitor à seção 6.2 e às Considerações Finais do estudo doutoral de Lopes (2018).
Como rápida exemplificação, se tomássemos um único aspecto de ordem semântica (o fluxo de conservação e inovação
de sentidos nos paradigmas considerados), teríamos os seguintes resultados: na maioria dos casos (como com os
formantes ad-, ab-, ob-, pre-, in- e pro-), houve perda de matizes semânticos na travessia latim → romance; outra
possibilidade nessa travessia é a de ganhos polissêmicos, a partir do surgimento de acepções inovadoras, concomitante à
perda de sentidos da matriz etimológica, como ocorreu com o inter- e com o trans-; em outros casos (como com o ante-
, o in- lativo, o sobre- e o ambi-), uma situação de inalterabilidade em suas caracterizações semânticas no fluxo do latim
ao romance; em alguns prefixos, como o re-, um contraste na sua polissemia quando comparadas as duas línguas
românicas em questão (em sua passagem do período arcaico ao moderno-contemporâneo), com grande vitalidade de
um valor intensificativo em castelhano, mas raramente detectado em derivados do português.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
(iii) ASPECTOS FUNCIONAIS
- Quanto à seleção das categorias das bases pelo afixo: no latim, a
moldagem isocategorizadora de inúmeros verbos (excurro, escendo, exstimulo,
evinco) e de alguns poucos nomes (exsanguis, edentulus, effertus); absoluta
preferência pela geração isocategorial ou parassintética de verbos nas duas
sincronias medievais do (galego-)português (escambhar, escavar, esmorecer) e do
castelhano (escaminar, estajar, eslesiar), embora com a perda de alguma vitalidade
(menor número de novos derivados) na segunda fase arcaica (sécs. XV-XVI); já
nas fases moderna e contemporânea do português e do castelhano, uma nova
guinada, com o declínio do emprego do formativo na geração homocategorial
de novos verbos (mais no castelhano que no português) e o seu grande
incremento na emergência de formas nominais, unicamente sob a variante ex-
(exministro, exprovincial, ex-marido, ex-diretor), num patente quadro de mudança
funcional.
(iv) ASPECTOS CONSTRUCIONAIS
- Quanto aos esquemas construcionais ou redes que o afixo molda:
existência de um esquema construcional para as formações verbais e outro para
as nominais (dadas as particularidades formais, semânticas e funcionais que cada
um desses dois grupos apresenta); ambos dotados de maior complexidade no
latim (com diversas ramificações semânticas geradas mediante ativações
metafóricas e metonímicas), dada a simplificação ocorrida na sua transformação
românica, ao menos quanto ao português e ao castelhano; nova simplificação
processada na passagem do período arcaico ao moderno-contemporâneo desses
dois sistemas linguísticos vernaculares.
Como derradeira observação a respeito desse complexo esquema de comparação formal-
semântico-funcional para a afixação, que se processa tanto em um eixo vertical quanto em um eixo
horizontal, é conveniente ressaltar que parece ter como única exigência a consideração de um número
robusto de dados empíricos, pois pode ser aplicado a dois sistemas linguísticos ou a um número maior
deles; pode fundamentar-se em uma corrente específica dos estudos da linguagem ou em postulados
de várias delas; pode, inclusive, selecionar apenas uma análise panorâmica (geral) em detrimento de
uma análise atomística (individual) ou vice-versa. Dada tamanha flexibilidade, não seria temerário
considerar que o modus comparandi delineado é um instrumental metodológico proveitoso ao
desenvolvimento e avanço da análise de cunho histórico-comparativo atinente à formação de palavras,
à lexicogênese de ordem morfológica.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
Considerações finais
A abordagem histórico-comparativa das línguas, embora para muitos pareça estar congelada no
século XIX ou destituída de qualquer frescor para as práticas hodiernas de análise linguística, mostra-
se imersa em um processo de lenta e localizada revitalização, com o advento (ou alguma proliferação)
de novas aplicações, seja a domínios ou níveis de língua anteriormente não privilegiados por esse
paradigma científico (como a sintaxe e a formação de palavras), seja a outros anteriormente estudados,
mas, desta feita, com a consideração das achegas de correntes linguísticas pós-comparativistas, do
estruturalismo ao sociocognitivismo.
O estudo histórico-comparativo não necessariamente desemboca em si mesmo, ou seja, na
comparação histórica pela comparação histórica (embora pensemos que a comparação per se já é algo
digno de importância, pois permite saber um pouco melhor como de fato se comportam duas ou mais
línguas cotejadas e até que ponto convergem e se singularizam e em quais aspectos tais convergências
e dessemelhanças se manifestam), visto que pode servir, quando menos provisória e pontualmente,
como meio de confirmação ou refutação de algumas questões gerais sobre as línguas sob colação.
Com isso, parece-nos patente o valor heurístico e o potencial teórico da comparação entre línguas
para a ciência linguística (MORENO CABRERA, 1997), pelo que nos coadunamos ao pensamento
de Sánchez Miret (2008, p. 12-13), quando defende que “[...] el estudio comparativo nos coloca en
disposición de hacernos preguntas que no se plantean en el estudio lengua por lengua y que, por lo
tanto, ayudan a comprender mejor los fenómenos estudiados.”
Neste artigo, além de repassarmos os principais expoentes da escola comparativista-histórica, seus
postulados fundamentais e alguns estudos desenvolvidos sob suas pautas teórico-metodológicas,
tivemos também como fim a exposição de uma proposta de cotejo historicocêntrico aplicável à
lexicogênese, com a apreciação (em fluxo ascendente e descendente) de colações entre a forma
originante (na matriz lexical latina) e as formas presentes nas línguas descendentes, que, mesmo sendo
portadores de uma identificação histórica quanto à gênese (latina), podem não só apresentar
divergências quanto à matriz, mas também entre si, devido ao fato de poderem gerar derivados ou
formativos de certa forma alheios à matriz genolexical e alheios ao desenvolvimento histórico-
diacrônico de suas congêneres.
Cremos, com Bassetto (2005), Posner (1998) e Ridruejo (1989), que o método histórico-
comparativo, devidamente usado, permanece sendo profícuo, sobretudo para o conhecimento do
léxico e da morfologia das línguas românicas, permitindo rastrear as confluências e singularidades que
delas emergem, os encontros e desencontros que se dão no transcurso histórico-constitutivo desses
sistemas idiomáticos.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
Referências bibliográficas
ÁLVAREZ DE MIRANDA, Pedro. Estar de vuelta sin haber ido: sobre la situación de los estudios
léxicos en la lingüística histórica española. La corónica, Columbus, v. 34, n. 1, p. 131-135,
2005. Disponível em: //www.lacoronica.org/dod/alvarez.pdf. Acesso em: 12 jan. 2018.
AREÁN-GARCÍA, Nilsa. Aspectos sincrônicos e diacrônicos do sufixo -ístico(a) no português
e no galego. 2011. 835 f. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) — Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
Disponível em: //teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-29082012-103453/pt-br.php.
Acesso em: 8 jan. 2018.
AREÁN-GARCÍA, Nilsa. Estudo comparativo de aspectos semânticos do sufixo -ista no
português e no galego. 2007. 463 f. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua
Portuguesa) — Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2007.
BANDELT, Hans-Jürgen. et al. Mitochondrial portraits of human populations. Genetics, v. 141, n.
2, p. 743-753, 1995. Disponível em: //pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/8647407/. Acesso em:
18 jul. 2020.
BANDELT, Hans-Jürgen, FORSTER, Peter; RÖHL, Arne. Median-joining networks for inferring
intraspecific phylogenies. Molecular Biology and Evolution, v. 16, n. 1, p. 37-48, 1999.
Disponível em: //pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10331250/. Acesso em: 18 jul. 2020.
BARÐDAL, Jóhanna. Construction- Based Historical-Comparative Reconstruction. In:
HOFFMANN, Thomas; TROUSDALE, Graeme (Ed.). The Oxford Handbook of
Construction Grammar. Oxford: Oxford University Press, 2013. p. 438-457.
BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2005.
BRYANT, David; FILIMON, Flavia; GRAY, Russell D. Untangling our past: Languages, trees,
splits and networks. In: MACE, Ruth; HOLDEN, Clare J.; SHENNAN, Stephen (Ed.). The
evolution of cultural diversity: A phylogenetic approach. New York: Routledge, 2005. p.
67-84.
BRYANT, David; MOULTON, Vincent. NeighborNet: an agglomerative algorithm for the
construction of phylogenetic networks. Molecular Biology and Evolution, v. 21, n. 2, p.
255-265, 2004. Disponível em: //academic.oup.com/mbe/article/21/2/255/1187993.
Acesso em: 18 jul. 2020.
CALVET, Louis-Jean. Histoires de mots: étymologies européennes. Paris: Payot, 1993.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
CAMARGOS, Lidiane. Consolidando uma proposta de família linguística Boróro:
contribuição aos estudos histórico-comparativos do tronco Macro-Jê. 2013. 232f. Tese
(Doutorado em Linguística) — Instituto de Letras, Universidade de Brasília, Brasília.
Disponível em: //repositorio.unb.br/handle/10482/15116. Acesso em: 17 fev. 2018.
CAMPBELL, Lyle. Historical linguistics: an introduction. Cambridge (Massachusetts): The MIT
Press, 1999.
COMPANY COMPANY, Concepción. Una paradoja de la lingüística histórica romance: el
florecimiento de la sintaxis histórica románica. La corónica, Columbus, v. 34, n. 1, p. 144-
163, 2005. Disponível em: //www.lacoronica.org/dod/company.pdf. Acesso em: 16 fev.
2018.
CONDÉ, Valéria. Estudo comparativo do sufixo -aria/-eria nas línguas ibero-românicas do
Noroeste Peninsular. In: VIARO, Mário (Org.). Morfologia Histórica. São Paulo: Cortez,
2013. p. 106-117.
CROWLEY, Terry; BOWERN, Claire. An introduction to historical linguistics. 4. ed. New
York: Oxford University Press, 2010.
CYRANKA, Lucia. Evolução dos estudos linguísticos. Práticas de Linguagem, Juiz de Fora, v. 4,
n. 2, p. 160-198, jul./dez. 2014. Disponível em:
//www.ufjf.br/praticasdelinguagem/files/2014/09/160-198-Evolu%C3%A7%C3%A3o-
dos-estudos-lingu%C3%ADsticos.pdf. Acesso em: 12 ago. 2017.
DÍAZ GARCÍA, María Teresa. Un modelo de diseño, análisis y explotación de un corpus:
Sincronía y diacronía del sufijo castellano -oso. 2006. 1151 f. Tese (Doutoramento em
Filología Románica) — Facultade de Filoloxía, Universidade de Santiago de Compostela,
Santiago de Compostela, 2006.
DWORKIN, Steven. Further reflections on “Historical romance linguistics: the death of a
discipline?”. La corónica, Columbus, v. 34, n. 1, p. 125-130, 2005. Disponível em:
//www.lacoronica.org/dod/dworkin.pdf. Acesso em: 23 fev. 2017.
DWORKIN, Steven. Thoughts on the future of a venerable and vital discipline. La corónica,
Columbus, v. 31, n. 2, p. 9-17, 2003.
EYTHÓRSSON, Thórhallur; BARÐDAL, Jóhanna. Syntactic Reconstruction in Indo European:
state of the art. Veleia: Revista de prehistoria, historia antigua, arqueología y filología clásicas,
Vitoria-Gasteiz, n. 33, p. 83-102, 2016. Disponível em:
//addi.ehu.es/handle/10810/37313. Acesso em: 17 jul. 2020.
FARACO, Carlos Alberto. Lingüística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas.
2. ed. São Paulo: Parábola, 2005.
FARACO, Carlos Alberto. Estudos pré-saussurianos. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna
Christina (Org.). Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez,
2004. p. 27-52.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
FRANÇOIS, Alexandre. Trees, Waves and Linkages: Models of Language Diversification. In:
BOWERN, Claire; EVANS, Bethwyn (Ed.). The Routledge Handbook of Historical
Linguistics. London: Routledge, 2014. p.161-189.
FREITAS, Érica. O tempo e o mento: história do sufixo latino -mentum e de seu desenvolvimento
na língua portuguesa, em contraste com outras línguas românicas. 2014. 742 f. Tese
(Doutorado em Letras) — Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2014.
GARR, W. Randall. The Comparative Method in Semitic Linguistics. Aula Orientalis, Barcelona,
v. 23, n. 1-2, p. 17-21, 2005.
GIRÓN, José Luis. Perspectivas de la lingüística histórica románica e hispánica. La corónica,
Columbus, v. 34, n. 1, p. 176-189, 2005. Disponível em:
//www.lacoronica.org/dod/giron.pdf. Acesso em: 23 fev. 2017.
HARRISON, Shelly. On the limits of the comparative method. In: JOSEPH, Brian; JANDA,
Richard (Ed.). The handbook of historical linguistics. Malden: Blackwell, 2005. p. 213-
243.
HASPELMATH, Martin. The geometry of grammatical meaning: Semantic maps and
crosslinguistic comparison. In: TOMASELLO, Michael (Ed.). The new psychology of
language: cognitive and functional approaches to language structure. Mahwah: Lawrence
Erlbaum, 2003. p. 211-242. Vol. 2.
HEGGARTY, Paul; MAGUIRE, Warren; MCMAHON, April. Splits or waves? Trees or webs?
How divergence measures and network analysis can unravel language histories.
Philosophical Transactions of the Royal Society B, v. 365, p. 3829-3843, 2010.
Disponível em: //royalsocietypublishing.org/doi/pdf/10.1098/rstb.2010.0099. Acesso em:
19 jul. 2020.
HOLTUS, Günter; SÁNCHEZ MIRET, Fernando. Romanitas, filologia románica,
romanística. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 2008.
HUSON, Daniel H.; BRYANT, David. Application of phylogenetic networks in evolutionary
studies. Molecular Biology and Evolution, v. 23, n. 2, p. 254-267, 2006. Disponível em:
//academic.oup.com/mbe/article/23/2/254/1118872. Acesso em: 18 jul. 2020.
IORDAN, Iorgu. Introdução à linguística românica. Trad. de Júlia Ferreira. Lisboa: Calouste
Gulbenkian, 1973 [1962].
JOSEPH, Brian D. The Comparative Method: simplicity + power = results. Veleia: Revista de
prehistoria, historia antigua, arqueología y filología clásicas, Vitoria-Gasteiz, n. 33, p. 39-48,
2016. Disponível em: //addi.ehu.es/handle/10810/37293. Acesso em: 16 jul. 2020.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
KABATEK, Johannes. Otra historia de las lenguas iberorrománicas: en torno a la actualidad de una
vieja idea. In: HAFNER, Jochen; OESTERREICHER, Wulf (Org.). Mit Clio im Gespräch:
Romanische Sprachgeschichten und Sprachgeschichtsschreibung. Tübingen: Gunter Narr
Verlag, 2007. p. 173-194. Disponível em: //publikationen.uni-
tuebingen.de/xmlui/handle/10900/46373. Acesso em: 16 fev. 2017.
KALYAN, Siva; FRANÇOIS, Alexandre; HAMMARSTRÖM, Harald (Ed.). Understanding
language genealogy: alternatives to the tree model. Journal of Historical Linguistics, v. 9, n.
1 (especial), 2019. 176 p.
KESSLER, Brett. The mathematical assessment of long-range linguistic relationships. Language
and Linguistics Compass, v. 2, n. 5, p. 821-839, 2008.
KILBURY, James; BONTCHEVA, Katina. Historical-comparative reconstruction and multilingual
lexica. Proceedings of the Papillon 2004 Workshop on Multilingual Lexical Databases.
Grenoble: s.n., 2004. p. 1-10.
KLEE, Carol; LYNCH, Andrew. El español en contacto con otras lenguas. Washington:
Georgetown University Press, 2009.
LEHMANN, Winfred. Historical Linguistics: an introduction. New York: Holt, Rinehart and
Winston, 1962.
LINDNER, Thomas. Word-formation in historical-comparative grammar. In: MÜLLER, Petter et
al. Word-formation: an international handbook of the languages of Europe. Berlin: De
Gruyter Mouton, 2015. p. 38-51.
LINHARES, Allan. Gramática histórico-comparativa: contribuições para a formação de línguas
modernas. VERBUM, São Paulo, n. 7, p. 34-46, 2015. Disponível em:
//revistas.pucsp.br/verbum/article/view/22647. Acesso em: 21 fev. 2017.
LOPES, Mailson dos Santos. Estudo histórico-comparativo da prefixação no galego português
e no castelhano arcaicos (séculos XIII a XVI): aspectos morfolexicais, semânticos e
etimológicos. 2018. 2430 f. Tese (Doutorado em Língua e Cultura; Doutoramento em
Linguística do Português) — Instituto de Letras/Faculdade de Letras, Universidade Federal da
Bahia/Universidade de Coimbra, Salvador/Coimbra, 2018. Disponível em:
//repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29879. Acesso em: 3 set. 2019.
LÓPEZ-VIÑAS, Xoán. A formación de palabras no galego medieval: a afixación. 2012. 597 f.
Tese (Doutorado em Filologia) — Facultade de Filoloxía, Universidade da Coruña, A Coruña,
2012. Disponível em: //ruc.udc.es/dspace/handle/2183/10079?locale-attribute=es. Acesso
em: 6 out. 2019.
LÜDTKE, Jens. La formación de palabras en las lenguas románicas: su semántica en diacronía y
sincronía. Trad. de Elisabeth Beniers. México, D.F.: El Colegio de México, 2011.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
LÜDTKE, Jens. Gemeinromanische Tendenzen IV: Wortbildungslehre. In: HOLTUS, Günter;
METZELTIN, Michael; SCHMITT, Christian. (Hrsg.). Lexikon der Romanistischen
Linguistik. Tübinger: Niemeyer, 1996. p. 235-272.
MAÍLLO SALGADO, Felipe. Los arabismos del castellano en la Baja Edad Media:
consideraciones históricas y filológicas. 3. ed. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca,
1998.
MAKAEV, Ènver. Les rapports entre grammaire comparée, grammaire contrastive et grammaire
typologique. Langages, Paris, ano 4, n. 15, p. 32-42, 1969. Disponível em:
//www.persee.fr/doc/lgge_0458-726x_1969_num_4_15_2516. Acesso em: 6 out. 2019.
MARTELOTTA, Mário Eduardo. Conceitos de gramática. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo et
al. (Org.). Manual de linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2012.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. O português arcaico: uma aproximação. Lisboa: IN-CM,
2008.
MAURER JR., Theodoro. Lingüística histórica. Alfa, Araraquara, v. 11, p. 19-42, 1967. Disponível
em: //periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/3297. Acesso em: 10 mar. 2017.
MAURER JR., Theodoro. A unidade da România Ocidental. São Paulo: Universidade de São
Paulo, 1951.
MCMAHON, April; MCMAHON, Robert. Finding families: quantitative methods in language
classification. Transactions of the Philological Society, London, v. 101, n. 1, p. 7-55, 2003.
MELLO, Antonio. Estudo histórico da família linguística Tupi-Guarani: aspectos fonológicos e
lexicais. 2000. 286 f. Tese (Doutorado em Linguística) — Instituto de Comunicação e
Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. Disponível em:
//repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/78560/170082.pdf?sequence=1. Acesso
em: 10 mar. 2017.
MILLAR, Robert McColl (Ed.); TRASK, Larry. Trask’s Historical Linguistics. 3. ed. Abingdon:
Routledge, 2015.
MONZÓ GALLO, Carlos. Nariz, oreja y ojo en las lenguas románicas. CONGRESO
INTERNACIONAL DE LINGÜÍSTICA Y DE FILOLOGÍA ROMÁNICAS, 26., 2010.
Valencia, Actas… València: Gruyter. 2013. p. 303-314.
MUNTEANU COLÁN, Dan. Breve historia de la lingüística románica. Madrid:
Arco/Libros, 2005.
MUÑOZ, Mirta. El método histórico-comparativo. Documentos Lingüísticos y Literarios,
Valdivia, n. 2, p. 30-34, 1978. Disponível em:
//www.humanidades.uach.cl/documentos_linguisticos/document.php?id=132. Acesso em:
12 mar. 2017.
NASCENTES, Antenor. Elementos de filologia românica. Rio de Janeiro: Botelho, 2009 [1954].
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
NASCENTES, Antenor. A filologia românica no Brasil. Letras, Curitiba, v. 12, p. 36-42, 1961.
NICHOLS, Johanna; WARNOW, Tandy. Tutorial on Computational Linguistic Phylogeny.
Language and Linguistics Compass, v. 2, n. 5, p. 760-820, 2008. Disponível em:
//lbbe.univ-lyon1.fr/projets/tannier/ENSL/warnow_linguistics.pdf. Acesso em: 21 jul.
2020.
PAIXÃO DE SOUZA, Maria Clara. Linguística histórica. In: PFEIFFER, Claudia; NUNES, José
Horta (Org.). Introdução às ciências da linguagem: língua, sociedade e conhecimento.
Campinas: Pontes, 2006. p. 11-48.
PEDERSEN, Holger.Türkische Lautgesetze. Zeitschrift der Deutschen Morgenländischen
Gesellschaft, Berlin, n. 57, p. 535-561, 1903.
POSNER, Rebecca. Las lenguas romances. Trad. de Silvia Iglesias. Madrid: Cátedra, 1998.
POTTIER, Bernard. Systématique des éléments de relation: étude de morphosyntaxe structurale
romane. Paris: Klincksieck, 1962.
RAMA, Kasicheyanula. Computational methods for historical linguistics. 2009. 74 f. Tese
(Masters in Technology in Computational Linguistics) — Department of Computer Science
and Engineering, International Institute of Information Technology, Hyderabad, 2009.
Disponível em: //spraakdata.gu.se/taraka/CogID.pdf. Acesso em: 3 jan. 2017.
RAMIREZ, Henri. Línguas Arawak da Amazônia Setentrional: comparação e descrição.
Manaus: Editora de Universidade do Amazonas, 2001.
RAMOS REMEDIOS, Emiliana. Para una revisión de la documentación hispana hasta el siglo XIII:
los Cartularios de Valpuesta. In: PERDIGUERO VILLARREAL, Hermógenes (Ed.). Lengua
romance en textos latinos de la Edad Media: sobre los orígenes del castellano escrito.
Burgos: Universidad de Burgos; Instituto Castellano y Leonés de la Lengua, 2003. p. 243-262.
RANKIN, Robert. The comparative method. In: JOSEPH, Brian; JANDA, Richard (Ed.). The
handbook of historical linguistics. Malden: Blackwell, 2005. p. 183-212.
RATCLIFFE, Robert. Afroasiatic comparative lexica: implications for long (and medium) range
language comparison. In: HAJICOVÁ, E.; KOTESOVCOVÁ, A.; MIROVSKY, J. (Ed.).
Proceedings of the Seventeenth International Congress of Linguists. 2003. p. 1-24.
Disponível em: //www.tufs.ac.jp/ts/personal/ratcliffe/comp%20&%20method-
Ratcliffe.pdf. Acesso em: 8 ago. 2016.
RENZI, Lorenzo. Introducción a la filología románica. Trad. de Pilar García Mouton. Madrid:
Gredos, 1982 [1976].
RIDRUEJO, Emilio. Viejos y nuevos problemas de la lingüística románica. La corónica, Columbus,
v. 34, n. 1, p. 229-242, 2005. Disponível em: //www.lacoronica.org/dod/ridruejo.pdf.
Acesso em: 16 mar. 2017.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
RIDRUEJO, Emilio. Las estructuras gramaticales desde el punto de vista histórico. Madrid:
Síntesis, 1989.
RINGE, Don; WARNOW, Tandy; TAYLOR, Ann. Indo‐European and computational cladistics.
Transactions of the philological society, London, v. 100, n. 1, p. 59-129, 2002.
RIO-TORTO, Graça Maria. Operações e paradigmas genolexicais do português. Filologia e
Lingüística Portuguesa, São Paulo, n. 2, p. 39-60, 1998. Disponível em:
//www.revistas.usp.br/flp/article/view/59658. Acesso em: 17 jul. 2020.
SÁNCHEZ MIRET, Fernando. Los complejos de la romanística y sus consecuencias para la
investigación. Revue de linguistique romane, Paris, n. 285-286, p. 5-23, 2008.
SÁNCHEZ MIRET, Fernando. Proyecto de gramática histórica y comparada de las lenguas
romances. München: LINCOM Europa, 2001.
SANTOS, Alice. Morfologia em diacronia − os caminhos e desvios de um afixo na história da
língua: o percurso histórico-semântico do prefixo des- em bases sufixadas e em formações
parassintéticas. 2016. 318 f. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) — Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.
Disponível em: //www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-10052016-115122/pt-
br.php. Acesso em: 16 mar. 2017.
SANTOS, Antonia Vieira dos. Compostos sintagmáticos nominais VN, NN, NA, AN e
NPrepN no português arcaico (sécs. XIII-XV). 2009. 284 f. Tese (Doutorado em Letras e
Linguística) — Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009. Disponível
em: //repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11221. Acesso em: 22 jul. 2019.
SIMÕES NETO, Natival. O esquema X-ARI- do latim às línguas românicas: um estudo
comparativo, cognitivo e construcional. 2020. 4297 p. Tese (Doutorado em Língua e Cultura)
– Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2020. Disponível em:
//repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32014. Acesso em: 22 jul. 2020.
SIMÕES NETO, Natival. Um enfoque construcional sobre as formas X-eir-: da origem latina
ao português arcaico. 2016. 655 p. Dissertação (Mestrado em Língua e Cultura) – Instituto de
Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016. Disponível em:
//repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/30404. Acesso em: 15 ago. 2019.
SOARES, Marília; CARVALHO, Fernando. As hipóteses de Aryon Rodrigues: validade, valor e
papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica. D.E.L.T.A., São
Paulo, v. 30, n. especial, p. 543-570, 2014. Disponível em:
//www.scielo.br/pdf/delta/v30nspe/0102-4450-delta-30-spe-0543.pdf. Acesso em: 22
mar. 2017.
SOLEDADE, Juliana. Semântica morfolexical: contribuições para a descrição do paradigma sufixal
do português arcaico. 2004. 575 f. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) — Instituto de
Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.
O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical... Mailson Lopes
LaborHistórico, Rio de Janeiro, 6 (3): 162-195, set. | dez. 2020.
STAROSTIN, Sergei. Lexicostatistics as a basis for language classification: increasing the pros,
reducing the cons. In: FANGERAU, Heiner et al. (Ed). Classification and evolution in
biology, linguistics and the history of science. Stuttgart: Franz Steiner Verlag, 2013. p.
125-146.
STAROSTIN, Sergei. Preliminary lexicostatistics as a basis for language classification: a new
approach. Journal of Language Relationship, Moscou, v. 3, p. 79-116, 2010.
STAROSTIN, Sergei. Comparative-historical linguistics and lexicostatistics. In: COLIN, Renfrew;
MCMAHON, April; TRASK, Larry (Ed.). Time Depth in Historical Linguistics.
Cambridge: The McDonald Institute for Archaeological Research, 2000. p. 223-265.
STOLOVA, Natalya. Where can working in tandem take us? Romance data meets
grammaticalization theory. La corónica, Columbus, v. 34, n. 1, p. 243-252, 2005. Disponível
em: //www.lacoronica.org/dod/stolova.pdf. Acesso em: 22 mar. 2017.
TAGLIAVINI, Carlo. Orígenes de las lenguas neolatinas: introducción a la filología romance.
Trad. de Juan Almela. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1973 [1949].
TEJERO BENÉITEZ, Aurora. Perífrasis verbales: comparación de las perífrasis latinas con algunas
lenguas romances. Hápax, Salamanca, n. 5, p. 65-83, 2012. Disponível em:
//www.revistahapax.es/V/Hpx5_Art5.pdf. Acesso em: 23 mar. 2017.
TRASK, Larry. Historical linguistics. Oxford: Oxford University Press, 1996.
VIARO, Mário. Uma breve história da Etimologia. Filologia e Linguística Portuguesa, São Paulo,
v. 15, n. especial, p. 27-67, dez. 2013. Disponível em:
//www.revistas.usp.br/flp/article/view/82818. Acesso em: 23 mar. 2017.
VIARO, Mário. Etimologia. São Paulo: Contexto, 2011.
VIDOS, Benedek. Manual de linguística românica. Trad. de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro:
EDUERJ, 1996 [1956].
WALKDEN, George. The comparative method in syntactic reconstruction. 2009. 71 f. Thesis
(MPhil in Linguistics) — University of Cambridge, Cambridge, 2009.
WRIGHT, Roger. Instrumentos nuevos: la sociolingüística del monolingüismo. In: CONGRESSO
INTERNAZIONALE DI LINGÜÍSTICA E FILOLOGIA ROMANZA, 21., 1995, Palermo.
Atti… Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 1998. p. 483-486.