A quem se destina o teatro popular

Ir ao teatro é uma das formas de lazer mais procuradas pelas pessoas. Originou-se há muitas décadas e tem muitas boas histórias para contar. Afinal, as peças teatrais vêm dos tempos primórdios e com o passar dos anos foi ganhando novos jeitos e formas de se fazer teatro. Hoje em dia podemos encontrar teatros de humores bem variados ou ainda o stand up que é o mais novo jeito de fazer que agrada a muitas pessoas.

Mas será que você conhece sobre a história do teatro popular e também o Commedia Dell arte? Neste artigo, vou te contar um pouco sobre as passagens históricas de cada um e ainda vamos falar brevemente sobre como anda o teatro nos dias atuais, confira agora:

O teatro popular:

O teatro começou a existir a partir do século XV em diante. O gênero teatro popular recebe este nome justamente porque atingia todas as camadas da sociedade. Mas antigamente  era feito de maneira bem diferente. Tudo era na base do improviso, com cenas ao ar livre, nas ruas e em espaços públicos. As peças, portanto, eram gratuitas e tinham o poder de transformar a mente do povo daquela época.

A Commedia Dell arte:

A Commedia Dell arte também é uma maneira de teatro popular que surgiu no século XV na Itália, e em seguida foi a França que passou a desenvolver e dar ainda mais formato para este novo tipo que chegava no universo da arte. A commedia Dell arte assim como o próprio nome já diz, significa a comédia da arte, ou seja, eram as peças de comédia que caiam no gosto do povo.

Mas embora este novo gênero de peças teatrais ganhasse forma e agradasse a muitas pessoas, as peças ainda eram realizadas nas ruas e em espaços públicos. Os atores seguiram apenas um roteiro improvisado, e a graça estava em interagir com o público e improvisar cenas e falas momentâneas.

Dias atuais do teatro:

Você já viu que o teatro existe há muitas décadas e ainda hoje  é considerado uma das formas de lazer mais procurada pelas pessoas. São nos finais de semana que percebemos a uma maior movimentação. Só que hoje a cultura passou por mudanças. As cidades abriram locais de teatro, há shoppings com locais apropriados, mas claro que mesmo assim o bom e velho jeito de se fazer teatro ainda não ficou para trás.

É possível encontrar grupos nas ruas e muito mais. Além disso, com o passar dos tempos novos gêneros foram chegando como romance, drama, infantil e muitos outros. Hoje em dia, é o stand up comedy que vem fazendo muito sucesso. A nova forma é de comédia em pé(stand up), ou seja, um ator se apresenta sem nenhum tipo de estrutura de cenário e conta piada do dia a dia.

+ Artigos e Dicas

28 de maio de 2011 por Gogó da midia

Teatro popular e popularização do teatro

O conceito de teatro popular no Brasil surgiu no final da década de 1950 com a identificação de um público interessado em ver nos palcos as grandes questões nacionais e que resultou em duas vertentes: uma de cunho regionalista representada principalmente por Ariano Suassuna e João Cabral de Melo Neto e outra de cunho ideológico praticada pelo Centro de Cultura Popular da UNE do Rio de Janeiro.

Para Roland Barthes, emérito crítico literário e teatral francês, o teatro popular traduz-se na obra que carrega no conteúdo uma intenção ou destino profundo que só pode ser compreendido pelo povo. Na interpretação de Sábato Magaldi, crítico e teatrólogo brasileiro, o teatro popular traz na sua essência o intuito de envolver camadas populares pelos braços do espetáculo no ambiente em que vivem, oferecendo textos e encenações de qualidade. Portanto o teatro popular necessita da popularização para atingir seu intento e dois exemplos de prática dessa dramaturgia ajudam a interpretar o cenário de perspectivas que se apresenta.

Teatro Popular do Sesi (TPS)

Surgiu em 1959 a partir da criação do Teatro Experimental do Sesi em São Paulo. Foi engendrado pelo diretor e ensaiador de elencos Osmar Rodrigues Cruz que se inspirou no teatro popular francês concebido por Jean Vilar, influente ator e diretor da França. Há cinco décadas o TPS foca seus objetivos na produção de espetáculos de caráter popular e educacional, promovendo a democratização do acesso ao teatro por intermédio de ingresso barato ou gratuito.

Teatro Popular do Sesi

Uma de suas produções atuais é a peça Estudohamlet.com, montagem idealizada pelo Núcleo Experimental do Sesi e dirigida por Caca Carvalho, dramaturgo e ator. É uma interpretação livre do clássico Hamlet, de William Shakespeare, e através de uma inventiva abordagem apresenta Hamlet como um portal aberto e acessível a inúmeras janelas, horizontes infindáveis, para além do tempo e espaço.

Na prática…          

O Teatro Popular do Sesi acertou na escolha do texto, pois o espetáculo prova que Shakespeare é popular e pode ser constantemente conectado à contemporaneidade. Porém não atinge em sua plenitude a proposta de popularização do acesso ao teatro uma vez que delimita seu espaço ao imponente prédio da Fiesp, na elitizada Avenida Paulista. Destoa também da linha de atuação do seu inspirador, o Teatro Popular Nacional da França de Jean Vilar, que procurava situar suas montagens no amplo território das classes populares.

Neste contexto a política cultural do Sesi aproxima-se mais de um populismo cultural ao aglutinar num bloco homogêneo plateias distintas.

Entrevista com Caca Carvalho no programa Provocações: o teatro e a relação com a platéia

Capulanas Cia de Arte Negra

A companhia existe desde 2007 e sua proposta é fortalecer a imagem da mulher negra apropriando-se da cultura popular onde converge para o palco a música, a dança, a poesia, as artes plásticas e o teatro. Sua produção percorre a periferia de São Paulo e apresenta-se em saraus, escolas, centros comunitários e culturais, além de participar também de palestras e debates sobre as dinâmicas sociais da cultura negra.

Sua encenação mais recente é Solano Trindade e Suas Negras Poesias, espetáculo talhado nas poesias de Solano Trindade (expoente poeta e promotor da luta pela afirmação da identidade negra através das artes) que enfatiza com visceral veemência a garra e a ancestralidade da mulher negra.

Na prática…

A produção das Capulanas Cia de Arte Negra é condizente com sua proposta uma vez que apresenta um contundente espetáculo político e contestatório abordando questões complexas como racismo, identidade e cultura negra na sociedade.

Enquadra-se muito bem na popularização do teatro popular ao praticar a produção itinerante na periferia de São Paulo, onde alcança com eficiência o público que tenciona atingir.

Trecho da peça Solano Trindade e suas Negras Poesias

A propósito, onde está a crítica teatral?

Após análise da divulgação da peça Estudohamlet.com percebemos que a crítica teatral foi substituída pela profunda arte da resenha e esta, quando praticada nos grandes veículos de comunicação é reservada apenas às produções encenadas por estrelas globais e musicais da Broadway, a terra do Tio Sam. No caso da peça em questão a divulgação ficou restrita à Internet e os sites que a replicaram reproduziram fielmente o texto do release. A obra Solano Trindade e Suas Negras Poesias é divulgada apenas nos blogs parceiros das Capulanas.

Na mídia impressa os cadernos culturais priorizam suas douradas linhas à teledramaturgia, à programação da tv aberta e ao cinema de entretenimento (blockbuster ou arrasa-quarteirão do Tio Sam, de novo!). Isto pode ser conferido nos dominicais tijolaços de celulose de dois principais jornais de São Paulo, o Caderno 2 do O Estado de S. Paulo e a Ilustrada (e seu superlativo complemento Ilustríssima) da Folha de S. Paulo.

Apesar da iniciativa do TPS, ainda que populista, e a das Capulanas Cia de Arte Negra, muito efetiva, a popularização do teatro em geral está distante da realidade num panorama em que a dramaturgia continua sendo privilégio de elites, protagonistas do meio teatral e sinônimo de ingresso caro.

Na visão de Solange Dias, professora de Artes Cênicas e diretora artística do Teatro da Conspiração de Santo André, um dos possíveis caminhos para a popularização do teatro são as leis de incentivo: – “Fortalecimento das cias, grupos e coletivos teatrais a partir de leis de incentivo para pesquisas e residências artísticas. Essas leis deveriam existir tanto no âmbito municipal, como estadual e federal, pois descentralizaria dos grandes centros para regiões em que não existem políticas culturais consistentes”.

Por fim salienta que o teatro é uma forma de arte em que o estado de comunhão entre atores e platéia é imprescindível: – “o que pode fazer com que o teatro amplie seu público é que ele se aproxime cada vez mais do que é realmente humano, do aqui e agora, de descobrir coisas importantes a se dizer sobre e para o homem contemporâneo”.

Produção: Amanda Cristina Maciel Pellini, Camila Pascucci Perillo, Marcio Miguel Pereira e Rosimeire Faria

Entrevista com Solange Dias, Mestre em Artes pela UNICAMP, dramaturga, diretora e atriz. Diretora artística do Teatro da Conspiração de Santo André  e professora de Artes Cênicas dos cursos de licenciatura e Pós-graduação da FAINC de Santo André

Por Rosimeire Faria

Solange Dias: o teatro popular resistindo ao longo da história

GM: Você acredita no Teatro Popular? Este conceito é empregado de maneira correta pelos produtores culturais?

 Solange: Acredito e muito. O teatro popular sempre existiu ao longo da história, ora de maneira mais evidente, ora como forma de resistência. No momento, e acho isto muito bom, é que temos vários tipos de teatro acontecendo, das mais variadas formas, e o teatro popular é um deles.

Não sei dizer se o conceito é utilizado de maneira correta, mas há um esforço por parte das cias e grupos na popularização do teatro à partir das leis de fomento e formas cooperativadas de produção. Claro que exite um teatro mais comercial com grandes nomes que recebe a grande fatia de patrocínios, principalmente via Lei Rouanet, mas isto nunca impediu que, de alguma forma, os grupos e coletivos criassem maneiras próprias de se auto gerir, produzir e apresentar.

GM: Onde estão as matérias sobre Teatro? Principalmente o Popular? Será por isso que as pessoas ainda vão tão pouco ao teatro?

 Solange: Se você se refere às matérias de jornal,, o que existe são cadernos culturais que fazem,sim, entrevistas, críticas e perfis de acordo com as estreias de espetáculos e grupos. Isto no caso de São Paulo. No ABC isto não existe. Voltando a São Paulo, temos ótimos grupos que mantém uma pesquisa voltada principalmente ao popular como os Parlapatões, Patifes e Paspalhões, o Grupo Folias d’Arte e a Malas-Artes  que tem uma pesquisa específica para com a comédia popular brasileira. E discordo, quando há bom teatro popular em cartaz ele lota. A cia. Malasartes fez uma residência no Teatro Paulo Eiró, que vivia às moscas, e que foi revitalizado, com temporadas e público, a partir de um teatro altamente popular. Ouso dizer que temos muito mais público para um teatro popular do que para um teatro voltado à novas pesquisas de linguagem, por exemplo.

GM: Que ações seriam necessárias para promover a produção teatral popular, para além do que encontramos hoje, de uma forma mais consistente, eficiente, mais acessível a população?

Solange: No ABC: ter espaços públicos e privados com ações continuadas, com temporadas. O que não temos. Uma lei de fomento para fortalecimento dos grupos e como consequência, geraria uma formação de público através de ingressos á preços populares ou até gratuitos.

São Paulo: não saberia opinar.

GM: À sua época Shakespeare era popular. Ao longo da história e principalmente na atualidade, ele não se elitizou? Por este viés histórico o teatro pode alcançar amplas platéias?

Solange: Na verdade, sempre vai depender de como se monta. Já vi e fiz peças de Shakespeare. E dependendo como se monta ela é altamente popular. O “Romeu e Julieta” do grupo mineiro Galpão foi montado como Teatro de Rua a partir de canções tradicionais e foi um marco do Teatro Brasileiro. O problema é quando se quer montar Shakespeare como “achamos” que deveria ser na época dele, e isto pode deixá-lo chato e fora do tempo.

Sobre alcançar amplas plateias, depende o que se entende por isto. Vivemos numa época em que temos outras formas de entretenimento que não existiam em outras fases da história em que o teatro era muito mais visto.

Uma peça de teatro não é um mega show. O teatro ainda é uma forma artística que necessita de pessoas (atores e platéia) quase em um estado de comunhão. Neste aspecto ele ainda mantém algo de artesanal. Acredito então  que o pode fazer com que o teatro amplie seu público é que ele se aproxime cada vez mais do que é realmente humano, do aqui agora, de descobrir coisas importantes a se dizer sobre e para o homem contemporâneo.

GM: Cite algumas ações que considera relevantes, no sentido de popularizar o Teatro.

Solange: Fortalecimento das cias, grupos e coletivos teatrais a partir de leis de incentivo para pesquisas e residências artísticas. Essas leis deveriam existir tanto no âmbito municipal, como estadual e federal, pois descentralizaria dos grandes centros para regiões em que não existem políticas culturais consistentes.

Links relacionados:

//www.sesisp.org.br/home/2006/centrocultural/Prog_teatro.asp

//www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=cias_biografia&cd_verbete=653

//www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=conceitos_biografia&cd_verbete=618

ciacapulanas.blogspot.com

Blibliografia:

BARTHES, Roland. Crítica e Verdade. Tradução Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: Perspectiva, 1982. (Coleção Debates)

COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural. São Paulo: Iluminuras, 1997.

HONAM, Park. Shakespeare: Uma vida. Tradução Sonia Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

MAGALDI, Sábato. Iniciação ao Teatro. São Paulo: Ática, 1991 (Série Fundamentos).

Última postagem

Tag